A Ceia do Senhor

A promessa que acompanha o mistério da Ceia aclara com evidência por que tem sido instituído e a que fins tende.

Este mistério nos confirma que o corpo do Senhor tem sido entregado por nós numa única vez, e isto de modo tal que agora é nosso e o será também perpetuamente; pois o sangue do Senhor foi derramado por nós uma única vez e de modo que Ele será sempre nosso.

Estes sinais são o pão e o vinho, sob os quais o Senhor nos apresenta a verdadeira comunhão de seu corpo e de seu sangue. E esta uma comunhão espiritual, para a qual bastam os laços do Espírito Santo, já que não requer a presença de sua carne sob o pão, ou a de seu sangue sob o vinho. Pois ainda que Cristo, elevado para o céu, deixou esta morada terrena na que nós estamos ainda como peregrinos, contudo nenhuma distância pode diminuir seu poder com o qual alimenta os seus de si mesmo, e lhes concede, ainda estando distanciados dEle, desfrutar de sua comunhão de um modo muito íntimo.

E isto no-lo ensina o Senhor na Ceia de um modo tão verdadeiro e manifesto que devemos possuir, sem a mais mínima dúvida, a plena certeza de que Cristo nos é apresentado ali com todas suas riquezas, com maior realidade que se o vissem os nossos olhos, e os toucassem nossas mãos.

O poder e a eficácia de Cristo é tão grande que não só outorga na Ceia a nossos espíritos uma confiança segura na vida eterna, senão que além da certeza da imortalidade de nossa carne; pois está já vivificada com sua carne imortal e participa, de alguma forma, de sua imortalidade. Por isso o corpo e o sangue estão representados sob o pão e o vinho, para que aprendamos não só que são nossos, senão que também são vida e alimento. Assim, quando vemos o pão consagrado em corpo de Cristo, devemos pensar imediatamente nesta semelhança; assim como o pão alimenta e conserva a vida de nosso corpo, assim também o Corpo de Cristo é o alimento e a proteção de nossa vida espiritual. E quando se nos apresenta o vinho como símbolo de seu sangue, devemos também considerar que recebemos espiritualmente do sangue de Cristo os mesmos benefícios que proporciona o vinho ao corpo.

E assim, do mesmo modo que este mistério nos ensina quão grande é a generosidade divina conosco, da mesma maneira nos insta também a não sermos ingratos ante uma bondade tão manifesta, exortando-nos a louvá-la como convém e a celebrá-la com ações de graças.

Finalmente, este Sacramento nos exorta a unir-nos uns com outros do mesmo modo que se unem entre sim os membros de um mesmo corpo. Nenhum incentivo mais poderoso e mais eficaz se nos podia dar para promover e excitar entre nós uma mútua caridade como o de que Cristo, ao dar-se a nós, nos convide só com seu exemplo a dar-nos e consagrar-nos uns aos outros, senão que, fazendo-se comum a todos, nos faz também a todos um em si mesmo.

João Calvino
In: Breve Instrução Cristã

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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