Carey, eleição e evangelismo

O calvinismo é frequentemente acusado de esfriar o esforço missionário, sob a recorrente objeção: se Deus já predestinou os que irão crer, então porque pregar o evangelho a todos os homens?

Irônico é que William Carey é considerado por esses mesmos objetores como o "pai das missões modernas". O título não é sem merecimento, pois embora ele não seja nem o primeiro e nem o único missionários transcultural (quando chegou na Índia já haviam missionários dinamarqueses ali), ele dedicou sua saúde, família e vida à obra missionária na Índia.

Onde está a ironia? Está no fato de que Carey era um zeloso calvinista, que até o fim da sua vida manteve-se fiel aos artigos de fé expressos na Confissão Batista de 1689 (calvinista). São dele as seguintes palavras:
"Temos a certeza de que somente aqueles que foram destinados para a vida eterna irão crer, e que somente Deus pode adicionar à igreja aqueles que serão salvos. No entanto, não podemos senão observar, com admiração, que Paulo, o grande campeão das gloriosas doutrinas da livre e soberana graça, foi o mais notável em seu zelo pessoal pela obra de persuadir homens a se reconciliarem com Deus."
Quem vê incoerência entre eleição soberana e zelo missionário é porque, ou não compreendeu a doutrina da eleição ou desconhece os fundamentos bíblicos do evangelismo, quem sabe os dois. Além de atestar desconhecer o que criam muitos de seus heróis da fé.

17 comentários:

  1. As igrejas tradicionais na maioria das vezes são acusadas de virar as costas para o evangelismo. Confesso que muitas fazem isso. Mas também não concordo quando dizem que os calvinistas se apoiam na predestinação para não evangelizar. Justamente porque somos calvinistas, obedecemos o sola scriptura, e na Escritura evangelizar não é uma opção é obediência ao Ide.
    Muito boa a lembrança do Carey.
    Abraço.

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  2. Clóvis, paz!

    É isso mesmo...
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    A evangelização, pensando a partir de um viés calvinista, é um trabalho nobre, árduo, obediente... extremamente cristão... como é para o arminianismo...
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    A única diferença está em que[em minha análise] : por lógica, segundo a teologização do primeiro segmento, a evangelização não pode mudar nada, pois o que determinado está não pode ser mudado... vai acontecer... e ponto... senão não é eleição e reprovação... no caso do segundo segmento, as coisas já são bem diferentes... inclusive, quanto ao sentido das próprias coisas...
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    Carey foi, voltou... fez isso intensamente indo para lá e para cá... mas, mesmo que isso não tivesse sido feito por ele, como ele mesmo diz:
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    "Temos a certeza de que somente aqueles que foram destinados para a vida eterna irão crer, e que somente Deus pode adicionar à igreja aqueles que serão salvos..."
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    Vai acontecer... ponto final!
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    Um calvinista deve pregar o evangelho pensando assim [eu penso "né"?]:
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    "Tomara que essa pessoa a quem estou pregando a Palavra seja um eleito... só assim poderei ter a alegria de ver o meu esforço evangelístico dar resultados... esse evangelho no qual eu creio só é eficaz na vida desses... na vida do resto não faz nem um "cócegaszinha"... é fraco... aí fica sem graça... minha esperança é essa: seja você um leito, por favor, por favor! Oh, Deus!!!!"
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  3. Ivonete,

    Por outro lado "podemos" dizer que várias igrejas arminianas pregam um evangelho falsificado, que na realidade não é evangélico. Mas cometeríamos o mesmo erro, pois a culpa não é do arminianismo em si.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  4. Zwinglio,

    Entendo o seu ponto. Porém a mesma objeção, ou consideração se preferir, poderia ser feita à doutrina da onisciência. Vejamos o paralelo:

    Eleição: Deus escolheu desde a eternidade aqueles que irão crer. Se João foi eleito, crerá, se não foi não crerá.

    Onisciência: Deus sabe desde a eternidade aqueles que irão crer. Se João foi visto como crente, crerá, se não foi não crerá.

    Você acha que a evangelização pode mudar a realidade do João, seja no sistema arminiano ou no calvinista?

    De qualquer forma, não oramos "torcendo" para que a pessoa seja eleita. Oramos para que Deus dê graça abundante e a pessoa creia.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  5. Clóvis, paz!

    Boa resposta!
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    No entanto, faço-lhe uma pergunta:
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    Há diferenças entre determinar e, portanto saber que acontecerá, pois determinado foi... e saber de antemão sem ter que determinar que aconteça como já se sabe que vai acontecer?
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    Tudo é a mesma coisa?!

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  6. Se bem você observou... lhe devolvi a pergunta...

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  7. Zwinglio,

    Então estamos de acordo quanto ao fato de que a evangelização não muda a realidade determinada/antevista de alguém desde a eternidade. Portanto, se temos que torcer para alguém ter sido eleito, teríamos que torcer para ele ter sido previsto como crente.

    Vamos então para o outro ponto. Há diferença entre determinar e prever? Para o João não faz diferença, pois se foi antevisto ou determinado que ele creria ou não, isto é certo desde a eternidade e é imutável na história. Para quem evangeliza igualmente é indiferente, pois não sabe se o João foi eleito ou antevisto como salvo, e terá que pregar de qualquer forma, então pregará na esperança que João crerá.

    Mas e para Deus? É diferente se Ele prevê porque determinou ou que Ele simplesmente prevê? Neste ponto creio que faz muita diferença: no primeiro caso, Deus está no com as mãos no timão, como Capitão da História. Na segunda Ele é mero historiador que escreve no diário de bordo o que acontece na viagem.

    Qual imagem representa melhor o Deus da Bíblia?

    Em Cristo,

    Clóvis

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  8. Muito bem!


    Se você observar bem, não concordamos quanto à, digamos, utilidade da evangelização...
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    Não... eu não torço para que alguém tenha sido previsto [por Deus] como salvo... eu evangelizo porque acredito que todos... e qualquer um... pode ser salvo... diferente daquele que está eleito...
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    É imutável na história... mas em um sentido diferente do que propõe o calvinismo...
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    A melhor imagem que representa o Deus da Bíblia é aquela que vê Deus sempre como o Capitão da História até quando ELE mesmo escolhe, SOBERANAMENTE, dotar o homem de livre-arbítrio... não cogito reducionismo em qualquer hipótese quanto a isso...
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  9. Zwinglio,

    Quanto mais observo, menos vejo como uma objeção sobre evangelismo feita à eleição não possa ser igualmente dirigida à onisciência. Você diz "eu evangelizo porque acredito que todos... e qualquer um... pode ser salvo...". Mas poderia acrescentar à sua afirmação "mesmo aquele que Deus anteviu no inferno"?. Acredito que não possa.

    Você também diz que a resposta da pessoa ao evangelho, conhecida desde a eternidade por Deus "É imutável na história... mas em um sentido diferente do que propõe o calvinismo", mas não diz onde está a diferença. Sinceramente eu não vejo nenhuma. Poderia esclarecer melhor em que sentido essa imutabilidade difere?

    Ainda, o irmão reconhece que "a melhor imagem que representa o Deus da Bíblia é aquela que vê Deus sempre como o Capitão da História até quando ELE mesmo escolhe, SOBERANAMENTE, dotar o homem de livre-arbítrio...". Neste ponto corremos sairmos do tema, pela introdução de algo novo aqui: o livre-arbítrio. Pois estávamos falando de Deus, na eternidade, determinar ativamente o que acontece ou apenas prever o que acontece.

    Por mim tudo bem se vamos colocar o livre-arbítrio na salada, mas temos que definir o que isso significa, pois fico na dúvida se concordo com sua frase ou não.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  10. Paz Clóvis!
    Mano, lhe convido a ler um post que escrevi sobre isso meses atrás. Ele conta a parte que vc não contou nesse post...

    http://confraria-pentecostal.blogspot.com/2009/06/calvinismo-e-missoes.html

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  11. Clóvis,

    Pois a objeção que faço aos arminianos nem é essa sobre a eleição à luz da presciência e do "determinismo", mas a negação que eles fazem da predestinação como se fosse a pior das heresias.

    Ora, mas a predestinação é cristalina, literal na Bíblia. O que dizer de Romanos 8:29-30, ali é apenas brincadeira, ou é relativo? E Filipenses 2:13, Cl 2:13, Jo 6:44, 6:65 , 15:16, Atos 13:48, dentre tantas outras passagens afirmando a predestinação direta ou indiretamente?

    A meu ver, a predestinação é afirmada categoricametne na Bíblia, enquanto que a sua negação necessita de malabarismos.

    NEle,

    Ricardo

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  12. Irmão, Clóvis...

    Você não respondeu a essa pergunta:
    .
    "Há diferenças entre determinar e, portanto saber que acontecerá, pois determinado foi... e saber de antemão sem ter que determinar que aconteça como já se sabe que vai acontecer?"
    .
    Determinar implica em uma ação direta sobre...
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    Saber de antemão não passa disso...
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    Eis a diferença... e você sabe disso...
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    A lógica que você quer estabelecer ignora a diferença do que estamos tratando...
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    No caso da primeira NÃO HÁ NADA que possa mudar o que determinado está... ou há?
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    No caso da segunda, não estamos trabalhando com nada já estabelecido, mas apenas sabido por Deus... que não determinou que A seja um leito e B seja um preterido...
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    Isso dá sentido à evangelização que fica diante de alguèm que não está reprovado ou eleito de antemão...
    .
    Se eu trabalho com a idéia de reprovação e eleição, para mim evangelizar é perda de tempo, pois as coisas já estão fixadas... como diz Paulo aos Romanos, a própria revelação natural é capaz, em algum sentido de despertar a crença na existência de Deus e da necessidade de serví-lO... e o homem pode responder ou não a isso sem ter sido eleito ou não... e veja que continuo achando que não precisa de nada [nem evangelização], a rigor, se tudo já está pre-determinado...
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    Na compreensão divina, a meu ver, isso está claro -rsrrs- assim como claro está pra mim -rsrsrs-...
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    Sobre o seu último 1º parágrafo respondo:
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    Prego para aqueles que Deus anteviu no inferno... sem saber disso, especificamente... mas sabendo que esse, a quem Deus viu no inferno de antemão, não foi destinado a esse estado previamente... mais uma vez, destaco a diferença entre prever e determinar...
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    A respeito do seu último 2º parágrafo respondo:
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    Já falei que entre detrminar e prever há uma diferença clara... e digo ainda: não é em nada uma diferença semântica...
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    Sobre o seu último 3º parágrafo respondo:
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    O livre-arbítrio está presente no seu "post"... em nossa conversa agora... e em todo o seu blog... às vezes de maneira explícita, às vezes não... portanto...
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    Ufa!!!! -rsrsr- Acho que a está altura, já está mais do que claro a diferença que existe para mim entre determinar e prever; e entre a utilidade da evangelização no contexto de um e do outro...
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    Um é um ato mecânico que visa cumprir tabela... o outro é possibilidades amplas... desafios constantes...

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  13. Paz Clóvis,

    Excelente reflexão teológica.

    Que o Senhor continue com você.

    Marcos Sampaio.

    P.S.: Vc não vai atualizar o Fé Reformada Veritas para SOLA FIDE BLOG não? Vê se me ajuda né... he,he,he...

    Um forte abraço, meu irmão!

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  14. Marcos,

    Não excluí o Fé Reformada, apenas incluí o novo. Tinha me esquecido de faze-lo.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  15. Este comentário foi removido pelo autor.

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  16. Pode reparar. Um calvinista é zeloso de missões quando ele é batista, como é o caso de Carey, ou quando ele crê na Expiação Ilimitada. Em outras palavras, ele é zeloso de missões quando se mistura com crenças arminianas ou com os arminianos. Calvinista legítimo (presbiteriano) e zeloso de missões é algo raro de encontrar.

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  17. Se o amigo não diz nem o próprio nome, quem dirá citar fontes do que afirma...

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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