Aos inconformados com a eleição


Recebi via twitter o seguinte questionamento: "uma amiga minha não se conforma com o fato de sermos salvos por eleição de Deus e não por livre arbitrio nosso. O que vc pode dz pra ela?". Eis o que eu diria:

Em primeiro lugar, que "sermos salvos" (voz passiva) implica que o somos por Deus e não por nós ou algo em nós. Se a salvação é de Deus e não nossa, não deveríamos nos inconformar com o modo como Ele nos salva, mas dar graças a Ele por nos salvar, de um jeito ou de outro. Ou será que existe algo mais importante para nós do que sermos levados à glória ao invés de lançados no inferno?

Diria também que como cristãos temos que nos conformar com o que a Bíblia diz e não com o que pensamos, mesmo que pensemos de acordo com o senso comum. E o que diz a Bíblia?
"Vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus" (Ef 2:8). A graça é de Deus, a fé vem de Deus e o livre-arbítrio... bem, o livre-arbítrio não é mencionado aqui. Aliás, em nenhum lugar é mencionado em conexão com a salvação. Para falar a verdade, o livre-arbítrio não é mencionado em lugar algum das Escrituras. Não deveríamos ficar inconformados pela salvação não depender do livre-arbítrio do homem e sim da livre graça de Deus, se acreditamos no que a Bíblia diz.

Em terceiro lugar, não é totalmente preciso dizer que somos salvos pela eleição. A eleição não é nem se equivale à salvação. Ela é para a salvação, que nos é assegurada pela morte de Jesus e aplicada pelo Espírito Santo mediante o ouvir o evangelho. É claro que Jesus morreu para assegurar a salvação dos eleitos e que o Espírito chama irresistivelmente os escolhidos, mas a eleição em si não torna prescindível nem a morte de Jesus, nem a obra do Espírito Santo.

Acrescentaria ainda que deveríamos ficar inconformados se Deus fizesse a salvação depender do livre-arbítrio do homem. Pois neste caso, ninguém se salvaria, mesmo se Jesus tivesse morrido por todos e cada um. Se a eleição de uns implica a reprovação de outros, podemos ter como certa a salvação de parte da humanidade. Como ninguém pode ir a Cristo por si mesmo, caso dependêssemos de nossa própria escolha, teríamos que nos conformar em marchar, toda a humanidade sem exceção de nenhum, a passos firmes para o lago de fogo. Aí está uma coisa com a qual não gostaria de me conformar.

Finalmente, para fechar em cinco pontos (calvinista tem essa mania), temos que considerar que o desígnio da salvação é a glória de Deus e não a nossa concordância com a forma como ela se dá. E Deus é mais e melhor glorificado se a salvação depender somente dEle. Se depender do homem, mesmo que esta dependência seja mínima, mas posto que determinante, a glória de Deus é diminuída. E como servos dEle, devemos nos conformar com que Deus, e somente Ele, seja glorificado pela nossa salvação.

Soli Deo Gloria

11 comentários:

  1. Deixo aqui um mistério:

    Eu senti a convicção de pecados e fui salvo JUSTAMENTE quando percebi que não existia livre-arbitrio coisa nenhuma, que Deus é Soberano sobre todas as ações do planeta, e que minha Salvação dependia somente da Sua boa vontade.

    Eu creio que a partir do momento em que os homens deixarem de olhar para os homens, mais o E.S. nos mostrará quem somos. Quanto mais nos aproximamos do Eterno, mas vemos como somos pó.

    Um abraço Clóvis, parabéns pela resposta.

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  2. Excelente texto...
    Mas surge uma dúvida adicional: Somos eleitos para salvação, ok.
    O ser humano é um ser falho por natureza, corriqueiramente, seguindo esse ponto de vista, posso passar a minha vida inteira pecando e no fim dela ser salvo, por ser eleito?

    Ou vice-versa, passo minha vida inteira sendo fiel, mas no final fraquejo. Na realidade eu não era um eleito então?

    Essa é a dúvida que ecoa quanto à eleição para mim...

    Paz

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  3. Brasil, 12 de Julho de 2010

    Divulgue esta idéia: A. W. Pink | Archive
    http://awpink-pt.blogspot.com

    No próximo dia 15 de Julho de 2010 faz 58 anos que o escritor A. W. Pink nos deixou chamado por Deus para o eterno gozo celestial. Um pastor, evangelista e teólogo que ficou marcado por sua firme adesão aos ensinamentos puritanos e calvinista. O seu biógrafo, Ian H. Murray escreveu que "a ampla circulação dos seus escritos depois da sua morte fez com que ele se tornasse um dos autores evangélicos mais influentes da segunda metade do século vinte". Não há dúvida que este homem tem nos influenciado profundamente provocando um renascimento da pregação expositiva e nos ensinando a viver biblicamente.

    Com isso, In Memoriam, nasce uma idéia. Reunir em um só lugar os artigos, biografias, sermões, cartas, vídeos e mp3, excertos e obras completas do escritor Arthur Walkington Pink [mais conhecido como A. W. Pink]. Esperamos que seja mais uma oportunidade de relevância para cada cristão!

    Uma homenagem a um servo de Deus,

    Nele,
    Os editores

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  4. Ao Clóvis

    Para acontecer o perdão definitivo, perfeito, perdão de uma vez para sempre, Deus teve que enviar Seu Filho e este ter padecido até à morte, e morte de cruz. Agora sim, o homem perfeito no lugar de homens imperfeitos, o Salvador no lugar de pecadores: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós, porque está escrito: maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”. Gl. 3:13. Daí que nada foi de graça. Teve um preço alto pago totalmente pelo Senhor Jesus. Percebe-se que a salvação não dependeu nem depende do homem neste aspecto. Dependeu exclusivamente do Senhor Jesus. Agora, Deus sendo justo pode perdoar de uma vez para sempre “pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” Rm. 3 ;24-26.

    Essa história de dizer que a salvação não depende do homem para demonstrar que a fé confiança na pessoa do Senhor Jesus também não depende do homem é falaciosa. A salvação não dependeu nem tampouco pode depender do homem, claro! Mas a fé confiança, aquela que, quando exercida na pessoa bendita do Senhor Jesus e em termos eternos, salva o homem eternamente, esta pertence ao homem. Como está escrito: “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. Romanos 10:13.

    Clóvis, você diz: "Como ninguém pode ir a Cristo por si mesmo, caso dependêssemos de nossa própria escolha". Mas faltou você citar os textos. Fazer muito caso de suas próprias luzes é cair em erro, e erro grosseiro! Faltou você dizer que Deus arquitetou o plano da salvação e que este já foi consumado na cruz! Basta, agora, o homem confiar! Ou você acha que está no querer de Deus dar essa confiança ao homem? Onde é que está dito isto? Em Efésios 2:8,9? Sinceramente, Clóvis! Realmente, Deus "quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade" ITim. 2:4. É verdade ou não é, Clóvis? Mas nem todos são salvos. O apóstolo Paulo, inspirado pelo Santo Espírito, disse que Deus quer que todos os homens sejam salvos. Você diz o contrário, que a fé confiança para a salvação é dada a poucos, somente àqueles que Deus escolheu para isto, coisa que não existe. E porquê o Senhor prometeria uma bênção a todos os homens se esta estaria reservada a poucos? Mc. 16:15,16.

    Como se pode ver, Clóvis, você tem muito nó para desatar diante do Senhor!

    www.pregaiboasnovas.blogspot.com

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  5. Paulo Cesar,

    Os seus nós não são de marinheiro. Parece aqueles que num olhar rápido parecem uma maçaroca de fios, mas que basta puxar um que ele se solte todo. É claro que você pode, e vai, pegar o fio novamente e tentar dar um nó cego, mas sempre se pode estivar o fio de novo, puxando o com jeito. Mas chega de filosofia de tricotadeira e vamos ao que interessa.

    Você diz que "para acontecer o perdão definitivo, perfeito, perdão de uma vez para sempre, Deus teve que enviar Seu Filho e este ter padecido até à morte, e morte de cruz". Mas será que você vai até onde essa sua declaração te leva? Se Jesus obteve "o perdão definitivo, perfeito, perdão de uma vez para sempre" por aqueles por quem morreu, e se ele morreu por todos os homens, então todos eles receberam perdão definitivo, perfeito de uma vez para sempre.

    Disse também que "a fé confiança, aquela que, quando exercida na pessoa bendita do Senhor Jesus e em termos eternos, salva o homem eternamente, esta pertence ao homem. Como está escrito: “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. Romanos 10:13.". Que o homem deve incovar o nome do Senhor para ser salvo, é ponto pacífico e isto e apenas isto que prova a passagem. Que a fé pertence "naturalmente" ao homem é desmentido pelo próprio contexto, especificamente o verso 17: "E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo". Ora a fé chega ao pecador pela pregação do evangelho, logo, não é inerente a ele.

    Após citar minhas palavras "Como ninguém pode ir a Cristo por si mesmo, caso dependêssemos de nossa própria escolha" diz que "faltou você citar os textos". Bem, aí estão:

    Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. Jo 6:44

    E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido. Jo 6:55

    Por que não compreendeis a minha linguagem? é porque não podeis ouvir a minha palavra." Jo 8:43

    Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Jo 15:5

    Tem mais algumas, mas estas desatam o seu nó.

    Ou você acha que está no querer de Deus dar essa confiança ao homem? Onde é que está dito isto?

    Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não tenha de si mesmo mais alto conceito do que convém; mas que pense de si sobriamente, conforme a medida da fé que Deus, repartiu a cada um. Rm 12:3

    pois vos foi concedido, por amor de Cristo, não somente o crer nele, mas também o padecer por ele, Fp 1:29

    Que Deus abra seu olhos pelagianos para ver que em graça está contido tudo, inclusive a fé e o arrependimento.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  6. Caro anônimo,

    Seja sempre bem vindo.

    A experiência nos mostra, até onde podemos ver, que isso acontece. Pessoas que passam a vida inteira afastadas do Senhor, nos momentos finais clamam e são salvas por Ele. Um exemplo bíblico é o ladrão da cruz.

    Outras pessoas passam suas vidas na igreja e no que diz respeito ao aspecto exterior são cristãos exemplares, mas no final da sua vida se apostatam e, até onde podemos presumir sem pecar, se perdem eternamente.

    O que se pode afirmar sobre eles. Os primeiros são eleitos, chamados mais tarde em suas vidas. Antes de serem chamados eficazmente, são filhos da ira, como os demais. Mas não é o caso dos últimos, pois o fato de saírem do meio do povo de Deus evidencia que nunca foram de fato filhos de Deus.

    Apesar disso, um descrente e um crente não precisam ficar perplexos diante dessa realidade. Se eleito, em momento oportuno Deus chamará irresistivelmente o incrédulo, pela pregação do evangelho. E se ele se preocupa com isso, é um bom indício e deve esperar graça abundante em sua vida.

    Já o crente não precisa se preocupar se é um eleito ou não, ser acometido de dúvidas. Se creu no evangelho, deve manter seus olhos fixos no Senhor, que o preservará mesmo em momento de intensa luta e grande tentação. E mesmo que caia, poderoso é o Senhor para o levantar.

    Que Deus o abençoe em sua caminhada e que o Espírito Santo esteja sempre firmando seus passos e fortalecendo seu coração.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  7. Clóvis, estou aprendendo bastante através dessas postagens e, por incrível que pareça, estou literalmente "faminto" por essas verdades. Tempos atrás, nem sabia que era arminiano - pois nem sabia o que significava tal designação.

    Só que tenho amigos que questionam dizendo: "Deus ama todas as pessoas". E também usam de vários versículos para justificar tal posição. Enfim, muitos arminianos "inconformados com a eleição".

    Não consigo mais voltar a pensar de forma arminiana. Foi algo tão profundo, comparado à superficialidade arminiana (além de forte apelo ao emocionalismo).

    Deus ama todos? Disse que não, pareceu-me o mais correto.
    Agora, a resposta é não, mesmo? Por quê?

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  8. Clóvis, muito bom o seu texto. Tomarei a liberdade de reproduzir lá no Olhar Reformado. Os trechos de grande autores que você publica são muito bons, mas gosto ainda mais quando você escreve, especialmente nos temas das Doutrinas da Graça.

    Paz e bem

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  9. Marcelo,

    Deus o abençoe por suas palavras, que incentivam. Nem preciso dizer que a glória é toda dEle, sabemos que é.

    Eu tento manter a regularidade de um texto de autoria própria por semana. Ore para que o Senhor me dê a graça de continuar.

    Em cristo,

    Clóvis

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  10. EverlastinG,

    Desculpe pela demora da resposta.

    Fico feliz que tenha se descoberto faminto pelas verdades da graça. Recomendo que as sacie nas Escrituras, pois livros e blogs, como este aqui, são úteis apenas na medida em que despertam e apontam para a Bíblia Sagrada como fonte dessas consoladoras doutrinas.

    Até mesmo para responder a objeções dos que se opõe às verdades bíblicas cridas pelos calvinistas, a Bíblia é a melhor referência. Pois o que ela diz, ela diz e ponto. Mesmo que muito permaneçam e fiquem ainda mais inconformados com doutrinas como a eleição graciosa.

    Você pergunta se Deus ama a todos. A Bíblia responde na fala de Deus "Amei a Jacó, mas odiei Esaú". Não importa como se interpreta esses nomes, se indivíduos ou povos, o fato é que Deus não ama a todos de igual maneira, pelo menos. Portanto, o que a Bíblia diz, ela diz, e quem quiser se inconformar com isso, que inconformado fique.

    Mas, ao mesmo tempo, a Bíblia também diz "Deus amou o mundo...", estando claro que se trata das pessoas que estão no mundo. Também não podemos negar o que a Bíblia diz, pois o que ela diz, ela diz.

    Contudo, não há contradição entre as duas passagens, haja vista que mundo aqui não se refere especificamente a todas as pessoas, mas aos que crêem. E esses são os amados de Deus no mundo todo.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  11. Cadê o Paulo, pra treplicar a réplica do Clóvis??

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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