A revelação do Senhor Glorificado

O autor

Começaremos nosso estudo das cartas às sete igrejas da Ásia voltando nosso olhar para seu Autor. E que visão tremenda temos de Cristo! “Voltei-me para ver quem falava comigo” (Ap 1:10) e “quando o vi, caí a seus pés como morto” (Ap 1:17), confessa João. Nossas imagens de Jesus são construídas por quadros de artistas e por filmes que assistimos - que o representam como sendo frágil e quase afeminado - e não pelo que é apresentado nas Escrituras. Não admira que tenhamos tão pouca reverência por Sua bendita pessoa. Se apenas vislumbrasse a glória do Filho de Deus à direita do Pai, também cairíamos como mortos diante de Dele e diríamos, “ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!” (Is 6.5).

João descreve o Senhor como sendo “um semelhante a filho de homem” (Ap 1:13). Embora glorificado, Jesus guardava a semelhança da humanidade que assumiu na Encarnação, quando “o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). Porém, diferente das vestes humildes de então, agora estava vestido “com vestes talares e cingido, à altura do peito, com uma cinta de ouro” (Ap 1.13). O Senhor não está mais nu enquanto aos pés da cruz soldados disputam Sua túnica, mas vestido com roupas sacerdotais e reais. Não está no altar oferecendo sacrifício, o que fez na cruz de uma vez por todas, mas anda entre os cadeeiros de ouro (as igrejas), examinando se são dignos de estarem ali ou se deveria removê-los. É importante notar, desde agora e enquanto examinamos cada carta, que Jesus se dirige à igreja como Juiz “porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada” (1Pe 4.17) .

“A sua cabeça e cabelos eram brancos como alva lã, como neve” (Ap 1.14), demonstra a pureza de Seu caráter, bem como Sua eternidade, enquanto que "os olhos, como chama de fogo” (Ap 1.14) apontam para Seu conhecimento perfeito, inclusive das intenções do coração do Seu povo. Desse modo, Seu julgamento da igreja é justo e fundamentado no pleno conhecimento que tem do coração e das obras dela. Corrobora isso “os pés, semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha” (Ap 1:15), indicando perseverança e força no juízo divino.

Sendo o Apocalipse a “revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu” (Ap 1.1), é esperado ouvir Sua voz, “como voz de muitas águas” (Ap 1:15), o que nos faz lembrar do salmista dizendo “Ouve-se a voz do SENHOR sobre as águas; troveja o Deus da glória; o SENHOR está sobre as muitas águas. A voz do SENHOR é poderosa; a voz do SENHOR é cheia de majestade” (Sl 29.3–4). Acrescenta o profeta que “da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes” (Ap 1:16), o que nos lembra a Escritura, “porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12). O mundo não será subjugado com armas humanas, pois “sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações” (Ap 19.15), assim o Senhor dirá naquele dia “pela palavra da minha boca, os matei” (Os 6.5). Mas antes disso, o Senhor usará Sua Palavra em juízo contra a igreja infiel, pois “estas coisas diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes” (Ap 2.12), “arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca” (Ap 2.16). 

João termina a descrição do Cristo Exaltado dizendo que “o seu rosto brilhava como o sol na sua força” (Ap 1:16). João já havia contemplado a glória do Senhor na transfiguração, quando Jesus “foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol” (Mt 17.2). Porém, agora ele via Jesus em Sua glória imperial, pois então Jesus ainda não havia sido glorificado. Compreensível João ter desfalecido ante essa visão. Mas o Senhor põe sobre ele a mão direita e diz “Não temas” (Ap 1.17). O Senhor veio até ele para incumbi-lo de uma missão: “escreve, pois, as coisas que viste, e as que são, e as que hão de acontecer depois destas” (Ap 1:19).

As igrejas

As primeiras palavras do Senhor Ressuscitado para ele foram “o que vês escreve em livro e manda às sete igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia” (Ap 1.11). Algumas considerações podem ser feitas aqui com relação às igrejas escolhidas. A primeira, é que cada igreja recebeu todas as cartas, na verdade, receberam o livro de Apocalipse inteiro. Pode-se imaginar o constrangimento de uma igreja sabendo que outras estariam lendo as repreensões do Senhor feita a elas. Apesar disso, as igrejas não foram comparadas entre si, cada uma delas é julgada de forma independente das outras. A segunda observação é por que sete igrejas? Sete é o número da perfeição e talvez o Senhor quisesse nos dizer que nelas as igrejas de todas as épocas estariam representadas. Finalmente, porque essas e não outras igrejas? Da lista, Paulo só menciona duas delas, Éfeso e Laodicéia. Havia mais igrejas no circuito postal dessas cidades, algumas mais importantes. Então, por que exatamente essas? Creio que jamais saberemos com certeza, talvez seja porque pelas suas características (virtudes e fracassos) elas são representativas das igrejas em todas as épocas.

As cartas

Seja qual for a razão da escolha dessas igrejas, as mensagens dirigidas a elas seguem uma estrutura semelhante. Todas elas (com poucas exceções) tem uma apresentação ou descrição do Cristo Exaltado baseada na visão que João teve, apresenta uma revelação do estado ou condição da igreja seguida do reconhecimento de virtudes e condenação de fracassos, com uma exortação ao arrependimento somada à uma declaração de juízo na falta dele, terminando com uma promessa de recompensa aos que perseverarem fiéis.

E antes de começarmos a análise das mensagens na ordem em que foram ditadas pelo Senhor, uma palavra sobre a interpretação das mesmas. As igrejas às quais as palavras foram dirigidas eram igrejas locais reais e a situação descrita representava a situação real dessas igrejas. Assim devem ser estudadas, antes de tudo. Porém, igrejas com problemas como os descritos nas mensagens sempre existiram, portanto, a mensagem é aplicável a igrejas de todas as épocas. Alguns, inclusive, enxergam uma ordem cronológica em relação a história da igreja, identificando cada carta com um período da igreja. Neste caso, as cartas seriam proféticas. De fato, algumas semelhanças são notáveis, porém a Escritura não autoriza essa interpretação e por isso não é bom força-la. Faremos referência à correlação de cada carta com o período da igreja correspondente a essa linha de interpretação, mas apenas como subsídio. Finalmente, as cartas tem uma aplicação pessoal, aos crentes individualmente, pois embora o Senhor se dirija à igreja, promete a indivíduos.

Seja como for, a recomendação que é feita e à qual devemos atentar é: “quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2.7). 

Soli Deo Gloria

Um comentário:

  1. Muito útil esse estudo Clóvis, ainda mais desse livro.
    Que o Senhor Deus te abençoe e ilumine esse estudo.
    Abraços, paz!

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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