A dignidade de um mau disparo

O meu amigo, rev. Ilton Goncalves, publicou um post sobre a dignidade de um mal disparo em um duelo. O conceito ali expresso me levou a outro desdobramento, visto que em tempos idos o duelo era aceito como forma de se resolverem querelas pessoais. O grande desafio, portanto, era que fosse certeiro o disparo. Mas quem fizesse o mal disparo não perderia a dignidade por ter aceitado as regras do jogo. O respeito lhe era devido pela "honradez" de não fugir da raia. Embora tenha feito um mal disparo, cumpriu com altivez os critérios.

No campo dos duelos verbais - o debate - a concepção é a mesma e pode ser definida como honestidade intelectual. Mesmo que a causa não seja boa, quem a defende precisa defendê-la com dignidade, sem apelar para a fraude retórica ou mesmo para ilações infundadas ou ainda para a desqualificação do oponente. É jogo sujo. Infelizmente, as rede sociais estão cheias desse tipo de comportamento. A retórica fraudulenta predomina em detrimento da consistência, as ilações e conjecturas são as mais absurdas e descabidas, sem obedecer a nenhuma lógica  e, se não bastasse, na falta de "bons tiros certeiros", o próximo passo é desqualificar o outro lado da mesa.

Por outro lado, quem recusa a causa, quem a combate, precisa recusá-la e combatê-la com dignidade, sem humilhar o outro, sem rir-se da fragilidade de seus argumentos ou mesmo assumir ares arrogantes como se fosse "o senhor da rua". Afinal, o debate não tem como finalidade trocar farpas, denegrir o oponente, polemizar pelo simples desejo de ser polêmico, expor a verve só para ser aplaudido. O debate visa, entre outros pontos, trazer luz sobre um tema e, para quem ainda não percebeu, mostrar que a verdade é cristalina. Portanto, não é de bom tom pisar sobre o perdedor.

Ter postura sensata permite que ambos os lados ensinem preciosas lições a quem assiste, não só quanto ao tema do debate, mas também na área do comportamento, bem como garante, ao final, a oportunidade de os debatedores tomarem juntos um bom café na primeira padaria da esquina que enseja a manutenção do diálogo e a consolidação de uma amizade.

Regra geral, os brasileiros são muito ruins nisso.

Geremias do Couto

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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