O livre-arbítrio não tem utilidade


Torna-se claro, em João 14.6, onde se lê que Jesus Cristo é o "caminho, e a verdade, e a vida", que a salvação só pode ser encontrada em sua pessoa. Sendo essa a verdade, tudo quanto está fora de Cristo só pode ser trevas, falsidade e morte. Qual necessidade haveria da vinda de Cristo a este mundo, se os homens, naturalmente, pudessem compreender o caminho de Deus, entender a verdade de Deus e compartilhar da vida de Deus?

Nossos opositores dizem que os homens perversos possuem "livre-arbítrio", embora abusem dele. Se isso fosse realmente assim, então haveria algo de bom no pior dos homens. E se isso fosse realmente verdade, então Deus seria injusto ao condená-los. Entretanto, João diz que aqueles que não crêem em Jesus Cristo já estão condenados (Jo 3.18). Todavia, se os homens fossem possuidores dessa coisa boa chamada "livre-arbítrio", então João deveria ter dito que os homens só estão condenados por causa de sua parte má, e não devido àquela boa parte neles existente. As Escrituras dizem: "...o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (Jo 3.36). Sem dúvida está em pauta todo o homem. Pois, se assim não fosse, então haveria uma parte no homem capaz de impedi-lo de ser condenado, e ele poderia continuar pecando sem o menor temor, firmado no conhecimento que não poderia ser condenado.

Também lemos em João 3.27 que "o homem não pode receber cousa alguma se do céu não lhe for dada". Isso refere-se especialmente a capacidade da pessoa cumprir a vontade de Deus. Somente aquilo que vem do alto pode ajudar um homem a cumprir a vontade do Senhor. Mas o "livre-arbítrio" não vem do alto, o que significa que o "livre-arbítrio" é inútil.

Em João 3.31, diz ainda o mesmo apóstolo: "...quem vem da terra é terreno e fala da terra; quem veio do céu está acima de todos". Ora, por certo o "livre-arbítrio" não tem origem celestial. Pertence à terra, não lhe havendo outra possibilidade. E, assim sendo, isso só pode significar que o "livre-arbítrio" nada tem a ver com as realidades celestiais; cogita somente das coisas terrenas. O Senhor Jesus afirma, em João 8.23: "Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima; vós sois deste mundo, eu deste mundo não sou". Se essa afirmativa de Jesus quisesse dizer apenas que os corpos de seus ouvintes eram terrenos, tal declaração seria desnecessária, pois eles já sabiam disso. O que Jesus quis dizer é que aos seus ouvintes faltava, de modo absoluto, qualquer poder espiritual, e que este só poderia ser recebido de Deus.

Martinho Lutero
In: Nascido Escravo, Ed. Fiel, Cap. 1, Argumento 18.
Via: Márcio Melânia, no grupo Textos Reformados

5 comentários:

  1. Poxa... o livre-arbítrio é tão inútil que ninguém quis comentar.

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  2. Na teoria calvinista, com certeza. Se estamos com uma coleira no pescoço e na outra ponta, da coleira, está Deus o todo Poderoso, que nos guiar pra onde quer sem deixar nenhum espaço para o homem “aprontar” das suas. Realmente é uma perfeição esses eleitos do Senhor.

    Bom seria, em parte isso, porque certamente teríamos uma sociedade muito melhor. Mas isso é só fantasia de alguns. Enquanto isso devemos nos virar para alcançarmos algo de bom nesse mundo.

    Jo 8:32 -
    E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.

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  3. Teimoso...

    Eu pensei que o homem era livre. Mas o texto de Jo 8;32 parece dizer que ele está
    preso, né? hummmm! Será em quê?

    Se você entende o cuidado especialque que Deus dispensa aos seus, transformando-os de inimígos em filhos amados, que consiste em enviar o seu filho unigenito para morrer na cruz no lugar de TODOS aqueles que antes da fundação do mundo tem seus nomes escritos no livro da Vida. Como uma coleira dívina, fazer o que, né?

    Mas me responda: Um cão, que vive sob intensos cuidados e amor de seu dono, é alimentado, tratado, vacinado e etc. vive mais que um cão largado, livre e sem dono?

    Se Deus tem uma coleira para identificar quais são os seus, eu, com certeza, amo essa coleira. Pode ser que seja um brico ou outro sinal qualquer, como por exemplo a habitação do E.S na vida do salvo, a obediência a Palavra, o padecer na causa de Cristo, num sei, que será?

    Esli Soares

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  4. Esli

    A minha principal duvida é referente a responsabilidade do homem depois de sua conversão. Qual seria na sua opinião? Tudo é conseqüência depois de sermos chamados por Cristo? Se sou levado a fazer as coisas, não tenho como não fazer, onde fica a minha responsabilidade?

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  5. Esli e Teimoso,

    O Roberto Vargas tem no blog dele alguns estudos interessantíssimos sobre a responsabilidade no calvinismo. E, ao contrário do que pensa o Teimoso, a responsabilidade não exige a liberdade para acontecer: essa relação entre liberdade e responsabilidade é feita pelo humanismo secular e incorporada pelos arminianos.

    Um exemplo extrabíblico disso é a visão grega do assunto. Os gregos eram deterministas (lembra das Parcas e do destino?), de um fatalismo inescapável, mas não deixavam de julgar e condenar pessoas (ou seja, de responsabilizá-las) jogando a culpa no destino.

    Se os gregos não faziam essa relação, assim como a Bíblia não faz, por que devo considerar a liberdade como necessária para a responsabilidade? Perguntando melhor: por que o determinismo seria incompatível com a responsabilidade? Para os gregos e para a Bíblia, determinismo e responsabilidade andam muito bem, obrigado.

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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