Um diálogo sobre eleição

- Você dá a entender que a eleição é irrevogável. Mas, como explicar o caso de Israel? Foram escolhidos por Deus, no entanto não creram no Messias, vindo a se perder. Para mim, se a eleição é como você diz, então Deus não cumpriu com a palavra dada.

- Você precisa entender uma coisa. A eleição não é corporativa, ou seja, nem todos os da nação de Israel são de fato israelita. Considere Abraão. Ele teve dois filhos, Ismael e Isaque, mas nem toda a sua descedência é considerada seus filhos, somente a linhagem que parte de Isaque...

- Calma aí, você não está levando em conta duas coisas que, ao meu ver, fazem toda diferença. A primeira é que os dois filhos dele eram de mães diferentes. Ismael era filho de uma comcubina, a escrava Agar, enquanto que Ismael era filho de sua esposa legítima, Sara. Logo, é natural que só os filhos de Isaque sejam considerados descendentes legítimos de Abraão. Além disso, os garotos já eram nascidos quando Deus prometeu que a descendência seria na linhagem de Isaque. E o comportamento de Ismael era reprovável. De qualquer modo, todo Israel é descendente de Isaque, então ainda acho que Deus não cumpriu sua promessa feita a Abraão, mesmo que se refira a uma descendência espiritual.

- Você interrompeu meu raciocínio, mas em continuação a ele verá que ter os mesmos pais e um bom comportamento não é determinante para ser escolhido por Deus. Considere os dois filhos de Isaque, Jacó e Esaú. Ambos são concebidos do mesmo pai, no mesmo ato sexual e são gerados no útero da mesma mãe. No entanto, um foi amado e escolhido por Deus, enquanto o outro foi odiado e rejeitado. E tem mais, essa escolha foi feita antes deles terem nascido, ou seja, antes que fossem capazes de fazer alguma coisa boa ou má. Veja que os critérios que você propôs para a escolha, descendência natural e boas ações, são irrelevantes. De fato, com esse registro histórico Deus quer deixar claro que no tocante à eleição não importa a nação, linhagem ou família, nem atitudes ou atos, mas somente a vontade divina. A eleição é eterna e incondicional, posto que prerrogativa da soberania divina.

- E você considera isso justo? Deus escolher uma pessoa e rejeitar outra, sem nenhuma consideração pelo que elas fizeram ou viriam a fazer? Eu não consigo ver justiça nisso!

- Em que pese seu veemente protesto, Deus não é nem um pouco injusto ao escolher um indivíduo e não outro, ou mesmo escolher alguns e não a nação inteira. Pois não se trata de justiça, e sim de misericórdia. A justiça é devida, a misericórdia, não. Ninguém pode ir ao tribunal reclamar que alguém não foi misericordioso para com ele. Assim é com a eleição. Deus disse a Moisés que teria misericórdia de quem Ele quisesse ter misericórdia e se compadeceria de quem quisesse ter compaixão. Por isso a eleição não é injusta, pois não depende da pessoa querer ou se esforçar, mas de Deus decidir ser misericordioso com ele. E não é só isso. Ele também endurece aqueles que ele não escolhe, para que sirvam aos seus santos propósitos. É o caso de Faraó, a quem Ele disse que o havia colocado em sua situação histórica para fazer notório o Seu poder e glória em toda a terra, endurecendo o coração dele com esse propósito.

- Espere aí, quer dizer que Deus não apenas elege e chama quem Ele quer, mas também age naqueles que ele rejeita, para que Seu poder seja manifesto? Com que direito então Ele reclama se alguém não lhe obedece, se no fim a pessoa faz exatamente o que Ele determinou que seria feito?

- Agora você está passando dos limites! Afinal, quem você pensa que é para questionar as decisões Deus? Coloque-se no seu lugar. A obra de um artesão pode questionar o modo como foi feita? Ou não tem o artista pleno direito sobre a sua obra, para fazê-la do modo como bem entender? Da mesma maneira Deus, como um oleiro, tem direito de pegar uma quantidade de massa e dela fazer alguns vasos para uma finalidade honrosa e outros para um uso humilhante. Que direito temos de questionar se ele, da mesma massa de pecadores, prontos para a perdição, faz de uns vasos de misericórdia e de outros vasos de ira, manifestando através destes sua ira e poder ao condená-los justamente, enquanto naqueles revela a grandeza de sua glória ao ser misericordioso para com eles?

Preste atenção, o que estou lhe dizendo é que a promessa de Deus não falhou para com a grande parte de Israel. Pois Isaías já havia dito que mesmo que o número de judeus fosse como grãos de areia na praia, apenas uma pequena parte, chamada de remanescente, é que seria salva. E que esse remanescente não seria formado com base em ascendência étnica ou algo que indivíduos tenham feito ou venham a fazer, mas pelo cumprimento da promessa divina, pois o mesmo Isaías atribui a formação dessa descendência espiritual ao Senhor dos Exércitos e que se dependesse do homem, essa descendência seria mais desolada que Sodoma e Gomorra.

Soli Deo Gloria

5 comentários:

  1. Gostaria que me tirasse uma duvida. Em hb 6:6 falam que aqueles que foram iluminados etc e cairam são impossiveis de serem reconduzidos ou renovados ao arrependimento.

    Segundo o calvinismo o nao-eleito desde seu nascimento até sua morte, é impossivel ser renovado ao arrependimento, mas hb 6:6 diz que só é impossivel do homem ser renovado quando ele tem um tipo de experiencia e entendimento do evangelho e mesmo assim o abandona. Não estou falando que eles foram salvos, mas aqui não parece reforçar a doutrina arminiana em que diz que Deus renova o coração e vontade dos impios capacitando ele a poder escolher se arrepender ou nao se arrepender ?

    Alguem com o entendimento do calvinismo ao olhar nesse texto só pode concluir o seguinte : Se eu não sou eleito nao faz diferença, eu nunca serei renovado ao arrependimento pois Deus nunca concedera esse dom pra mim.

    Mas nao parece que o autor aos hebreus esta dizendo que todos aqueles que ouviam a mensagem tinha a possibilidade de se arrepender, e essa possibilidade só se perderia se eles cometessem essa apostasia ?

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  2. Um argumento contra a expiação limitada 1 timoteo 2:6

    que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.
    1 Timóteo 2:4

    Muitos calvinistas dizem que 1 timoteo 2:4 é a vontade de desejo de Deus e nao a sua vontade de decreto, que é a sua vontade revelada e nao a secreta , que Deus em sua vontade de desejo, deseja que ninguem peque, deseja que todos os homens se arrependam e que todos eles sejam salvos. Mas o meu ponto é que se paulo no versiculo 4 diz que são todos da humanidade que Deus deseja salvar, então no versiculo 6 só pode ser que Jesus morreu por todos da humanidade.

    Mas se paulo diz que são todas as classes de pessoas, isso significa que quando voce prega o evangelho Deus nao deseja salvar a todos que recebem o convite, alem de nao ser uma oferta sincera , mas segundo ezequiel e mateus 23:37, quando voces pregam o evangelho, Deus deseja que todos eles que escutam sejam salvos pois ele morreu por todos eles, conforme paulo diz no versiculo 6


    qual se entregou a si mesmo como resgate por todos.
    1 Timóteo 2:6


    Se todos no versiculo 4 são todos da humanidade então no versiculo 6 só pode ser todos por quem jesus morreu, mas se todos no versiculo 4 não são todos na humanidade então significa que Deus nao possui nenhum desejo salvador para com o nao-eleito e por tanto a oferta de perdao do evangelho é falso

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  3. Pois Isaías já havia dito que mesmo que o número de judeus fosse como grãos de areia na praia, apenas uma pequena parte, chamada de remanescente, é que seria salva. E que esse remanescente não seria formado com base em ascendência étnica ou algo que indivíduos tenham feito ou venham a fazer, mas pelo cumprimento da promessa divina, pois o mesmo Isaías atribui a formação dessa descendência espiritual ao Senhor dos Exércitos e que se dependesse do homem, essa descendência seria mais desolada que Sodoma e Gomorra.ONDE EU ENCONTRO ESSE TEXTO NO LIVRO DO PROFETA ISAIAS

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    1. PC2009,

      Paz seja contigo. As duas passagens de Isaías são Is 10:22-23 e Is 1:9.

      Em Cristo,

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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