Eleição, um sermão de João Calvino - 1


“Que nos salvou e nos chamou com santo chamado; não segundo as nossas obras, mas conforme seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho”. 2Tm 1:9-10
Se quisermos conhecer a livre misericórdia de nosso Deus em nos salvar, temos de ir até o Seu conselho eterno, pelo qual Ele nos escolheu antes da fundação do mundo. Disso vemos que Ele não considerou nossas pessoas, nem a nossa dignidade, nem qualquer mérito que poderíamos possivelmente possuir. Antes de nascermos, fomos arrolados em Seu registro. Ele já havia nos adotado por Seus filhos.

Portanto, vamos conceder tudo a Sua misericórdia, sabendo que não podemos nos orgulhar de nós mesmos, a não ser que venhamos furtar Dele a honra que lhe pertence.

Os homens têm se esforçado em inventar sofismas para obscurecer a graça de Deus. Porque eles dizem que, apesar de Deus escolher os homens antes do inicio do mundo, ainda assim foi de acordo com sua presciência que um seria diferente do outro. As Escrituras demonstram claramente que Deus não esperou ver se os homens eram dignos ou não, quando Ele os escolheu, mas os sofistas pensam que podem obscurecer a graça de Deus, dizendo que embora Ele não tenha considerado os méritos passados, Ele tinha um olho naqueles que estavam por vir. Pois dizem eles que embora Jacó e seu irmão Esaú não tivessem feito nem o bem nem o mal, e Deus tenha escolhido um e recusado a outro, ainda assim Ele previu – como todas as coisas são presentes para Ele – que Esaú seria um homem vicioso, e que Jacó seria como se mostrou posteriormente.

Mas essas são especulações tolas, porque elas simplesmente fazem de Paulo um mentiroso; os quais dizem que Deus não recompensa nossas obras quando Ele nos escolhe, porque Ele fez isso antes do inicio do mundo. Porém, embora a autoridade de Paulo fosse abolida, ainda assim a questão é muito clara e evidente, não só nas Sagradas Escrituras, mas também na razão, de modo que aqueles que fazem um escape desse tipo, se mostram homens vazios de toda a habilidade. Porque se buscarmos em nós mesmos à fundo, o que podemos encontrar de bom? Não foi toda a humanidade amaldiçoada? O que trazemos do ventre de nossa mãe, a não ser pecado?

Portanto, não diferimos nem um pouco uns dos outros, mas apraz a Deus tomar para Si aqueles que Ele quer. E por esse motivo, Paulo usa estas palavras em outro lugar, quando diz que os homens não têm do que se regozijar, pois nenhum homem se encontra melhor do que seus companheiros, a não ser porque Deus o distingue. Então, se confessarmos que Deus nos escolheu antes do inicio do mundo, segue-se necessariamente que Deus nos preparou para receber a Sua graça. Porque Ele concedeu sobre nós a bondade, que não estava em nós anteriormente. Porque Ele nos escolheu para sermos herdeiros do reino dos céus, mas também nos justifica e nos governa pelo Seu Espírito Santo. O cristão deve ser muito bem resolvido nesta doutrina, estando além de qualquer dúvida.

João Calvino
In: Eleição, via Projeto Spurgeon

SEJA O PRIMEIRO A

Postar um comentário

"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

Sua leitura deste post muito me honrou. Fique à vontade para expressar suas críticas, sugestões, complemetos ou correções. A única exigência é que seja mantido o clima de respeito e cordialidade que caracteriza este blog.