A bênção do trabalho

“Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e sê sábio. Não tendo ela chefe, nem oficial, nem comandante, no estio, prepara o seu pão, na sega, ajunta o seu mantimento. Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? Um pouco para dormir, um pouco para tosquenejar, um pouco para encruzar os braços em repouso, assim sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade, como um homem armado.” (Pv 6.6–11)

Uma mãe tralhou e sofreu muito para criar sua numerosa família. Um de seus filhos chegou a ser gerente de uma grande empresa. Quando sua mãe ficou viúva, esse filho a convidou para viver na casa dele: proveu-lhe um belo aposento e designou alguns empregados para cuidarem dela.

Depois de algumas semanas, notaram que a mãe saía às compras e ficava fora o dia todo. Notaram que sempre pedia ao chofer para deixá-la numa certa esquina às 8 da manhã e apanhá-la às 4 da tarde, três dias por semana e sempre nos mesmos dias.Descobriram que ela havia conseguido um trabalho de empregada doméstica diarista. A mãe explicou ao filho que não queria ofendê-lo, mas na verdade não estava satisfeita em não ter nenhum trabalho para fazer.

Devemos recordar que o trabalho é honroso, que é uma bênção e que a preguiça é um pecado.

A. Lerı́n
In: 500 ilustraciones

Deus não é o autor do pecado e as outras questões curiosas

Deus não é o autor do pecado; e até onde se pode dizer que ele endurece. Está claramente escrito: “Tu não és Deus que se agrade com a iniqüidade. Aborreces a todos que praticam iniqüidade. Tu destróis os que proferem mentira” (Sal 5.4 ss). E de novo: “Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (João 8.44). Além disso, há em nós suficiente pecado e corrupção, não sendo necessário que Deus em nós infunda uma nova e ainda maior depravação. Quando, portanto, se diz nas Escrituras que Deus endurece, cega e entrega a uma disposição réproba de mente, deve-se entender que Deus o faz mediante um justo juízo, como um Juiz Vingador e justo. Finalmente, sempre que na Escritura se diz ou parece que Deus faz algo mal, não se diz, por isso, que o homem não pratique o mal, mas que Deus o permite e não o impede, segundo o seu justo juízo, que poderia impedi-lo se o quisesse, ou porque ele transforma o mal do homem em bem, como fez no caso do pecado dos irmãos de José, ou porque ele próprio controla os pecados, para que não irrompam e grassem mais largamente do que convém. Santo Agostinho escreve em seu Enchiridion: “De modo admirável e inexplicável não se faz além da sua vontade aquilo que contra a sua vontade faz. Pois não se faria, se ele não o permitisse. E, no entanto, ele não o permite contra a vontade, mas voluntariamente. O bom não permitiria que se fizesse o mal, a não ser que, sendo onipotente, pudesse do mal fazer o bem”. É isso o que ele diz.

Questões curiosas. As demais questões - tais como, se Deus quis que Adão caísse, ou se o incitou à queda, ou por que não impediu a queda e outras semelhantes - nós as reconhecemos como curiosas (salvo, talvez, se a impiedade dos heréticos ou de outros homens grosseiros nos leve a explicá-las também, com base na Palavra de Deus, como freqüentemente o fizeram os piedosos doutores da Igreja), sabendo que o Senhor proibiu o homem de comer do fruto proibido e puniu sua transgressão. Sabemos também que as coisas que se fazem não são más com respeito à providência, à vontade e ao poder de Deus, mas com respeito a Satanás e à nossa vontade que se opõe à vontade de Deus.

E se não vivo o que prego?


"E quanto a você, Lev Nikolayevitch, você prega muito bem, mas faz aquilo que prega?" Esta é a mais natural das perguntas, uma que sempre me é feita. Normalmente, é feita de maneira vitoriosa, como se fosse uma forma de calar minha boca. "Você prega, mas como vive?" E respondo que não prego, que não sou capaz de pregar, ainda que deseje apaixonadamente fazê-lo. Posso pregar apenas através de minhas ações, e minhas ações são vis (...) E respondo que sou culpado, e vil, e digno de receber as críticas por meu fracasso em cumpri-las.

Ao mesmo tempo, sem ter o propósito de me justificar, mas simplesmente visando explicar minha falta de consistência, digo: olhe para minha vida atual e para minha vida passada, e você verá que não tento defendê-las. E verdade que não tenho cumprido a milésima parte deles [os preceitos cristãos], e me envergonho disto, mas deixei de cumpri-los não porque não quis, mas porque fui incapaz de fazê-lo. Ensine-me como não ser enredado pela tentação que me cerca, ajude-me, e eu os cumprirei; mesmo sem ajuda, eu desejo e espero cumpri-los.

Ataque-me — eu mesmo faço isto —, mas ataque a mim, em vez de culpar o caminho que sigo e que indico a todos aqueles que me perguntam onde acho que ele esteja. Se conheço o caminho de casa e ando por ele embriagado, o caminho não deixa de ser certo simplesmente porque ando por ele cambaleante! Se não é o caminho correto, então mostre-me um outro; mas se cambaleio e perco o caminho, você deve me ajudar, deve manter-me na senda da verdade, assim como eu mesmo estou disposto a ajudá-lo. Não me leve por caminhos errados, não fique feliz por eu me perder, não se rejubile dizendo: "Olhe para ele! Disse que estava indo para casa, mas está se arrastando para um pântano!" Não, não se regozije, mas dê-me seu apoio e sua ajuda.

Leon Tolstói
Citado por Philip Yansey em Alma Sobrevivente.

Cristo fala aos necessitados

Cristo nos fala que Deus tem compaixão dos pobres e quebrantados e que Ele corresponde com a fé deles. Quando lemos os evangelhos, somos tocados pela quantidade de encontros de Jesus com as pessoas enfermas, pobres, oprimidas e desesperadas do Seu tempo. Sua reação a elas, era a reação de Deus: em compaixão, Ele lhes deu o que elas mais precisavam e as despediu então para prosseguirem no seu caminho. Ao observarmos cuidadosamente a pessoas necessitadas que vieram a Jesus, torna-se claro que, o que Deus pensa sobre as pessoas quebrantadas e sofredoras deste mundo é ainda mais importante que o que elas pensam de si mesmas. 

Jesus estendeu a mão aos sofredores de todo tipo: leprosos, mudos, cegos, surdos, adúlteros, jovens cruelmente oprimidos por demônios, um homem tão selvagem que teve de ser preso em correntes, as multidões famintas e homens e mulheres que tinham sofrido por anos de doenças terríveis e mutilações deformadoras. E quando Jesus os curou, os purificou e lhes concedeu perdão com base em sua fé, Ele estava expressando a misericórdia e amor de Deus para com todo aquele que clama por Ele. 

O que eles pensavam. Pessoas oprimidas — pessoas que sofrem com profundas necessidades físicas, emocionais e espirituais — freqüentemente se vêem dessa maneira: 
  • Sem o favor de Deus porque estão sofrendo 
  • Pecadores sob o julgamento de Deus 
  • Rejeitados entre os homens por serem diferentes 
  • Perigosos, porque podem contaminar outros 
  • Merecedores apenas da morte 
  • Longe da esperança de socorro 
O que Deus pensava. Mas este não é o quadro total. Na reação de Jesus para com as necessidades de pessoas oprimidas Ele revelou estes aspectos importantes da natureza e caráter de Deus: 
  • Porque Deus é onisciente, Ele esta' ciente de nossas necessidades. 
  • Porque Deus é onipotente, Ele pode satisfazer essas necessidades. 
  • Porque Deus é onipresente, ninguém sofre sozinho. 
  • Porque Deus é compassivo, ele restaura novamente as vidas quebradas. 
  • Porque Deus é eterno, Ele pode prometer um futuro luminoso mesmo para aqueles que não têm esperanças. 
  • Porque Deus é misericordioso, Ele é o amigo dos desamparados e pai dos órfãos. 
As pessoas que sofrem inclinam-se a pensarem que foram esquecidas ou que são imerecedoras de qualquer coisa, contudo elas não estão fora da lembrança e misericórdia de Deus. Cristo deixou óbvio, que Deus é um Deus compassivo e poderoso para curar e ajudar mesmo o mais desesperado. 

Quando Jesus apresentou Deus como um Deus de compaixão, misericórdia e esperança, Ele não estava nos falando nada de novo. No Antigo Testamento Deus mostrou-se preocupado com o pobre e o necessitado (Êxodo 23:11), compassivo para com os que sofrem (I Reis 17:17-24), amável para com viúvas e órfãos (Salmo 68: 5), amigo dos desamparados (Provérbios 18:24) e o restaurador de vidas quebradas (Isaías61:1). 
Cristianismo é Cristo. A pessoa e obra de Cristo são a pedra fundamental sobre a qual a religião cristã está construída. ... Cristo é o centro do Cristianismo; tudo o mais é periférico ... Se Jesus é divino, a existência de Deus ó provada e o cará ter de Deus é revelado. — John R.W. Stott
Martin R. Haas
Cristo, a Palavra Viva

Um coração devotado


Calvino acreditava não só que a mente precisa ser cheia da verdade da Palavra, mas também que o coração deve ser devotado à piedade. Na opinião dele, não existia esta coisa de ministro não santificado. O sucesso do pregador dependia da profundidade de sua santidade. Em público ou em particular, em seus estudos ou na rua, o homem de Deus tinha de se afastar do pecado e seguir a santidade. Calvino observou: “O chamado de Deus traz consigo [a exigência de] santidade”. Por esta razão, ele acreditava que o pastor deve manter sua vida e doutrina sob rigorosa vigilância. O homem de Deus deve cultivar uma visão elevada do Senhor e tremer diante de sua Palavra. Calvino escreveu: “Nenhum homem pode lidar de forma correta com a doutrina da piedade, a menos que o temor de Deus reine... dentro dele”.

Calvino era um homem que verdadeiramente temia ao Senhor, e este reverente temor de Deus purificou sua devoção à Ele. A rejeição que o reformador experimentou quando banido de Genebra (1538-1541) serviu apenas para intensificar sua vontade resoluta de conhecer e servir a Deus. Quando o conselho municipal de Genebra revogou sua expulsão e pediu o retorno de Calvino, ele escreveu a William Farel: “Porque sei que não sou meu próprio mestre, ofereço meu coração como um sacrifício verdadeiro ao Senhor”. Este gesto de devoção a Deus tornou-se o lema pessoal do reformador genebrino. Em seu selo pessoal, o emblema é um par de mãos humanas entregando um coração para Deus. A inscrição diz: Cor meum tibi offero, Domine, prompte et sincere — “Meu coração a Ti ofereço, ó Senhor, com prontidão e sinceridade”. As palavras prontidão e sinceridade descrevem adequadamente como Calvino acreditava que deveria viver diante de Deus, ou seja, em completa devoção a Ele.

Ao manter este compromisso, Calvino continuamente estimulava o fervor de sua alma por meio da oração e de uma atitude devotada. “Duas coisas estão unidas”, ele confessou, “ensino e oração. Deus deseja que a pessoa designada por Ele para ser um professor em sua igreja seja diligente em orar”. O trabalho de Calvino com a pregação, o ensino, o pastoreio e seus escritos — toda a sua vida e ministério — estavam sempre ligados à fervorosa oração. Por conta de sua piedade, a tirania dos muitos assuntos sérios que o pressionavam perdeu o poder.

Steven Lawson L. 
In: A arte expositiva de João Calvino, publicado pela Editora Fiel

A multiformidade da raça humana


Não há uniformidade entre os homens, mas multiformidade sem fim. Na própria criação tem sido estabelecidas diferenças entre a mulher e o homem. Dons e talentos físicos e espirituais são a causa de uma pessoa diferir da outra. Gerações passadas e nossa própria vida pessoal criam distinções. A posição social do rico e do pobre diferem completamente. Estas diferenças são, de um modo especial, enfraquecidas ou acentuadas por cada sistema de vida consistente, e o Paganismo e o Islamismo, o Romanismo bem como o Modernismo e assim também o Calvinismo, têm tomado sua posição nesta questão de acordo com seu princípio primordial. 

O Paganismo Acentua as Diferenças. Se, como o Paganismo afirma, Deus habita na criatura, uma superioridade divina é exibida em tudo quanto é elevado entre os homens. Desse modo ele obteve seus semideuses, culto a heróis, e finalmente seus sacrifícios sobre o altar do Divino César Augusto. Por outro lado, tudo quanto é inferior é considerado como mau e, portanto, dá origem ao sistema de castas na Índia e no Egito, e à escravidão por toda a parte, colocando com isso um homem sob uma base de sujeição a seu próximo. 

O Islamismo e o Catolicismo Acentuam as Diferenças. Sob o Islamismo, que sonha com seu paraíso de houries,26 a sensualidade usurpa a autoridade pública, e a mulher é a escrava do homem, o mesmo ocorre com o kafir27 que é o escravo dos muçulmanos. O Romanismo, tendo raiz em solo cristão, domina o caráter absoluto da distinção e o devolve relativo, a fim de interpretar toda relação do homem com o homem hierarquicamente. Há uma hierarquia entre os anjos de Deus, uma hierarquia na Igreja de Deus, e assim também uma hierarquia entre os homens, conduzindo a uma interpretação inteiramente aristocrática da vida como a encarnação do ideal. 

O Modernismo Procura Eliminar todas as Diferenças. Finalmente, o Modernismo, que nega e abole toda diferença, não pode descansar até ter produzido mulher-homem e homem-mulher, e, colocando toda distinção em um nível comum, destrói a vida por colocá-la sob a maldição da uniformidade. Um tipo deve responder por todos, uma uniformidade, uma posição e um mesmo desenvolvimento da vida; e tudo quanto vai além e acima disto é considerado como um insulto à consciência comum. 

A Interpretação Peculiar do Calvinismo. Do mesmo modo o Calvinismo tem derivado de sua relação fundamental com Deus uma interpretação peculiar da relação do homem com o homem, e esta é a única relação verdadeira que desde o século 16 tem dignificado a vida social. Se o Calvinismo coloca toda nossa vida humana imediatamente diante de Deus, então segue-se que todos os homens ou mulheres, rico ou pobre, fraco ou forte, obtuso ou talentoso, como criaturas de Deus e como pecadores perdidos, não têm de reivindicar qualquer domínio sobre o outro, e que permanecemos como iguais diante de Deus, e conseqüentemente iguais como seres humanos. Por isso, não podemos reconhecer qualquer distinção entre os homens, exceto a que tem sido imposta pelo próprio Deus, visto que ele deu a um autoridade sobre o outro, ou enriquece um com mais talentos do que o outro, para que o homem de mais talentos sirva o homem de menos, e nele sirva a seu Deus. 

O Calvinismo Condena as Desigualdades Impostas e Dignifica a Pessoa. Por isso, o Calvinismo condena não simplesmente toda escravidão aberta ou sistema de castas, mas também toda escravidão dissimulada da mulher e do pobre; opõe-se a toda hierarquia entre os homens; não tolera a aristocracia, exceto a que é capaz, quer na pessoa ou na família, pela graça de Deus, de exibir superioridade de caráter ou talento, de mostrar que não reivindica esta superioridade para auto-engrandecimento ou orgulho ambicioso, mas para gastá- lo no serviço de Deus. Assim, o Calvinismo foi obrigado a encontrar sua expressão na interpretação democrática da vida; a proclamar a liberdade das nações; e a não descansar até que, tanto política como socialmente, cada homem, simplesmente porque é homem, seja reconhecido, respeitado e tratado como uma criatura criada à semelhança de Deus.

Kuyper, Abraham
In: Calvinismo

O pecado original e os pecados atuais

Pecado original; pecados atuais. Reconhecemos, portanto, que há pecado original em todos os homens. Reconhecemos que todos os outros pecados que deste provêm são chamados, e verdadeiramente são, pecados, qualquer que seja o nome que lhes seja dado - pecados mortais, veniais ou mesmo aquele que é chamado pecado contra o Espírito Santo, que nunca é perdoado (Mc 3.29; I João 5.16). Confessamos também que os pecados não são iguais: embora surjam da mesma fonte de corrupção e incredulidade, alguns são mais graves que os outros. Como disse o Senhor, haverá mais tolerância para Sodoma do que para a cidade que rejeita a palavra do Evangelho (Mat 10.14 ss; 11.20 ss).

As seitas. Condenamos, portanto, todos os que ensinaram o contrário disto, especialmente Pelágio e todos os pelagianos, juntamente com os jovinianos, que, com os estóicos, consideravam todos os pecados como iguais. Em toda esta questão concordamos com Santo Agostinho, que das Escrituras Sagradas extraiu seu ponto de vista e por elas o defendeu. Mais ainda, condenamos Florino e Blasto, contra quem escreveu Irineu, e todos os que fazem Deus o autor do pecado.

Consagração total a Cristo

Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim. Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á. (Mt 10.37–39, RA).
Os fatos, como colocados por Cristo nesta passagem, sob certas circunstâncias, podem tornar necessária uma decisão muito penosa entre os parentes e a verdade. Quando surgem dissensões na família, a política e a experiência sugerem que se siga o meio-termo, sendo esta a maneira, geralmente aceita, em nossos dias para acomodar tudo. Isto, muitas vezes, significa a rendição por parte dos crentes que redunda em negação a Cristo. Isto dá a entender, que laços terrenos, que o amor dos pais e o afeto entre irmãos e irmãs são mais fortes e se arraigaram mais firmemente no coração, do que os comandos expressos de Jesus. 

Quando sucede qualquer frouxidão de princípios, da leitura das Escrituras, da oração em particular, de ir aos cultos divinos, de ressentir-se com blasfêmias, então acontece uma negação expressa, ou ao menos implícita, de Cristo por parte daquele que não é digno dele. Esta é uma ordem expressa da preferência acima de todos os interesses terrenos. Na verdade, a confissão escrupulosa de Cristo resultará em não ser agradável e colocará muitas cruzes sobre o cristão sincero, tais como os romanos impunham àqueles que eram condenados ao lenho da maldição. 

Há aqui também uma referência profética. O Senhor, usando expressões como estas, estava preparando seus discípulos para o fado que os esperava. Ele, confessando-nos, suportou tudo, até a morte na cruz. A crucificação era uma morte terrível. Mas, por mais horrível que seja, ela significa para nós salvação. Acaso, seus discípulos se mostrariam indignos, recusando-se a segui-lo no caminho do sofrimento, sabendo que uma tribulação de poucos anos lhes trará eterna alegria? A vida do discípulo de Cristo não lhe pertence para fins egoístas. 

Jesus usa aqui a palavra “vida” alternadamente pela vida corporal e a vida eterna, a salvação da alma. Aquele que busca e, aparentemente, ganha sua vida aqui no mundo, na busca de lucros temporais, e se esquece de cuidar de sua alma, perderá a salvação de sua alma. Mas, caso alguém, por causa de Cristo e em sua confissão firme, perde a vida terrena com tudo o que ela oferece, este achará mais do que uma compensação total e satisfatória no prêmio de misericórdia da mão de seu Senhor, a saber as glórias da vida eterna.

Paul E. Kretzmann
In: Comentário Popular Mateus a Lucas

Bonhoeffer e as esferas secular e sagrada do mundo


Em primeiro lugar, Bonhoeffer é de opinião que a religião estabelece uma divisão do mundo em duas esferas, a sagrada e a secular, ou a santa e a profana. A religião costuma entender que certas pessoas, certas profissões, certos atos e certos livros são sagrados, enquanto os demais são profanos. As pessoas e as atividades dedicadas ao que seja sagrado serão mais elevadas do que as pessoas e as atividades associadas ao que seja profano. A vida que mais interessa ao religioso constitui-se num cenário de tensões e conflitos entre situações religiosas e profanas. Quanto mais religioso se presuma uma pessoa qualquer, tanto maior tempo e energia devotará ao que lhe pareça sagrado e tanto menos se disporá a gastar com o que lhe pareça profano.

Durante toda sua vida, Bonhoeffer empenhou-se na luta contra o estabelecimento dessa divisão do mundo em esferas sagrada e secular. Já pudemos ver como, mediante sua análise do discipulado que custa, ele insistiu em salientar que temos de servir a Cristo no ambiente do mundo (isto é, na esfera do que se tem geralmente como sendo profano), e não num mosteiro (isto é, num lugar tido como sagrado). Já em 1932, Bonhoeffer escreveu, dizendo que a Igreja não se destinava a comportar-se como se fosse um santuário, mas, sim, seria ela “o mundo vocacionado por Deus para Deus mesmo”. Assim sendo, a Igreja não deve se retirar do ambiente do mundo, para fixar-se em ambiente que lhe proporcione uma existência sagrada, pois ela deve, na verdade, sair para o mundo levando-lhe a presença de Deus.

Em sua Ética, Bonhoeffer escreveu algumas linhas nas quais procura mostrar o erro da tendência da Igreja de pensar em termos do estabelecimento das “duas esferas” referidas. Quando a Igreja se deixa impressionar pelo pensamento de que haja duas esferas, a sagrada e a profana, ela logo revela a intenção de situar-se como instituição sagrada, de modo que lhe acontece tornar-se como se não passasse de mera “sociedade religiosa”. Em vez de um tal procedimento, entende Bonhoeffer que a Igreja deve procurar integrar-se no mundo, onde lhe será possível lutar visando à salvação do mundo pela importância da insistência em dizer aos homens que Deus ama este mundo. A responsabilidade própria do cristão não consiste em manter uma vida de piedade (isto é, uma vida cuja ênfase recaia no que se considere como sendo sagrado), mas, sim, no empenho por demonstrar-se fiel testemunha de Cristo no mundo através da maneira de viver e das atividades que desempenha. A pessoa que presume dedicar-se a um tipo de vida piedosa comporta-se como a zombar de Deus. Teria sido por esse motivo que Lutero se sentiu em condições de poder dizer que Deus preferiria ouvir as blasfêmias dos ímpios do que as expressões de Aleluia dos que se têm como piedosos. Bonhoeffer afirma que a Igreja vive numa “infeliz impiedade” quando, mostrando-se desobediente para com Deus, não obstante, continua invocando-lhe o sublime Nome. Por outro lado, há uma “feliz impiedade” no mundo, que é como um protesto levantado contra essa impiedade da falsa santidade, que tanto tem concorrido para a corrupção da Igreja.

W. E. Hordern
In: Teologia Contemporânea

Pecado, queda e morte do homem

A queda do homem. Desde o inicio foi o homem Por Deus criado à imagem de Deus, em justiça e santidade de verdade, bom e reto, mas, por instigação da serpente e pela sua própria culpa, ele se afastou da bondade e da retidão e tornou-se sujeito ao pecado, à morte e a várias calamidades. E qual veio ele a ser pela queda - isto é, sujeito ao pecado, à morte e a várias calamidades - tais são todos os que dele descenderam.

Pecado. Por pecado entendemos a corrupção inata do homem, que se comunicou ou propagou de nossos primeiros pais, a todos nós, pela qual nós - mergulhados em más concupiscências, avessos a todo o bem, inclinados a todo o mal, cheios de toda impiedade, de descrenças, de desprezo e de ódio a Deus - nada de bom podemos fazer, e, até, nem ao menos podemos pensar por nós mesmos. Além disso, à medida que passam os anos, por pensamentos, palavras e obras más, contrárias à lei de Deus, produzimos frutos corrompidos, dignos de uma árvore má (Mat 12,33 ss). Por essa razão, sujeitos à ira de Deus, por nossas próprias culpas, estamos expostos ao justo castigo, de modo que todos nós teríamos sido por Deus lançados fora, se Cristo, o Libertador, não nos tivesse reconduzido.

Morte. Por morte entendemos não só a morte corpórea, que todos nós teremos de experimentar uma vez, por causa dos pecados, mas também os suplícios eternos devidos aos nossos pecados e à nossa corrupção. Eis o que diz o apóstolo: “Estando vós mortos nos vossos delitos e pecados... éramos por natureza filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia... e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo” (Ef 2.1 ss). E também: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rom 5.12).

Heresias Históricas: eutiquianismo

Concílio de Calcedônia

Também conhecida por Monofisismo, esta concepção de Cristo, formulada por Eutiques (ou Êutico, 378-454 d.C.), que fora líder de um mosteiro em Constantinopla. O Eutiquianismo ensinava que a natureza divina de Jesus havia absorvido a natureza humana, gerando conseqüentemente um ser com uma terceira natureza. Esta doutrina é preocupante pois anula Cristo como verdadeiro Deus e como verdadeiro homem, o único que pode nos trazer salvação. Este falso ensino foi refutado em 451 no Concílio de Calcedônia.

Neste concílio reuniram-se 600 bispos, que pelo debate contra o Eutiquianismo formularam uma confissão de fé que elucidou a humanidade e a divindade de Jesus Cristo. Esta confissão cristológica permeia a crença das igrejas Orientais Ortodoxas, Católico Romana e as igrejas oriundas da Reforma Protestante, salvo as correntes pseudocristãs que durante a história trouxeram falsos ensinos que perverteram a cristologia ortodoxa.

Devido a importância que a confissão formulada no Concílio de Calcedônia possui, é muito importante citar a mesma na íntegra. Esta confissão também é conhecida como Definição de Calcedônia: 
“Portanto, conforme os santos pais, todos nós, de comum acordo, ensinamos os homens a reconhecer um e o mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, totalmente completo na divindade e completo em humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, que consiste também de uma alma racional e um corpo; da mesma substância (homoousios) com o Pai no que concerne à sua divindade e ao mesmo tempo de uma substância conosco, concernente à sua humanidade; semelhante a nós em todos os aspectos, exceto no pecado; concernente à sua divindade, gerado do Pai antes das eras, ainda que também gerado como homem, por nós e por nossa salvação, da virgem Maria; um e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, reconhecido em duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação; a distinação das naturezas de maneira alguma anula-se pela união; mas, pelo contrário, as características de cada natureza são preservadas e reunidas, para formar uma pessoa e substância [hypostasis], mas não partidas ou separadas em duas pessoas, mas um e o mesmo Filho e Deus Unigênito, o Verbo, Senhor Jesus Cristo; assim como os profetas dos tempos antigos falaram dele e o próprio Senhor Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos pais foi transmitido para nós.”
João R. Weronka
In: Apologia da divindade de Cristo

Um encorajamento para todos os que pregam


Longe de ser um professor de Bíblia apático, Calvino explicava as Escrituras de uma maneira viva e revigorante a ponto de estabelecer uma relação com seus ouvintes e causar grande impacto entre eles. Sua comunicação era vívida, memorável, clara, agradável e, às vezes, desafiadora ou até mesmo chocante. Sua pregação podia ter um tom pastoral ou profético. Além disso, a intensidade da concentração de Calvino atraía os ouvintes para suas palavras. Outros podem ter sido mais eloqüentes, entretanto, ninguém foi mais compenetrado e cativante do que ele.

Quando Calvino falava, ele sempre estava atento para a “harmonia que deve existir entre a mensagem e o modo pelo qual ela é expressa”. Em outras palavras, ele acreditava que “o modo” — ou seja, a forma como ele falava — “não deveria corromper a mensagem” — ou seja, aquilo que ele dizia. Ao contrário, o método deveria confirmar a essência da mensagem. O estilo literário de Calvino, sua educação em ciências humanas, sua própria personalidade, sua inteligência, e seu momento único na história — estes e outros fatores transformaram seus sermões em belas obras de arte; em obras-primas da habilidade de interpretação.

Apesar de os pastores de hoje estarem mais preocupados com seu próprio estilo de pregação, Calvino ainda permanece como uma fonte de grande encorajamento. Embora não fosse, por natureza, tão talentoso quanto outros para falar em público, o reformador de Genebra conseguiu marcar sua geração, e até mesmo o mundo, através de seu ministério de pregação. Que os expositores tirem força do exemplo de Calvino, pois, no fim, aspectos intangíveis como uma profunda convicção da verdade e vivacidade concentrada na Palavra ainda triunfarão. 

Steven J. Lawson
A arte expositiva de João Calvino, Editora Fiel

William Booth e a evangelização

Fonte: Mero Cristianismo
William Booth nasceu em Nottingham, Inglaterra, em 10 de abril de 1829. Vinha de uma família pobre e foi o primeiro de sua família a se converter a Cristo. Foi recebido numa Igreja Metodista. Casou com Catarina Mumford. No seu casamento não houve festa nem flores. Oficiado por um pastor, participaram da cerimônia o ministro oficial e as testemunhas. 

William foi designado para dirigir diversas campanhas evangelísticas. Numa delas contou com um auditório de mais de duas mil pessoas. O tesoureiro de uma igreja escreveu para uma revista: “O Senhor Booth é um homem extraordinário. Jamais passei, em toda a minha vida, seis semanas como as últimas”.

William e Catarina começaram o trabalho com pessoas de rua, bêbados, prostitutas, crianças abandonadas. No meu livro “Vidas Poderosas”, escrevi: “A tormenta se desencadeou na Conferência Anual. E assim foi decidido em 1857, por 44 votos contra, que William cessasse sua obra de evangelização. Uma acalorada controvérsia que durou cinco horas, precedeu essa decisão. O homem, cuja paixão era a salvação de almas e que estava divinamente chamado para isso, não deveria ir mais de pessoa a pessoa, nem de cidade em cidade. Deveria assentar-se e servir calmamente a uma pequena e pobre congregação”.

No final da discussão ficou assentado que o casal não poderia trabalhar com os marginais, com os pobres, prostitutas, limpar o vômito dos bêbados, isso não recomendaria bem a uma igreja cujo status não se ajustava a uma igreja de pessoas de boa formação. E o casal foi expulso da Igreja Metodista. Uma vez cortado da comunhão de sua querida igreja, William, de mãos dadas com a esposa, bateu no bolso e disse se retirando: “Sem níquel e sem amigos”. Uma vez desligado da sua amada denominação, o casal começou seu grande e maravilhoso trabalho nas ruas de Londres com as pessoas marginalizadas e ganhou milhares para Jesus.

E o trabalho foi crescendo, passou de Londres para toda a Inglaterra e chegou a diversas partes do mundo como o conhecido e respeitado Exército da Salvação. Uma organização, com hierarquia, disciplina e ordem à semelhança do Exército da terra. E todos os que compõem a organização trabalham com amor e carinho, socorrendo os pobres, transformando prostitutas e bêbados e prestando um trabalho com todas as classes das sociedade, não se esquecendo das crianças de ruas.

E qual seria a verdadeira razão dessa bênção que se mantém no mundo há quase dois séculos? Eles eram obreiros CHEIOS DO ESPÍRITO. William, dez anos antes da sua morte, perdeu a visão. Ao chegar a casa disse a seu filho Bramwell: “Meu filho, trabalhei anos com minha visão perfeita, agora cego, continuarei a servir o meu Mestre querido”. E perto da morte disse: “Oh! a salvação das gentes!"... E dirigindo-se ao filho: "Ó Bramwell, cuida dos desamparados". Suas últimas palavras audíveis foram: “As promessas de Deus são certas”. 

Foi promovido à glória no dia 20 de agosto de 1912.

Enéias Tognini
In: Você é cheio do Espírito Santo?

Os milagres são possíveis? A raiz do problema.


“Você realmente crê que Jonas foi engolido por uma baleia? E pensa com seriedade que Jesus realmente alimentou 5.000 pessoas com cinco pães e dois peixes?” Assim vai a tendência das perguntas de muitas pessoas hoje em dia, e este é seu tom. Decerto, dizem, estas histórias de “milagres” na Bíblia devem ser maneiras curiosas de transmitir verdades espirituais, e que não era a intenção serem tomadas ao pé da letra.

Com tantas perguntas, é muito importante discernir o problema que jaz em sua raiz, do que se envolver em debater um broto ou um galho. O problema de quem levanta a pergunta não é o assunto dum milagre específico, mas, de modo geral, com o princípio inteiro. Só comprovar o milagre em questão não seria responder sua pergunta. Sua controvérsia é com o princípio total da possibilidade de haver milagres.

A pessoa que têm dificuldades em aceitar milagres, muitas vezes acha difícil aceitar a profecia de predição. Estes problemas surgem dum conceito fraco sobre Deus. O problema real não é, pois, o assunto dos milagres ou das profecias; é com o conceito de Deus. Uma vez que aceitamos a existência de Deus, não há problemas quanto aos milagres, porque Deus por definição é onipotente. Na ausência de tal conceito de Deus, porém, o conceito dos milagres é extremamente difícil, senão impossível, de se aceitar.

Paul Litlle
In: Você pode explicar sua fé?.

Anjos, demônios e homens

Dos anjos e do diabo. Entre todas as criaturas, os anjos e os homens são os mais excelentes. Dos anjos declara a Santa Escritura: “Fazes a teus anjos ventos, e a teus ministros, labaredas de fogo” (Sal 104, 4). Diz ainda: “Não são todos eles espíritos ministradores enviados para serviço, a favor dos que hão de herdar a salvação?” (Heb 1, 14). Do Diabo testifica o próprio Senhor Jesus: “Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade. Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (João 8.44). Portanto, ensinamos que alguns anjos persistiram na obediência e foram designados para fiel serviço a Deus e aos homens, mas outros caíram pela sua própria vontade e foram precipitados na ruína, tornando-se inimigos de todo o bem e dos fiéis, etc.

Do homem. Já do homem diz a Escritura que no princípio ele foi criado bom, à imagem e semelhança de Deus, que Deus o colocou no Paraíso e lhe sujeitou todas as coisas (Gén cap. 2). Isso é o que Davi magnificamente celebra no Salmo 8. Além disso, Deus lhe deu uma esposa e os abençoou. Afirmamos também que o homem consiste de duas substâncias diferentes numa pessoa: de uma alma imortal, que, quando separada do corpo, nem dorme nem morre, e de um corpo mortal que, porém, ressuscitará dos mortos no juízo final, de modo que desde então o homem todo, na vida ou na morte, viva para sempre.

As seitas. Condenamos todos os que ridicularizam ou mediante argumentos sutis põem em dúvida a imortalidade das almas, ou dizem que a alma dorme ou é parte de Deus. Em resumo, condenamos todas as opiniões de todos os homens, por mais numerosos que sejam, que ensinam diversamente do que, a respeito da criação, dos anjos e dos demônios, e do homem, nos foi ensinado pelas Santas Escrituras na Igreja apostólica de Cristo.

O que torna a morte de Jesus singular?

Afinal, o que há de tão especial naquela morte em Jerusalém? Por que aquele dia é chamado de "o dia que abalou o mundo" e o "maior acontecimento da história"? Como ele transformou a cruz, de um simbolo de maldição, em um símbolo de adoração religiosa? A questão do sofrimento físico de Jesus não foi relevante para a importância daquele dia; não foi tão diferente do sofrimento de Estêvão, Pedro ou mesmo Sócrates. Nem foi relevante o fato de se tratar de uma punição injusta, aplicada a uma pessoa inocente de um crime; Sócrates também era inocente, assim como Soljenitsyn e os judeus descritos por Elie Wiesel. Nem mesmo a forma da execução foi tão portentosa, O livro dos mártires de Fox, por exemplo, retrata torturas muito mais terríveis que a crucificação.

Como é possível que um homem obscuro, executado como qualquer outro em um distante ponto do império e praticamente ignorado pelos historiadores seculares de seu tempo, reivindique o centro da história e influencie tudo o que ocorreu antes e depois de sua vida? Zombadores chamam isso de "o escândalo da particularidade", e a questão se agiganta diante de nossa fé. A resposta seria logicamente absurda, se não fosse a aceitação de uma crença — de que o homem executado era o próprio Deus, incógnito na história. A cruz expressa o sofrimento do próprio Deus. Ele se juntou à humanidade entrando na história e permitindo que o víssemos humilhado, despido e sofrendo.

Nesse ponto, a doutrina da Trindade se torna tão assombrosa que as outras religiões não conseguem acompanhá-la. Será que o Deus todo-poderoso simplesmente permitiu que seu Filho sofresse por nós, ou foi ele que sofreu, em Cristo, para nosso benefício? Os muçulmanos acreditam que Deus, incapaz de permitir que prosseguisse a execução de seu profeta, Jesus, acabou substituindo-o por outra vítima no último instante. Um argumento judeu, contrário à condição de Filho atribuída a Cristo, diz aproximadamente isto: "Se Deus não pôde suportar ver o filho de Abraão ser assassinado, ele certamente não permitiria que seu filho morresse". Será possível ignorar mais a verdade do evangelho além disso? Na fé cristã, Deus abriu mão de seu Filho Jesus exatamente porque não podia, em virtude de seu amor, ver aqueles como Isaque sofrerem. "Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?" (Rm 8.32).

E ainda hoje, não compreendemos completamente. A personalidade da TV americana Phil Donahue, ao explicar por que se desiludiu com o cristianismo, perguntou: "Como é possível que um Deus que tudo sabe e que é amor tenha permitido que o seu filho fosse assassinado numa cruz pelos meus pecados? Se Deus é realmente 'amor', por que ele mesmo não desceu e foi ao Calvário?". Logicamente, a resposta é que, de alguma forma que não compreendemos, foi o próprio Deus que veio à terra e morreu. "Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo" (2Co 5.19).

Yansey, Philip
In: À imagem e semelhança de Deus, editora Vida

Deus não muda Seus planos


Aquele homem começou a construir, mas não foi capaz de terminar e então mudou de plano como qualquer homem sábio faria nesse caso; ele construiu num alicerce menor e começou novamente. Contudo, teria dito sobre Deus que Ele começou a construir e não pôde terminar? Não. Quando Ele tinha recursos ilimitados ao Seu comando, quando Sua própria destra pôde criar os mundos tão numerosos quanto as gotas de orvalho matutino, teria sido necessário .para Ele Se deter a fim de recobrar forças? Inverteria, ou alteraria, ou modificaria Seu plano porque não poderia levá-lo a cabo? 

"Mas", dizem alguns, "talvez Deus nunca tivesse um plano". Então, o senhor pensa que Deus é mais tolo que você? Você trabalharia sem um plano? "Não", diria você, "eu sempre tenho um esquema". Deus também tem. Qualquer homem tem seus planos e Deus tem um plano também. Deus é um Arquiteto todo-sábio ; Ele organizou tudo em Seu imenso intelecto bem antes de realizá-lo; e tendo estabelecido de uma vez por todas, tenha certeza, Ele nunca alterará isso. "Isso será feito", diz Ele, e a mão forte do destino marca isso e o faz cumprir. "Este é o Meu propósito" e isto posto, nem terra ou inferno podem alterá-lo. "Este é o Meu decreto", diz Ele, promulgue-o anjos; sejam expulsos das portas do céu os demônios, mas vocês não podem alterar o decreto; ele será cumprido. 

Deus não alterou Seus planos; por que faria isso? Ele é todo-poderoso e por conseguinte pode executar tudo, segundo o Seu prazer. Por que faria isso? Ele é o onisciente, e, dessa forma, não poderia ter planejado erradamente. Por que faria isso? Ele é o Deus sempiterno e, sendo assim, não pode morrer antes que Seu plano seja realizado. Por que Ele deveria mudar? Vocês, átomos desprezíveis de existência, efêmeros do dia! Rastejantes insetos nesse jardim da existência! Vocês podem mudar seus planos, porém Ele nunca muda, nunca muda o Seu plano. Ele teria dito que Seu plano é me salvar? Se for assim, estou seguro.

Meu nome das palmas das Suas mãos
A eternidade não apagará; 
Impresso permanece em Seu coração, 
Em marcas de indelével graça.

Charles Spurgeon
In: Deus não muda. Editora PES

Carta de John Newton sobre a eleição

Você tem objeções à doutrina da eleição. Você deve, porém, concordar comigo que a Escritura fala dela, e em termos muito fortes e expressivos, especialmente o Paulo. Eu tenho encontrado pessoas sinceras que me disseram que não suportam ler o capítulo 9 de Romanos, mas sempre passam por cima, de modo que seus preconceitos contra eleição os prejudica no tocante uma parte da Escritura. Mas por que fazer isso, a menos que essa doutrina tão temida seja mantida tão claramente que se deva fugir? 

Mas você vai dizer que alguns escritores e pregadores tentam pôr um sentido mais fácil nas palavras do apóstolo. Vamos julgar então, como eu recentemente propus, a partir da experiência. Admitindo, o que eu tenho certeza que você vai admitir, a depravação total da natureza humana, como podemos explicar a conversão de uma alma para Deus, a não ser que se admita uma eleição da graça? A obra deve começar em algum lugar. Ou o pecador procura o Senhor primeiro, ou o Senhor em primeiro lugar busca o pecador. O primeiro caso é impossível, se por natureza estamos mortos em nossos delitos e pecados, se o deus deste século cegou os olhos e mantém a posse de nossos corações, e se nossas mentes carnais, tão longe de estar dispostas a buscar a Deus, são inimigas dele. 

Deixe-me apelar para você mesmo. Eu acho que você se conhece muito bem e pode dizer que você não procurava nem amava o Senhor em primeiro lugar: talvez você seja consciente que por um tempo, no que dependia de você, resistiu à sua chamada e teria perecido, se ele não tivesse te tornado disposto no dia do seu poder e o salvado a despeito de si mesmo. No seu caso, você reconhece que foi ele que começou com você, e este deve ser o caso com todos os que são chamados, uma vez que a totalidade da raça humana é por natureza inimiga de Deus. 

Logo, deve haver uma eleição, a não ser que TODOS sejam chamados. Mas nos é assegurado que o caminho largo, repleto de grandes multidões, leva à destruição. Por que eu e você não estamos nessa estrada? Éramos melhores do que aqueles que ainda continuam nela? O que nos fez diferentes do que éramos? Graça. O que nos fez diferentes daqueles que são agora como nós éramos anteriormente? Graça. Então esta graça, nos seus próprios termos, deve ser diferenciadora, ou graça distintiva, em outras palavras, graça que elege. 

E supor que Deus faz esta eleição ou escolha apenas no momento de nossa chamada, não é apenas antibíblico, mas contrário aos ditames da razão e às idéias que temos das perfeições divinas, especialmente a onisciência e imutabilidade. Os que acreditam que existe, por natureza, algum poder no homem, em que ele pode se voltar para Deus, podem defender uma eleição condicionada à previsão de fé e obediência. Mas ao defenderem isso, deixam eu e você admirados, pois sabemos que o Senhor nos anteviu (como nós somos) em um estado absolutamente incapaz de crer ou obedecer, a menos que ele se agradasse de operar em nós tanto o querer como o fazer, de acordo com seu bom prazer.

John Newton
In: The works of the John Newton.
Tradução livre por Cinco Solas