Justificação: o efeito da redenção que é por Cristo

   “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Romanos 3.24).  
Teólogos irão confundi-los, se você perguntar a eles. Devo tentar o máximo que posso para fazer a justificação clara e simples – até que uma criança a compreenda. Não há coisa alguma que possa ser tida como uma justificativa pelos homens na terra, exceto uma. A justificação, como sabem, é um termo forense – ele é sempre empregado no sentido legal. Um prisioneiro é trazido ao tribunal de justiça para ser julgado. Há somente uma forma pela qual esse prisioneiro pode ser justificado – ele deve ser achado sem culpa e então, se é assim achado, ele é justificado – isto é, é provado que ele é um homem justo. Se vocês o acharem culpado, não poderão justificá-lo. A Rainha pode perdoá-lo, mas ela não pode justificá-lo. As ações não são justificáveis, se ele é culpado em relação a elas – ele não pode ser justificado por conta delas. Ele pode ser perdoado. Mas a realeza, em si mesma, nunca poderá purificar o caráter desse homem. Ele permanece tanto como um criminoso, ao ser perdoado, quanto como o era antes. Não há outro meio, entre os homens, de justificar um homem de uma acusação que está posta contra ele, senão provando sua inocência. Ora, a grande maravilha é que, mesmo sendo provado que somos culpados, somos justificados. O veredito de culpa foi dito contra nós – e, contudo, somos justificados! Pode algum tribunal terreno fazer isto? Não. Restou para o Resgate de Cristo efetuar aquilo que é uma impossibilidade para qualquer tribunal sobre a Terra! Somos todos culpados. Leiam o versículo 23, que imediatamente precede o texto: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Ali, o veredito de culpa é estabelecido e, logo depois, é dito que somos justificados gratuitamente pela Sua Graça!

Agora, deixem-me explicar a forma pela qual Deus justifica o ímpio. Estou prestes a conjecturar um caso impossível. Um prisioneiro foi julgado e condenado à morte. Ele é um homem culpado. Ele não pode ser justificado, pois foi criminado. Mas, agora, imaginem por um momento que uma coisa tal como esta poderia acontecer: uma segunda parte foi introduzida, a qual poderia tomar toda a culpa daquele homem sobre ela! Uma parte que poderia, com efeito, trocar de lugar com aquele homem e, através de um misterioso processo que, é claro, é também impossível para os homens, tornar-se aquele homem. Ou tomar o caráter daquele homem sobre si. Ele, o reto, colocando o rebelde em seu lugar e fazendo dele um homem justo – não poderíamos fazer isso em nossas cortes. Se eu estivesse perante um tribunal e ele concordasse que eu deveria cumprir um ano de detenção, no lugar de algum miserável que foi condenado, ontem, a um ano de prisão, eu não poderia receber sua culpa! Eu poderia receber a sua punição, mas não sua culpa. Agora, o que carne e sangue não podem fazer, Jesus Cristo, pela Sua redenção, o fez. Aqui estou, pecadores. Declaro-Me agora como um representante de todos vocês. Estou condenado a morrer. Deus diz: “Condenarei tal homem, eu devo e vou – eu o punirei”. Cristo chega, põe-me de lado e se coloca em meu lugar. Quando é exigido o argumento, Cristo diz: “Culpado”. Ele toma minha culpa para ser a Sua própria! Quando a punição está para ser executada, Cristo surge. “Puna-me”, ele diz – “Eu imputei minha justiça a esse homem e tomei seus pecados sobre mim. Pai, puna-me e considere aquele homem como se tivesse sido eu. Que ele reine no Céu. Que eu sofra a miséria. Que eu suporte sua maldição e que ele receba minha bênção”

Esta maravilhosa Doutrina da troca de lugares, de Cristo com pobres pecadores, é a Doutrina da Revelação! Ela nunca poderia ter sido concebida pela Natureza! Deixem-me, para que não tenha cometido um erro, me explicar novamente. A maneira pela qual Deus salva um pecador não é, como alguns dizem, passar por cima da pena. Não! A pena foi paga. É a colocação de outra pessoa no lugar do rebelde. O rebelde deve morrer. Deus assim disse. Cristo diz: “Serei o Substituto do rebelde. Ele tomará meu lugar e eu tomarei o dele”. Deus consente com isto. Nenhum monarca terreno teria poder para assentir em tal mudança, mas o Deus do Céu tem o direito de fazer tudo o que lhe apraz! Em Sua infinita misericórdia ele consentiu com ao procedimento. “Filho do meu amor”, ele disse, “Deves ficar no lugar do pecador. Deves sofrer o que ele deveria ter sofrido. Deves ser contado como culpado assim como ele o foi. Somente então olharei para o pecador com outra visão. Olharei para ele como se fosse você. Eu o aceitarei como se ele fosse meu Filho Primogênito, cheio de Graça e de Verdade. Darei a ele uma coroa no Céu e o tomarei ao meu coração para todo o sempre”. Assim é que somos salvos. “Sendo justificados gratuitamente pela Sua Graça, pela Redenção que há em Cristo Jesus”.

E, agora, deixem-me ir além e explicar algumas das características desta justificação. Tão logo um pecador é justificado, lembrem-se, ele é justificado de todos os seus pecados. Aqui está um homem pecador. No momento em que crê em Cristo, ele recebe o perdão imediatamente e seus pecados não são mais dele. Eles são lançados nas profundezas do rio. Eles são colocados sobre os ombros de Cristo e se vão. O homem levanta-se sem pecado à vista de Deus, aceito no Amado. Vocês perguntam: “O quê? Você diz isto literalmente?” Sim, eu digo. Essa é a Justificação pela Fé. O homem deixa de ser considerado pela Justiça Divina como um ser culpado. No momento em que ele crê em Cristo, sua culpa é dele totalmente tirada. Mas vou um passo além. No momento em que o homem crê em Cristo, ele deixa de ser considerado culpado por Deus! E mais, ele se torna justo, meritório – no momento em que Cristo toma seus pecados, ele recebe a justiça de Cristo para que, quando Deus olhar para o pecador, o qual, uma hora atrás, estava morto em pecados, ele o olhe com o mesmo amor e afeição com que sempre viu Seu Filho! O próprio Cristo disse: “Como o Pai me amou, assim eu vos tenho amado”. Ele grandemente nos ama, assim como Seu Pai o amou! Vocês podem acreditar em uma Doutrina como essa? Não ultrapassa ela todo o pensamento? Bem, ela é a Doutrina do Espírito Santo, a Doutrina pela qual devemos esperar, a fim de sermos salvos. Posso, a qualquer pessoa não esclarecida, ilustrar melhor este pensamento? Transmitirei a ela a parábola que nos é dita nos Profetas – a parábola de Josué e o Sumo Sacerdote. Josué entra, vestido com vestes imundas – tais vestes representando os seus pecados. Tira as vestes sujas. Isso é perdão. Põe uma coroa em sua cabeça e o veste com um traje real – o faz rico e reto – isso é justificação. Mas, de onde vieram tais trajes? E, para onde vão esses trapos? Porque os trapos que Josué usava foram tomados por Cristo e as vestes colocadas nele são os trajes com que Cristo se vestia! O pecador e Cristo fazem exatamente como Jônatas e Davi fizeram. Jônatas coloca sua túnica sobre Davi e este dá a Jônatas suas vestes – da mesma forma, Cristo leva os nossos pecados, levamos a justiça de Cristo e é por uma gloriosa substituição e troca de lugares, que os pecadores são livres e são justificados pela Sua Graça!

“Mas”, alguém diz, “ninguém é justificado desta forma até que morra”. Acredite, ele é sim:

“No momento em que crê um pecador
E confia em seu Deus crucificado,
De uma vez recebe ele Seu perdão –
Por Seu sangue, é completa sua Salvação.”

Se aquele jovem ali tem realmente crido em Cristo esta manhã, percebendo, por uma experiência espiritual, o que tenho tentado descrever, ele é tão justificado aos olhos de Deus agora quanto o será quando estiver diante do Seu Trono! Nem mesmo os espíritos glorificados, nas alturas, são mais aceitáveis a Deus do que o pobre homem, abaixo deles, que outrora foi justificado pela Divina Graça! É uma perfeita lavagem, perfeito perdão, perfeita imputação – somos completa e gratuitamente aceitos através de Cristo, nosso Senhor! Somente mais uma palavra, aqui, e então deixarei este assunto da justificação. Aqueles que uma vez foram justificados, o são irreversivelmente. Assim que um pecador toma o lugar de Cristo e Cristo toma o seu lugar, não há temor para uma segunda mudança! Uma vez que Cristo pagou a dívida, a dívida foi paga e nunca será cobrada novamente! Se vocês são perdoados, o são de uma vez e para sempre! Deus não dá ao homem um perdão gratuito, sob Sua própria promessa e, então, mais tarde, se retrata e o pune – longe de Deus fazer tal coisa! Ele diz: “Puni a Cristo. Você pode ir livre”. E, depois disso, podemos “nos regozijar na esperança da glória de Cristo”, pois, “justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo”.

E agora ouço alguém clamar: “Essa é uma Doutrina extraordinária!”. Bem, assim alguns podem pensar, mas, deixem-me dizer-lhes: ela é uma Doutrina professada por todas as igrejas Protestantes, embora eles não a preguem! Ela é a Doutrina da Igreja da Inglaterra, é a Doutrina de Lutero, é a Doutrina da Igreja Presbiteriana – ela é abertamente a Doutrina de todas as Igrejas Cristãs – e, se ela parece estranha aos seus ouvidos, é porque seus ouvidos são alienados, não porque ela é estranha! Ela é a Doutrina das Sagradas Escrituras, que ninguém pode condenar a quem Deus justifica e que ninguém pode acusar aqueles por quem Cristo morreu, pois eles estão totalmente livres do pecado! De modo que, como um dos Profetas tem dito, Deus não vê pecado em Jacó, nem iniquidade em Israel. No momento em que eles creem, sendo seus pecados imputados a Cristo, os pecados deixam de ser deles, a justiça de Cristo é a eles imputada e é contada como pertencente a eles, a fim de que, pela Graça de Deus, eles sejam aceitos!

Charles Spurgeon

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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