Dom de línguas: qual o seu propósito?

O dom de línguas seguramente é o mais controvertido dos dons do Espírito Santo. Discute-se sua atualidade, sua natureza e seu propósito. Neste breve artigo, trataremos deste último aspecto da polêmica, a finalidade que os dons de línguas tiveram ou ainda tem.

Nada que Deus faça é destituído de propósito. Assim, penso que não devemos questionar a utilidade do dom de línguas ou a sua necessidade, pelo menos na sua origem. Porém, podemos nos perguntar se tinha um propósito único ou se servia a finalidades diversas. O primeiro ponto é assumido especialmente por aqueles interessados em demonstrar que o dom cessou, pois uma vez que o propósito foi alcançado, o meio que se utilizou para seu alcance torna-se obsoleto. Mas, se o propósito que se tinha em mente não foi cabalmente alcançado, então o dom ainda é necessário, e por isso os interessados em defender a continuidade do dom de línguas também podem enfatizar um aspecto único dos dons. Mas como veremos, os dons serviam a mais de um propósito.

1. Um dos propósitos do dom de línguas é louvar a Deus, exaltando as suas maravilhas. Quando em Jerusalém os discípulos “foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2:4) eles estavam a “falar das grandezas de Deus” (At 2:11). Paulo diz que “o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios” (1Co 14:2) e mais adiante acrescenta, ainda falando do dom de línguas, “cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento” (1Co 14:15).

2. Outro propósito do dom de línguas é a edificação. O apóstolo instrui a igreja quanto ao culto dizendo “quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1Co 14:26). Para que o propósito de edificação da igreja seja alcançado, é imprescindível que haja interpretação das línguas: “se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus” (1Co 14:27-28). Mesmo neste caso, de uso particular do dom de línguas, há edificação pessoal, pois “o que fala em língua desconhecida edifica-se a si mesmo” (1Co 14:4). Mesmo assim, a edificação da igreja deve ser priorizada à edificação pessoal, sendo assim, “o que fala em língua desconhecida, ore para que a possa interpretar” (1Co 14:13).

3. Línguas foram dadas também como sinal. Isto é declarado pelo apóstolo quando afirma “de sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis” (1Co 14:22). Como todo sinal aponta para uma realidade, a questão é: línguas é sinal de que? O verso anterior citado por Paulo sugere que se trata de um sinal de juízo: “Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor” (1Co 14:21). Alguns conseguem ver uma conexão entre o dom de línguas e a destruição do templo dos judeus, ocorrida em 70 d.C. Foge ao escopo deste artigo analisar este particular. Outros veem o dom de línguas como um sinal de bênção, apontando para a inclusão de judeus e gentios na igreja, pois no milagre de Atos 2 “todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando? Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos? Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Asia, e Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus. E todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer?” (At 2:7-12). E ainda há os que entendem serem as línguas um sinal ou evidência física do batismo com o Espírito Santo, também baseados nos relatos de Atos, como este: “E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2:4). Seja como for, o fato é que línguas servem ao propósito de serem um sinal.

Como vimos, línguas não tem um propósito único e isolado. Isto traz implicações para os outros aspectos da discussão em torno dos dons, isto é, quanto à sua natureza e atualidade. Deixamos a cargo do leitor analisar essas implicações. À guisa de conclusão, contudo, fazemos um comentário adicional, prevendo que alguém note que evangelização não foi mencionada como propósito do dom de línguas. A razão disso é que o falar em outras línguas nunca foi referido como tendo essa finalidade e não temos exemplo de uso desse dom para evangelização. E nos propusemos escrever o artigo de uma perspectiva puramente bíblica, ainda que não aprofundada.

Soli Deo Gloria

Um comentário:

  1. Clóvis sua argumentação carece de fundamento bíblico. Observe que o Evangelho “ é o poder de Deus para salvação de TODO aquele que crê “(Rom. 1:16).. O Evangelho é Uma Pessoa. É Jesus (Lucas 2:30,31,32- João 3:16,17-I Cor. 2:2- Atos 3:15,16,22,23-Atos 4:11,12-Atos 5:30,31 e etc. Logo, , O Evangelho, é falar de e sobre Jesus e sua Palavra. E, foi justamente o que Pedro fez para aqueles judeus piedosos vindo de todas as nações debaixo do céu(Atos 2:5). Observe que Pedro fundamentou o falar em línguas maternas(dom de línguas) nas Escrituras(Mat. 4:4-João 2: 22- João 5:39-João 7:38,39-João 10:35- Lucas 24:25,26,27,32) no livro de Joel 2;28 a 32). Ou seja, para o dom de línguas foi posto um fundamento. Há de ser ressaltado, que quando Jesus declarou que eles receberiam poder ao descer sobre eles o Espírito Santo(Atos 1:8), Jesus não estava trazendo ou ensinando algo novo. Jesus estava confirmando, lembrando, a promessa de Deus através de Joel, que foi explicito ao declarar que: “... E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”(Joel 2:32). E, que Senhor? Pedro respondeu quando pregou o Evangelho para aqueles judeus piedosos na Promessa recebida. Veja que após explicar o fundamento do dom de línguas, Pedro em Atos 2:21 repete Joel 2:32 e prega o Evangelho nos seguintes termos:
    “Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela... “(Atos 2:22 a 41).
    Como se vê, Clóvis e demais, aprendemos hoje que o objetivo do dom de línguas é a pregação do Evangelho para pessoas de outras nações debaixo do céu. Aprendemos também que Pedro fundamentou seu ensino sobre o dom de línguas nos escritos de Deus através do profeta Joel. Sendo assim, o que seria as grandezas de Deus para aquele judeus piedosos? O tema sobre:
    - a abertura do mar vermelho?
    -a coluna de fogo a noite e nuvem de dia?
    - o maná durante 40 anos?
    - E, etc, etc...?
    OU OUVIR GALILEUS PREGANDO SOBRE AS MARAVILHAS, PRODÍGIOS E SINAIS QUE DEUS FEZ POR JESUS NO MEIO DELES(ATOS 2:22) EM SUA LÍNGUAS MATERNAS? OU OUVIR DOS ATOS DE SALVAÇÃO DE JESUS POR GALILEUS EM SUA LÍNGUAS MATERNAS? OU OUVIR POR GALILEUS EM SUAS PRÓPRIAS LÍNGUAS MATERNAS, QUE O PROFETA DAVI SABIA QUE DO FRUTO DE SEUS LOMBOS DEUS LEVANTARIA O CRISTO(ATOS 2:30)?

    Clóvis sobre o dom de línguas, Paulo, colocou outro fundamento? Desmentiu Pedro e o profeta Joel? Faço essa pergunta por que todas as pessoas que já ouvir falar do fajuto dom de línguas despreza Atos 2 como fundamento para o verdadeiro dom de línguas usando apenas os escritos de Paulo de forma distorcida. Contudo, como o Espírito Santos é o mesmo que usou ambos, Ele deixa claro que Paulo também se fundamentou na Palavra de Deus em Isaías 28:11. Veja que Paulo é explicito em escrever que sobre o dom de línguas “está escrito na Lei(Isaías), escrito o que? Que “por gente de OUTRAS LÍNGUAS e por outros lábios”... “(I Cor. 14:21). Como se vê, Clóvis e demais, aprendemos hoje que o objetivo do dom de línguas é a pregação do Evangelho para pessoas de outras nações debaixo do céu. Aprendemos também que Pedro fundamentou seu ensino sobre o dom de línguas nos escritos de Deus através do profeta Joel. E Paulo fundamentou seu ensino sobre o dom de línguas nos escritos de Deus através do profeta Isaías. Portanto, seu ensino sobre o dom de línguas é doutrina de homem que carece da iluminação do Espírito Santo.
    Osmar Ferreira-nadanospodemoscontraverdade@bol.com.br

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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