O mal de Agostinho e a graça de Deus

Acabei a leitura de "Santo Agostinho: o problema do mal", Ivan de Oliveira Silva, publicado pela editora Pilares. Trata-se do TCC do autor, para o curso graduação em Filosofia, da Universidade Mackenzie. Confesso que muita coisa me escapou, por minha deficiência em filosofia em geral, mas especialmente quanto alguns conceitos e terminologia.

O livro, como anuncia o título, trata da visão agostiniana sobre o problema do mal. O que segue, não é uma resenha do livro, mas uma síntese do que ele diz, sem entrar no mérito se concordo ou não, pois como disse, falta-me pré-requisitos para isso. Algumas afirmações do autor me pareceram não muito agostinianas.

O tratamento que Agostinho dá ao problema do mal é motivado pela sua rejeição ao maniqueísmo, que ele havia professado no passado. Segundo os seguidores de Mani, o mal coexiste eternamente em oposição ao bem, sendo os dois "poderes" iguais em força. No universo, o bem e o mal estão intermesclados e procuram vencer um ao outro. Pularei as implicações disto.

Em resposta, Agostinho afirma que o mal não existe ontologicamente, sendo mero distanciamento do bem. Não tendo existência real, o mal não foi criado e nenhuma criatura carrega a substância do mal, pois como alguém portaria o nada? E sendo nada, o mal sob o ponto de vista ontológico não pode ser evitado, pois o nada não pode se aproximar do bem.

Por outro lado, em sua relação com o homem, o mal existe como mal moral, que consiste no comportamento humano de afastar-se do Sumo Bem. Neste sentido, o mal é o pecado, sendo este tanto a causa como o efeito do mal. E esse afastar-se do bem se dá em função da vontade caída do homem, do uso que o homem faz de seu livre-arbítrio. Quanto mais se afasta do Criador, mais o homem piora a sua condição moral, o que vem acontecendo desde a queda.

Ao contrário do mal ontológico, o mal moral carece e tem antídoto. O remédio para o mal moral é a graça. Assim como o homem pela sua própria vontade pode somente afastar-se do bem, com o concurso da graça, pode aproximar-se do bem, o que pode ser entendido de Agostinho como sendo a salvação.

A graça não é imprescindível apenas para aproximar-se do bem, mas para a permanência nele também. Como a vontade do homem é tendenciosa ao mal moral, a perseverança no bem, é devida somente à graça. Para Agostinho, eis "que a perseverança final no bem seja um excelente dom de Deus e que sua procedência seja aquele do qual está escrito: 'todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto, descendo do pai das luzes' Tg 1:17".

Soli Deo Gloria

10 comentários:

  1. Olá Clóvis!

    A explicação de Agostinho sobre o mal como a ausência do bem nunca me convenceu. Quando observamos Rm 1:18ss, por exemplo, notamos com clareza a maldade voluntária e aberta dos homens.

    Como a teoria do monismo cristão pode subsistir frente a um texto com este?

    O que achas?

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  2. Ainda um pouco mais:

    Como admitir que Wellington Oliveira era passivo quanto ao seu ato? Pra mim, impossível! Há algo absurdamente maligno naquilo.

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  3. o que santo agostinho disse no texto é que o mal é o não bem, ou seja é a negação da existencia do bem supremo , o afastamento da graça divina, agostinho foi fantastico em berçar o pensamento do pecado original, que tanto os catolicos quanto os evangelicos acreditam, coisas que a sola scriptura não tem, isso faz parte da tradição apostolica , pois sto. agostinho era bispo de hipona e do magisterio da igreja catolica, por isso que a sola escriptura é uma invenção da cabeça de lutero, para fazer frente á igreja catolica, mas o mesmo e esperto lutero pegou a biblia , dois dos 7 sacramentos da igreja ou seja utilizou aquilo que a igreja ja tinha no seu corpo mistico, e plagiou aquilo que lhe interessava, ou seja não inventou nada novo , haaa, esqueci de dizer que o lutero desenterrou algumas heresias dos primeiros séculos do cristianismo para berçar a sua doutrina protestante.. fiquem com Deus e reflitam melhor sobre sua fé.. e retornem para a santa, una, catolica e apostolica igreja de cristo....

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  4. Caro católico anônimo,

    Agostinho afirmou mas não inventou a doutrina do pecado original. Ele apenas concluiu a partir das Escrituras, ou seja, com o Sola Scriptura. Leia alguns artigos sobre incapacidade humana aqui no Cinco Solas e verá que a base retrocede para antes da Agostinho, basicamente à Bíblia Sagrada.

    Em tempo: "Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas" Ap 18:4

    Clóvis

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Anônimo,

    Assim como não está escrito na Bíblia "pecado original" e, por isso, de acordo com o que você sustenta, o Sola Scriptura se torna uma farsa, assim também o próprio termo Sola Scriptura não está na Bíblia. Logo, de acordo com a sua lógica, nós deveríamos rejeitar o Sola Scriptura.

    Perdoe-me, mas a sua afirmação foi bastante tosca. Não vamos desconsiderar uma doutrina simplesmente porque a palavra usada para designar uma doutrina não existe na Bíblia. O pecado original não é uma invenção de Agostinho, ela é ensinada na Bíblia pelo apóstolo Paulo e Agostinho, a partir da Bíblia, cunha o termo que designa aquilo que conhecemos por Pecado Original.

    Eric Lima

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  7. Clovis,

    seu texto eh fantastico. a decisao de sair eh minha, se eu nao decidir sair eu me torno participante do pecado e das pragas.

    isso te diz algo? se nao diz voce está préintencionado a não buscar o conhecimento bíblico com inteireza de coração.

    Paz

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  8. Anônimo,

    Não sei se eu não te entendi direito ou se você não entendeu o pensamento de Agostinho expresso no texto. Se for o primeiro caso, me desculpe, se for o segundo, por favor leia novamente o texto.

    1. Quando você diz "a decisão de sair é minha, se eu não sair eu me torno participante do pecado". Compare com o que o pensamento agostiniano: "Assim como o homem pela sua própria vontade pode somente afastar-se do bem". Ou seja, de acordo com o hiponense, você por si só pode somente se afastar-se de Deus. Não pode decidir e sair do pecado por si mesmo.

    2. Para se aproximar de Deus, você precisa da graça de Deus. "Com o concurso da graça, pode aproximar-se do bem, o que pode ser entendido de Agostinho como sendo a salvação". Ainda, a "graça não é imprescindível apenas para aproximar-se do bem, mas para a permanência nele também. Como a vontade do homem é tendenciosa ao mal moral, a perseverança no bem, é devida somente à graça".

    Em Cristo,

    Clóvis

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  9. Clovis,

    eu não fui claro, me referi ao texto em resposta ao comentário anterior.

    Em tempo: "Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas" Ap
    18:4

    ...

    seu texto eh fantastico. a decisao de sair eh minha, se eu nao decidir sair eu me torno participante do pecado e das pragas.

    isso te diz algo? se nao diz voce está préintencionado a não buscar o conhecimento bíblico com inteireza de coração.

    Paz

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  10. Anonimo,

    Agora entendi seu texto. Obrigadeo por esclarecer.

    Em Cristo,

    Clovis

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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