Análise honesta dos erros dos reformadores

Falta honestidade nas análises que alguns fazem dos erros dos reformadores. Duas nuances, por exemplo, são completamente ignoradas.

Em primeiro lugar, lembremos que os reformadores não eram super-homens espirituais, assim como Abraão, Isaque, Jacó, Elias, Davi, Salomão e outros servos de Deus no passado não eram. Todos estes que citei tiveram falhas, umas maiores, outras menores, mas todos tiveram. E sabe qual é uma das coisas mais lindas na Bíblia? É que ela não esconde as falhas dos heróis da fé. Já imaginou se escondesse? Se ela o fizesse, ao lermos a história dos homens de Deus na Bíblia, diríamos: “Meu Deus, eles eram tão perfeitos! Não há como eu poder ser usado por Ti como eles foram, pois sou tão falho...”

Graças a Deus por não esconder as falhas dos heróis bíblicos! Graças a Deus por ela mostrá-los como eles realmente são! Diferentemente do que faziam os historiadores das nações da Antiguidade. Estes eram funcionários do reino e, por isso, tão tendenciosos que a maioria deles escondia todas as falhas dos reis, exaltava só as virtudes e ainda escondia relatos de derrotas em guerras contra outras nações. Esses funcionários relatavam só as vitórias. Por isso, para saber a verdade sobre determinados povos da Antiguidade, os historiadores modernos tiveram, em muitos casos, de comparar o que historiadores coetâneos de nações inimigas diziam sobre aqueles reis.

A Bíblia, porém, não mente, não camufla. Deus não dá “jeitinho” para ninguém. A Bíblia não esconde os erros dos heróis da fé. Ela mostra o ser humano como ele é, falho e extremamente necessitado e dependente da graça, da misericórdia e do perdão de Deus para ser restaurado, abençoado e se tornar uma bênção.
Enfim, ao mostrar os heróis da fé com suas falhas, a Bíblia nos ensina que Deus não faz a obra simplesmente através de nós. Ele faz Sua obra através de nós e apesar de nós, ou seja, apesar de nossas falhas. Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e pôde ser usado por Deus como foi (Tg 5.17). Davi foi tremendamente falho, mas se arrependeu e pôde ser usado por Deus como foi. Nós somos falhos, mas podemos ser usados por Deus apesar de nossas fraquezas.

Então, não precisamos olhar para a Reforma para aprender que homens de Deus podem falhar. Basta lermos a Bíblia. Quem lê a Bíblia não se impressiona com a fraqueza humana, mesmo nos filhos de Deus.

Agora, em segundo lugar, devemos aprender a fazer distinção entre os que erram por fraqueza (como os reformadores) e os que erram por falta de conversão mesmo, porque são ímpios travestidos de cristãos (aqueles que demonstravam viver divorciados dos princípios do Evangelho e ainda fizeram atrocidades em cima de atrocidades em nome de Deus). No primeiro caso, não devemos ignorar os erros, mas também não devemos comprometer toda a obra de uma vida dedicada ao Senhor por causa desses erros isolados. Lutero, Calvino e outros foram grandes homens, apesar de suas terríveis falhas. Já no segundo caso, devemos rechaçar esses falsos irmãos, que dizem que estão no Evangelho, mas o Evangelho não está realmente neles. Estes podem não se envergonhar do Evangelho, mas ele se envergonha deles.

Enfim, aprendamos com os erros e acertos dos reformadores. Seus erros pontuais não devem ser esquecidos por terem sido apenas pontuais, mas também não devem ser usados desonestamente para diminuir a importância do que fizeram sob a graça e a inspiração divinas.

E uma última reflexão: assim como os erros cometidos no passado por célebres homens de Deus foram quase sempre frutos da influência do contexto histórico de suas épocas sobre eles, muitos cristãos repetem esse erro hoje quando se deixam influenciar pelo atual contexto histórico, pelos princípios da Pós-modernidade, na formação de sua mentalidade. Aprender com os erros dos reformadores e com o Sola Scriptura nos leva a não cometermos os erros desses cristãos de hoje.

Silas Daniel
In: Uma palavra sobre os erros dos reformadores

3 comentários:

  1. Clóvis, esse da direita é uma representação gráfica de Jesus? rsrs

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  2. Embora pareça uma representação romanista de Jesus, trata-se na verdade de John Hus, o "ganso" que profetizou a vinda do "cisne", no alvorecer da Reforma.

    Para saber mais sobre o "ganso" leia o artigo 100 anos antes da Reforma, John Hus é morto na fogueira.

    E sobre os "cisnes", leia Os cisnes Agostinho e Lutero

    Em Cristo,

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    1. Suspeitei desde o principio. Mas que ficou parecido, ficou!
      Obrigado Clóvis.

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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