Deus e o livre-arbítrio

Não devemos nos deixar influenciar preconceituosamente pela ideia NÃO bíblica, mas popular, de que Deus nunca predestina as nossas decisões livres. 

Como seria possível que tamanho envolvimento divino na nossa vida não acabasse por influenciar profundamente as nossas decisões? Deus nos fez, por dentro e por fora. Para nos fazer como somos, Ele precisou controlar a nossa hereditariedade. Assim sendo, ele nos deu os pais que temos, e os seus pais e os pais deles. E para nos dar nossos pais, Deus precisou controlar muitas de suas decisões livres (como a decisão 'livre' dos pais de Jeremias em se casarem) e os seus pais e avós, etc. 

Além disso, vimos que Deus nos colocou no nosso ambiente, em situações que requerem de nós certas decisões. Ele decide quanto tempo iremos viver e faz acontecer nossos sucessos e fracassos, mesmo que esses acontecimentos dependam habitualmente de nossas livres decisões, em acréscimo a fatores externos. Visto que Deus havia planejado levar José ao Egito, e os seus irmãos não estavam, num sentido importante, livres para o matar, mesmo tendo a certa altura planejado faze-lo. Golias também não podia matar Davi, nem Jeremias poderia não ter existido. Os soldados romanos também não poderiam quebrar as pernas de Jesus quando ele estava pendurado naquela cruz, pois os profetas de Deus haviam declarado algo diferente.

As Escrituras nos ensinam diretamente que Deus causa nossas livres decisões. E não somente predestina o que acontece conosco, como também o que escolhemos fazer. A origem da decisão humana é o coração (Lc 6:45). Porem este coração está sobre o controle de Deus: "Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o SEU querer, o inclina" (Pv 21:1). É isso que Deus fez como Ciro. Isso também é o que ele fez com Faraó do Êxodo (Rm 9:17; Êx 9:16). 

(...)

Deus controla as nossas decisões e atitudes livres, predizendo frequentemente essas decisões muito antes de acontecerem. Durante o exílio, Deus "fez" um chefe oficial babilônico, "conceder a Daniel misericórdia e compreensão" (Dn 1:9). Depois do exílio, o Senhor "os tinha alegrado, mudado o coração do rei da Assíria a favor deles (Israel)" (Ed 6:22). Frequentemente, e por vezes muito antes de o acontecimento ocorrer, Deus nos diz o que um ser humano decidirá livremente o que vai fazer. O ponto aqui NÃO é meramente que Deus tem conhecimento antecipado de um acontecimento, mas que Ele está cumprindo o Seu propósito por meio dele.

John Frame
In: Não há outro Deus

10 comentários:

  1. Clóvis, tudo bem? Meu nome é Fernando e eu acompanho seu blog pois acho interessante o debate entre calvinismo e arminianismo. Não tenho uma posição definida pois ainda estou estudando o assunto.

    Quanto ao texto que você postou tenho dúvidas que me inquietam um pouco.

    Primeiramente quero dizer que não vejo problema em admitir que sim, Deus pode (e faz) intervir nas decisões livres dos homens. Não há como cumprir seus decretos sem influenciar as decisões humanas. Mas será que toda e qualquer decisão humana, isto é, 100% das escolhas, são determinadas anteriormente por Deus? Como o homem poderá ser responsabilizado pelos seus pecados se eles foram praticados por determinação divina?

    Agradeço sua atenção.

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    1. Fernando,

      É bom saber que você está estudando esse assunto que, embora não implique salvação, é de grande importância para nossa vida cristã.

      Muitos cristão creem na soberania divina e aceitam que Deus exerça uma providência geral, mas tem dificuldade para aceitar que tudo o que acontece foi predeterminado por Deus. Ou seja, admitem intervenções divinas ou mesmo uma providência geral, mas não meticulosa. Entendem que isso reduz tudo a mero fatalismo.

      Eu creio firmemente que Deus decreta tudo o que acontece, inclusive as escolhas morais livres, de forma que todos os eventos são não apenas previstos, mas determinados por Deus e por isso mesmo certos. Aliás, basta a presciência divina para que todos os eventos sejam fixados.

      Isso não significa que o homem seja isentado de responsabilidade, pois quando eles fazem o mal, o fazem livremente, no sentido de que não são coagidos por nada fora deles. Novamente, há vários exemplos bíblicos disso, a venda de José e a traição de Jesus são dois deles.

      Em Cristo,

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    2. Olá Clovis, obrigado por responder. Sou deste grupo que você falou, tenho muita dificuldade de conciliar Deus determinando tudo que acontece, até os pecados humanos, e a responsabilização do homem. Pode ser que você esteja certo e a mim esteja faltando uma iluminação quanto ao assunto, mas por enquanto me incomodo um pouco com isto e só não virei calvinista ainda por este motivo, eu acho...

      Vejamos o caso de Judas por exemplo. É muito claro para mim que sim, Deus inclinou a vontade dele a trair Jesus para cumprir o seu decreto e plano de salvação. Mas será que Deus fez Judas ser um ladrão avarento como descrito na Bíblia? Deus decretou a maldade e pecados de Judas? Ou na verdade ele potencializou algo que já estava em seu coração? Assim como aparentemente aconteceu com o faraó no Egito. O "endurecer o coração do faraó", vindo da parte de Deus, seria apenas uma potencialização da dureza e maldade já existente neste homem, para que o propósito de Deus fosse favorecido. Assim teria ocorrido interiormente em Judas.

      Entende o meu lado? Esta ideia de potencializar o que já existe no coração humano me parece mais "justa" que decretar uma vida de pecados aos homens e depois condená-los por algo que eles não poderiam evitar, já que estava determinado. Sei que você não pensa em responsabilizar Deus pelos pecados dos homens, mas em última análise é esta a conclusão, ao meu ver, entende?

      Bem, dúvidas a parte, estamos juntos aí para estudar o assunto. Obrigado pela sua atenção irmão.

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    3. Eu também penso sobre esse mesmo ponto de vista seu, Deus apenas potencializa algo que já estava no coração do homem, Faraó já tinha o seu coração endurecido, e portanto Deus fez questão de endurece-lo mais ainda para demonstrar o seu poder tanto diante dos egípcios como também do povo hebreu.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Clóvis, eu queria ser duro no meu coméntario acerca deste assunto,mas após publicá-lo, decidi excluí-lo.

    Clóvis, eu sou adventista do sétimo dia e sou e moro em Angola. Eu havia mandado a voce uma e-mail,mas acho que enviei-o a um enderesso errado,pois não houve "feed back." porfavor, eu quero entender o que é o calvinismo e o que ele ensina,pois eu o acho complicado e alguns pastores da minha amada Iasd, dizem que o calvinismo é diabólico. O meu e-mail é este: tomeabelwhite@gmail.com

    aguardando o teu retorno...

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  4. Eu tenho a mesma opinião do Fernando, é claro que existem alguns atos que Deus faz uma intervenção sim, mas não em todos os atos de todas as pessoas do mundo que Deus faz isso, é claro que muitas vezes não entendemos certas coisas mas no final de tudo vemos a mão de Deus por trás de tudo, tem até um ditado que tenta expressar isso : Deus escreve certo por linhas tortas.

    Eu por exemplo não consigo imaginar Deus predestinando que eu iria ter como também jogar o Top Gear do Super Nintendo um dia, Deus pela sua presciência já sabia que eu iria ter este video-game e jogar este jogo, mas não tinha predestinado isso, ele apenas já sabia de antemão

    Acredito que existem alguns atos livres sim, até para as pessoas poderem serem culpadas no dia do Juízo Final.

    As pessoas tem que ter em mente que a Soberania de Deus não pode entrar em conflito com a sua Justiça.

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  5. Existem duas verdades inegáveis.

    A primeira é que Deus é eternamente soberano sobre tudo o que há.
    A segunda é que os homens são plenamente responsáveis pelos seus atos, e que sua condenação é nada mais do que a justiça sendo feita.

    Agora, não sei se tentar conciliar essas duas coisas através do conceito filosófico do determinismo é a melhor solução. Eu creio que a posição mais razoável é a do "mistério" que existe nisso.

    Como Spurgeon disse certa vez, a soberania de Deus e a responsabilidade do homem não são contraditórias. Essas verdades caminham paralelamente na mesma direção. Não é o meu ou o seu trabalho uni-las.

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    1. Ser soberano não significa que todos os atos são preordenados por Deus, numa ditadura aquele que governa é soberano sobre os demais, no entanto as pessoas ainda são livres para fazerem aquilo que querem, embora sofreram as consequências se desagradarem tal comandante.

      Novamente falando, a soberania de Deus não pode se opor ou entrar em conflito com seus atributos, tal como o Amor, a Justiça, entre outros !

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  6. "Eu por exemplo não consigo imaginar Deus predestinando que eu iria ter como também jogar o Top Gear do Super Nintendo um dia, Deus pela sua presciência já sabia que eu iria ter este video-game e jogar este jogo, mas não tinha predestinado isso, ele apenas já sabia de antemão."

    Presciência e determinação são duas coisas completamente diferentes!
    O Clovis confunde essas duas coisas, como já visto em textos no seu blog.

    Uma coisa é Deus conhecer de antemão o que vai acontecer.Outra coisa é Deus ter determinado que aconteça.

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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