A conclusão é que não há sistema de pensamento que seja produto puramente da Razão, pois esta não é um repositório de verdades infalíveis e autônomas do ponto de vista religioso, como Descartes e os outros racionalistas pensavam.Trata-se de capacidade humana a habilidade de ar¬gumentar partindo de premissas. A questão importante é o que aceitamos como premissas básicas, pois são elas que moldam tudo o que vem depois.
Se pressionarmos um conjunto de idéias, acabaremos chegando a um ponto de partida. Algo tem de ser considerado como auto-existente — a realidade última e fonte básica de tudo mais. Não há razão para isso existir; apenas "é". Para o materialista, a realidade última é a matéria, e tudo é convertido em componentes materiais. Para o panteísta, a realidade última é uma força ou substrato espiritual, fazendo com que a meta da meditação seja religar-se com essa unidade espiritual. Para o darwinista teórico, a biologia é última, e tudo, até a religião e a moralidade, é reduzido a um produto de processos darwinistas. Para o empírico, todo o conhecimento é, no final das contas, determinável a dados perceptíveis, e tudo que não for conhecido pela sensação é irreal.
E assim por diante. Todo sistema de pensamento inicia-se em algum princípio último. Se não começa com Deus, começa com uma dimensão da criação — o material, o espiritual, o biológico, o empírico ou o que quer que seja. Algum aspecto da realidade criada será "absolutizada" ou proposta como base e fonte de tudo o mais — a causa não causada, o existente por si mesmo. Para usar linguagem religiosa, esta realidade últi¬ma funciona como o divino, se definimos o termo com o sentido de uma coisa da qual todas as outras dependem para existir. Esta pressuposição inicial tem de ser aceita pela fé e não por raciocínio prévio. (Caso contrário, não é de fato o ponto de partida supremo para todo raciocínio; logo, temos de continuar procurando algo para começar dali.)
Neste sentido, diríamos que toda alternativa ao cristianismo é uma religião. Pode não envolver ritual ou cultos de adoração, todavia, mesmo assim, identifica algum princípio ou força na criação como a causa auto-existente de tudo. Até os não-crentes mantêm alguma base de existência última, que funciona como ídolo ou falso deus. É por isso que os "escritores da Bíblia sempre tratam o leitor como se já acreditasse em Deus ou em algum deus substituto", explica o filósofo Roy Clouser. A fé é uma prática humana universal, e se não for dirigida a Deus será dirigida a outra coisa.
Nancy Pearsey
In: Verdade Absoluta
Muito bom esse texto, Clóvis!
ResponderExcluirOntem eu conversei com um rapaz sobre epistemologia. Ele estuda na Universidade de Brasília, e faz filosofia. Atualmente, creio eu, ele não acredita em Deus.
Falei que eu considerava que a única base sólida para a verdade era a Bíblia, e que todas as outras supostas fontes de "verdade" sempre acabam, no final, em um abismo cético. É o caminho que a filosofia puramente humana leva.
Ele arregalou os olhos. Acho que ele nunca esperava ouvir isso de um cristão...