Nós,
cristãos, temos uma tendência notável de focalizar quase exclusivamente
o fruto do problema. Fazemos isso como pais ao lidar com nossos filhos;
os pastores, com os membros da igreja; os maridos, com sua mulher; e as
mulheres, com seu marido. Fazemos isso com nós mesmos. Por outro lado, o
evangelho sempre trata das raízes do problema. E a raiz do problema não
é o mau comportamento. O mau comportamento é o fruto de algo mais
profundo.
Harold
Senkbeil identifica corretamente nosso verdadeiro inimigo: a morte. Em
outras palavras, os pecados são o fruto de um problema mais profundo, um
problema que somente Deus pode resolver. A morte é a raiz do problema.
"Isto
parece bom", ela pensou consigo mesma. Aquele fruto lustroso – ele
clamava por ser comido, por ser desfrutado. E que experiência ampliadora
seria esse desfrute – o conhecimento do bem e do mal, o Poderoso havia
dito. Como ele poderia querer menos do que o melhor para os seus?
"Meu marido e eu seremos como o próprio Deus?", ela pensou. "Ora, como isso pode ser tão mau?"
A serpente foi sensata: era muito melhor conhecer o bem e o mal do que conhecer apenas o bem.
"Tome, coma um pouco." Ela passou o fruto suculento para o seu marido.
"É muito bom. Aliás, Adão, você sabe o que Deus queria dizer com a palavra – eu acho que era – ‘morrer’?"
Todo
comportamento pecaminoso – até nos cristãos – tem sua origem na morte
que aconteceu no Éden. Tratar do comportamento sem lidar com a morte é
perpetuar a morte. Os fariseus eram mestres nisso, e Jesus os chamou de
"sepulcros caiados". Muitos de nós, cristãos, somos culpados de cometer
esse mesmo erro. Tendemos a pensar no evangelho como o programa de Deus
para tornar pessoas ruins em pessoas boas e não para tornar pessoas
mortas em pessoas vivas. O fato é que Jesus veio primeiramente para
realizar uma ressurreição da morte e não uma reforma moral – como sua
própria e ressurreição demonstram.
A seguinte citação foi extraída do excelente artigo de Senkbeil publicado no livro Justified: Modern Reformation Essays on the Doctrine of Justification(Justificado: Ensaios Reformados Modernos Sobre a Doutrina da Justificação):
Muitas
pessoas acham que o dilema humano é que nossas vidas estão fora de
ajuste; não satisfazemos as expectativas de Deus. Portanto, a salvação
se torna um questão de reorganizar nossas prioridades e ajustar nosso
estilo de vida para corresponder com a vontade de Deus. Em sua forma
mais grosseira, este erro leva as pessoas a pensarem que merecem sua
própria salvação. Mais freqüentemente, no mundo evangélico
contemporâneo, o erro tem um disfarce mais sutil: armado com perdão por
meio de Jesus, as pessoas são instadas a praticar técnicas e princípios
que Cristo ensinou para colocarem novamente seu estilo de vida em
harmonia.
É
verdade que vidas pecaminosas estão fora de ajuste. Todos nós
necessitamos do poder santificador do Espírito. Mas isso vem somente
depois que nosso verdadeiro problema é resolvido. Os pecados são apenas o
sintoma; o nosso verdadeiro dilema é a morte.
Deus
advertiu Adão e Eva de que o conhecimento do mal viria a um preço
elevado: "No dia em que dela [da árvore do conhecimento do bem e do mal]
comeres, certamente morrerás" (Gn 2.17). Nossos primeiros pais quiseram
ser como Deus e se mostraram dispostos a pagar o preço. E ainda estamos
pagando o preço: "O salário do pecado é a morte" (Rm 6.23); "Em Adão,
todos morrem" (1 Co 15.22); "Estando vós mortos nos vossos delitos e
pecados" (Ef 2.1).
O
verdadeiro problema que enfrentamos é a morte. A morte física, com
certeza. Mas, em última análise e mais horrivelmente, a morte espiritual
– ser separado de Deus para sempre. E todos têm de morrer. Você pode
morrer sozinho ou morrer em Jesus.
Em
sua morte, Jesus Cristo absorveu a nossa morte e ressuscitou
triunfantemente para remover todo o poder do sepulcro. Na promessa da
ressurreição, a morte perde seu poder. Quando morremos com Jesus, nós
vivemos realmente!
A
santificação consiste da compreensão diária de que em Cristo morremos e
de que em Cristo ressuscitamos. Mudança de vida acontece à medida que o
coração assimila diariamente a morte e a vida. Reforma diária é o fruto
de ressurreição diária. Entender isso de outra maneira (o que sempre
fazemos por costume) significa perder o poder e o principal ensino do
evangelho. Em seu livro God in the Dock (Deus no Banco dos
Réus), C. S. Lewis deixa claro o argumento de que "você não pode
conseguir as coisas secundárias por colocá-las em primeiro lugar; você
consegue as coisas secundárias somente por colocar as coisas
prioritárias em primeiro lugar". O comportamento (bom ou mau) é uma
coisa secundária.
Em
nossos dias, espera-se que os pregadores sejam especialistas em
"renovação moral cristã". Espera-se que eles ofereçam listas de "faça
isto", em vez de anunciarem: "Está consumado". Espera-se que eles façam
alguma outra coisa "mais do que" expor aos olhos de suas congregações a
obra consumada de Cristo, pregando uma absolvição total baseada
tão-somente na justiça completa de Outro. Evidentemente, a ironia é que a
renovação moral não acontece mesmo quando os pregadores seguem
essa pressão. Focalizar-me no como estou fazendo mais do que naquilo
que Cristo fez é narcisismo cristão (um oximoro, se já ouvi um oximoro) –
o veneno da auto-absorção que destrói o poder do evangelho em nossa
vida. Marinho Lutero comentou que "o pecado que está por trás de todos
os nossos pecados é a mentira da serpente de que não podemos confiar no
amor e na graça de Cristo e de que temos de tomar as questões em nossas
próprias mãos".
Em outras palavras, a renovação moral é refocalizar nossos olhos, removendo-os de nós mesmos e fixando-os na obediência daquele Homem, na cruz daquele Homem, no sangue daquele Homem – na morte e na ressurreição daquele Homem!
"Em meu lugar, condenado ele foi e com seu sangue meu perdão selou – aleluia! Que Salvador!"
Aprender a amar diariamente esta troca gloriosa, descansar em sua completude e viver sob a sua bandeira é o que significa ser moralmente reformado!
Copyright©2011 Tullian Tchividjian
Traduzido por: Wellington Ferreira
Copyright©2011Editora Fiel
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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott
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