Amós e o arrependimento de Deus

De um ponto de vista superficial se poderia considerar que essas passagens que da Escritura onde se fala que Deus "se arrependeu" ou mudou seu pensamento contradizem las Escrituras que ensinam sua imutabilidade. Muitas das alusões aos "arrependimento" de Deus são exemplos bastante claros da figura de retórica chamada antropomorfismo. Por exemplo, na profecia de Amós, as exortações estão misturadas com visões, algumas das quais anunciam calamidades horríveis. No começo do capítulo sete se vêem dois juízos quase totalmente destrutivos.Nos versículos 1-3 Amós tem uma visão da destruição de toda a produção da terra por uma praga de gafanhoros. Ele roga "Senhor Deus, perdoa, peço-te; como subsistirá Jacó? pois ele é pequeno" (v. 2). "Então o Senhor se arrependeu disso. Não acontecerá, disse o Senhor" (v. 3). Isto é seguido de uma visão de destruição do mar e da terra por fogo. Amós outra vez suplica: "Então eu disse: Senhor Deus, cessa agora; como subsistirá Jacó? pois ele é pequeno" (v. 5). De novo: "Também disso se arrependeu o Senhor. Nem isso acontecerá, disse o Senhor Deus” (v. 6).
Claramente estas duas visões deveriam ser tomadas como uma totalidade. O ensinamento não é que Deus mude de parecer senão que tais desastres seriam um castigo justo e ao mesmo tempo que Deus é misericordioso. Deve ser evidente que esta é a interpretação correta desses versículos pelo fato de que a profecia de Amós em sua totalidade presume firmemente um plano de deus perfeito e imutável, resultando em um reino eterno de santidade. Veja-se especialmente a escatologia de Amós 9.
Ainda que a nossa maneira de falar não é a mesma que aquela dos escritores bíblicos, temos um paralelo no uso moderno, especialmente em advertências de castigos, em casos em que a natureza condicionalda advertência não expressa mas se entende claramente. É dito algumas vezes aos meninos travessos: "vou castigá-los em seguida", e com isto cessaram as malfeitos. Tanto as crianças como os adultos reconhecem a diferença entre uma advertência e a declaração de uma sentença quando já se tem tomado uma decisão final. Isto é verdade ainda quando as condições relacionadas com a advertência não se expressam, mas são subtendidas.
J. Oliver Buswell Jr.
In: Teología Sistemática
Tradução livre por Clóvis Gonçalves

5 comentários:

  1. Gostei muito da explicação. Alguns confundem e não entendem bem passagens como essa, que parece de difícil interpretação, já que sabemos que o Senhor não se arrepende, porque na verdade o arrependimento é para quem erra, e Deus não erra.

    http://princesas-de-deus.blogspot.com/

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  2. • Acredito hoje, mas já cri diferente, que Deus muda sim de opinião acerca de questões "pequenas" e a Bíblia está cheia de exemplos claros a este respeito. Um Deus que ama não se preocupa em ser coerente. Aliás, quem ama não pode ser coerente. A vida de Jesus é um exemplo claro. Jesus disse à mulher que não convinha tirar dos filhos e oferecer aos “cachorrinhos”, mas aquela mulher disse a ele que até os cães comem das migalhas que acidentalmente caem da mesa de seus donos. Pouco tempo antes Jesus tinha dito a seus discípulos para apregoarem as boas-novas aos judeus e pouco depois entra em “contradição” cedendo aos anseios daquela mulher estrangeira. Portanto, prefiro um amigo que diga e tenha coragem de desdizer à um que morra com sua opinião deixando tudo e todos aquém de si.
    Parabéns pelo blog.
    Sds cristãs
    Gilvan Albuquerque

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  3. Gilvan,

    Obrigado pela visita e por apresentar seu ponto de vista a respeito. Você fez algumas afirmações que gostaria de considerar, se me permite.

    O amor de Deus não o torna incoerente e na verdade, nos exemplos citados por você não houve mudança de opinião. Jesus a orientação de Jesus foi "Mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 10:6). Os judeus tinham prioridade na pregação do evangelho, a ordem era prregar o evangelho ao mundo todo, a partir dos judeus: "ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra"(At 1:8).

    O tratamento de Jesus com a mulher siro-fenícia não significou que Ele não iria abençoá-la, mas que ele estava preparando-a para receber a bênção, bem como objetivando dar uma lição nos judeus.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  4. Olá Clóvis.
    Sinto-me honrado com vossa atenção. Vi somente agora seu sábio comentário.
    Gostaria de “alfinetar” seu comentário, pois, dizer que Jesus pretendia abençoar a mulher é, na realidade, julgar a intenção de Cristo, já que a escritura não relata tal afirmação, nem o contexto nos permite conjeturar, certo? Sabemos que maior responsabilidade é dizer o que Jesus pensou do que afirmar aquilo que ele não fez - quando nos baseamos nas escrituras, obviamente. Afinal de contas, contextualizar é necessário, desde que não julguemos as circunstâncias baseados apenas no contexto. De modo que, certo do seu conhecimento bíblico, ratifico, que os enunciados de Jesus são, aos exegetas, a parte mais importante é interpretação bíblica. Passamos tanto tempo tentando defender a perfeição de Deus àqueles que a questionam, que nos esquecemos que o próprio Deus responde aos críticos sendo, evidentemente, Deus. Mas enfim, o texto, com certeza, não foi redigido no intuito de gerar problemas exegéticos, mas ensinar, edificar etc. Obrigado pela sobriedade em sua ressalva. Fiquemos Nele.

    Gilvan Albuquerque

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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