A
passagem do Evangelho segundo João, cap 3;8 a 11, não mostra Jesus
dizendo à mulher que ela não pecou, nem mesmo que os acusadores dela
eram cruéis e pecadores, por quanto a acusavam de adultério. Cristo
também não perdoou aquela mulher porque havia (eventualmente) falhas no
processo de acusação, ou tão pouco por falta de provas.
Também
não é correto imaginar que a não condenação foi causada por ser Cristo
sabedor do tamanho da pecaminosa humana e ao considerar o insignificante
(ou quem sabe apenas comum) pecado (de adultério), concluí não ser
justo punir a adúltera visto que a triste condição da humanida não podia
(mesmo que apenas no momento) ser resolvida. Ou mesmo porque ele achava
que a sentença era dura de mais.
Cristo
não inocentou a mulher e nem deu desculpas para seu pecado, não
contemporizou ou contextualizou o caso. Não falou da carga emocional que
essa mulher sofria; nem recorreu a uma sociedade dominadora e machista
para lhe tirar a culpa. Não questionou a criação errada e a má educação
dada por seus pais (líderes religiosos e escolas confessionais), nem
mesmo à falta disso foi levantada!
Cristo
não buscou refúgio em nenhum dos artifícios que conhecemos: não disse
que o problema dela era sociológico – ou quem sabe, psicológico – não
lhe ofereceu conforto na negação de sua atitude repugnante, não
minimizou sua má conduta pelas falhas do caráter do marido ou apenas
culpou sua instabilidade emocional, e nem concluiu que a pobre mulher
fora enganada por um amante espertalhão.
Ele
não deu um jeitinho para não parecer tão mal! Ele não se isentou da
pecha de juiz e nem fugiu de dar uma opinião ou veredicto! E embora
soubesse claramente da maligna intenção daquele grupo, não usou deste
expediente para liberar a acusada.
As
palavras dele foram claras: “nem eu tampouco te condeno; vai e não
peques mais”. Numa leitura mesmo que simples, se perceberá que o padrão
de santidade exigido {por Deus} não mudou! Cristo declara aquela mulher
como pecadora, e mais, pecadora da acusação levantada – ela era uma
adúltera, ele sabia disso! Mas Cristo simplesmente não a condena. Não
aplicar a pena que lhe era devida, pena justa – crime previsto e
sentença acertada e conhecida. Não foi uma mudança de paradigma, nem
mesmo um novo mandamento. Ele não burlou a Lei mosaica e nem se apoio
numa brecha legalista.
Maravilhosamente,
Cristo, teatraliza o perdão proposto pelo Pai ao enviar seu Filho à
morte e morte de cruz. Em escala menor Cristo demonstra a clareza do seu
oficio e a grandeza de seu trabalho. Cristo amavelmente lança sobre si a
culpa dessa mulher, culpa essa real! Ele toma para si a maldição da
morte e a justa exigência da Lei. Ele resolve livremente conceder,
antecipadamente, preciosas gotas de seu sangue redentor, a essa
adúltera. Num bendito escopo reduzido, mas não menos verdadeiro, do que
ele fez por mim naquela Cruz! Cristo encenou ali de forma bem menos
violenta o que estava disposta a fazer, por qualquer pecador que fosse
(ou que for) levado à sua presença sem disfarce ou mascara que
escondesse sua condição.
Enfim,
Cristo não é seduzido por nosso moralismo e nem constrangido pela nossa
parca noção de justiça. Nem mesmo é subjugado por alguma façanha
humana, e nem ele é oprimido pelos nossos pressupostos ou controlado
pela nossa lógica. Cristo o Senhor, demonstrou nessa passagem
misericórdia não por ela simplesmente, mas por nós. Ali, num profético
ato, Ele nos declarou livres da morte e nos advertiu contra o pecado.
Sejamos
nós arautos dessa história! Não ofereçamos alivio ao pecador na
diminuição da santidade exigida, nem falemos da isenção da culpa, pelo
mimetismo sócio-político, ou da negação do pecado pelo fortalecimento
psicológico, nem mesmo ignoremos o confronto do Cristo e sua Lei à nossa
sociedade pecaminosa e diabolicamente doente, que em nome de um amor
(ultrajante) a tudo permite. Anunciemos a cura e libertação o perdão
proposto em Cristo Jesus, pois como nos foi dito: ele foi desprezado e
rejeitado por todos nós, mas certamente ele tomou sobre si as nossas
enfermidades e sobre si levou as nossas doenças, ele foi transpassado
por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas
iniqüidades; o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele, e pelas suas
feridas fomos curados.
Todos
nós, tal qual ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o
seu próprio caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele à iniqüidade de
todos nós. Ele foi oprimido e afligido, contudo não abriu a sua boca;
como um cordeiro foi levado para o matadouro, e como uma ovelha que
diante de seus tosquiadores fica calada, ele não abriu a sua boca. Com
julgamento opressivo ele foi levado, pois ele foi eliminado da terra dos
viventes por causa da nossa transgressão. Contudo foi da vontade do
Senhor esmagá-lo e fazê-lo sofrer, e, embora o Senhor faça da vida dele
uma oferta pela nossa culpa, ele verá sua prole e prolongará seus dias, e
a vontade do Senhor prosperará em sua mão, porque Deus tanto amou o
mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não
pereça, mas tenha a vida eterna. (Is 53 e Jo 3;16 - NVI adaptada)
SEJA O PRIMEIRO A
Postar um comentário
"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott
Sua leitura deste post muito me honrou. Fique à vontade para expressar suas críticas, sugestões, complemetos ou correções. A única exigência é que seja mantido o clima de respeito e cordialidade que caracteriza este blog.