Deus, não esqueça que sou dizimista fiel!

O título acima não é criação minha. Devo direitos autorais à Igreja Universal do Reino de Deus, que lançou uma pulseira com esses dizeres. Na edição 726 da Folha Universal, no Segundo Caderno a oração é colocada em destaque, com a chamada "Fórmula de Sucesso". Confesso que perdi a capacidade de me surpreender com as inovações da IURD, e isto lá pela época em que fez a campanha de troca de anjo. Mas tenho que reconhecer a criatividade da equipe que cria essas novidades.

Mas voltemos à pulseira, mais específicamente à oração nela inscrita. Qual o problema de usar uma pulseira ou colocar no jornal a oração "Ó Deus, não esqueça que sou dizimista"? Sem entrar na controvérsia da vingência do dízimo no Novo Testamento, há alguns sérios problemas. O primeiro deles é que a expressão pressupõe que Deus pode se esquecer de alguma coisa e neste sentido atenta contra a onisciência divina. Deus conhece todas as coisas, passadas, presentes e futuras num ato simples. Ou seja, Deus não adquire conhecimento como o homem, não armazena informações na memória como o homem e também não se esquece como o homem se esquece, às vezes de coisas importantes. Lembrar Deus de alguma coisa é um absurdo só concebível pelos marqueteiros da Igreja Universal do Reino de Deus, numa provável disputa interna pela criação da campanha mais bizarra. Se este for o caso, o autor é um forte candidato ao troféu talento, categoria campanha esdrúxula.

Outro ponto, diz respeito à cobrança explícita a que Deus retribua à fidelidade do sujeito. Pela insistência, tornada pública através do uso da pulseira, a cobrança assume ares de chantagem. É algo como se estivesse dizendo para Deus que ficaria feio para ele se o dizimista fiel andasse por aí sem ostentar prosperidade material. Acontece que nossa contribuição não é uma aplicação financeira para recebermos dividendos, antes é a devolução de parte daquilo que Deus já nos deu. Nada há a reinvidicar como direito ou cobrar como retorno de uma suposta fidelidade. Além disso, reduzir a fidelidade a Deus a entrega de um percentual de nossas finanças é tornar mesquinha a vida cristã. Finalmente, a tal pulseira serve mais ao propósito de tornar público que alguém é dizimista que a qualquer outra coisa. Com isto, a pessoa pode ser vista como fiel, e isto não faz mal algum ao ego. Ainda mais se outras pessoas não estiverem usando a vistosa pulseira. E como fica o ensinamento de Jesus sobre não saber a esquerda o que dá à direita? Bem, fica lá na insignificante Bíblia Sagrada, que só deve ser usada de forma seletiva, para dar uma aparência de fundamento bíblico para as campanhas que se sucedem, mantendo as pessoas com uma impressão de que estão seguindo princípios bíblicos.

Portanto, a tal pulseira da IURD afronta a doutrina da pessoa essencial de Deus, tenta colocar a divindade contra a parede e estimula o orgulho religioso. Além de expor os evangélicos a uma situação mais constrangedora da que já estão diante da sociedade, que pode não reconnhecer muito bem o evangelho, mas tem olho vivo para estratégias arrecadatórias.

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4 comentários:

  1. A uns três anos atras eu e minha esposa estavamos evangelizando em uma praça de Brasília quando duas senhoras vieram em nossa direção com uma pulseira com os dizeres "Hoje é o dia da minha prosperidade!". Eram da Universal e nos convidaram para ir a Igreja. Disemos que eramos evangélicos - elas, em claro proselitismo já haviam visto em nossas mãos vários folhetos evangelisticos que distribuia-mos - quando dissemos que não poderiamos ir elas disseram bastante contrariadas que se não fosse-mos tudo aquilo iria virar "maldição" em nossas mãos. Repreende-mos aquelas palavras no nome de Jesus e elas se afastaram muito contrafeitas.
    Realmente a Igreja Universal do Reino de Deus pode ser tudo, menos uma Igreja que professa Jesus e sua palavra.

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  2. Observemos o que diz a biblia,
    malaquias.
    03:08 - Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas.

    03:09 - Vós sois amaldiçoados com a maldição; porque a mim me roubais, sim, vós, esta nação toda.

    03:10 - Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós tal bênção, que dela vos advenha a maior abastança.

    Verso 8 diz:
    Observem que dizimos e ofertas nao podem ser separados.(porque nao pedem sacrificios tbm no caso eram os animais para tal).
    Verso 9 diz:
    Toda esta Nacao.(fala do povo de Israel), somos judeus por acaso?
    Verso 10 diz:
    As janelas do ceu se refere as chuvas para dar colheita.(acaso levamos uma vez ao ano nossas colheitas nas igrejas??
    Estamos ainda na lei?? entao esses versos nao valem para hoje!!!

    Ricardo Andrei!

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  3. Somos gratos a que Calvino em sua época fez pelo evangelho,somos gratos a Lutero,gratos a wesley e a outros tantos...Homens que em sua época fizeram a diferença.O problema é que os tempos mudaram,evoluiram...E as chamadas igrejas historicas,que fizeram a diferença em uma época não muito distante...Infelizmente hoje são apenas caricaturas daquela igreja gloriosa,cujo muitos de seus membros deram a vida(muitos foram mortos).O que se ve hoje,são crentes olhando para o 'retrovisor'vivendo do passado.Lutero,Calvino e outros mais foram homens que sacrificaram em sua época a propria vida,a liberdade tudo por amor a Jesus,e nesses dias,quando 'Moisés é morto'Deus tem nos dito:Avante!E o que fazemos?Não estamos nós assentados a chorar a morte de Moisés?Porque não arregacemos as mangas e fazemos o que Jesus mandou?Porque condena-mos aqueles que como os apostolos não adoram a Deus da nossa maneira?Disse Jesus sobre isso:O que comigo não ajunta,espalha.O espaço ocupado hoje na mídia pela IURD se deve a que?Não é ao sacrificio de seus membros?As construçoes de suas catedrais se devem a que?Não é a disponibilidade de seus membros a doarem-se para Deus?As igrejas Neo ocuparam o lugar de igrejas historicas e tradicionais em nosso país porque?Porque que eles crescem mais?Teologia da prosperidade?Teologia da miseria?Não!O segredo é o sacrificio da propria vida em beneficio do Reino de Deus,enquanto os historicos e tradicionais querem andar para frente olhando para o retrovisor!Moisés é morto!Avante povo de Deus!Eis um país para ser ganho para o Senhor!Enquanto milhões morrem,nós perdemos tempo em seminarios e palestras,discutindo o sexo dos anjos e o umbigo de Adão!Temos as ferramentas necessarias!Usemos para a glória de Deus!

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  4. Adriano,

    Embora concorde em parte com o que diz, discordo dois tanto mais com o restante.

    Primeiro que o crescimento de igrejas como IURD e outras tanto não é um crescimento sadio que deva nos emular a emitá-lo. Pelo contrário, ao lado do exército de adeptos dessas igrejas cresce outro exércido, os dos que se decepcionaram com a "graça".

    Segundo, que a "entrega" e o "sacrifício" de tais pessoas não resulta de quebrantamento interior, de mover do Espírito Santo, mas da manipulação e exploração da fé e miséria alheia. Não comparemos a abnegação de tais pessoas, que é motivada por interesses materiais e imediatos com o de mártires do evangelho, que deram suas vidas, literalmente, para a glória de Deus.

    Terceiro, os tempos podem ter mudado, mas os homens não, exceto que incrementaram seus pecados e rebelião contra Deus. Tampouco a solução divina mudou. O evangelho continua sendo a única saída para o homem caído, desde o dia de Paulo, dos reformadores e hoje. Portanto, se manter-se fiel a esta mensagem é dirigir com os olhos no retrovisor, façamos isso.

    Em quarto lugar, o estudo formal da teologia não é perda de tempo, embora eu concorde que é muito fácil deter-se em questões fúteis. Mas abandonar o estudo teológico sob pretexto de "ganhar o país para o Senhor" é apenas engrossar o contingente de adeptos à teologias vazias e temos gente suficiente fazendo isso.

    Em Cristo,

    Clóvis

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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