“Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” Rm 1:19-20
Introdução
Deus colocou a eternidade no coração do homem. A idéia de Deus é um fato inescapável a todos, mesmo aqueles que negam sua existência pensam em Deus para poderem negá-lo. Isto acontece porque é impossível ao homem fugir da revelação de Deus que, num certo sentido, é universal.
O que queremos dizer por revelação? É a comunicação por parte de Deus aos homens de fatos que de outra forma ele não poderia conhecer. Revelar é retirar o véu para mostrar algo que estava encoberto, oculto. Quando se trata de fatos a respeito de Deus e de suas obras, revelação é a comunicação que Deus faz de si mesmo, da criação, de seu governo providencial e do destino dos seres morais (homens e anjos), coisas que o homem não pode descobrir apenas com a razão.
É comum a confusão entre revelação, inspiração e iluminação, por estarem relacionadas entre si. Contudo, em seus sentidos teológicos devemos manter a distinção entre elas. Já definimos revelação, como a comunicação divina de uma verdade. A inspiração é a operação sobrenatural pela qual Deus controla os homens no processo de registrar a revelação recebida. Por exemplo, quando Deus avisou José por sonho que Herodes queria matar o menino Jesus foi uma revelação, quando Lucas registrou o fato em seu Evangelho o fez por inspiração. Iluminação, por sua vez, é a operação do Espírito Santo sobre os que lêem a Palavra de Deus, ajudando-os na compreensão. Mais poderia ser dito sobre as relações entre revelação, inspiração e iluminação, mas para os propósitos deste artigo é o bastante.
Soberania de Deus na revelação
Precisamos reconhecer que a revelação é um ato livre de Deus. Se quisesse, Deus poderia deixar a humanidade às cegas acerca de sua existência, de seu poder e de suas obras. Eles jamais poderiam alcançar, por si mesmos, um conhecimento verdadeiro a respeito dEle. Mas aprouve a Deus mostrar-se às suas criaturas.
Ao escolher revelar-se, contudo, Deus não abriu mão de sua soberania e não dá a todos o mesmo tipo e grau de conhecimento acerta dEle. Jesus disse “graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado” (Mt 11:25-26). Embora afirmemos que ninguém há no mundo que não tenha algum tipo de revelação de Deus, não podemos afirmar que Ele se revela pelos mesmos meios e de igual forma a todos.
Além disso, ainda que a revelação seja suficiente para nossa vida na terra e morada no céu, não é exaustiva, mas limitada por Deus. “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre” (Dt 29:29). Até mesmo esta limitação que Deus impõe em sua revelação denota sua bondade para conosco, pois não poderíamos suportar tanto conhecimento: “Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora” (Jo 16:12). Creio que nem em toda eternidade conheceremos Deus completamente, posto que é infinito.
Revelação geral e especial
A revelação que Deus dá a todos os homens sem excessão é chamada de revelação comum ou geral. Esta é a revelação de Deus através da natureza (Criação) e da História (Providência), por exemplo.
“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol, o qual, como noivo que sai dos seus aposentos, se regozija como herói, a percorrer o seu caminho. Principia numa extremidade dos céus, e até à outra vai o seu percurso; e nada refoge ao seu calor” (Sl 19:1-6). É a mesma revelação referida por Paulo quando escreveu que “os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Rm 1:19).
Em que pese o fato dessa revelação ser universal, ela é insuficiente para a salvação. Nada diz a respeito da morte de Jesus em nosso favor ou da justificação pela graça mediante a fé. Contudo, ela é suficiente para tornar os homens indesculpáveis perante Deus, como diz o texto: “tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm 1:20).
Para que o homem seja “sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm 3:15) é necessário uma revelação que vá além da revelação natural, chamada de especial. Esta revelação nos foi dada na pessoa de Jesus Cristo e encontra-se registrada na Bíblia Sagrada.
“Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (Hb 1:1-3).
Jesus é a revelação tão perfeita de Deus que podia dizer “quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14:9). E esta revelação de Jesus Cristo encontra-se registrada na Bíblia Sagrada, por isso o Senhor disse “examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (Jo 5:39). Tudo o que precisamos saber para nossa vida na terra e para nos preparar para a vida no céu, encontra-se registrada na Escritura que “é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3:16-17).
Nossa atitude diante da revelação
A primeira atitude diante da revelação de Deus é aceitá-la. Paulo afirma que “a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Rm 1:18). Porém, como a revelação de Deus na Escritura revela a nossa impiedade e perversão, nossa reação natural é suprimir essa verdade. Daí a necessidade da graça de Deus, pois “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1Co 2:14). Sob a operação da graça de Deus chegamos à fé e mediante esta somos justificados.
Tendo recebido a revelação como vinda de Deus, devemos ser gratos a Deus por se mostrar a nós. Lembremos que Jesus referiu-se à revelação de Deus com expressão de gratidão, dizendo “graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11:25). Com nos era totalmente impossível descobrir Deus sem que se revelasse a nós, devemos agradecer sempre por tê-lo feito. Do contrário, passaríamos a vida inteira tateando no escuro.
Finalmente, devemos adorar a Deus. O grande erro denunciado em Romanos é que os homens “tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças” (Rm 1:21). Contemplar a glória de Deus revelada na natureza e nas Escrituras sempre deve nos levar a adoração. Paulo exulta dizendo “Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11:33-36).
Conclusão
Como acabamos de ver todo homem recebe porção do conhecimento de Deus, suficiente para torná-lo inescusável. No juízo final, os homens serão julgados pelas suas obras, de acordo com a luz que receberam. Ninguém poderá alegar que foi injustiçado ou alegar desconhecer as bases de seu julgamento, pois a sua consciência será testemunha contra si. Entretanto, vimos também que a revelação de Deus como salvador veio através de Jesus Cristo, de quem a Bíblia é testemunha. Crendo nEle você não apenas escapa do juízo, mas é levado com segurança ao céu, podendo contemplar Aquele de quem temos apenas réstias de Sua glória.
Leia a Bíblia, creia em Cristo e viva!
Soli Deo Gloria
Clóvis, sabemos que a revelação geral, a Criação, por sí só já deixa os homens indesculpáveis.
ResponderExcluirMas e quanto àqueles que não podem contemplá-la? Os cegos e/ou surdos, por exemplo? Eles também ficariam indesculpáveis? Essa é uma dúvida minha...
Clóvis,
ResponderExcluirA respeito da pergunta do Neto, a responsabilidade do homem sempre remanescerá, a despeito da soberania e determinismo divinos, pois isso não exime a sua "vontade": o homem faz porque quer, não ouve porque não quer. Sobre essa questão eu inclusive escrevi um texto há algum tempo no meu blog (link: http://ricardomamedes.blogspot.com/2010/02/jesus-e-as-parabolas.html).
A revelação especial, mesmo não sendo de todos, mas somente dos eleitos, não torna ainda assim os réprobos indesculpáveis. Deus endureceu o coração de faraó e ainda assim a sua vontade era fazer o que fez.
Grande abraço.
Em Cristo,
Ricardo
Amado Ricado,
ResponderExcluirExplicarei melhor.
A minha dúvida é:
"A Criação, ou seja, a revelação geral testemunha contra todos os homens. Mas até mesmo dos cegos e surdos?" Esse é o cerne!
Aqueles que não tem acesso à revelação geral de Deus também serão indesculpáveis POR ELA?
Graça e paz Clóvis.
ResponderExcluirParabéns pela postagem, tomei a liberdade de publicá-la em meu blog.
Muitas vezes surgem dúvidas de como algumas pessoas com alguma deficiência poderão conhecer a Cristo e se essas deficiências não os impedirão de conhecê-LO. Para mim que creio que Deus tem os seus eleitos não vejo isso como uma dificuldade, pois eu creio que Deus os acançará de alguma forma. O método utilizado por Deus para alcançá-los eu não sei, mas uma coisa eu sei, eles serão alcançados pois Deus não falha em seus propósitos eternos.
Fique na Paz!
Pr. Silas
Neto,
ResponderExcluirA revelação geral não é apenas a natureza. Inclui também o próprio homem, o testemunho de suas consciências, por exemplo. Mas há os infantes que morrem e os débeis mentais que não podem ouvir nem suas consciências, neste caso creio que nosso silêncio reverente è a melhor resposta, embora devamos ter esperança. Creio que se Deus quiser salvá-lo, usará de meios extraordinários para isso.
Em Cristo,
Clóvis
Clóvis,
ResponderExcluirInteressante, eu e o Ricardo Mamedes conversamos algo sobre isso esses dias. Eu creio que não somente para os infantes e para os débeis mentais, mas para todos os que morrem, sempre a melhor resposta é o nosso silêncio reverente.
Sabemos qual é o critério de Deus para salvar, e sabemos com se aplica, mas nunca saberemos a quem foi aplicado especificamente.
O livro que possui os nomes dos eleito não é da nossa ausada.
Eu descanso na eterna providência - não é demagogia minha - ao que morre segue o juízo e ali a Justiça e a Misericordia divina se "encontram". è o máximo que digo.
Na paz do Juiz sem corrupção.
Esli Soares
Pr. Silas,
ResponderExcluirEstamos de pleno acordo quanto a isso.
Sobre a publicação de artigos em seu blog, fique à vontade.
Em Cristo,
Clóvis
Neto e Clóvis,
ResponderExcluirEu sempre pensei sobre esse assunto... Em romanos 1, salvo engano, Deus estabelece que julgará cada um segundo a sua crença, os seus padrões. Mas e aqueles que não podem apreender nada, conforme pergunta o Neto? É estranho, pois se voltarmos às Escrituras, "todos são indesculpáveis", exatamente pela revelação geral que a todos alcança. Com relação a esses, porém, penso que Deus simplesmente os salva. Eu não posso entender um recém-nascido indo para o inferno...
Todavia, o raciocínio que faço é o seguinte: toda a Bíblia nos demonstra que o homem tem responsabilidade completa por seus atos, que vem da sua vontade, esta, livre, porém não autônoma, a despeito do determinismo Divino. Assim sendo, os infantes e os demais impossibilitados de apreenderem a revelação geral devem ser eleitos, porque deles não se pode exigir qualquer responsabilidade. É assim que penso.
Grande abraço!
Em Cristo,
Ricardo.