Após o reconhecimento de Nicodemos no sentido de que Jesus era um verdadeiro mestre e que viera da parte de Deus, o Senhor Jesus começou a falar sobre a necessidade do novo nascimento. Ele disse a Nicodemos: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3).
Existem aqui duas palavras gregas que podem transmitir um duplo significado, quando traduzidas para nosso idioma. Estas duas palavras comumente são traduzidas “nascer de novo”, mas poderiam ser traduzidas “gerado” e “de cima”. Portanto, a afirmação poderia ser traduzida deste modo: “A menos que alguém seja gerado [isto é, receba vida] de cima, não pode ver o reino de Deus”.
Temos de possuir vida nova. Esta nova vida tem de vir de cima, ou seja, de Deus. Ele precisa gerar esta vida em nós. Sem o novo nascimento, não podemos ver o reino de Deus. O Senhor Jesus gravou na mente de Nicodemos a verdade de que, se Deus não agir para salvarnos, não poderemos ser salvos.
Jesus ensinou a Nicodemos que nada menos do que nos tornarmos novas criaturas poderá nos salvar. Não podemos ver a Deus no estado em que nos encontramos. Tem de haver uma mudança radical, descrita na Bíblia como um novo nascimento.
Deus age sozinho
Visto que somos pecadores diante de Deus, todos nós estamos mortos em ofensas e pecados. Nada menos do que a intervenção de Deus pode trazer-nos à vida espiritual. Visitar pecadores indignos e aplicar a Palavra da vida ao coração deles é uma obra especial do Espírito Santo.
Nicodemos pensou que um milagre estranho tinha de acontecer. De alguma maneira, um homem precisava retornar ao ventre materno e nascer pela segunda vez! Nosso Senhor reconheceu que temos de ser nascidos de uma mulher (descrevendo isso como ser nascido da “carne”); todavia, Ele insistiu que temos de ser nascidos do Espírito de Deus.
O que podemos fazer para conseguir esse novo nascimento da parte de Deus? A resposta é: “Nada”. Muitos livros já foram escritos por pessoas bem intencionadas que reivindicam instruir outras sobre como nascer de novo.
No entanto, se somos fiéis à Palavra de Deus, temos de reconhecer que não podemos ensinar a alguém como nascer de novo. Isso era o que os apóstolos de Cristo não faziam, quando evangelizavam. Eles nunca chegavam em uma cidade e anunciavam que o tema do sermão daquele dia seria “Como Nascer de Novo”. Pelo contrário, eles exortavam as pessoas a se converterem de seus pecados e crerem em Cristo.
Tornado disposto
Certamente, podemos ensinar às pessoas como vir a Cristo, para serem salvas. Elas têm de se arrepender de seus pecados e pôr sua confiança em Cristo, para salvá-las. Mas o arrependimento e a fé resultam do novo nascimento.
Em outras palavras, quando uma pessoa é nascida de novo, ela é capacitada, por meio da nova vida que lhe foi transmitida, a arrepender-se e crer em Cristo. Arrepender e crer é o que nós fazemos. O novo nascimento, porém, é algo que somente Deus pode fazer; e Ele precisa realizá-lo em primeiro lugar. A Confissão de Fé de Westminster, dos presbiterianos, e a Confissão de Fé de 1689, dos batistas, descrevem o novo nascimento como uma obra do Espírito Santo, “iluminando-lhes a mente de maneira espiritual e salvadora, para que compreendam as coisas de Deus, tirando-lhes o coração de pedra e dando-lhes um coração de carne; renovando-lhes a vontade e, pela sua onipotência, predispondo-os para o bem e trazendo-os irresistivelmente a Jesus Cristo. No entanto, eles vêm a Cristo espontânea e livremente, porque a graça de Deus lhes dispõe o coração para isso”.
O novo nascimento vem em primeiro lugar
O que vem em primeiro lugar, o arrependimento ou o novo nascimento? Em primeiro lugar, acontece a regeneração, ou seja, o novo nascimento, por intermédio do Espírito Santo. Depois vêm o arrependimento e a fé em Cristo como resultados da obra de Deus.
A Confissão de Fé da Convenção Batista do Sul (The Baptist Faith and Message) afirma-o nestas palavras: “A regeneração, ou seja, o novo nascimento, é uma obra da graça de Deus mediante a qual os crentes se tornam novas criaturas em Cristo Jesus. É uma mudança do coração, realizada pelo Espírito Santo através da convicção de pecado, à qual o pecador reage em arrependimento para com Deus e fé no Senhor Jesus Cristo. O arrependimento e a fé são experiências inseparáveis realizadas pela graça divina”.
Se você já nasceu de novo, você se arrependerá e crerá em Jesus. Deus nos outorgou a capacidade de nos arrependermos, quando não o fez a outras pessoas. Ele nos deu a fé em Cristo, quando outros não crêem. O Senhor Jesus disse a alguns de seus inimigos que eles não criam nEle, porque o Pai não os havia capacitado a fazer isso (Jo 6.60-65).
Controlar o vento?
Alguém poderia argumentar: “Eu pensava que Deus nos concede a vida porque nos arrependemos. O arrependimento não é a condição para alguém ser nascido de novo?” Não, de conformidade com o ensino do Senhor Jesus. Ele disse a Nicodemos: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (Jo 3.8).
Você e eu podemos controlar o vento? Nós nos levantamos a cada dia e decidimos quão velozmente o vento soprará ou de que direção ele virá? Podemos impedir um tornado de causar destruição, enquanto ele passa por um povoado indefeso? É claro que não. O vento sopra onde lhe agrada.
Também não podemos controlar ou dirigir o Espírito Santo em sua obra de transmitir vida nova aos pecadores. Ele nos regenera, nos ressuscita para uma nova vida e nos faz “nascer de novo”. O vento do Espírito tem de soprar.
Essa é a razão por que oramos a fim de que o Espírito de Deus venha sobre nossos amigos e parentes que não conhecem a Jesus. Pedimos que Deus os salve. Sabemos que, se eles têm de vir a Cristo, deverão ser atraídos a Ele pela obra de Deus.
O Senhor Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão” (Jo 5.24-25).
A obra do Espírito Santo
Por natureza, estamos mortos em nossos pecados. Não podemos salvar a nós mesmos. Deus tem de agir para resgatar-nos. Ele fez isso, ao enviar seu Filho para morrer em lugar dos pecadores na cruz. No entanto, a obra expiatória de Cristo precisa ser aplicada a cada um de nós: esta é a obra do Espírito Santo.
O Pai, desde a eternidade, nos escolheu. O Filho morreu em favor de seu povo, no tempo e na História. O Espírito Santo nos traz o benefício da morte de Cristo, bem como nos traz em Si mesmo à ressurreição e à vida de Cristo.
Servindo-se do mesmo poder com que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, o Espírito Santo nos toca, quando ainda estamos espiritualmente desamparados, mortos diante de Deus. Repentinamente, ressurgimos de nosso sepulcro espiritual; cremos no evangelho, cremos em Cristo, dependendo completamente dEle para nos salvar.
Em nosso estado de morte espiritual, não amávamos a Deus. Agora, nós O amamos, porque Ele nos amou primeiro. Não amávamos nosso próximo. Agora amamos até aqueles que antes odiávamos. Todos estes são os resultados miraculosos do novo nascimento. O Senhor nos tocou com seu poder ressuscitador. Estamos verdadeiramente vivos pela primeira vez. Nascemos de novo!
Temos de deixar claro que o Espírito Santo, ao realizar esta obra divina, utiliza a Palavra de Deus. A pregação do evangelho é uma parte essencial na obra de regeneração realizada pelo Espírito Santo — “Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1 Pe 1.23).
Levante-se!
Precisa haver uma apresentação das verdades do evangelho, se um pecador tem de vir a Cristo para a salvação. Entretanto, a chamada externa, para o pecador receber a Cristo, como Senhor e Salvador, não pode salvar, se permanece sozinha. É necessário haver também uma obra interna do Espírito Santo.
Assim como a voz de Deus afirmou: “Haja luz”, assim também o Espírito Santo traz luz ao nosso mundo de trevas. Ele diz à nossa alma morta: “Levante-se!”
Isto é semelhante ao aparecimento do Senhor Jesus diante do túmulo de Lázaro, quando Ele clamou em voz alta para que o morto saísse do sepulcro. E, assim como Lázaro foi chamado dos mortos para a vida, por intermédio do poder de Deus, assim também somos ressuscitados pelo poder de Deus que opera em nós.
É evidente que, fisicamente, Lázaro morreu outra vez. Todavia, isto não acontece à vida espiritual daqueles que nasceram de novo. A vida eterna que começou com o novo nascimento nunca acabará.
R. C. Sproul
Extraído de Be Sure What you Believe
Traduzido por Editora Fiel
Texto muito bom. Simples e completo, para honra e glória do Senhor Jesus!
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