Se a ética de Jesus é de fato a ética do reino de Deus, segue-se que deve ser uma ética absoluta. Dibelius está correto; Jesus ensinou a vontade de Deus pura e incondicionada sem qualquer tipo de compromisso, que Deus impõe aos homens de todas as épocas e para todo o tempo. Tal conduta é atingível de um modo cabal somente na Era Vindoura, quando todo o mal for banido; mas o Sermão do Monte deixa bem claro que Jesus esperou que os seus discípulos praticassem os seus ensinos nesta era presente. Doutra maneira, as declarações sobre a luz do mundo e o sal da terra ficam despidas de significado (Mateus 5:13,14). A ética de Jesus incorpora o padrão de justiça que um Deus santo deve requerer dos homens em qualquer era.
É este fato que tem suscitado a difícil questão da praticabilidade da ética de Jesus. Quando considerada sob um ponto de vista, sua ética é impraticável e quase impossível de ser levada a efeito. Se o Sermão do Monte é uma legislação para determinar a admissão no Reino futuro, então todos os homens estão excluídos. Jesus ensinou que a ira é pecado e leva à condenação. A lascívia é pecado, e qualquer que olhar para uma mulher com lascívia é culpado de pecado. Jesus exigiu uma honestidade absoluta, uma honestidade tão absoluta que um Sim ou um Não seriam tão válidos quanto um juramento. Jesus exigiu um amor perfeito, um amor tão perfeito como o é o amor de Deus pelos homens. Se Jesus exigiu somente uma obediência legalista aos seus ensinos, então deixou os homens dependurados sobre o precipício do desespero, sem nenhuma palavra de salvação.
Entretanto, o Sermão não é lei. Ele descreve o ideal do homem em cuja vida o reino de Deus é absolutamente realizado. Esta justiça, como Dibelius afirmou, somente pode ser experimentada de um modo perfeito no Reino de Deus escatológico. No entanto, ela pode ser atingida até certo grau na era presente, à medida que o reino de Deus é de fato experimentado. Uma questão importante é se uma experiência perfeita do ditame de Deus nesta era é um pré-requisito necessário para a participação no Reino escatológico, e esta questão não pode ser respondida à parte do ensino de Jesus sobre a graça.
Há uma analogia entre a manifestação do Reino de Deus em si mesmo e a obtenção da justiça do Reino. O Reino veio na pessoa de Jesus, em cumprimento à salvação messiânica ainda dentro da antiga era, mas a consumação aguarda a Era Vindoura. O Reino encontra-se presente na atualidade, mas de um modo inesperado. Ele entrou na história sem transformar a história. Veio à sociedade humana sem purificar a sociedade. Por analogia, a justiça do reino de Deus pode ser real e substancialmente experimentada mesmo na era presente; mas a justiça perfeita do Reino, como o próprio Reino, aguarda a consumação escatológica. Do mesmo modo que o Reino invadiu a era perversa para trazer aos homens, como uma experiência antecipada, uma experiência parcial, mas real, das bênçãos do Reino escatológico, assim a justiça do Reino é alcançável, em parte, se não em perfeição, na era presente. A ética, como o próprio Reino, permanece na tensão entre a realização presente e a perfeição escatológica futura.
George E. Ladd. Teologia do Novo Testamento.
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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott
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