O significado da ressurreição


Nos dias atuais, não é raro que ressurreição signifique para os cristãos nada mais do que mera prova de existência depois da presente vida. Significava isso também para os primeiros cristãos, mas significava muito mais... 

Primariamente, a Ressurreição de Jesus era a prova máxima de que Jesus era o Cristo ou Messias de Deus. Por séculos, os judeus tinham vivido nutridos pela promessa de que Deus haveria de enviar-lhes o Messias, seu instrumento Eleito, que haveria de salvar seu povo e estabelecer uma sociedade marcada pela justiça. De modo muito compreensível, uma vez que os judeus tinham vivido por séculos sob o domínio de conquistadores estrangeiros, ocorreu-lhes que o Messias deveria ser um poderoso chefe militar, capaz de arregimentar as legiões celestiais para obter a vitória sobre os cruéis opressores. Finalmente, quando Jesus apareceu, seus seguidores ousaram afirmar que ele era o longamente esperado Messias. 

Entretanto, ele não procurou agir em correspondência com as expectativas de muitos. Ele não arregimentou nenhum exército; ele se recusou a ser feito rei. Por último, ele foi aprisionado, cuspido e escoltado, como se fosse um criminoso comum, para ser executado. Morreu esplendidamente, mas os discípulos acalentavam o desejo de algo diferente de qualquer morte esplêndida. Um Messias que morto, vencido e derrotado pela Roma Imperial dificilmente seria alguém que se pudesse afirmar ser capaz de salvar o homem. Os discípulos puseram-se em fuga não, na verdade, porque não tivessem coragem, mas, sim, pelo fato de parecer-lhes insensato arriscar a vida defendendo uma causa perdida. Admitiram terem-se enganado de modo trágico e o mais adequado era só persuadirem-se cada vez mais disso. Não obstante, nas profundezas mesmas do desespero a que estavam prostrados, viram-se subitamente diante de um desenvolvimento inesperado. Jesus não estava morto. Ele estava vivo; Ele tinha ressuscitado.

O que a ressurreição significava, portanto, era que Jesus se mostrava definitivamente como sendo o Messias ou o Instrumento do próprio Deus. Deus tinha estado operando através dele, como os discípulos tinham crido anteriormente. Roma imperial, com seu poder cruel, já não deveria ser tida como a força mais invencível neste mundo. Roma tinha desencadeado uma sucessão de acontecimentos que terminariam por sobrepujá-la, o que ocorreu exatamente no instante quando, através de seus soldados, tinha crucificado o humilde carpinteiro da Galiléia. Os poderes do mal - e sabe-se que os cristãos primitivos criam que nelas se incluíam os demônios tanto quanto os homens maus - tinham alcançado o ponto extremo de sua manifestação. Mas, exatamente no momento de sua aparente vitória, eis que Deus se evidencia como muitíssimo mais poderoso do que tais poderes. Jesus não tinha conseguido realizar o que os contemporâneos esperavam que ele realizasse. Entretanto, na medida em que os dias iam passando, seus seguidores entenderam que ele tinha conseguido realizar algo bem melhor. Jesus não lhes tinha dado independência com relação ao Império de Roma, mas lhes tinha possibilitado quebrar os grilhões que os mantinham sujeitos ao pecado e à morte, grilhões pelos quais se sentiam acorrentados ao medo. Ele lhes tinha revelado com muita certeza que o poder do bem é admiravelmente maior do que o poder responsável pela existência do mal.

Mediante a ressurreição de Jesus, Deus tinha demonstrado a superioridade do espírito de Jesus sobre o espírito do mal. Portanto, os cristãos passaram a esperar a volta ou a segunda vinda de Cristo, quando o mal haveria de ser completamente desfeito. As forças do mal já tinham sido derrotadas por ocasião da batalha crucial; nenhuma dúvida se poderia admitir quanto a quem seria o último vencedor. Acontecia, porém, que as forças do mal se encontravam ainda em campo e continuavam capazes de acarretar muito desconforto. A batalha decisiva tinha obtido a vitória, mas a vitória final ainda pertencia ao porvir.

Os discípulos saíram pelo mundo pagão levando a mensagem de que Deus tinha falado, Deus tinha agido, Deus tinha revelado sua natureza ao homem. O homem não precisaria mais se esforçar para subir as encostas da traiçoeira montanha que promete o conhecimento de Deus; Deus mesmo tinha descido das alturas, para permitir que os homens o contemplassem. “Deus”, assim asseveravam, “estava em Cristo, reconciliando o mundo consigo mesmo” (2 Co 5.19).

W. E. Hordern
In: Teologia Contemporânea.

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