Os deveres missionários do cristão


Você já teve ter ouvido a expressão “todo crente é um missionário ou um impostor”. Não é apenas uma frase de efeito, é uma verdade a ser considerada com seriedade. Também é possível que você tenha ouvido dizer “tudo o que a igreja faz é missões”. Essa frase, porém, é enganosa e serve de pretexto para que a igreja faça muita coisa que não tem nada a ver e que não contribui com nada ou muito pouco com a obra missionária. “Se tudo é missões, nada é missão”, já foi dito em resposta a essa afirmação. O texto que hoje iremos considerar reafirma a primeira afirmação e serve de base para questionarmos a segunda. Eis o texto:
“Depois disto, o Senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava para ir. E lhes fez a seguinte advertência: A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara. Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias; e a ninguém saudeis pelo caminho.” (Lucas 10.1–4)

Jesus faz uma advertência

O “depois disto” aponta para o início do capítulo 9 onde Jesus dá instrução aos doze apóstolos e os envia “a pregar o reino de Deus e a curar os enfermos (Lucas 9.2). Além dos doze, “o Senhor designou outros setenta”. No capítulo final ele ordena a todos “que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém” (Lucas 24.47). A partir do doze, Jesus amplia o número dos que devem anunciar o evangelho, para incluir todos “aqueles que creem” (Mc 16:15-18). Mas a expressão “depois disto” também pode ser referir aos versículos 57-62 do capítulo precedente, onde Jesus testa os que querem lhe seguir, terminando com a advertência “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus” (Lucas 9.62).

A advertência feita aos setenta é que “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos”. Passados vinte séculos e tendo o evangelho avançado muito além da Palestina nesse período, a advertência continua válida para a igreja de hoje. A tarefa continua gigantesca. Há muitos povos ainda não alcançados e línguas para as quais a Escritura ainda não foi traduzida. Há muitos lugares no mundo onde Cristo ainda não foi anunciado, onde o povo em trevas sem saber aguarda o cumprimento da promessa “hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícia dele, e compreendê-lo os que nada tinham ouvido a seu respeito” (Romanos 15.21). Apesar do tamanho da tarefa, “os trabalhadores são poucos”. A igreja tem sido omissa em prover ao mundo obreiros para completar a tarefa de proclamar a Cristo em todo o mundo. Os crentes investem muito pouco de seus recursos na obra missionária e poucos se dispõe a ir aonde o evangelho ainda não chegou.

O que podemos fazer

Está claro que estamos sob o dever de anunciar a salvação ao mundo e não precisamos nos estender em demonstrar essa obrigação. Mas o que podemos fazer efetivamente? Jesus nos apresenta a mais necessária das tarefas, a oração. “Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara”. Aí está algo que todo crente pode fazer. Uma irmã que tinha muito desejo de se dedicar a obra de Deus sofreu um acidente, ficando paralítica. Ao lamentar-se com seu pastor de que não mais poderia trabalhar na seara do Senhor, ouviu dele que poderia orar pelos missionários. Assim ela passou a orar todas as manhãs pela obra missionária num dos hemisfério, e à tarde, pelo outro hemisfério do mundo. Você pode estar orando pela obra missionária. Mas pode orar mais, e orar mais intensamente. E deve orar especificamente para que Deus levante novos missionários, apresentando-se em oração como alguém que Ele pode enviar, se assim o quiser. Que “eis-me aqui, envia-me a mim” (Isaías 6.8) também seja sua oração.

Se essa for sua oração, talvez você ouça de Jesus “Ide! Eis que eu vos envio”. Há muitas formas do evangelho chegar em terras longínquas. O rádio e a televisão têm se mostrado efetivos para veicular a mensagem do evangelho em lugares de difícil acesso. Mais recentemente, a Internet tem alcançado pontos impensáveis e tem sido uma ferramenta útil. Porém, nada substitui a presença física do missionário. A proclamação do evangelho é a principal atividade do esforço, mas não é tudo. Atender necessidades locais, plantar igrejas, formar líderes nativos, tudo isso requer o envolvimento pessoal do missionário. Portanto, o ide não é um imperativo supérfluo hoje, mas uma necessidade real. E o fato dos missionários serem enviados “como cordeiros para o meio de lobos” não deve arrefecer a disposição de ir.

A terceira tarefa, na qual toda a igreja deve se envolver é o sustento missionário. Jesus não afirma isso categoricamente no texto, mas fica explícito quando Ele diz “Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias” (Lucas 10.4). Um missionário não deveria ter que se preocupar com seu sustento, a igreja deve encarregar-se disso. Como missionário, Paulo não buscava ofertas e donativos, mas a igreja de Filipos tomava a iniciativa de enviar-lhe o necessário, e até mais que isso. “Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus” (Filipenses 4.18). A igreja da Galácia, por sua vez, recebe o testemunho de seu missionário “de que, se possível fora, teríeis arrancado os próprios olhos para mos dar” (Gálatas 4.15). Infelizmente, há igreja que gasta mais com copos plásticos no bebedouro que com missionários no campo e outras que faz um grande esforço para instalar ar condicionado no templo enquanto missionários sofrem carências básicas.

Eu quero acreditar que você ora por mais missionários e em favor deles e que tem contribuído generosamente para o sustento deles. De fato, sou movido a dar graças a Deus pela sua dedicação nessa causa. Porém, será que não podemos fazer um pouco mais? Andar a segunda milha? Dedicar mais um pouco do seu tempo de oração para os missionários espalhados pelo mundo? Abrir mão de algo supérfluo ou que poderia ser adiado e enviar uma oferta especial para um missionário que esteja necessitando? A secretaria de missões pode te orientar sobre isso.

O que podemos esperar

Voltando ao primeiro versículo, lemos que “o Senhor designou outros setenta; e os enviou”. No verso seguinte descobrimos que o Pai é “Senhor da seara”. Logo, os enviados são arautos de Jesus, que levantam seu estandarte e em Seu nome estendem os limites do Seu reino aqui na terra. E os que o apoiam com oração e sustento estão envolvidos na causa do Senhor. Não há maior honra que proclamar o nome do Senhor onde Ele ainda não foi invocado e nenhuma outra causa na terra é tão nobre quanto o Seu reino. O Senhor está realizando Sua missão no mundo e para todo crente é um privilégio único fazer parte de Seu projeto para as nações. Missões não é uma parte importante da nossa vida cristã, nossa vida inteira deve fazer parte da missão de Deus.

Além disso, temos uma promessa que deve nos animar em nosso esforço pela causa de Cristo no mundo. Jesus “os enviou de dois em dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava para ir”. Os missionários são arautos, que tocam trombetas para preparar a chegada do grande Rei. Onde o missionário proclama o evangelho, Jesus se faz presente. “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações...e eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28.19–20). O êxito do empreendimento missionário não depende de nossa oração, de nosso serviço e nem de nossas ofertas, embora Deus use tudo isso como meio. A garantia que temos é que o próprio Senhor se apresentará e fará frutificar o trabalho missionário. Disso advém a certeza de que “quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes” (Salmo 126.6).

Soli Deo Gloria

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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