Os homens não escolhem naturalmente a Cristo

“Não fostes vós que me escolhestes a mim”. Isto era verdade a respeito dos apóstolos; também é verdade a respeito de todos os que crerão em Jesus, até o final do mundo. “Não fostes vós que me escolhestes a mim.” O ouvido natural é tão surdo, que não pode ouvir; os olhos naturais, tão cegos, que não podem ver a Cristo. Em certo sentido, é verdade que todo verdadeiro discípulo escolhe a Cristo; mas isto acontece somente quando Deus abre os olhos da pessoa, para que ela veja a Jesus; quando Deus outorga vigor ao braço ressequido, para que ele abrace a Cristo.

O significado das palavras de Jesus era: “Vocês nunca me teriam escolhido, se eu não os tivesse escolhido”. É verdade que, quando Deus abre o coração do pecador, este escolhe a Cristo e a ninguém mais, somente a Cristo. É verdade que um coração vivificado pelo Espírito sempre escolhe a Cristo, a ninguém mais, somente a Cristo, e por Ele renunciará o mundo inteiro.

Irmãos, este versículo nos ensina que todo pecador despertado se mostra disposto a seguir a Cristo, mas não antes de ser tornado disposto. Aqueles que dentre vocês foram despertados, não escolheram a Cristo. Se um médico viesse à sua casa e dissesse que viera para curá-lo de sua enfermidade, e se você sentisse que não estava doente, diria ao médico: “Não preciso de você; procure o vizinho”. Esta é a maneira como você age para com o Senhor Jesus: Ele lhe oferece a cura, mas você Lhe diz que não está enfermo; Ele se oferece para cobrir, com a obediência dEle mesmo, a nudez de sua alma, mas você responde: “Não preciso dessa roupa”.

Outra razão por que você não escolhe a Cristo é esta: você não vê qualquer beleza nEle. “E como raiz de uma terra seca; não tinha aparência nem formosura” (Is 53.2). Você não vê qualquer beleza na pessoa de Cristo, nenhuma beleza na obediência dEle, nenhuma glória na sua cruz. Você não O vê e, por isso, não O escolhe.

Outra razão por que você não escolhe a Cristo é esta: não quer que Ele o torne santo. “Lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21). Mas você ama o pecado, ama os seus prazeres. Por isso, quando o Filho de Deus se aproxima e lhe diz: “Eu o salvarei dos seus pecados”, você responde: “Amo o pecado, amo os meus prazeres”. Por conseguinte, você nunca pode chegar a um acordo com o Senhor Jesus. “Não fostes vós que me escolhestes a mim.” Embora eu tenha morrido em favor de vocês, não me escolheram. Tenho lhes falado por muitos anos, mas, apesar disso, vocês não me escolheram. Tenho lhes dado a Bíblia, para instruí-los, e ainda assim vocês não me escolheram. Irmão, esta acusação lhe sobrevirá no Dia do Juízo: “Eu o teria vestido com a minha obediência, mas você não o quis”. 

R. M. M’Cheyne (1813-1843) 

4 comentários:

  1. Olá, amado.

    Não sei se foi a tradução, mas a frase "Embora eu tenha morrido em favor de vocês, não me escolheram" soa um tanto como contraditória em face da Expiação Limitada - coisa que acredito que - acho - que o autor do texto acreditava.

    Sabe me dizer se o problema é da tradução ou do autor?
    Um abraço!

    Filipe Luiz C. Machado
    www.2timoteo316.blogspot.com

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  2. Filipe,

    Até esse ponto, não vejo problema. Pois ele está falando de crentes, antes que tivessem crido, inclusive chamando o ouvinte/leitor de irmão.

    Porém, mais adiante ele diz "Irmão, esta acusação lhe sobrevirá no Dia do Juízo: “Eu o teria vestido com a minha obediência, mas você não o quis”.", dando a entender que a rejeição foi final e definitiva.

    Vou procurar saber mais sobre isso e postar aqui. Mas não me parece ser um problema de tradução.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  3. Grande Clóvis,

    volto aqui saudosamente com minhas, certamente não saudosas, polêmicas discordâncias. (...que acabou virando um post no Teologia Livre. Mas vou resumí-la aqui).

    O tema é por si só polêmico - ele se extrema num polo: a escolha divina. Se afastando do outro, a escolha humana.

    A primeira impressão que essa breve reflexão me transmite, o que intuo dela, é que não passa de um subterfúgio, uma fuga, aos reais problemas expostos por Cristo.

    A filosofia e a arte da reflexão nos ensina que muitas vezes o problema não se assenta nas respostas, mas, sim, nas perguntas. Portanto parto do pressuposto que é falsa uma pergunta do tipo: Podem os homens escolherem naturalmente a Cristo? Um sofisma que leva a falsas conclusões. E assim desvia-se dos reais problemas que Cristo intencionou solucionar.

    Verdade é que o contexto e ênfase de João 15 está em outro assunto. Você notará que tudo então girará em torno do amor, amizade, alegria, paz, enfim, do relacionamento interpessoal. O foco será outro. As bases da teologia serão outras.

    Então, só então, vale a pena meditar no sentido da afirmação do Nazareno, “Vocês não me escolheram, mas eu os escolhi…”, que será repetida logo adiante, “…vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo…”

    O amor é um ato voluntário e racional, mas também sentimental. Infelizmente nossa teologia, por tentar diminuir a ênfase tão popular do amor emocional, acaba por subestimar essa tão importante variante.

    Aqui chegamos então ao ponto:

    Jesus amou voluntariamente seus discípulos. Foi escolha dele.

    Deus amou o mundo, de tal maneira… Deus escolheu amar o mundo.

    O próprio autor afirma: “Em certo sentido, é verdade que todo verdadeiro discípulo escolhe a Cristo…” Sim! E isso é uma clara mensagem de João 15, amor, amizade, alegria, paz, enfim todo relacionamento interpessoal se assenta sob escolhas pessoais – seria isso o livre arbítrio? Devemos seguir Jesus, e também fazer nossas escolhas: escolhê-Lo, escolher pessoas a serem amadas por nós.

    Passando por esse caminho veremos que o homem natural não só pode como deve, naturalmente, escolher a Deus.

    Saudações fraternas,

    Roger

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  4. Saudações!!!

    Em se tratando de escolha pessoal, como podemos ver o texto de João 1.11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam, entendo que neste caso houve uma escolha embora não positivamente mas foi uma escolha. O que dizer neste caso? Pois negar isto pode despender outra polemica, como por exemplo a inculpabilidade de Israel na rejeição já que ele não direito de escolha.

    Em Cristo

    Adriano

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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