Chamados de modo irresistível

Pois aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que justificou, também glorificou. Rm 8:29-30
Os que foram conhecidos de antemão e predestinados por Deus na eternidade, são chamados na história. Observe que os chamados são todos e somente aqueles que foram anteriormente conhecidos e predestinados. Isto aponta para um sentido da palavra chamados que vai além de mero convite.

De fato, nas epístolas, sempre que a palavra chamados ocorre é no sentido de uma chamada interior, poderosa, irresistível. Chamar nessa passagem deriva de kaleõ, que nas epístolas sempre denota "convocar, intimar", não apenas convidar externamente, mas tem o sentido de "chamar interna, eficiente e salvadoramente" (JFB). "O amor de Deus, que reina no coração daqueles que outrora foram inimigos, prova que eles foram chamados segundo o Seu propósito" (Mathew Henry).

Consideremos alguns aspectos desse chamado. Em primeiro lugar, Deus é quem nos chama. Não se trata de um mero convite humano, recheado de chantagem emocional, mas da convocação de um soberano: "Fiel é Deus, o qual os chamou à comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor" (1Co 1:9). Paulo foi "chamado para ser apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus" (1Co 1:1) e por isso reconhecia que "Deus me separou desde o ventre materno e me chamou por sua graça" (Gl 1:15). No chamado de Deus importa a vontade de Deus, e não do homem, pois todos os que o foram, "foram chamados de acordo com o seu propósito" (Rm 8:28).

Por ser um "chamado celestial" (Hb 3:1) e não terreno, é um chamado poderoso. Deus os "chamou para isso por meio de nosso evangelho" (2Ts 2:14), que "é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1:16). "Para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus" (1Co 1:24). Experimentaram que não fosse uma chamada poderosa, ainda estariam chafurdando em seus pecados. Por isso se alegram em "anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" (1Pe 2:9).

E é para se alegrar mesmo, especialmente quando consideramos o propósito para o qual fomos chamados. Para esta vida, o chamado implica renúncia e sofrimento. Os eleitos são "chamados para serem santos, juntamente com todos os que, em toda parte, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso" (1Co 1:2) e mesmo quando são afrontados lhes é ordenado que "não retribuam mal com mal nem insulto com insulto; pelo contrário, bendigam; pois para isso vocês foram chamados" (1Pe 3:9).

Mas a chamada não se resume a esta vida. "Cristo é o mediador de uma nova aliança para que os que são chamados recebam a promessa da herança eterna" (Hb 9:15). Paulo aconselhou Timóteo dizendo "tome posse da vida eterna, para a qual você foi chamado" (1Tm 6:10), pois de fato o Senhor nos "chamou para a sua glória eterna em Cristo Jesus" (1Pe 5:10). Para isso nosso Pai nos dá "todas as coisas de que necessitamos para a vida e para a piedade, por meio do pleno conhecimento daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude" (2Pe 1:3), "a fim de tomarem posse da glória de nosso Senhor Jesus Cristo" (2Ts 2:14).
 
Essa chamada é feita pelo "Deus de toda a graça" (1Pe 5:10), logo, é uma chamada graciosa, não baseada em características e capacidades humanas. Paulo se refere "a nós, a quem também chamou, não apenas dentre os judeus, mas também dentre os gentios" (Rm 9:24). Os judeus tinham vantagem sobre os gentios? "Muita, em todos os sentidos! Principalmente porque aos judeus foram confiadas as palavras de Deus" (Rm 3:2). No entanto, isso não contou na chamada divina. Inteligência, poder, nobreza, tornam alguém mais habilitado a responder ao chamado? "Irmãos, pensem no que vocês eram quando foram chamados. Poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento" (1Co 1:26). Se dependesse do homem, era de se esperar que alguns estivessem melhor qualificados que outros. Mas não, Deus "nos salvou e nos chamou com uma santa vocação, não em virtude das nossas obras, mas por causa da sua própria determinação e graça" (2Tm 1:9).
 
Isso não significa que o homem não tem participação ativa na resposta ao chamado divino? De jeito nenhum. O homem responde com fé e arrependimento ao chamado interno do Espírito Santo. Mas a fé e o arrependimento com os quais respondem são dons de Deus, embora seu exercício seja do homem. Contudo, o fato de que ninguém que não seja chamado interiormente responda com fé, aliado ao fato de que somente os que são chamados sobrenaturalmente pelo Espírito o fazem, demonstra que o fator decisivo na chamada eficaz é a vontade de Deus e não o arbítrio do homem.

Soli Deo Gloria

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21 comentários:

  1. Esse maravilhoso artigo com citações da Bíblia já provam que ninguém por vontade própria pode "aceitar" a Cristo muito menos "tomar uma decisão ao lado de Cristo". Infelizmente, a maioria dos cristãos de hoje adotaram essa visão. Isso rabaixa a soberania do nosso Senhor na salvação.

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  2. Clóvis,

    No calvinismo: a presciência de Deus = determinismo?

    Ou seja, o fato de Deus conhecer tudo de antemão, implica necessariamente que ele é que determina toda a historia de vida do homem, para que nada dê errado de acordo com que ele anteviu?

    Um abraço,

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  3. Ana Paulo,

    Uma das primeiras ilustrações que vi sobre a incapacidade do homem, era sobre alguém que no fundo de uma mina, só aceitava subir pelo elevador se fosse puxando a si mesmo.

    Acho que é natural do homem querer salvar a si mesmo, ou pelo menos fazer uma parte, pequena, mas uma parte fundamental, sem a qual, todo trabalho de Deus é vão.

    Enfim, é triste que as pessoas não rendam a Deus toda a glória pela sua salvação.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  4. Bari,

    Não apenas no calvinismo, mas em qualquer sistema lógico, conhecimento perfeito implica certeza. O fato de alguém conhecer alguma coisa, por si só torna essa coisa fixa. Alguma coisa acontecer de maneira diferente do que foi antevista com perfeição é uma contradição lógica.

    O calvinismo, porém, vai mais além. Não afirmamos que alguma coisa é determinada porque Deus a antevê. Isso faria de Deus mero prognosticador. Um prognosticador que nunca erra, mas não mais que isso. Mas o Senhor faz mais que isso.

    Deus conhece perfeitamente todos os eventos futuros, reais e possíveis, porque Ele os decretou. Ou seja, embora a presciência divina possa causar futurição por si só, nós cremos que a futurição ocorre por decreto Daquele que faz todas as coisas segundo o conselho de Sua vontade.

    Resumindo, a resposta à sua pergunta é sim, mas não apenas isso.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  5. Clóvis,

    Vou fazer a mesma pergunta só que de outra forma: você acha que o fato de Deus conhecer o futuro, pela sua presciência, e não determiná-lo, como você crê, faz de Deus um Deus dependente?

    Um abraço,

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  6. Bari,

    Não diria dependente, mas limitado. Pois se Ele apenas prevê o que acontece, sem determianr, é mero expectador da história. aliás, acho que essa visão não se distingue do deísmo.

    Mas insisto: o fato de Deus conhecer o futuro, torna o futuro fixo e inalterável. Mesmo sem querer.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  7. Clóvis,

    ”Não diria dependente, mas limitado. Pois se Ele apenas prevê o que acontece, sem determianr, é mero expectador da história. aliás, acho que essa visão não se distingue do deísmo.”

    Isso eu não entendo. Deus é limitado por quê? Ou por quem? Deus é soberano, ou não? Fazendo uma analogia: qual a diferença de Deus ter lido o nosso livro da vida, na eternidade, ou ter escrito esse livro?

    ”Mas insisto: o fato de Deus conhecer o futuro, torna o futuro fixo e inalterável. Mesmo sem querer.”

    Do ponto de vista de Deus, sim, agora do ponto de vista do homem, não, pois ele não é onisciente. Falo isso levando em conta que independente do que o homem faça Deus já anteviu o que ele iria fazer.

    Em Cristo,

    ResponderExcluir
  8. Bari,

    Você diz "Isso eu não entendo. Deus é limitado por quê? Ou por quem? Deus é soberano, ou não? Fazendo uma analogia: qual a diferença de Deus ter lido o nosso livro da vida, na eternidade, ou ter escrito esse livro?"

    Continuando com sua analogia. A diferença é entre ser escritor e leitor. Se eu escrevo um livro, determino o enredo e principalmente o final. Mas se sou o leitor, não posso mudar nada. Se eu gostar da história, muito bem. Se eu não gostar, não posso fazer nada, pois sou apenas o leitor, e não o autor. O leitor é passivo, o autor do livro é ativo. Entende agora a limitação que a mera previsão impõe a Deus?

    "Do ponto de vista de Deus, sim, agora do ponto de vista do homem, não, pois ele não é onisciente. Falo isso levando em conta que independente do que o homem faça Deus já anteviu o que ele iria fazer."

    Independente do ponto de vista de quem seja, o fato de alguém conhecer o futuro torna esse futuro fixo e inalterável. O fato de nem todos os envolvidos terem o mesmo conhecimento pode causar a impressão de contingência, mas é mera ilusão. A propósito disso, leia meu artigo Que camisa vestirei em 8 de dezembro de 2017?.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  9. Clóvis,

    ”Continuando com sua analogia. A diferença é entre ser escritor e leitor. Se eu escrevo um livro, determino o enredo e principalmente o final. Mas se sou o leitor, não posso mudar nada. Se eu gostar da história, muito bem. Se eu não gostar, não posso fazer nada, pois sou apenas o leitor, e não o autor. O leitor é passivo, o autor do livro é ativo. Entende agora a limitação que a mera previsão impõe a Deus?”

    Mas não estamos falando de homens e sim de Deus. Quem disse que Deus não intervém em nossas vidas de acordo com seus propósitos? Deus não é um mero expectador e sim um participante ativo no desenvolvimento do roteiro de nossas vidas, mas pra isso não, necessariamente, precisa ser ele somente o escritor.

    Isaías 43:13
    “Ainda antes que houvesse dia, Eu Sou. Ninguém há que possa escapar das minhas mãos. Operando Eu, quem impedirá?”


    ”Independente do ponto de vista de quem seja, o fato de alguém conhecer o futuro torna esse futuro fixo e inalterável. O fato de nem todos os envolvidos terem o mesmo conhecimento pode causar a impressão de contingência, mas é mera ilusão. A propósito disso, leia meu artigo Que camisa vestirei em 8 de dezembro de 2017?.”

    Não concordo com você, pois o referencial é sim importante. Li o seu artigo e a propósito que camisa você vai vestir? Creio que você não saiba certo? Deus sabe. Agora em que isso limita a sua escolha? Deus sabe porque ele anteviu a sua escolha e não porque ele mesmo teria que escolher. Percebeu como o referencial é importante?

    Em Cristo,

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  10. Eu era a favor do livre arbítrio, foi que aprendi dentro da denominação onde congregava e congrego agora; no entanto, estou mudando o meu ponto de vista. Porém irmão me tire uma dúvida, por que em Deuteronômio o Senhor Deus diz ao povo de Israel que Ele oferecia ao povo a vida e a morte," porém escolhes a vida para que vidas tu e tua casa..." me explique. E quando Jesus diz aos discípulos que Ele iria ( no livro de S.J. eu não tenho certeza) preparar um lugar onde Ele estiver estejais vós também . Me esclareça sobre o assunto pois, me incomoda em pensar que Cristo não entregou sua a vida a todos. Então não precisamos pregar o evangelho da Salvação e Graça, pois muitos não querem ouvir ou não aceitam devido não serem eleitos?. Que a paz de Cristo esteja com todos nós.

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  11. Caro anônimo,

    Perdoe-me a demora da resposta. Vou procurar responder em poucas palavras suas perguntas, mas fique à vontade para perguntar o que não ficar bem explicado.

    1. Livre arbítrio e oportunidade de escolha são coisas diferentes. Quando Deus propõe ao povo que escolha morte ou vida, está dando oportunidade de escolha. Livre-arbítrio é a capacidade natural do homem de escolher a vida. No caso em questão, o povo não tinha capacidade (livre-arbítrio) de escolher a vida, como o próprio Moisés admite: "Porque sei que, depois da minha morte, por certo, procedereis corruptamente e vos desviareis do caminho que vos tenho ordenado; então, este mal vos alcançará nos últimos dias, porque fareis mal perante o SENHOR, provocando-o à ira com as obras das vossas mãos" (Dt 31:29).

    2. Jesus é que prepara, Jo 14

    Não entendi muito bem sua pergunta sobre Jo 14. Já vi algumas leituras dessa passagem dizendo "se eu for e vós preparar lugar...". Essa leitura é errada. Jesus não diz "vós preparar" (o que aliás viola as normas da língua), mas "vos preparar". Quem prepara (o lugar) é Jesus, como a NTLH deixa bem claro: "E, depois que eu for e preparar um lugar para vocês, voltarei e os levarei comigo para que onde eu estiver vocês estejam também" (Jo 14:3)

    3. A doutrina da eleição é consistente com a pregação do evangelho

    A Bíblia diz que Deus elegeu para a salvação, e devemos crer nisso. Jesus nos mandou pregar o evangelho, e devemos fazer isso. Mas não há contradição? Não, pois Deus determinou salvar os eleitos pela pregação e como não sabemos quem são os eleitos, devemos pregar para todos.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  12. Enchendo a paciência de novo, contra uma porrada de equívocos:

    1. Livre arbítrio e oportunidade de escolha são coisas diferentes. Quando Deus propõe ao povo que escolha morte ou vida, está dando oportunidade de escolha.
    Ele dá a oportunidade de escolha. Mas, se Deus predeterminou tudo infalivelmente (incluso a escolha), mesmo a escolha já fora feita. Não tem sequer lógica falar de escolha aqui...

    Livre-arbítrio é a capacidade natural do homem de escolher a vida.
    Errado. Livre arbítrio, como já disse antes, implica em escolhas não causadas por agentes externos. Não tem nada a ver com "escolher a vida".

    Dadas as alternativas, não há um "motor da mente" como faz crer Cheung, que faz a pessoa escolher infalivelmente daquela forma.

    No caso em questão, o povo não tinha capacidade (livre-arbítrio) de escolher a vida, como o próprio Moisés admite:
    Como é? A pessoa foi posta diante dos dois, e das consequências de cada escolha. Por que Deus propõe algo que Ele pré-determinou que as pessoas não são capazes de escolher?

    "Porque sei que, depois da minha morte, por certo, procedereis corruptamente e vos desviareis do caminho que vos tenho ordenado; então, este mal vos alcançará nos últimos dias, porque fareis mal perante o SENHOR, provocando-o à ira com as obras das vossas mãos" (Dt 31:29).

    Mas isto não é nada além da presciência divina. Deus sabe muito bem do futuro, mas simplesmente por presciência, e não por predestinação. Acho que já falei disso antes, mas quem tem que demonstrar que a presciência divina é fruto do decreto secreto é o calvinista que sustenta esta causa.


    3. A doutrina da eleição é consistente com a pregação do evangelho
    Não a da eleição incondicional, hehe!

    Veja que eu não digo que calvinistas não podem ser evangelistas, mas eles não podem dizer que são evangelistas por causa do calvinismo.

    A Bíblia diz que Deus elegeu para a salvação, e devemos crer nisso. Jesus nos mandou pregar o evangelho, e devemos fazer isso. Mas não há contradição? Não, pois Deus determinou salvar os eleitos pela pregação e como não sabemos quem são os eleitos, devemos pregar para todos.
    Isto significa pouca coisa. A forma da eleição é que é discutida.

    Em Cristo,
    Clóvis

    Amém! Crédulo

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  13. Independente do ponto de vista de quem seja, o fato de alguém conhecer o futuro torna esse futuro fixo e inalterável.
    Não confunda certeza com necessidade. O fato de Deus conhecer com certeza o futuro não implica que o futuro não pudesse ser de outro modo.
    Certeza é uma propriedade de pessoas, e necessidade é uma propriedade de proposições. Eu ter certeza de que meu paletó é azul não significa necessariamente que meu paletó seja azul - afinal posso ser daltônico, né não?


    O fato de nem todos os envolvidos terem o mesmo conhecimento pode causar a impressão de contingência, mas é mera ilusão. A propósito disso, leia meu artigo Que camisa vestirei em 8 de dezembro de 2017?.
    Mera ilusão?

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  14. Enchendo a paciência de novo, contra uma porrada de equívocos:...

    um vocabulário um tanto incrédulo!
    Depois ainda vem me importunar com o uso da palavra destino, como se o emprego dela não pudesse ser do uso cristão, mas da cartomancia... Seu "porrada" [etimologia porra + ada] é de que contexto? Cristão?

    crux credo, credulo...

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  15. Caro Credulo,

    1. "Ele dá a oportunidade de escolha. Mas, se Deus predeterminou tudo infalivelmente (incluso a escolha), mesmo a escolha já fora feita. Não tem sequer lógica falar de escolha aqui..."

    R1. Primeiro, você tem que provar que a predeterminação divina e a realização de escolha são logicamente contraditórias. Você afirmar alguma coisa não torna por isso essa coisa verdadeira.

    a) Deus predestina que José escolherá casar-se com Maria
    b) José escolhe casar com Maria

    Onde está a contradição?

    2. "Errado. Livre arbítrio, como já disse antes, implica em escolhas não causadas por agentes externos. Não tem nada a ver com "escolher a vida"."

    R2 Essa é a sua definição de livre-arbítrio. Eu já lhe perguntei antes a sua definição de livre-arbítrio, e quando você me apresentou essa, eu disse que não tinha nenhum problema em admitir que o homem tivesse livre-arbítrio nesse sentido. Acredito que nenhum ou poucos calvinistas se oporão a um livre-arbítrio assim definido.

    Porém, a definição que eu apresentei é a ideia popular sobre livre-arbítrio. Posso lhe apresentar algumas definições ou declarações que impliquem livre-arbítrio como capacidade de escolher o bem espiritual. Se quiser corrigir alguém, corrija seus colegas arminianos.

    3. "Como é? A pessoa foi posta diante dos dois, e das consequências de cada escolha. Por que Deus propõe algo que Ele pré-determinou que as pessoas não são capazes de escolher?"

    R3. Primeiro, você está sendo incoerente. Primeiro grita que livre-arbítrio não é capacidade escolher. Agora espanta-se que o homem tenha oportunidade de escolha, sem ter a capacidade para tal. Segundo, até que prove o contrário, dever não implica poder.

    4. "Mas isto não é nada além da presciência divina. Deus sabe muito bem do futuro, mas simplesmente por presciência, e não por predestinação. Acho que já falei disso antes, mas quem tem que demonstrar que a presciência divina é fruto do decreto secreto é o calvinista que sustenta esta causa."

    R4. Não preciso ir além da presciência divina para provar a futurição de todas as coisas, inclusive das escolhas divinas. O fato de Deus ter presciência torna todos os eventos fixos e imutáveis. E se pela Sua presciência ele sabia que o povo se rebelaria, então era certo e infalível que eles iriam se rebelar. Creio no decreto divino, todo abrangente e infalível, mas nem preciso crer nela para aceitar, por implicação lógica, a certeza de todos os eventos, inclusive as escolhas livres dos homens.

    5. Eu disse "A doutrina da eleição é consistente com a pregação do evangelho" e você comentou "Não a da eleição incondicional, hehe!"

    R5. Sem gracejo, peço que demonstre que a eleição incondicional é inconsistente com a oferta do evangelho.

    6. "Veja que eu não digo que calvinistas não podem ser evangelistas, mas eles não podem dizer que são evangelistas por causa do calvinismo."

    R6 E eu digo que se algum arminiano é evangelista por causa do arminianismo, ele no mínimo está evangelizando pela motivação errada.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  16. Credulo,

    7.1 "Não confunda certeza com necessidade".

    R7.1 Eu não confundo. Quando afirmo que a presciência fixa todos os eventos futuros, não estão dizendo que tornam os eventos necessários, mas certo.

    7.2 O fato de Deus conhecer com certeza o futuro não implica que o futuro não pudesse ser de outro modo"

    R7.2 De fato, o fato do conhecimento de Deus ser exaustivo e perfeito, não significa que o futuro não pudesse ser de outro modo", implica, isso sim, que o futuro não será de outro modo. O entendimento correto e calvinista da presciência divina é que Ele conhece todos os eventos, reais e possíveis, bem como todo o entrelaçamento de eventos, real e possíveis, mas aquilo que ele anteviu como real, é o que vai acontecer infalivelmente, até a última órbita do último átomo.

    7.3 "Certeza é uma propriedade de pessoas, e necessidade é uma propriedade de proposições. Eu ter certeza de que meu paletó é azul não significa necessariamente que meu paletó seja azul - afinal posso ser daltônico, né não?"

    R7.3 Significa outra coisa também. Que você não é Deus, e que Ele não se engana no que Ele sabe.

    7.4 "Mera ilusão?"

    R7.4 Exatamente. Mas se quiser demonstrar o contrário, estou disposto a considerar seus argumentos.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  17. Caro Credulo,
    Caro Clovis,

    R1. Primeiro, você tem que provar que a predeterminação divina e a realização de escolha são logicamente contraditórias. Você afirmar alguma coisa não torna por isso essa coisa verdadeira.

    a) Deus predestina que José escolherá casar-se com Maria
    b) José escolhe casar com Maria

    Onde está a contradição?


    Isto seria respondido pela clássica pergunta: "Deus precisou violar as decisões internas de Maria e José nesta 'predeterminação'?"

    Normalmente, pelo menos nos círculos calvinistas, a ideia de que o homem poderia possivelmente tomar um curso distinto de ação daquele que ele realmente tomou acarreta uma diminuição do poder divino de "previsão do futuro" (nem gosto deste termo, pois Deus não está preso no tempo para 'prever' - ele vê o futuro). Esta é, de certo modo, a base da ideia de predestinação incondicional individual (sim, são muitas palavras!).

    R2 Essa é a sua definição de livre-arbítrio. Eu já lhe perguntei antes a sua definição de livre-arbítrio, e quando você me apresentou essa, eu disse que não tinha nenhum problema em admitir que o homem tivesse livre-arbítrio nesse sentido. Acredito que nenhum ou poucos calvinistas se oporão a um livre-arbítrio assim definido.

    Porém, a definição que eu apresentei é a ideia popular sobre livre-arbítrio. Posso lhe apresentar algumas definições ou declarações que impliquem livre-arbítrio como capacidade de escolher o bem espiritual. Se quiser corrigir alguém, corrija seus colegas arminianos.

    A dita capacidade de escolher o bem só é possível após a intervenção graciosa de Deus (a graça preveniente). Antes disso, a opção 'bem espiritual' não existe.
    Existem muitas definições equivalentes de LAL, mas acho esta a mais prática, pois coloca todo o ônus da prova em quem se opuser a um conceito tão simples e intuitivo. Ademais, ela é equivalente às definições usadas em escritos sérios acerca de disputas teológicas.
    Tudo bem, muitos arminianos se confundem nisto, mas vou corrigir todo e qualquer que modifique o conceito. Se eu uso o conceito padrão (e correto), e outra pessoa, seja ela arminiana ou calvinista, usa um conceito diferente, me cabe corrigi-la, pelo bem da coerência e precisão.
    O erro não se torna menos grave só porque vem da mão de um desinformado. Ainda mais dado o pequeno viés de sua fala - 'mas são os arminianos que dizem isto!'. (um viés perdoável, antes que eu esqueça de falar).

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  18. R3. Primeiro, você está sendo incoerente. Primeiro grita que livre-arbítrio não é capacidade escolher.
    Capacidade de tomar escolhas, sem ser tal capacidade infalivelmente determinada por fatores externos. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Você só é capaz de escolher quando existem escolhas disponíveis.
    Agora espanta-se que o homem tenha oportunidade de escolha, sem ter a capacidade para tal.
    Tá bom. Mas pela graça preveniente, o homem se torna capaz de escolher. A escolha é posta diante dele, e são escolhas reais. Naquele artigo, em detalhes, no meu blog:
    http://credulo.wordpress.com/2012/01/15/traducoe-credulas-a-realidade-da-escolha-e-o-testemunho-da-escritura/

    Segundo, até que prove o contrário, dever não implica poder.
    Eu discuti isto com os 5calvinistas, sobre voluntarismo. Para todos os efeitos, 'dever implica poder' é simplista demais. Mas a responsabilidade implica a possibilidade de cumprimento, dado que ela foi aceita de comum acordo.

    Vou dar um exemplo:

    Eu tenho o dever de chegar no serviço às 8 da manhã todos os dias. Logo, é minha responsabilidade acordar cedo e não enrolar no trajeto, certo?
    Se eu ficar doente, ou acontecer uma inundação, o ônibus atolar ou qualquer infortúnio, eu sou incapaz de cumprir tal dever. Talvez eu possa apelar para a misericórdia do meu chefe, afinal não há culpa pelo que eu não fiz. Eu não provoquei minha doença, não provoquei a inundação etc.
    Agora, se eu me jogar num poço fundo e 'inescalável', e porventura quebrar as pernas (só pra piorar o cenário), acaso eu tenho alguma moral para pedir socorro ou piedade ao meu chefe? Acho que não. Aliás, seria realmente de cair o queixo (ou uma obra de graça) se meu chefe ainda se preocupasse em me resgatar, não é mesmo?

    Pois bem, acho que neste framework dá pra lidar com as mais variadas objeções ao princípio "dever implica poder".

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  19. R4. Não preciso ir além da presciência divina para provar a futurição de todas as coisas, inclusive das escolhas divinas. O fato de Deus ter presciência torna todos os eventos fixos e imutáveis.
    Como diria Paulo César, "imutável no sentido de que será, não no sentido que deverá necessariamente ser".

    E se pela Sua presciência ele sabia que o povo se rebelaria, então era certo e infalível que eles iriam se rebelar.
    Mas este conhecimento (crença justificada verdadeira) não implica causação da rebelião. Deus apenas sabe, Ele não causa a rebelião por pré-saber da sua ocorrência.

    Creio no decreto divino, todo abrangente e infalível, mas nem preciso crer nela para aceitar, por implicação lógica, a certeza de todos os eventos, inclusive as escolhas livres dos homens.

    Dadas as devidas proporções, também creio neste decreto. Só não preciso achar que Deus decretou tudo, e nem preciso achar que Deus só tem controle se escrever tudo.
    R5. Sem gracejo, peço que demonstre que a eleição incondicional é inconsistente com a oferta do evangelho.
    Acho que vou acabar por repetir o argumento mais usado acerca disso...

    R6 E eu digo que se algum arminiano é evangelista por causa do arminianismo, ele no mínimo está evangelizando pela motivação errada.
    Que motivação errada?
    Marcos 16 é motivação suficiente, e não contradiz o LAL.
    Já a crença determinista afirma que não existe escolha por Jesus. De novo, minha mais recente tradução trata disso: a realidade da escolha e o testemunho escritural.

    Cheung mesmo não crê na oferta sincera do Evangelho - ele diz que se deve evangelizar focando a punição: "olha, se você não aceitar, tu vai pro inferno!". Isto, além de ser um recurso de medo e coação (o velho dilema do 'amor forçado'), é uma desonestidade intelectual com prórpia crença dele - afinal, Deus manipulou a mente da pessoa para que, de maneira infalível, ela aceite ou recuse. Ou seja, a pessoa não tem o 'poder' de aceitar. Mandar que ela aceite é auto-contraditório!
    Pregar o Evangelho serve só pra cumprir o script, afinal...

    Claro que eu falo de um calvinista em particular, mas restam poucos argumentos acerca da eleição incondicional. Sem muito medo de errar, eles levam a abordagens semelhantes.

    Em Cristo,

    Clóvis

    Amém!

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  20. Finalizando (?):

    R7.3 Significa outra coisa também. Que você não é Deus, e que Ele não se engana no que Ele sabe.
    Foi um exemplo, meu caro, foi um exemplo...
    Eu estou diferenciando CERTEZA (uma posição subjetiva para uma alegação de conhecimento) de NECESSIDADE (uma propriedade objetiva de um evento). É fácil confundir as coisas.

    7.4 "Mera ilusão?"

    R7.4 Exatamente. Mas se quiser demonstrar o contrário, estou disposto a considerar seus argumentos.


    Repostando (e aumentando o BlogCount):
    http://credulo.wordpress.com/2012/01/15/traducoe-credulas-a-realidade-da-escolha-e-o-testemunho-da-escritura/

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  21. Ah sim: o ônus de demonstrar que é "mera ilusão" te pertence - apesar de eu ter aceito a inversão.

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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