Em Efésios 1:4-5 não estaria Paulo se referindo aos apóstolos?

“Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade” Ef 1:4-5

Ante a clareza do texto acima em afirmar a eleição, um irmão pergunta se “não estaria o apóstolo Paulo fazendo referência exclusiva aos apóstolos ou outro ‘subgrupo’ entre os que serão salvos”. A implicação é de que os objetos da eleição seria uma classe de crentes e não todos os salvos. Portanto, quem Paulo tinha em mente ao escrever essas palavras?

Alguns argumentam que Paulo está falando da igreja como uma coletividade, sem consideração para com os indivíduos como tais. O argumento baseia-se no fato de que Paulo usa o pronome na primeira pessoa do plural. Uma resposta para esse argumento pode ser lido em meu artigo Eleição Corporativa.

A hipótese de que Paulo poderia estar se referindo a uma parte dos salvos não me havia sido sugerido ainda para essa passagem, mas já recebi para outras, como João 15, que não será considerado aqui. Vamos então, à luz do contexto, avaliar se é possível que Paulo tenha em mente, não os salvos em geral, mas um sobgrupo deles, como os apóstolos.

No primeiro capítulo de Efésios o apóstolo ora se refere a si mesmo como “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus”, ora se refere “aos santos que vivem em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus” (1:1). Mas na maioria das vezes ele usa o pronome na primeira pessoa do plural, incluindo-se nas bênçãos recebidas. A questão é quem mais ele inclui, os demais apóstolos, os crentes de Éfeso ou os crentes em geral? Creio que é este último caso, pela natureza das bênçãos descritas.

Ser “abençoado com toda sorte de bênção espiritual” (1:3) não parece algo restrito a algum grupo de salvos apenas, mesmo uma elite como os apóstolos. Ser “santos e irrepreensíveis perante Ele” (1:5) não é distintivo dos apóstolos, como também não o é “a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados” (1:7), nem o ser “feitos herança” (1:11) e “selados com o Santo Espírito da promessa” (1:13). Não existe nenhum grupo entre os crentes a quem se possa atribuir com exclusividade essas bênçãos. Assim, sendo, não há razão suficientemente para concluir que “nos escolheu nele antes da fundação do mundo” (1:4) e “nos predestinou para ele” (1:5) se refira a alguns e não à universalidade dos crentes.

Também não há que se pensar que Paulo estivesse incluindo apenas a ele próprio e aos efésios nessas bênçãos. Quando ele fala de algo que diz respeito a ele e não a toda à igreja, usa a primeira pessoa do singular. Quando se refere a algo específico dos efésios, usa a segunda pessoa do plural. É o caso, por exemplo, do verso 15: “Também eu, tendo ouvido da fé que há entre vós no Senhor Jesus”. Além disso, há que se considerar que a carta que conhecemos como dirigida aos Efésios talvez seja uma carta-circular, enviada a mais de uma igreja. Aponta para isso o fato da palavra Éfeso não constar em alguns manuscritos e a ausência de saudações pessoais, comuns nas epístolas paulinas.

Consideremos, porém, dois versos que parecem contrariar o que foi defendido até aqui. “A fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo; em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (1. 12-13). Há um contraste entre o “nós, os que de antemão esperamos em Cristo” e o “vós... tendo nele também crido”. É pouco provável que o contraste seja entre os apóstolos e os crentes de Éfeso. Possivelmente a referência é aos judeus, quanto à esperança messiânica, ou ao judeus cristãos, que foram os primeiros a crer em Cristo e os crentes gentios. Seja como for, não creio que se possa afirmar uma dicotomia das bênçãos espirituais referidas entre judeus e gentios, pois de ambos o Senhor fez um só povo, a Igreja.

Concluindo, creio que não há complicações maiores no texto, além da incomensurabilidade das bênçãos descritas. Paulo escreve aos Efésios e descreve as bênçãos espirituais aos salvos, inclusive a eleição e predestinação.

Soli Deo Gloria

47 comentários:

  1. Clóvis,

    Estou precavido, não há muito tempo, dos perigos dos malabarismos que muitas seitas e/ou indivíduos fazem com textos isolados da Bíblia, tentando induzir a conclusões precipitadas ou fraudulentas. Por isso, vejo com alegria e satisfação a preocupação que tens para que seus artigos sejam exclusivamente baseados no contexto. No entanto, não podemos negar a harmonia interna da Bíblia e as revelações graduais que foram apresentadas no transcorrer dos séculos, relacionando alguns temas dos profetas e dos apóstolos. Com isso em mente, gostaria de lançar aqui alguns comentários. Deixo claro que não estou refutando o artigo, apenas perguntando e buscando esclarecimentos de outras passagens da Bíblia que parecem contradizer o ponto defendido. Procurarei seguir a ordem do seu texto.

    Você escreveu:
    'Ser “abençoado com toda sorte de bênção espiritual” (1:3) não parece algo restrito a algum grupo de salvos apenas, mesmo uma elite como os apóstolos..] Ser “santos e irrepreensíveis perante Ele” (1:5)não é distintivo dos apóstolos, como também não o é “a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados” (1:7), nem o ser “feitos herança” (1:11) e “selados com o Santo Espírito da promessa” (1:13)'
    Meu comentário:
    Mas, na hipótese de Paulo estar naquele momento se referindo a uma condição privilegiada de um "subgrupo", isso não implicaria necessariamente numa condição exatamente oposta para os outros. Ou seja, eu posso dizer numa conversa restrita que fui abençoado por Deus de forma especial e que Jesus morreu por mim, sem que com isso eu esteja dizendo que outros não têm essas bênçãos. Eu estaria apenas enfatizando a minha reação pessoal a essas bênçãos, preparando os ouvintes para algo específico que eu pretendesse abordar.

    Você escreveu:
    "Não existe nenhum grupo entre os crentes a quem se possa atribuir com exclusividade essas bênçãos."
    Pergunto:
    Chegando a um nítido entendimento de que tais expressões não se restringem aos apóstolos, apenas parte da minha pergunta estaria respondida. A possibilidade de ainda assim existir um subgrupo pode ter base em outras passagens da Bíblia. Segue-se alguns exemplos:
    Lucas 12:32: “pequenino rebanho”, que surpreendentemente a “Genebra” nada comenta;
    João 10:16: “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco”, que nesse ponto a “Genebra” faz o relevante comentário: “outras ovelhas. Uma referência óbvia ao caráter universal do Novo Testamento, na qual a salvação é oferecida amplamente a todas as nações”, comentário que reforça a impressão de dois grupos, que nesse caso não parece haver dúvidas se tratar dos judeus e dos gentios, mas que pode ser a explicação da “eleição” revelada por Paulo, como sendo aplicada aos judeus cristãos;
    Apocalipse 7:1-9: “...Então, ouvi o número dos que foram selados...Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar...” Não está essa visão do apóstolo João revelando duas classes de seguidores do Pastor Celestial (João 10:16), salvos, mas em condições diferentes? Não parece transmitir essa passagem a ideia de “eleição” predestinada, apenas para o primeiro grupo (“os selados”)? E quanto a expressão "selados" nessa visão de João, fiquei ainda mais atento à conexão que exista entre essas passagens quando notei que Pulo escreve: "...fostes selados com o espírito da promessa", que você comenta nos parágrafos seguintes. Fico com a impressão da eleição predestinada se restringir a uma designação específica, e não à salvação em geral.
    Outros aspectos citados no restante do seu texto, creio que estão relacionados a pontos que destaquei acima.

    Desde já, peço desculpas por alguma dificuldade de clareza nos meus comentários e, principalmente, as dificuldades exegéticas evidentes.
    Espero pacientemente um retorno.
    Muito obrigado por tudo e que Deus nos conceda a Graça e Paz.

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    1. Jairo,

      Suas considerações são muito bem vindas. Darei uma respostas a elas em breve, pois no momento estou envolvido em atividades profissionais com prazo a ser cumprido.

      Conto com sua compreensão e obrigado pela participação e forma como o faz.

      Em Cristo,

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    2. Olá Jairo, tudo bem?
      Vamos pensar no seguinte:

      1. o termo "selado" é neotestamentário ou aparece no VT?
      2. o termo "selado" é empregado somente aos judeus no NT?
      3. "eleição" era um termo empregado etnicamente no VT, isso não mudou no NT? O que era segundo a etnia agora é segundo a fé...

      Se a eleição predestinada está restrita aos judeus, então como se harmoniza o texto de Atos 13:48?

      Jesus diz que aqueles dias seriam abreviados por causa dos eleitos. Só por causa do judeu de eleição predestinada?

      Vou analisar suas citações bíblicas mais de perto noutro momento e voltamos a conversar.

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    3. Olá, André... Tudo bem, graças a Deus. E com você?

      Primeiramente, gostaria de agradecer sua preocupação em contribuir com as considerações que fiz.
      Fiz uma pesquisa no VINE e no DITAT. Notei que são muitas passagens que usam o termo e cognatos, tanto no hebraico como no aramaico. Apesar de algumas explicações valiosas, não percebi como elas se relacionassem com o nosso ponto em questão. Por isso, me concentrei novamente no grego.

      O VINE apresenta o substantivo sphragis, que, como única relação com o hebraico, apontou para Ezequiel 9:4 (“marca com um sinal”-ARC, ARA e outras traduções). No entanto, o comentário mais oportuno (tão oportuno que me impressionou) é feito na página 980, sob o verbo sphragizõ, “selar, lacrar”, apresentado como cognato do substantivo sphragis, que denota (a): “selo” ou “sinete” e (b): “a impressão de um selo ou sinete”, sendo literal ou metafórico. A parte que citei acima como tendo total relevância com o ponto é a letra d, conforme segue na íntegra:
      "propriedade e segurança, junto com destino (Ap 7.3-5; bem como o substantivo em 7.2); as mesmas três indicações são transmitidas em Ef 1:13, na metáfora de 'selar' os crentes pelo dom do Espírito Santo, quando creram (ou seja, no momento da regeneração e não depois de um lapso de tempo durante a vida espiritual, 'tendo [nele também] crido' – e não 'depois de terem crido' - ; o particípio aoristo marca a definição e a perfeição do ato de fé); a ideia de destino é ressaltada pela frase 'o Espírito Santo da promessa' (veja também Ef 1.14); o mesmo se dá em Ef 4.30, 'estais selados para o dia da redenção', e em 2 Co 1.22, 'o qual também nos selou', onde a voz média sugere o interesse especial no Selador e no Seu ato;

      Com essa explicação, fiquei com a clara impressão de que a abordagem de Paulo não pode ser restrita aos judeus cristãos, tampouco a qualquer outro provável “subgrupo”, concordando assim com o texto do Clóvis. No entanto, prevalece a conexão, feita por mim e pelo VINE (deixo claro que não tinha visto ainda o VINE quando fiz o comentário do texto do Clóvis) com o capítulo 7 do Apocalipse. Depois de relatar “os selados”, fazendo inclusive menção de um número exato (144.000) fala no versículo 9 de “grande multidão” que também foram glorificados e estariam “diante do trono e diante do Cordeiro”. Ou seja, parece que o selo se aplica a outra coisa, e não à salvação. Entende qual é a minha dúvida específica, André? Se eu me apegar apenas à explicação de Paulo, elimino a hipótese de aplicação exclusiva aos apóstolos (que já havia eliminado com o elucidativo texto do Clóvis), como também elimino a aplicação exclusiva aos judeus naturais ou cristãos. Porém, o texto do Apocalipse retoma essa questão em minha mente. A primeira coisa que pensei foi os termos originais no grego não terem qualquer conexão (o de Paulo e o de João), mas verifico que o VINE apresenta essa conexão.

      Não estaria o apóstolo Paulo escrevendo um assunto que só seria plenamente entendido com a Revelação de João?

      Os pontos acima citados tem por motivação aprofundar as duas primeiras indagações. Eu estava preparando comentários para as duas perguntas seguintes, a número 3 e a outra sobre Atos 13:48. Descartei-os imeditamente quando li o excelente e elucidativo comentário da Bíblia Genebra sobre o versículo. Pesquisarei depois outros comentários sobre o versículo, como também retomarei toda a pesquisa baseando-me no DITNT.

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    4. Jairo,
      Sempre toco no livro de apocalipse com muito cuidado. Até o relato das cartas enviadas às igrejas, agente consegue até ser assertivo em muita coisa, passou desse ponto, tudo fica muito obscuro e especulativo demais.

      Vamos nos lembrar que este livro de João em particular é de estilo literário apocalíptico. O nome do livro, na verdade, revela o estilo literário do livro. Há outros textos do mesmo estilo literário (apocalíptico) na Bíblia.

      Uma das características do estilo apocalíptico é a alegoria. Há uma hermenêutica própria da cultura judaica que, por si só, era muito alegórica e quando eles escreviam um texto apocalíptico, a alegoria corria solta. Faz parte da alegoria judaica os símbolos e a numerologia. Não é por menos que, em apocalipse, encontramos figuras (símbolos) de todo tipo (besta, gafanhoto com cara de gente, dragão, meretriz, etc).

      Se considerarmos a simbologia numérica, o número 144.000 não passa de alegoria e não pode ser tomado assim tão ao pé da letra.

      Não sinto segurança, hermeneuticamente falando, em utilizar apocalipse como chave para entender o que Paulo diz, como se estivéssemos seguindo aquela ordem básica da interpretação bíblica: um texto obscuro precisa ser iluminado por um texto mais claro.

      Veja que os escritos de Paulo são teologicamente orientados. Os textos apocalípticos têm conteúdo teológico, mas não são instruções teológicas como são os textos de Paulo. O texto de Paulo explica, o texto apocalíptico obscurece. Não é contradição! Apocalipse é revelação e deveria ser o oposto de obscurecer (pois tira o véu), mas o estilo literário apocalíptico obscurece seu conteúdo propositalmente com sua alegoria. Ou seja, revela mas não explica!

      Essa tradição judaica de interpretação bíblica é chamada de PARDÊS (espécie de acróstico para Pshat - Remez - Drash - Sod). Quem entende profundamente essa técnica hermenêutica judaica, diz que apocalipse foi escrito dentro dessa estrutura e não pode ser lido de outro jeito. Se João era judeu, é bem aceitável considerar que ele tinha conhecimento da técnica hermenêutica de sua cultura e não poderia realmente ter escrito apocalipse de outra forma.

      Na paz.
      André R. Fonseca

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    5. André,

      Excelente! Tenho agradecido diariamente a Deus por nos ter dado “outro Consolador” que nos “ensinará todas as coisas”, e são momentos como este que nos asseguram como Deus tem conduzido a sua obra de várias maneiras, entre elas, usando nossos irmãos para nos ajudar. ( Atos 8:29-38; João 14:16-17,26). Sua dissertação foi esclarecedora mais uma vez. Realmente, não é possível fazer qualquer conjectura sobre o Apocalipse sem correr o risco de fazê-lo precipitadamente e com evidentes delírios exegéticos e hermeneúticos. Apenas concernente a essa passagem do Apocalipse, já li ou escutei vários devaneios. Portanto, tomo seu conselho como uma espécie de introdução ao Apocalipse.
      Quando você citou que há “outros textos do mesmo estilo literário”, imediatamente lembrei de Daniel, especificamente da parte final, quando ele humildemente admitiu: “Eu ouvi, porém não entendi; então, eu disse: meu senhor, qual será o fim destas coisas? Ele respondeu: Vai, Daniel, porque estas palavras estão encerradas e SELADAS até ao tempo do fim” (Dan. 12:8,9; Obviamente, o grifo é meu e por motivos que imagino esteja óbvio.) Jesus Cristo disse que o “Consolador” nos “ensinará todas as coisas”, mas no tempo certo e determinado (Eclesiastes 3:1). Por isso, como já citei acima, acho sensato o seu conselho para o Apocalipse. Os dois últimos parágrafos são, simplesmente, soberbos. (No sentido virtuoso do termo...rsrs).
      Mais uma vez, obrigado.
      Na Paz,

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    6. Jairo,

      Da seu reconhecimento de que meu artigos são "exclusivamente baseados no contexto" deprendo que concorda comigo que o contexto imediato não favorece a existência de um subgrupo privilegiado, o qual seria de eleitos predestinados em contraste com os crentes em geral. Mas como pede "esclarecimentos de outras passagens da Bíblia que parecem contradizer o ponto defendido", entre as quais cita Lc 12:32; Jo 10:16 e Ap 7:1-9, irei ampliar (sem aprofundar) minha análise. Antes, porém, de considerarmos essas passagens mais remotas, penso ser interessante analisarmos a epístola aos Efésios quanto a essa possibilidade. Pois sem desprezar a analogia da fé, creio o contexto imediato tem prevalência quanto ao sentido de uma passagem, ainda mais se tratando de uma epístola.

      Em Efésios Paulo usa o pronome "nos" (hemas) 12 vezes para dizer que Deus nos "tem abençoado" (1:3), "escolheu" (1:4), "predestinou" (1:5), "concedeu [sua graça]", (1:6), "nos derramou [sabedoria e prudência]" (1:8), "amou" (2:4; 5:2), "mostrou a riqueza da sua graça" (2:7). O mesmo pronome é utilizado para se referir a "sermos santos e irrepreensíveis" (1:4), "sermos para louvor de sua glória" (1:12) e ao fato de que "andamos outrora segundo as inclinações da nossa carne" (1:3) e estávamos "mortos em nossos delitos" (1:3), mas que agora "cremos segundo a eficácia dos eu poder" (1:19). Difícil atribuir essas bênçãos e referências a um subgrupo de crentes. O que é dito nessas passagens que não possa ser dito de cada crente em particular e de todos os crentes em geral?

      Independente dos objetos do que chama de eleição predestinada, você manifesta a "a impressão da eleição predestinada se restringir a uma designação específica, e não à salvação em geral". Porém o texto Paulino indica claramente o objetivo da eleição. Segundo ele, fomos escolhidos "para sermos santos e irrepreensíveis perante ele" (1:4) e predestinados "para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo" (1:5). Mais uma vez, tais alvos dizem respeito a todos os crentes e não uma classe privilegiada dentre os salvos. Ou ousamos dizer que a santidade e a adoção estão dissociadas da salvação comum a todos os regenerados? Creio que criaríamos sérias dificuldades se adotássemos esse ponto.

      Creio que era o que eu podia dizer por ora sobre o assunto em Efésios. Num próximo comentários atentarei para as passagens mencionadas por você, contudo, gostaria de você considerasse o que foi dito aqui, antes de avançarmos.

      Em Cristo,

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    7. Clóvis,

      Tentarei sintetizar os pontos até agora colocados por mim. Dessa forma ficará evidente onde já avancei, entendendo e aceitando, e o que não consigo entender:

      1 - Paulo escreveu no cap. 1 de Efésios sobre eleitos predestinados? Sim. Nunca tive dúvida desde a minha pergunta inicial.

      2 - Paulo estava se referindo apenas aos apóstolos? Não. Seu post logo me convenceu disso.

      3 - Paulo estava falando dos judeus carnais, o que evidentemente ele poderia incluir-se, ou dos judeus cristãos? Não. Seu post e as reflexões propostas pelo leitor do blog, André, eliminou essa possibilidade em minha mente.

      4 - Há alguma margem para Paulo não estar falando de predestinação, no pleno sentido da palavra? Nenhuma. O texto é tão evidente que posso ficar convencido de que Calvino explicou essa doutrina com precisão, não acrescentando nela qualquer raciocínio meramente humano.

      Proponho agora um recomeço da minha busca, fazendo-o em forma de perguntas. Entendo que determinadas premissas só podem ser avaliadas de forma progressiva, quando outras fundamentais já são um consenso entre os interlocutores. Um "embate" pode estar sendo totalmente inútil, se partirmos de uma premissa falha. Não vejo como seja possível estabelecer todas as premissas agora e por esse meio. Portanto, na medida em que elas forem surgindo, serei enfático em abordá-la e perguntar o seu ponto de vista. Então, minha pergunta inicial é:

      Partindo da premissa de que a Bíblia é harmoniosa de Gênesis a Apocalipse, sem qualquer contradição e interdependente, o apóstolo Paulo não pode ter revelado apenas um fragmento de doutrina, ficando as outras partes para serem reveladas por outros escritores inspirados?

      Em Cristo,

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  2. André,

    Voltei porque observei que não fui claro no último parágrafo. Sobre a sua indagação baseada em Atos 13:48, o comentário da Genebra apoia enfaticamente a sua pergunta. Pesquisarei com mais atenção apenas o seguinte ponto: "destinar" é sempre, ou necessariamente, a mesma coisa de "predestinar"?. Não acredito que alterará muita coisa ante a nota da Genebra, que parece não ter "forçado a barra" buscando uma interpretação dogmática.

    A sua pergunta número 3, é simplesmente esclarecedora. Não havia pensado por esse ângulo no que tange a esse aspecto. Obrigado.

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    1. Jairo, entendo sua preocupação em não se deixar levar por uma nota de rodapé tendenciosa. Se a Bíblia de estudo é reformada, é claro que a coisa será orientada para esse lado.

      Mas deixo aqui a tradução da NTLH para o texto. Até onde sei, não há orientação dogmática na SBB.

      "Quando os não-judeus ouviram isso, ficaram muito alegres e começaram a dizer que a palavra do Senhor era boa. E creram todos os que tinham sido escolhidos para ter a vida eterna."

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    2. André,

      Ante à miha confissão no meu outro comentário, faz-se necessário esclarecer que as minhas observações agora não mudam a minha posição concordante. Portanto, meu comentário agora, serve apenas como uma ressalva. O fato é que notei certa dificuldade em defender tudo que foi explicado acima, se fizermos uso da NTLH no texto de Atos 13:48. Explico:
      Consulto a NTLH sempre que estou pesquisando todos os textos, pois possuo ela também. Tenho escutado com muita frequência que ela não é nada mais que uma paráfrase, o que imagino ser também a sua opinião, comprometendo o exato entendimeto da ideia original do escritor. Na verdade, é o que toda paráfrase faz ou se arrisca em fazer. Pareceu-me, com o pouco conhecimento que tenho, ser o caso dessa passagem de Atos, pois considero que são dois problemas aqui.

      1)“...todos os que tinham sido escolhidos”(NTLH) é bem diferente de “todos os que haviam sido destinados”(ARA): ao não fazer qualquer alusão à “destino”, podemos concluir que a escolha foi feita naquele instante. É curioso que, conforme você pode ter observado, a nota (da NTLH) faz referência a outras quatro passagens da Bíblia, na seguinte ordem: Marcos 13:20; João 15:16,19; Romanos 8:29,30; Efésios 1:4. Todos os versículos parecem apoiar a eleição. Ou seja, a hermenêutica da NTLH compromete muito a exegese do texto da passagem de Atos 13:48.
      2)As duas passagens faladas por Jesus, tanto na NTLH como na ARA e ARC, não fazem qualquer menção de predestinação para esses “escolhidos”, fazendo da tradução de Atos 13:48 na NTLH uma opção justificável ou plausível. Enquanto que no que se refere às passagens de Paulo, não há divergências entre as traduções (mesmo com o texto diferente da NTLH, não tem como negar que se refere a algo predestinado), parecendo não ser possível ter certeza que Jesus, Lucas e Paulo estivessem por falar estritamente da mesma coisa.
      Bem, continuarei estudando os pontos relacionados a esse tema, pedindo a Deus sabedoria (Tiago 1:5) e Espírito Santo (Lucas 11:13).
      Na paz,

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    3. Então, Jairo,
      Não considero a NTLH uma paráfrase que "compromete o exato entendimento da ideia original do escritor" como você colocou. Tenho verificado que a NTLH usa do princípio de tradução dinâmica que visa valorizar a real intenção do autor ao invés da literalidade do texto. E acredito, cada vez mais, que a equipe de tradução foi muito feliz na tradução da ideia acima da letra na quase totalidade do texto bíblico. Eu mesmo tenho conferido a tradução de quase todo o novo testamento a partir do original grego. Espero passar a conferir o Velho Testamento em breve quando terminar a verificação do NT. Já me deparei com algumas complicações no VT em minha leitura diária, mas nada sistemático. E tenho trocado correspondências com o representante da equipe de tradução da SBB (Dr. Vilson Scholz) sobre alguns pontos, e minha confiança, mediante as respostas dele, só cresce.

      O NT é mais fácil de traduzir porque está mais próximo (em tempo e cultura) e foi escrito em apenas 100 anos. O VT é muito mais complicado, foi escrito por uma variedade muito maior de autores, redatores, e num período muito maior (supostamente de moisés até o pós exílio)... é muuuuito complicado!!!! Não basta traduzir letra por letra, palavra por palavra. Entende?

      Veja o quanto nossa língua já mudou em 500 anos. Estamos sofrendo uma nova reforma ortográfica. O que te faz pensar que o hebraico do pré exílio é o mesmo do pós exílio? Será que dá pra comparar tudo assim tão sistematicamente? Temos a septuaginta para apontar as correlações entre os termos gregos do NT com as palavras hebraicas, como você tentou fazer. Mas será mesmo que o grego da septuaginta é o mesmo grego do século I? Tá vendo a dificuldade da coisa toda? Traduzir não é só consultar um léxico e juntar palavrinha de um idioma para o outro. Junto ao conhecimento dos idiomas envolvidos temos a linguística, antropologia, hermenêutica e por aí vai...

      Mas, voltando ao assunto, citei a NTLH com uma argumentação arminiana em mente que tentar trazer uma tradução alternativa para o texto dizendo que a tradução de Almeida foi infeliz e fez parecer que o texto tratava de eleição/predestinação. A tradução NTLH (a mais recente, ainda mais recente que a NVI) traz uma clara afirmação de eleição, e se prestarmos atenção no tempo verbal, a eleição é antecedente ao evento. Na minha opinião, as palavras foram bem selecionadas e deixa claro que a eleição é anterior ao evento. Não vejo como você colocou.

      Se você se interessar em ler algumas considerações que fiz sobre a NTLH recomendo o artigo:
      http://www.andrerfonseca.com/2012/05/o-que-seria-uma-traducao-fiel-ao.html

      Sobre hermenêutica (exegese do grego e hebraico):
      http://www.andrerfonseca.com/2012/05/exegetas-com-sindrome-de-etimologia.html


      (Clovis, espero que não se importe com os links para fora de seu blog)


      Paz,
      André R. Fonseca

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    4. André,

      Fui precipitado em incluir você no grupo maior de estudantes da Bíblia que conheço que tem essa visão da NTLH. Muitos, infelizmente, têm a tendência de fazer comentários sem nunca ter feito um exame cuidadoso. No caso em questão, comentei apenas a passagem que considerávamos. Não conheço muito a NTLH, por isso deixei claro que esse ponto de vista de paráfrase é repetido por alguns estudantes da Bíblia que conheço, não sendo o meu ponto de vista pessoal, pois não tenho conhecimento para me posicionar nessa questão. No entanto, na passagem de Atos 13:48 fiquei mais confuso com o texto dela, pois acho que está claro que não se faz uso de qualquer termo que proponha a predestinação, tornando-o muito diferente da ARA e ARC, ponto que entendi melhor com a sua explicação sobre a posição arminiana. Faz pouquíssimo tempo que busco um posicionamento quanto a isso, e não tenho feito estudos específicos nessa direção.
      No momento, estou comparando três traduções em minha leitura diária. Tenho em mente fazer isso com outras que possuo, incluindo a NTLH, coisa que seus comentários me encorajaram à fazer. Entendo perfeitamente e concordo com tudo o que você colocou sobre as dificuldades de tradução do hebraico quando comparado ao grego. Mas, como você deve ter notado no primeiro comentário que fiz ao post do Clóvis, não tenho muito conhecimento exegético. Por isso, sempre deixo claro nas minhas colocações o tom de pergunta ou raciocínios, e nunca de refutação.
      Leio a Bíblia desde a infância, mas com um controle sectário que não foi positivo na minha busca por Deus, coisa que me libertei não faz ainda um ano. Não tenho dúvida que amo esse Livro, e nunca permiti que interpretações incongruentes perturbassem minha fé em Deus e no Nosso Senhor, Jesus Cristo.
      Por fim, obrigado pelos artigos sugeridos.
      Paz,


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    5. André,

      Importo-me sim com links para fora do blog. Mas importo-me no sentido de apreciar e incentivar, sempre que o link lançar luz sobre o que está sendo tratado. Portanto, fique muito à vontade para fazer referências externas à vontade, confio no seu critério. E quando se tratar de seu blog, fiquei mais à vontade ainda.

      Uma palavrinha sobre a NTLH. Não tenho o mesmo preparo e nem um décimo de sua dedicação na "revisão" da NTLH. Mas sou da opinião que a mesma está mais para paráfrase do que para tradução. Não que isso seja errado em si, paráfrases podem ser e são úteis, mas arriscadas.

      No texto em si, embora eu concorde que a Bíblia ensina tanto a (pre)destinação quanto a eleição, acho que verter τεταγμενοι como escolhidos está longe de ser a melhor escolha, inclusive se consideramos as outras traduções do termo na NTLH.

      E, para termos ideia de como uma paráfrase pode ser perigosa, consideremos a expressão na Bíblia Viva: "...e todos os que queriam a vida eterna, creram".

      De qualquer modo, o que tenho em relação à NTLH são reservas, e não convicções fundamentadas.

      Em Cristo,

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    6. Então Clovis,
      Não vamos desviar o assunto aqui, mas predestinar não parte de uma eleição? Aceitaram porque foram predestinados, se foram predestinados, foi porque eram eleitos.. . na minha cabeça, dá no mesmo. A ideia de ser escolhido (eleito) é mais assimilável que predestinado para quem nunca tratou os termos teologicamente. A NTLH visa a compreensão direta da ideia contida no texto sem explicações suplementares. Foi salvo quem foi escolhido e não quem escolheu! Não está no poder de quem é salvo. Entende?

      É claro que traduzir tetagmenoi numa tradução formal é erro, mas em tradução dinâmica, não. É isso que a gente não pode perder de vista quando lê a NTLH.

      E entre as paráfrases, considero a NTLH muito superior comparada à Bíblia Viva ou A Mensagem. Contudo, a Nova Bíblia Viva está bem melhor. Com a versão antiga que você tem com a nova:

      "Quando os não judeus ouviram isso,ficaram muito contentes e se alegraram com a palavra do Senhor; e creram todos os que tinham sido designados para a vida eterna."

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    7. Senhores, desculpem me intrometer...

      Tenho a Nova VIVA e confirmei o texto que o André já passou. Diferença significativa.

      Gostaria de uma opinião sobre essa tradução, como segue:

      "...e todos os corretamente dispostos para com a vida eterna tornaram-se crentes."

      Qual a possibilidade de se traduzir dessa forma, analisando o texto original?

      Paz,

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  3. Clóvis e outros irmãos leitores e colaboradores do blog.

    Primeiramente, peço desculpas se eu estiver citando algo que já tenha sido proposto no blog, pois tenho lido todos os posts e respectivos comentários, um a um, o que tem sido enriquecedor no meu estudo pessoal da Bíblia, mas ainda não li todos.

    Estive refletindo na passagem de Gênesis 4:1-7 e fiquei com as seguintes dúvidas:

    Tendo em vista que o relato não é claro em apontar as atitudes de Caim e Abel antes desse episódio das ofertas, as características espirituais deles só ficam mais evidentes com o fratricídio perpetrado por Caim, relatado nos versículos seguintes. Outra passagem que considero esclarecedora é a de 1 João 3:12, onde o apóstolo diz taxativamente que Caim "era do Maligno". Então, não há qualquer dificuldade em entender e diferenciar as atitudes dos dois irmãos.

    A questão começa a ficar difícil de entender, quando tentamos pensar sob a ótica calvinista/arminiana. O relato diz que Caim "irou-se" e "descaiu-lhe o seu semblante". A segunda pergunta que Deus fez a Caim é interessante no que tange aos temas "predestinação", "livre-arbítrio" e "eleição". Deus pergunta a Caim: "Se procederes bem, não é certo que serás aceito?" (Evidentemente uma pergunta retórica. Ou não?)Que impressão tive dessa passagem?

    Deus induz Caim a uma reflexão óbvia, fazendo-o reconsiderar a sua posição rebelde. Isso é muito semelhante aos vários momentos onde a Bíblia mostra Deus convidando a nação de Israel à se reconciliar com Ele. Isaías 1:18, Ezequiel 33:10-20, 2 Pedro 3:9 (não é dirigida especificamente aos israelitas). Faria Deus um incentivo ao arrependimento sabendo que isso era em vão? Observe as palavras de Deus à Caim: “ele (o pecado) deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo.” Deus está dizendo que o homem pode dominar, ou controlar a força do pecado sobre ele, desde que se arrependa das obras da carne pecadora. Conciliando com a pergunta acima explicada, fica fácil concluir que Deus está falando que o homem pode ser “aceito”(“eleito”) por Ele.

    Entendo que toda a questão pode se resumir ao termo "aceito", não sendo uma referência abrangente, senão restrita à aceitação da oferta de Caim. Seria isso?

    Mais uma vez solicito a ajuda de vocês, irmãos. Como sempre, deixo claro minha intenção em compartilhar as minhas reflexões sem dogmatismo, esperando por uma explicação mais elucidativa.

    Em Cristo,

    Jairo Santos de Lima

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    1. Olá mais uma vez Jairo,

      Permita-me colocar as minhas observações.

      Conciliando com a pergunta acima explicada, fica fácil concluir que Deus está falando que o homem pode ser “aceito”(“eleito”) por Ele.

      Eu sei que a regra de ouro da hermenêutica é iluminar um texto obscuro com outro. Todavia, se considerado o contexto de Gênesis, não há obscuridade para ser tratada com versos de outro lugar. Você mesmo já puxa a relação mais próxima possível do contexto para responder ao que se referia o "aceitar". Entendo que toda a questão pode se resumir ao termo "aceito", não sendo uma referência abrangente, senão restrita à aceitação da oferta de Caim. Seria isso?

      Voltando ao problema de juntar tudo numa unidade só. Existe a teologia sistemática e a teologia bíblica. A primeira sistematiza todo o conteúdo bíblico em uma única unidade de ensino; a segunda é uma teologia particular de cada livro ou autor bíblico. Nesse aspecto a teologia bíblica é bem interessante, porque nos mostra claramente quais eram as ênfases teológicas de cada autor, ou qual era a tendência teológica de uma determinada época a julgar pela data de autoria de um livro.

      Por exemplo, tentativas de fazer um estudo sinótico dos livros de Reis e Crônicas mostram as diferentes ênfases teológicas entre os dois redatores. Provavelmente de duas épocas diferentes. Precisamos nos lembrar que a teologia foi progressivamente formulada e seria incoerente acreditar que encontraríamos declarações de uma teologia paulina de eleição em Gênesis.

      De acordo com a alta crítica (método histórico crítico), Gênesis é uma compilação de histórias de diversas fontes que foram agregadas (editadas) em um único livro como temos hoje por mãos de algum redator ou redatores no pós-exílio assírio; ou seja, por volta do ano 500 a.C..

      Observe que há dois relatos da criação, um dá a Deus o nome de Elohim e o outro relato de Jeová Elohim... termos respectivamente traduzidos em nossas versões por Deus e SENHOR Deus. Por que essa mudança no nome de Deus de um capítulo para o outro? A conclusão da hermenêutica no método histórico crítico é que os dois textos são de origens distintas, com tradições teológicas distintas.

      Quais as implicações com o contexto de Caim que você citou? Bem, se o texto foi compilado por um redator que eles chamam de Deuteronomista pode ser que a teologia de retribuição de bem ou mal de acordo com a obediência ou desobediência seja evidente no texto.

      Enfim, só quero levantar aqui que a questão não é tão simples. Pelo menos, dependendo do ponto de partida. Qual postulado (pressuposto) você quer adotar como ponto de partida na sua pesquisa hermenêutica?

      Deixo a proposta para reflexão, para exercitar a mente. Não tô sugerindo a conclusão de nada! ;)

      Em Cristo,
      André R. Fonseca

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    2. Jairo Lima, você está por aí?

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    3. Olá, André...Tudo bem?

      Só agora tive acesso a internet, pois estou em transição de residência. Por isso mesmo eu nem queria ter feito essa abordagem agora, pois gosto de dá sequência imediata. Bem, vamos ao que interessa.

      Todas as questões que você colocou são extremamente relevantes. Apesar de eu ter conhecimento de algumas dessas questões, não lembrei delas quando me veio meditei nesse episódio. Por isso, mais uma vez agradeço. No entanto, uma delas me deixa pensativo no seguinte:

      Você escreveu: "Precisamos nos lembrar que a teologia foi progressivamente formulada e seria incoerente acreditar que encontraríamos declarações de uma teologia paulina de eleição em Gênesis."

      A questão é a seguinte: o fato de não existir a teologia da eleição na mente dos autores do texto de Gênesis, não muda o fato de que ela já existia nos propósitos de Deus. Assim, um escritor não tendo conhecimento disso, no máximo poderia ser omisso,por Deus não ter revelado a ele, mas nunca escrever algo que questione a doutrina. Então, foi Deus quem falou com Caim nos termos exatos como estão colocados, ou o texto é apenas a interpretação do autor? Se foi Deus, estaria Ele influenciando humanos a pensar em termos que se opõem ao que Paulo depois revelaria?

      Parece-me, que isso nos leva a uma questão que sempre pensei, desde a infância, e Spinoza (se não estou confundindo)levantou: será que a Bíblia é inspirada por Deus palavra por palavra?

      Em Cristo,
      Jairo Lima

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    4. Jairo,
      A Bíblia é inspirada palavra por palavra. Mas a gente precisa entender que nada foi psicografado. Sem essa da tradição judaica de dizer que Moisés teve o pentateuco ditado palavra por palavra como numa psicografia, entende? As idiossincrasias, traços culturais, etc tá tudo ali.

      Vamos ver a coisa por outro lado. Deixe-me citar um exemplo clássico.
      Quando a Bíblia narra o encontro de Saul com a vidente, qual seria a leitura? Pra mim, o texto é inspirado, mas descreve uma mentira. Descrever o evento e considerar a narrativa como inspirada não faz do fato narrado algo verdadeiro.

      Podemos também dizer que a Bíblia inspiradamente registra falas de Satanás... e daí? Deixou de ser inspirada por isso? Claro que não!

      Nossa tarefa é, então, enxergar o texto de forma colorida. Se Paulo mesmo fala de um certo mistério oculto que só agora teria sido revelado à Igreja, concluímos que a revelação ou o desenvolvimento teológico é progressivo. Compare os primeiro textos de Paulo e a carta aos Romanos que supostamente foi uma de suas últimas, fora as cartas pastorais. A carta aos Romanos é considerada o tratado teológico de Paulo, o momento de máximo de Paulo onde cada palavra dele vale ouro.

      Quanto a Caim o que posso dizer é o seguinte: É verdade que a omissão não invalidaria a verdade do decreto que seria desde a eternidade. Mas isso não implica que o autor poderia escrever alguma coisa contrária. O que pode acontecer, e é geralmente o que acontece, o leitor (não o autor) é que projeta no texto alguma leitura particular que contraria o que o autor intencionou dizer.

      Acompanhe meu raciocínio.
      Como o texto inspirado poderia mostrar que o homem é incompetente para resistir o pecado? Outra coisa, como Caim poderia pecar se não houve lei? Só existe pecado quando existe lei! Não foi o que Paulo ensinou?

      A conversa de Deus com Caim pode mostrar duas coisas:
      1) Deus diz: não peque! Mas o homem é incapaz de observar a vontade de Deus. Seria convencido do contrário se Caim tivesse dominado o pecado como Deus recomendou. Quando Deus avisa e Caim ainda assim cai, seria o meio pelo qual o autor inspirado teria para mostrar como a coisa acontece na prática.
      2) Por Deus ter dito: não peque! foi que a "lei" surgiu para dar origem (possibilidade) ao pecado.

      Ou seja, como na cabeça do autor inspirado é necessário uma palavra de Deus normatizando uma lei, do contrário não haveria quebra da lei e não haveria pecado, Deus precisou mostrar a Caim que o que ele faria seria uma quebra de sua lei. Estou aqui apenas seguindo o pensamento de Paulo quando ele diz: "Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás."

      Se Deus não diz, Caim não peque agindo assim; Caim não teria pecado.

      Antes que alguém dê qualquer pulo aí na cadeira na frente do computador e já comece a preparar uma resposta tipo cheque e mate para o que estou escrevendo, considere o seguinte: estou trabalhando uma leitura a partir de uma possibilidade de análise do redator judeu do pós-exílio. O judeu (partindo de algumas referências do talmude e tradição) acreditava na lei (torá) adâmica, lei noéica, lei abrâmica, lei de moisés (a mais famosa) etc... A Lei, considerada como instrução para viver corretamente diante de Deus, seria apenas mais uma instrução que Caim estaria recebendo naquele momento. Só isso e nada mais. Não seria uma indicação de que alguém seria aceito por Deus por meio de cumprir a lei... isso sim seria uma verdadeira contradição do autor bíblico com todo o restante da inspiração bíblica.


      Em Cristo,
      André R. Fonseca



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    5. André,

      Mais uma vez entendo e concordo com os pontos principais da sua explicação. Concordo com a sua argumentação referente ao episódio de Saul. As "falas de Satanás" foi um assunto que recentemente abordei com um irmão, partindo do mesmo raciocínio que você colocou. Inclusive, reforço-o com as diversas dissertações dos "amigos" de Jó, onde ficam evidentes muitos sofismas. É óbvio que Deus não revelou essas opiniões, sendo elas a mera opinião dos homens em questão.

      Diante dessas situações, sempre pensei que a inspiração Divina vieram para o escritor do livro, não necessariamente para todos os interlocutores dos episódios. Portanto, concordo plenamente com tudo o que você explicou, sendo os parágrafos sobre as revelações de Paulo e o raciocínio sobre pecado e lei, os pontos mais esclarecedores. Ótimo!

      Só me resta então uma pergunta. O seu parágrafo:

      "Quanto a Caim o que posso dizer é o seguinte: É verdade que a omissão não invalidaria a verdade do decreto que seria desde a eternidade. Mas isso não implica que o autor poderia escrever alguma coisa contrária. O que pode acontecer, e é geralmente o que acontece, o leitor (não o autor) é que projeta no texto alguma leitura particular que contraria o que o autor intencionou dizer."
      O que você chamou de "alguma coisa contrária" seria facilmente entendido num episódio de diálogos humanos, como citamos os casos com Saul e a médium, Jó e os "consoladores" dele, nas falas de Satanás etc. Mas, o que dizer das falas do próprio Deus? Seu entendimento é que não foi Deus quem falou diretamente, sendo apenas o texto do autor de Gênesis uma representação para entendimento do episódio? Se for esse o seu entendimento, encerramos a questão,apesar de não ser o meu ponto de vista. No geral, pareceu-me que toda a sua boa análise concorda que a maneira como o relato de Caim se apresenta, contraria a doutrina da eleição, apesar de ser apenas desconhecimento do autor. Toda a questão me veio à mente, porque parti do princípio de cada palavra ser exatamente como Deus falou, diretamente a Caim, sendo depois revelada ao escritor.

      P.S. Como deixo claro desde o iníco do meu primeiro contato com o blog, não tenho muito conhecimento da Bíblia. Portanto, longe de mim colocar qualquer opinião como "xeque mate", ainda que eu venha a ter mais conhecimento. Não assumo essa postura com nenhum aspecto das minhas opiniões, em qualquer campo da vida. Não o faria jamais com um assunto tão sério como a Palavra de Deus.

      Mais uma vez, obrigado pela ajuda, irmão André.

      Em Cristo,

      Jairo Lima


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    6. Jairo,
      Na minha opinião, a revelação e inspiração estão asseguradas.
      Não estou questionando o texto, mas a leitura do texto.

      Os relatos iniciais de Gênesis são fontes de uma tradição, que foram compilados por um redator posterior, ainda que a gente assuma a posição mais clássica da tradição judaica atribuindo a autoria de Gênesis a Moisés.

      Ainda que Moisés seja o redator ou autor de Gênesis, ele não foi contemporâneo dessas histórias. Ele precisou recorrer à tradição oral de onde provavelmente essas histórias vêm.

      Mas se você afirmar que sua crença está fundamentada na revelação do episódio a Moisés como numa psicografia, tudo bem. Não tem problema.

      Dizer que Caim deveria resistir ao pecado seria uma evidência de que, desde o início, isso não é algo que o homem consegue fazer. Entende?

      Como seria possível o autor bíblico, numa linguagem humana, mostrar por palavras e traduções dos atos humanos algo como a total depravação? Pense bem... Quero mostrar que desde o início que o homem falha em obedecer as ordens de Deus. Eu precisaria descrever a situação, a ordem e o descumprimento da ordem!

      Nada aqui, do que eu falei, contraria o calvinismo. Pelo menos é minha percepção. Os amigos estão livres para discordar e apontar onde está meu erro!

      Você disse que o testemunho bíblico precisa ser exatamente como Deus falou do contrário teríamos um problema?

      Preste bem atenção! Um dos evangelistas relata a cura do servo de um centurião como se Jesus estivesse interagindo diretamente com ele, outro evangelista narra a mesma histórias na qual Jesus apenas interage com pessoas enviadas pelo centurião. E aí? Vamos dizer que isso é um erro e não há inspiração? E assim são vários outros casos entre os evangelhos sinópticos!

      Eles não estão inventando nada. Isso não é sinal de que um foi inspirado e o outro não! Precisamos apenas nos lembrar que a Bíblia é um produto humano inspirado!!! Seus autores têm teologias diferentes (não contraditórias, mas de ênfases) estilos literárias diferentes e intenções diferentes. Para Mateus, Jesus é o Messias do V.T.; para Lucas, Jesus é aquele que recebe os gentios e para João, Jesus é as duas coisas destacadas por Lucas e Mateus.

      Para dar continuidade. Você vê as divergências de relatos entre os sinópticos?

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    7. André,

      Tentarei comentar cada ponto que você abordou:
      André: “Na minha opinião, a revelação e inspiração estão asseguradas. Não estou questionando o texto, mas a leitura do texto.”
      Jairo: Também acho essencial recomeçarmos por essa declaração, pois os comentários seguintes levaram-nos a outra tangente. Aproveito e faço a minha declaração: não tenho nenhuma dúvida quanto à inspiração da Bíblia, pois não vejo nela qualquer contradição, inexatidão, incoerência, divergências entre passagens etc. Em algumas passagens, penso que o escritor dificultou a clareza do relato, com omissões ou incongruências, mas nunca cheguei a ter isso como definitivo em minha mente, a ponto de alterar ou perturbar a minha fé em Deus e na Sua Palavra. Se levantei uma visão discordante a essa, inclusive citando Spinoza, foi por força do raciocínio apresentado na sua resposta. Também, considero válido analisar com mente aberta qualquer possibilidade, pois sempre encontro pessoas com questionamentos quanto à veracidade da Bíblia. Não tenho qualquer dúvida, mas quero saber explicar aos que tem.

      André: “Ainda que Moisés seja o redator ou autor de Gênesis, ele não foi contemporâneo dessas histórias. Ele precisou recorrer à tradição oral de onde provavelmente essas histórias vêm.”

      Jairo: Ao recorrer “à tradição oral”, “Moisés” escutou de alguém o diálogo entre Deus e Caim?

      André: “Mas se você afirmar que sua crença está fundamentada na revelação do episódio a Moisés como uma psicografia, tudo bem. Não tem problema.”

      Jairo: Se foi uma “psicografia”, não seria um relato exato do diálogo, e dessa forma a passagem em questão contraria a eleição, segundo a visão calvinista? Talvez seja esse o ponto que falta você esmiuçar nos seus comentários tendo em vista que foi só isso que perguntei. Mas, percebi que chegamos num ponto, onde precisamos definir uma premissa essencial à pergunta que fiz. A pergunta que fiz foi colocada como se o relato de Gênesis 4 fosse a fala de Deus em detalhes. Considero válido a sua precaução quanto à isso, colocada desde o início. Não foi difícil entender, pois sempre pensei que isso seja possível. Então, vou argumentar partindo dos dois pontos.


      Em Cristo,

      Jairo Lima


      Continua...


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    8. Continuando...

      André: “Dizer que Caim deveria resistir ao pecado seria uma evidência de que, desde o início, isso não é algo que o homem consegue fazer. Entende?”

      Jairo: Sim, entendo. Apenas não consigo perceber isso no relato. Por quê? Parece-me que o relato favorece exatamente uma posição oposta. Onde? Pergunta retórica do SENHOR a Caim: “SE procederes BEM, não é CERTO que serás ACEITO?” Depois Deus acrescentou: “SE, todavia, procederes MAL, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a TI cumpre DOMINÁ-LO.” O homem não consegue “resistir ao pecado”? Concordo plenamente. Então, o que estava Deus incentivando Caim a fazer? Porque fica claro que há um incentivo, inclusive otimista, quando se usa a expressão “é certo”. Não ser dominado pelo pecado, não significa ser perfeito. “Resistir” ao pecado não significa imunidade total. Abel não era perfeito. Abel não era imune. Abel pecava, apesar de ser um “eleito”. Logo, concluímos que Abel também não conseguia “resistir ao pecado” plenamente. Entendo que você concorda com isso. Então, não estaria Deus incentivando Caim a ser como era Abel? Pecador, mas com determinação e fé para lutar contra o pecado. O “sucesso” da luta é algo inerente ao ser humano? O ser humano terá domínio total sobre o pecado? Não e não. Deus, com Sua graça, aceita o homem que quer mudar de proceder, concedendo isso aos que têm fé (Romanos 7:15-25). Como Caim não tinha fé, Deus estava incentivando-o a desenvolvê-la, para que Sua Graça se estendesse sobre ele.
      Se as declarações de Deus são apenas a forma que o escritor achou para contar o episódio e apresentar a “depravação total”, permita-me colocar aqui um anacronismo escandaloso: o escritor era calvinista ou arminiano? Como esse foi o ponto inicial da minha reflexão, seus comentários apresentaram variadas hipóteses, todas relevantes, mas nenhuma delas vai no cerne da questão: o relato apresenta ou não apresenta um incentivo à mudança de atitude, de rumo na vida? Admitindo que são declarações diretas e completas de Deus, sequer imaginaremos que Ele estivesse equivocado com a questão da eleição. Também, Ele não estaria incentivando algo que sabia ser impossível alcançar. Se foi “Moisés” que escreveu, e não tinha entendimento da eleição como explicada por Paulo, teremos que aceitar que há uma divergência entre eles. Nesse caso, seria divergência, não apenas omissão da doutrina. A omissão seria aceitável, mas os termos do diálogo não favorecem isso. Por último, se o relato não apresenta essa possibilidade de mudança de atitude em Caim, qual é o ponto do relato que evidencia isso? Ou mesmo outra passagem que revele isso? Não é demais lembrar que, esse incentivo que Deus faz a Caim (Controle o pecado; mude o seu proceder que você será aceito), foi antes do fratricídio. Por que relembro isso aqui? Porque se Caim fosse humilde, teria escutado ao SENHOR, pediria perdão e seria “aceito”. Deus oferece a oportunidade de ser aceito, porque seria possível. Caim escolheu piorar a situação, não controlando o pecado, que o dominou completamente. O pecado “jaz à porta” e a pessoa abre a porta para ele entrar e dominar (Tiago 1:14,15). Abel tinha a mesma tendência ao pecado. Moisés, Enoque, Noé, Abraão, Sara, José, Maria, todos tinham, e todos nós temos. Qual é a diferença? Escutar a Deus e deixar a porta fechada, para o pecado não dominar sobre nós (Tiago 4:8, 17). Como temos a tendência ao mal (Gênesis 6:5), vamos querer dá um “espiadinha” pelas brechas da porta, até mesmo escancarar a porta, mas com oração e súplica a Deus iremos combatendo essa tendência.

      Em Cristo,

      Jairo Lima

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    9. Continuando...

      André: “Você disse que o testemunho bíblico precisa ser exatamente como Deus falou do contrário teríamos um problema?”

      Jairo: Quando coloquei essa questão, me referi especialmente a relatos que incluam frases como sendo da própria boca de Deus. O que penso exatamente sobre isso? Deus concedeu ao homem a sabedoria para escrever a Sua Palavra, ficando para toda a humanidade Suas revelações. Não entendo que Deus controlou cada palavra que seria registrada, quando o relato incluísse fatores históricos, geográficos, meras descrições do ambiente e a narrativa em si (que em alguns momentos é cansativa e repetitiva). Chego ao ponto de pensar que Deus não corrigiria se isso de fato acontecesse. Mas, quando a Bíblia apresenta uma profecia (Gênesis 3:15; 49:10 etc), uma questão científica (Jó 26:7: “suspende a terra sobre o nada” etc.) a revelação de uma doutrina essencial e qualquer coisa que a percepção humana é incapaz de saber sem prévia revelação, Ele não permitiria qualquer colocação que comprometesse a passagem, excetuando-se aquelas que fossem propositadamente registrada como enigmas ou mistérios que seriam revelados depois (Daniel 12:8,9). Sendo assim, algumas passagens seriam necessariamente “psicografadas”. Pensemos um pouco nos discursos no livro de Jó. Como citei alhures, os homens que falaram, inclusive Jó, falaram um monte de coisas sem fundamento. Os “amigos” de Jó chegam ao ponto de blasfemarem contra Deus. Eliú foi o que falou com mais sabedoria. Tudo foi registrado para o nosso benefício (Romanos 15:4). Mas, os capítulos 38 a 40 são discursos do próprio Javé. Não poderia ter qualquer raciocínio torto, sem fundamento, ou incompleto. Se o escritor escutou da boca de algum homem, esse homem só poderia ter falado letra por letra o que Deus falou.

      Abaixo, meus comentários sobre seus dois exemplos sobre os relatos paralelos dos evangelhos:

      O centurião interagiu diretamente com Jesus? Ter uma posição definida em relação a isso, não altera em nada a fé cristã. Ainda que um evangelista tivesse errado ao registrar o episódio (que não acredito ter sido o caso), estariam preservando o resultado final da intenção principal deles: relatar a cura realizada por Jesus e a fé do centurião. Quanto ao momento do acontecimento, penso que um escritor tinha em mãos todas as peças do “quebra cabeça” e outro só tinha algumas. Mas, ambos tinham as peças principais.

      O outro exemplo foi: Em seus respectivos evangelhos, Mateus destaca Jesus como o Messias. Lucas, destaca a Sua recepção aos gentios. João, amalgama os dois temas e apresenta a plenitude do Filho de Deus. Com ênfases diferentes, eles apresentam o tema central da Bíblia, JESUS, sem qualquer contradição. Perfeito! Também entendo assim. E ainda acrescento: os discursos e diálogos que Jesus é o centro, não tem qualquer complicação. São claros como o sol do meio dia. (Não que eu não goste de algo complicado...rsrs...Paulo caprichou).

      Não entendo que essas situações se pareçam com a questão que propus no começo. (Entendo que sua intenção é explicar apenas as questões que surgiram depois, colocadas por ti, porque terminou sendo esse o rumo dos comentários). Primeiro, não estou comparando relatos paralelos. Segundo, como já expliquei acima, o diálogo entre Deus e Caim transmite uma ideia arminiana de eleição. Se foi uma mera apresentação de ponto de vista do escritor, assunto encerrado. Se foi mesmo Deus quem falou palavra por palavra, ficamos com uma visão arminiana. Toda pessoa que for ler esse trecho sem a ideia do debate calvinista/arminiano ficará com a impressão clara de que Deus estava aconselhando Caim a mudar de atitude para ser um servo de Deus, igual a Abel.


      Em Cristo,

      Jairo Lima





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    10. Continuando...Parte Final (rsrs)

      Considerações finais:
      Não sou arminiano. Não sou calvinista. Faz exatos cinco meses que tenho conhecimento desse debate. Não sou do tipo que desconsidera um assunto por achar difícil de entender ou aceitar. Acho essencial ter uma posição definida em relação a isso, pois isso determina os rumos da pregação do evangelho. Os posts e os comentários desse blog estão me ajudando muito. Assim, estou lendo a Bíblia, também em busca de entender essa questão. Sei que as passagens decisivas serão as cartas de Paulo. Como estou terminando os evangelhos, logo virão Atos e as cartas paulinas. Depois vou ler tudo do Agostinho, Lutero, Calvino, Arminius e Wesley. Se Deus quiser.

      Para continuar:

      Deus ama os que não são “eleitos” e nunca serão? Essa pergunta surgiu em minha mente com outra passagem da Bíblia (rsrs). Depois te conto...


      Em Cristo,

      Jairo Lima

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    11. Jairo, vou tentar voltar do começo e você vai ver que tratei do cerne da questão desde o início.

      O episódio de Caim não ampara a doutrina arminiana! Vamos aos motivos.

      1) Paulo disse: ...foi a lei que me fez saber o que é pecado. Pois eu não saberia o que é a cobiça se a lei não tivesse dito: “Não cobice.”

      Portanto, dentro dessa "mentalidade" Caim não poderia pecar se Deus não tive dito antes: não peque assim! Então o relato está formatado dentro dessa concepção que pode ser atribuída a necessidade do autor ou leitor inicial que só entenderia a coisa toda olhando por esse ângulo. Isso não significa erro ou falta com a verdade por parte do autor, é a revelação dentro de uma concepção inteligível para o autor e seus leitores iniciais.

      Esse seria o primeiro chute. Sem lei, não há pecado. Deus dá sua lei, então Caim peca. Como Adão poderia ter pecado sem a ordem anterior para não comer? Como Caim poderia pecar sem antes receber a ordem de igual modo?

      Era isso que estava tentando argumentar de início. Não sei se está claro.

      2) A fala de Deus não implica necessariamente que Caim estava em condições de obedecer. Pra mim, evidencia o contrário! Mas por que Deus "perderia o seu tempo" alertando quem não pode fazer nada? Bem, a gente precisa olhar para o evento na ordem inversa. Deus age na pessoa dando lhe um ouvido capaz de ouvir a sua voz e um coração sensível para obedecê-lo, então ele fala e ela o escuta e age de acordo. Do contrário agente precisaria negar que é Deus quem age em nós tanto o querer quanto o executar. Ou como ficou bem claro nos profetas que é Deus quem regenera o seu povo. Aqui os textos são muitos, desde o vale de ossos secos de Ezequiel até o ninguém vem a mim se o Pai não o trouxer.

      Esse é o problema dos arminianos, eles só enxergam o evento pela ótica humana, dos fenômenos. É como se eles olhassem para a maça caindo do pé e atribuíssem o evento como obra da maça e não da gravidade. Os calvinistas olham para o mesmo evento e dizem: A maça caiu (fenômeno) mas por obra da gravidade!

      O homem ouviu e obedeceu, mas foi por obra de Deus nele.

      3) Deus não poderia estar esperando uma resposta de fé de Caim porque fé é um dom. A fé não poderia vir de Caim ou estaríamos lutando contra Efésios 2:8-9.

      Espero que eu tenha conseguido ser mais direto agora. Desculpe-me se enrolei um pouco pra chegar onde chegamos.

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    12. Algumas considerações finais
      Gênesis 49:10 terá uma interpretação diferente dependendo da tradução que você utilizar. O termo Siló é desconhecido ou bem incerto. Ninguém arriscar fechar a questão e hoje se duvida muito que o termo seja realmente algo messiânico tal como é em Gênesis 3:15.

      E eu sei que seria maravilhoso se encontrássemos algumas evidências científicas no livro sagrado, mas as Escrituras não estão preocupadas com isso. Parece que encontrar tais evidências provaria que a inspiração é divina etc. Mas a fé na inspiração da Palavra não vem de nada disso, mas unicamente da convicção que vem do Espírito Santo. Poderíamos ter todas as evidências científicas na Bíblia e ainda assim tais evidências não passariam de mais algumas revelações naturais que o homem não regenerado não consegue enxergar para crer. Se a própria obra da criação não faz o homem enxergar Deus, um livro com algumas descobertas científicas não causaria fé nos que já não têm fé pela revelação natural. Entende?

      Precisamos verificar se Jó não estaria apenas citando algum coisa com relação à mitologia de sua época. Jó cita o monstro leviatã que era conhecido como o monstro do caos. Como o livro expõe Deus como soberano sobre todas as coisas incluindo Satanás e todo o mal, Deus também seria soberano sobre o monstro leviatã que traz esse mal, entende?

      Pode ser que a declaração não tenha nada de científico. E a revelação divina não depende disso para ser aceita com credibilidade!

      Seu desejo de aprender parece verdadeiro e é raro encontrar pessoas como você. Gosto também de discutir porque pelo debate aprendemos e testamos nossas "crenças".

      Gostaria de papear com você de alguma forma mais dinâmica. Você tem msn? Acho que seria melhor: fonsecaribeiro2004@hotmail.com

      Em Cristo,
      André R. Fonseca

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    13. André,

      Eu não poderia começar esse comentário sem de imediato repugnar a sua frase: “Desculpe-me se enrolei um pouco pra chegar onde chegamos.” E por que causa não à aceito? Porque ao contrário de ter o que desculpar-lhe, tenho apenas o que agradecer-lhe. Só nesse último comentário seu, aprendi ou ampliei a minha visão em cinco aspectos da Palavra de Deus. Minha veemência em alertar sobre a tangente que tomamos, foi mais por força das perguntas dos outros interlocutores.

      Os três motivos que você citou são lógicos e harmoniosos, especialmente o terceiro, com a força da clareza de Efésios 2:8,9. De imediato, algumas perguntas me vieram em mente, mas parece que todas se encaminham para uma mesma questão: a fé é um dom de Deus, mas algumas passagens da Bíblia parecem transmitir a ideia de alguma reação do indivíduo “premiado” com esse dom. É Deus quem concede o dom, mas aos que de alguma forma mostram uma atitude prévia. (Não estou mais argumentando a mesma questão, pois parece-me mesmo que chegamos num ponto onde outros temas mais profundos precisam ser abordados. Não reinicio a questão, pois entendo que precisarei fazer um estudo das cartas de Paulo. Sempre gostei, de forma especial, das cartas do apóstolo Paulo mas nunca fiz um estudo sério, o que estou caminhando para fazer agora).

      Por fim, quando mencionei a passagem de Jó 26:7, (“suspendeu a terra sobre o nada”, BJ), como algo científico, não foi a minha intenção buscar qualquer base científica como reforço à minha fé. Citei meramente como exemplo de passagens que me parecem claras como sendo reveladas por Deus ao escritor, coisas que o homem não poderia saber sem a intervenção Divina direta, pois era essa a questão que estávamos discutindo. Concordo plenamente com você que a fé “não vem de nada disso, mas unicamente da convicção que vem do Espírito Santo.”

      Jairo Lima

      Continua...

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    14. ...continuando.

      Mas, como citei acima, suas explicações sempre ampliam os meus horizontes mentais. Inclusive, nesse caso, a “Bíblia de Estudo Genebra” faz um comentário que se assemelha ao seu ponto de vista cauteloso. Diz:

      “Jó fala de um modo poético da perspectiva de um observador humano. Seu objetivo não é ensinar cosmografia científica ou metereologia, mas expressar o seu assombro diante do mistério do que ele vê na natureza como obra de Deus.”

      Por outro lado, a NTLH comenta:
      “Se a terra era de fato sustentada por colunas (Jó 9.6, n.; 1 Sm 2.8), então, sobre o quê se apoiavam essas colunas? A resposta em Jó 38.6 diz que esse é um mistério que os humanos não podem explicar, isto é, não podiam, naquele tempo.”
      Enquanto a “Genebra” evita uma alusão científica, a NTLH faz claramente (apesar da aparente miscelânea ). Isso mostra que não é possível descartar a hipótese de Jó ter feito uma referência a algo que depois seria confirmada pela ciência. Não que ele pretendesse revelar algo científico, mas se o fez, fez com exatidão, pois recebeu a informação de Deus.

      Faz muito tempo que uso essa passagem de Jó como sendo uma referência direta e precisa a esse fato que a ciência só confirmou a pouco tempo. Chamei a atenção de algumas pessoas para o evangelho - propensas a criticar a Bíblia como ultrapassada - com essas passagens. Inclusive, sempre comparo com Isaías 40:22, onde parece-me claro que o profeta faz uma referência física direta, quando escreve:

      “Ele é o que está assentado sobre o GLOBO da terra...” (ARC)
      “Ele é o que está assentado sobre a REDONDEZA da terra...” (ARA)
      “Ele está entronizado sobre o CÍRCULO da terra...” (BJ)

      No entanto, concluo com a sua frase, pois considero-a verdadeira e extremamente valiosa:

      “E a revelação divina não depende disso para ser aceita com credibilidade!”

      P.S. Anotei o seu endereço de e-mail e farei contato, o mais rápido possível. Se Deus quiser. Realmente, o dinamismo é essencial na comparação de ideias, interpretações etc. Analisar os temas bíblicos com o coração sincero é recompensador. Hoje em dia, encontro mais pessoas querendo receber “bênçãos”, tendo a “teologia da prosperidade” como ponto de partida. Na verdade, não apenas “ponto de partida”, senão “ponto de permanência”. Sempre tive ojeriza a essa atitude. Vejo nesse blog algo completamente oposto. Por isso, gosto muito.

      Em Cristo,
      Jairo Lima

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  4. Ah! Desconsidera o "me veio" no segundo parágrafo. (Risos)

    Jairo Lima

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  5. Jairo, vc pensa como o Leandro Quadros a respeito da inerrância bíblica?

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    1. Luciano,

      Obrigado por me ajudar...

      Não conheço muita coisa da visão do Leandro Quadros. Uma ou outra explicação que escutei dele, foram das citadas aqui no blog, não restando dúvidas do melhor embasamento bíblico nas matérias do blog.

      Quando citei essa questão no texto acima, foi solicitando uma explicação. Faz pouco tempo que estudo a Bíblia. Por isso, sempre faço observações com o intuíto de aprender algo mais ou ampliar a visão do ponto que meditei. O texto do Wikipédia define "inerrância bíblica" como segue:
      "Inerrância bíblica é a doutrina segundo a qual, em sua forma original, a Bíblia está totalmente livre de contradições, incluindo suas partes históricas e científicas. A inerrância distingue-se da doutrina da Infalibilidade bíblica a qual assegura que a Bíblia é inerrante quando se fala de assuntos de fé e de sua prática e não em relação à história e ciência."

      Está correta essa definição? Se for isso, posso dizer que não tenho como pensar assim, pois algumas passagens questionariam isso. A "Infalibilidade bíblica", já é mais fácil de aceitar. O texto acima do André mostra algo importante desse aspecto, quando diz que a Bíblia não foi uma psicografia.

      Como você entende, Luciano?

      Em Cristo,

      Jairo Lima


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    2. Desculpe interromper Jairo, mas como é possível a Bíblia não ser Inerrante, mas ao mesmo tempo ser Infalível? Afinal, se ela erra em algo, logo o todo não é confiável.

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    3. Olá, Neto...

      "Interrupção" bem-vinda...

      Também achei difícil de estabelecer uma distinção. Apenas perguntei ao Luciano se seria essa a definição correta de "inerrância bíblica", segundo a visão do Leandro Quadros. Não tenho uma opinião formada sobre isso. Com frequência vem em mente, mas isso nunca afetou a minha fé em Deus e na Sua Palavra. Penso na Bíblia como sendo toda inspirada por Deus (2 Tim.3:16,17; 2 Ped.1:20,21). Por isso, terminei o comentário perguntando a opinião do Luciano. Quero poder responder a quem questiona a Bíblia com base nessa argumentação. E qual a base que alguns usam? Geralmente se apegam a meras discrepâncias, como nos casos dos evangelhos. Considero essas facilmente refutáveis, pois entendo como mera perspectiva do autor. Analisando uma a uma, chegamos facilmente a uma visão geral do fato relatado, sem contradições.

      Isso passa a ser difícil quando a questão envolve questões teológicas. Nunca encontrei divergências. Levantei essa questão aqui, argumentando com o André a pergunta que fiz sobre a fala de Deus com Caim, sobre a ótica dessa questão calvinista X arminiana, o que é um tema muito recente nas minhas leituras. Se a explicação se concentrar em achar diferenças de ponto de vista do escritor de cada livro, logo é essencial incluir essa reflexão.

      Portanto, preciso escutar e ler opiniões de pessoas mais experientes no estudo da Bíblia. Fico feliz se você puder ajudar expressando suas opiniões. Então, pergunto:

      É possível que a Bíblia tenha erros de opiniões pessoais dos escritores, sendo de inspiração Divina apenas as questõs teológicas no relato? Qual a sua opinião? (Depois quero lhe apresentar algumas passagens que me faz ter essa dúvida em algns textos. Não faço agora porque estou no trabalho. Estou sem NET em casa).

      Em Cristo,

      Jairo Lima




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  6. André,

    Quando possível, gostaria de saber a sua opinião sobre o seguinte texto:

    "A escolha divina: Esse é o ato soberano de Deus na graça, pelo qual, desde a eternidade, alguns são escolhidos dentre a raça humana para ele (Jo 15.19; Ef 1.4). A escolha pertence somente ao povo de Deus, não aos perdidos. Os homens não são eleitos para a perdição. Cristo é o eleito de Deus por excelência (Is 42.1-7). Deus Pai nos escolheu nele desde a eternidade. Todos os eleitos são selecionados para uma vida santa de separação dedicada àquele que escolhe (Jo 17.16; Ef 1.5). A escolha pode ser coletiva, como no caso da nação de Israel (Is 45.4) ou da igreja (Ef 1.4), ou individual (1 Pe 1.2), baseando-se em decreto divino ou presciência."

    MANUAL BÍBLICO UNGER, página 546.

    Graça e Paz
    Jairo Lima

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    1. Olá Jairo,
      Minha opinião é:

      A eleição é ato soberano de Deus e esta escolha é incondicional. Aqui já matamos o coletivo e presciência. Por quê?

      1) Até onde entendo, a eleição coletiva abre margem para a possibilidade do homem em seu livre-arbítrio inserir-se ou não na coletividade dos eleitos. Deus tem a Igreja como eleita à salvação, e você é quem decide fazer parte desse corpo eleito. Não acredito em livre-arbítrio e uma eleição coletiva sem a escolha de cada indivíduo que compõe o todo é estranho. A coisa não cola, e aceitar que eu posso me fazer eleito é simplesmente ridículo.

      2) Eleição por presciência é nada mais nada menos que afirmar a salvação por obras em primeiro lugar. Se é somente o eleito que é salvo e essa eleição depende de Deus ver antecipadamente alguma coisa boa que você faça, então a eleição que te salva é com base em obras.

      Neste caso, a eleição como predestinação seria uma contradição de termos. A pessoa faria a boa obra independente da ação divina e com isso Deus não estaria pré determinando nada, estaria apenas dançando conforme a música.

      Há quem diga que a presciência determina o futuro, não vejo assim. Creio que a presciência fixa o futuro, ou seja uma vez que Deus não pode estar errado no que vê, aquilo que viu vai acontecer ou Ele estaria errado quanto ao que viu. E isso é impossível. Uma analogia com o filme De Volta para o Futuro que fiz neste link pode ajudar a entender o que penso sobre eleição com base em presciência: Eleição por presciência não faz sentido

      Quanto a Efésios 1.4 ser uma referência à eleição coletiva só porque Paulo usou um plural é forçar uma barra. Paulo tinha um destinatário coletivo em mente e por isso ele se refere aos eleitos nos plural, afinal eleito não é só um, não estou sozinho nessa, "nós os eleitos" e ponto. Pra mim, na cabeça de Paulo "eleitos" corresponde a "crentes" na nossa cabeça.

      E voltando a Pedro, as pessoas se agarram ao uso da palavra presciência mas se esquecem de averiguar o que significa conhecer previamente no contexto bíblico. Paulo diz que "os que de antecipadamente conheceu" e este texto já foi exaustivamente trabalhado para mostrar que aqui "conhecer" é "escolher" e Pedro segue o mesmo.

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    2. Olá, André...

      Obrigado pela explicação. Escolhi esse texto (acima) para saber sua opinião, por entender ser o ponto de partida da visão geral do autor citado. Mas, o que realmente me chamou a atenção foi o texto seguinte, quando a obra (Manual Bíblico Unger) tenta explicar "Predestinação e livre-arbítrio" nos seguintes termos:

      "A predestinação envolve somente o povo de Deus. Quanto à raça humana, todo homem não só pode aceitar Cristo como Salvador, mas é encorajado e convidado a fazê-lo. O fundamento desse convite é a obra do Filho encarnado, que possibilitou a salvação da raça humana (Hb 2.9; Jo 3.16). O livre-arbítrio diz respeito ao homem apartado de Cristo. Depois que ele aceita o evangelho e passa a viver 'em Cristo', seu ponto de vista se altera, pois Deus, de sua parte, mostra a ele por que o crente é aceito. A predestinação divina e o livre-arbítrio humano são humanamente inconciliáveis, mas como duas linhas paralelas que se encontram no infinito, têm sua solução em Deus. Só quando o pecador exerce a fé pessoal em Cristo e adentra os portais da salvação é que descobre, iluminados na parte de dentro do vão da porta, os dizeres: Escolhido 'nele antes da fundação do mundo' (Ef 1.4, ARC)."

      No meu parco conhecimento dos temas soteriológicos e demais questões bíblicas, observo coisas difíceis (ou impossíveis) de serem harmonizadas nesse texto. Como pode o "povo de Deus" ser predestinado, mas ao mesmo tempo ser concedido "à raça humana" a oportunidade de “aceitar Cristo”? O “povo de Deus” não é parte da “raça humana”?
      Em seguida ele afirma que “O livre-arbítrio diz respeito ao homem apartado de Cristo”. Como assim? O raciocínio parece-me tortuoso em dois aspectos básicos. Primeiro, “apartado de Cristo” todo homem estava até isso ser mudado por Ele, na morte expiatória. A graça (irresistível ou não) de Deus, com a intervenção do Espírito Santo é quem realiza a obra nos eleitos. E, segundo: ao afirmar que os apartados de Cristo têm livre-arbítrio – e portanto pode escolher seguir a Cristo – isso implicaria em dizer que a humanidade estar dividida entre que os têm esse “dom” e outros que não têm. Alguns seriam escolhidos para a salvação e outros escolheriam por iniciativa própria.
      Ou eu não entendi o texto por minhas limitações, ou está faltando vários elementos para o texto ser compreensível ou, ainda, o texto não tem sentido algum nesses aspectos que comentei.

      Jairo Lima

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    3. No geral, toda essa abordagem que fiz com você, tem como principal objetivo saber a sua opinião sobre esta obra. Leio-a como reforço a leitura comparativa que estou fazendo de duas traduções da Bíblia. Antes mesmo de entrar em contato com vocês, em meados do ano passado, adquiri várias traduções da Bíblia, dicionários e esse comentário. O comentário foi mais por impulso na hora da compra, pois não pesquisei antes como fiz para a aquisição das Bíblias de Estudo e os dicionários bíblicos. Acho útil um comentário porque segue o texto bíblico em ordem, mas só leio depois de minhas análises e impressões de cada capítulo da Bíblia.
      Aproveito, e agradeço as sugestões dos textos do seu blog. Não sabia que você moderava um blog. Digo “textos” porque você tinha sugerido alguns quando falamos da NTLH. Só agora li e achei esclarecedores os textos “O que seria uma tradução fiel ao original?”, que entre outras coisas apresenta uma imaginária situação de um texano nos Estados Unidos tentando entender o trocadilho na música “Cálice” do Chico Buarque. “Comparando a NTLH e a tradução Almeida” e “Dando a cada um o seu próprio deus – NTLH”, esse último com ótima explicação do Dr. Vilson Scholz na diferença da passagem de Deuteronômio 32:8. Excelentes.

      Paz,
      Jairo Lima

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    4. Jairo,
      É isso mesmo. Quanto mais você for pro lado da teologia reformada mais o arminianismo soará estranho e sem cabeça. Geralmente os textos bíblicos são retirados de contexto. O Clóvis fez um excelente trabalho ao juntar todos os texto que escreveu aqui no blog falando sobre os versos arminianos utilizados contra a predestinação, eleição etc. Para afirmar o livre-arbítrio eles sempre dão um salto e inserem coisas no texto.

      Por exemplo, no texto que você citou tem João 3.16 (como sempre) e o texto apenas pode soar como uma oferta a humanidade no sentido de "oferta a cada indivíduo" quando o contexto não é levado em conta. Que contexto? O contexto do judeu que achava ser melhor que o mundo e só eles seriam salvos pelo Messias. O evangelista deixa claro que a obra salvadora de Cristo é para o mundo e não só para os judeus, coisa que Nicodemos poderia estar pensando. Entende?

      Procure ler os textos do Clóvis no link na barra de navegação "versículos arminianos" no menu "calvinismo".

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    5. André,

      Qual o comentário bíblico reformado? Recomendas algum?

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    6. Jairo,

      Há bons comentários de viés reformado, felizmente. A série Comentário do Novo Testamento, da Cultura Cristã, são muito bons, apesar de salgados. A boa notícia é que estão em promoção, na compra pelo site da editora.

      Mais modestos, mas nem por isso mais baratos, são os comentários da Série Cultura Bíblica, publicados pela Vida Nova. A Editora Fiel publica alguns comentários de Calvino, além de outros autores, geralmente muito bons. A Hagnos tanto publica comentários de Hernandes Dias Lopes, que parecem bons, como também publica os comentários de Champlin, que não recomendo de forma alguma.

      Sugeri as obras em vários volumes, que tem condições de aprofundar mais o tema. Mas há alguns comentários em volume único que podem ser úteis. E pode estar certo que devo ter esquecido bons comentários, portanto, eu não ter mencionado não desmerece nenhuma obra.

      Em Cristo,

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    7. No comentário acima incluí alguns links, que não ficaram destacados. Se você passar o mouse sobre o texto, os encontrará.

      Em Cristo,

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    8. Clóvis,

      Mais uma vez, muito obrigado. Informações bastante úteis. Não sabia que Calvino tivesse escrito tantos comentários. Já tinha visto o de Romanos. Esses serão prioridades.

      Porém, ter uma visão mais atual parece-me essencial. A série publicada pela Vida Nova será uma ótima opção, até porque também existe as obras do AT. As obras do Hernandes Dias Lopes também me deixam curioso, pois escuto com alegria os sermões dele na TV, principalmente pela enorme diferença com os propagadores da “teologia da prosperidade” que, infelizmente, são os que mais aparecem. (Por sinal, deveria fazer o agradecimento alhures, mas aproveito o ponto aqui citado para agradecer o vídeo postado hoje, com exemplos de cristãos genuinamente preocupados com a Palavra de Deus em vez de se empenharem por ganhos materiais ou fama no mundo. Oremos para que Deus continue abençoando esses cristãos).

      Essas obras serão essenciais por outro motivo, que citastes bem a propósito, pois já fazia meses que queria ter te perguntado. Eu tinha visto a obra do Champlin ano passado, quando adquiri os dicionários e Bíblias de estudo. Quase comprei, por ter ficado impressionado com o trabalho versículo por versículo, pois achei que não havia nada similar no mercado editorial. Qual a razão de não recomendares? Mais uma pergunta: os comentários (ou alguns) do Calvino estão inseridos nas “Institutas” dele, ou são obras independentes?

      P.S. Como sempre, lembro-lhe que não tenho pressa nas respostas. Fica tranquilo nas tuas atividades e correria.

      Em Cristo,

      Jairo Lima

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    9. Jairo,

      Calvino escreveu comentários de todos os livros do Novo Testamento, exceto Apocalipse. E da maioria dos livros do Antigo Testamento. Não sei dizer se todos estão traduzidos para o português, mas acredito que pelo menos uma boa parte. Os seus comentários são uma obra à parte das Institutas.

      O problema com o Champlin é que ele mistura bons comentários com heresias, de forma que estas passam por aqueles. Para um estudioso criterioso, que será capaz de separar as duas coisas, até vai, mas grosso modo não são recomendáveis. Leia esses dois artigos aqui mesmo:

      1. R. N. Champlin, o místico

      2. Entrevista do Dr. Russel Norman Champlin

      Em Cristo,

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  7. Clóvis,

    Obrigado mais uma vez. Na verdade, alguns minutos depois de enviar-te as perguntas acima, fiz uso do "Pesquisar neste blog", imaginando que alguma coisa você já tivesse postado. Não comentei porque ainda precisava saber sobre os "comentários" do Calvino.

    Quanto ao Champlin, realmente - com tantos livros que preciso adquirir - não dá para colocar o dele como prioridade. Os exemplos citados por ti, mostram nitidamente como tais obras podem ser perniciosas.

    No entanto, sou um estudante criterioso, a ponto de ler o Alcorão e saber separar os bons comentários daqueles que agridem a fé cristã, abertamente ou sutilmente. Até livros de ateus leio com atenção, pois por ter uma vida cristã ativa, sempre me deparei com todo tipo de argumentos. Quando ainda tinha uns 16 anos, li "Eram os Deuses Astronautas", o que me fez dá boas risadas. Logo em seguida, li "Uma Análise Crítica da Bíblia", onde o autor se apresenta como crente de que Deus existe, somente não aceitava a Bíblia como sendo a Palavra de Deus. Os comentários dele foram refutados na minha mente em cada detalhe, facilmente. Por gostar de Literatura, até já li Saramago - "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" -, uma verdadeira imundície, apesar de belamente escrito. Não faz dois meses, li "Por Que não Sou Cristão", do Bertrand Russell e refutei todos os pontos bíblicos que ele aborda.

    O efeito dessas obras em minha mente é simplório demais.Porque sempre li a Bíblia, desde a infância. Só não devo ser arrogante a ponto de pensar que nada pode afetar a minha mente (1 Coríntios 10:12 e 2 Coríntios 10:12). Por outro lado, as palavras de Salomão em Provérbios 18:13 sempre me motivaram a escutar e analisar os diversos ângulos.

    Quando me apresento como inexperiente, que de fato sou, é exatamente por ter sido criterioso por muito tempo. O erro, era ser criterioso ao excesso e aceitar certo controle de alguns que queriam me "proteger" de ficar confuso. Então, os grandes temas teológicos eu deixava de lado, sem nem perceber que vários autores fazem excelentes reflexões.

    Assim sendo, ter as obras do Champlin (quando sobrar dinheiro...rsrs) pode ser útil em vários sentidos da pesquisa bíblica e o que não presta servirá para alertar alguns irmãos, como você bem o faz.

    Números 6:24-26
    Em Cristo,

    Jairo Lima

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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