Coreia do Norte: missionários cristãos desafiam regime

A fronteira que separa a China da Coreia do Norte é uma das mais policiadas do mundo. Minas, radares, mirantes, postos de controle pontuam as margens dos rios Yalu e Tumen para impedir a passagem de desertores. Mesmo assim, o fluxo de refugiados vindos das províncias do norte do reino de Kim Jong-il é constante desde 1995, quando a epidemia de fome, que matou cerca de um milhão de pessoas, provocou o primeiro grande êxodo dos sobreviventes para a China. E agora, alguns desses refugiados fazem o caminho de volta por conta própria, e com uma perigosa missão.

Como mostra reportagem da enviada Any Bourrier, convertidos ao cristianismo por missionários, eles querem espalhar sua nova religião entre os compatriotas, formando uma rede clandestina de resistência cristã ao regime comunista e ateu da Coreia do Norte.

Segundo o Alto Comissariado para os Refugiados das Nações Unidas, entre 200 mil e 500 mil súditos de Kim Jong-il teriam optado pelo exílio nos últimos dez anos, atravessando a fronteira não somente para fugir da repressão totalitária, mas, sobretudo, para não morrer de fome. Muitos foram detidos pela polícia chinesa, que os entregou aos vigias da fronteira porque a China não concorda em conceder-lhes o estatuto jurídico de refugiados, como exige a ONU. Pequim os qualifica de "traficantes" e, por isto, eles não podem reivindicar o direito de asilo.

Muitos conseguiram se esconder, graças à cumplicidade da comunidade coreana que vive na região autônoma chinesa de Yanbian, apelidada de Terceira Coreia. Os de mais sorte sobreviveram porque foram recolhidos pelas missões protestantes da Coreia do Sul, país que é hoje o segundo maior exportador de missionários, atrás somente dos Estados Unidos.

Representantes das igrejas batista, metodista e evangélica estão presentes na fronteira desde 1995. Na época, o objetivo era alimentar e dar alojamento aos fugitivos. Aos poucos, os missionários decidiram batizá-los porque os norte-coreanos pediam para se converter, em reconhecimento à coragem com que os religiosos desafiavam a polícia chinesa para ajudá-los. Sem saber, porém, que o objetivo dos missionários é também político.

- O dever dos cristãos é combater Kim Jong-il e sua dinastia vermelha - decreta o reverendo Park, transferido da Igreja Saemmul de Seul para Yanbian.

Ele compara o trabalho dos missionários cristãos à atuação do Papa João Paulo II, que teve papel importante no enfrentamento do comunismo em sua nativa Polônia, contribuindo para o fim da União Soviética em 1991.

Ricardo Noblat
Recebido por email de Guilherme Basílio

3 comentários:

  1. Discordo com o Reverendo que disse "O dever dos cristãos é combater Kim Jong-il e sua dinastia vermelha". Não temos que lutar contra carne e sangue.

    O verdadeiro dever dos cristãos lá é glorificar a Deus com suas vidas.

    Um abraço Clóvis.

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  2. Neto,

    Não sei o contexto em que o Rev. disse o que disse. Pode ser que esse combate se dá na esfera espiritual, através do evangelho. Por isso pode ser que ele não esteja errado.

    Eu também sou contra ao engajamento político dos crentes como forma de propagar o evangelho ou solucionar a vida da igreja. É a desculpa lavada que alguns dão para envolvimento da igreja no processo eleitoral. Mas sinceramente, não sei se é o caso dos irmãos perseguidos na Coréia e de outros lugares.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  3. Clóvis,

    Deus te ouça. Espero que esteja certo nas duas afirmativas!

    Abração.

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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