"Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade" Ec 1:2
A palavra vaidade é uma daquelas que levam as pessoas a incorrerem em equívocos. Pois embora relacionadas, o uso moderno e coloquial da palavra vaidade difere daquele usualmente utilizado nas Escrituras. Portanto, ao sermos perguntados sobre a vaidade, devemos ser cuidadosos quanto ao sentido em que o termo é utilizado. De maneira rudimenar, vou me referir a três "dimensões" do termo vaidade: vaidade espiritual, vaidade terrena e vaidade estética. É uma classificação ao gosto pessoal, sem rigor científico.
O significado de vaidade
Modernamente, vaidade pode ser definida como uma preocupação exagerada com a aparência, manifestada na maneira de se vestir, pentear e no uso de maquiagem e adornos. Porém, biblicamente, os termos hebraicos ('awen, shaw') e gregos (kenos, mataiotes) traduzidos por vaidade denotam mais uma ausência de conteúdo e inutilidade, ou seja, caracterizam aquilo que é vazio de significado ou que não atinge os objetivos. A relação entre o uso moderno do termo e seu sentido original fica por conta de que, em última análise, a preocupação em demasia com a aparência física é vã.
Vaidade espiritual
Resolvi chamar assim as tentativas do homem buscar refúgio nos ídolos. Assim, lemos "não vos desvieis; pois seguiríeis coisas vãs, que nada aproveitam e tampouco vos podem livrar, porque vaidade são" (1Sm 12:21). Davi reconhece que Deus aborrece "os que adoram ídolos vãos" (Sl 31:6), pois os ídolos "vaidade são, obra ridícula; no tempo do seu castigo, virão a perecer" (Jr 10:15). Além de um ídolo que "de si mesmo, nada é no mundo", os rituais religiosos também são inúteis. Aos que queriam oferecer-lhes sacrifícios um indignado Paulo diz "senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles" (At 14:15). É vã (vaidade) qualquer tentativa do homem de satisfazer-se espiritualmente fora de Deus e sem a mediação de Jesus Cristo.
Vaidade terrena
Esta é a vaidade referida pelo Pregador. O termo aparece 28 vezes em Eclesiastes (ARA) e significa inutilidade. Porém, antes de assumirmos a posição extrema e existencialista do ponto vista de Salomão, devemos lembrar que ele escreve limitando o seu campo de pesquisa ao que ocorre "debaixo do sol", ou seja, nada do que excede o tempo e o espaço foi considerado. Ele diz "apliquei o coração a esquadrinhar e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu" (Ec 1:13). Além disso, ele recorreu unicamente à sua inteligência para analisar os fatos observados, não tirando nenhuma conclusão que fosse além da razão. A conclusão a que se chega é que a busca pelo sentido da vida, sem recorrer a Deus e sem considerar a Sua revelação é pura futilidade, ou nas palavras do sábio, "vaidade e correr atrás do vento" (Ec 2:11). Sem a revelação de Deus e de seus propósitos a busca do conhecimento (Ec 1:12-18), de prazeres (Ec 2:1-11), de realizações (Ec 2:12-16), do trabalho (Ec 2:17-26) e das riquezas (Ec 5:8-6:2) leva à frustração extrema, pois Deus "pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim" (Ec 3:11). A menos que em algum ponto entre seu nascimento e morte Deus se revele ao homem, este entrará nesta vida por uma porta onde estará escrito "tudo é vaidade" (Ec 1:2) e sairá por outra onde também estará escrito "tudo é vaidade" (Ec 12:8).
Isto é assim porque a própria "criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou" (Rm 8:20). Como parte da criação arruinada, o homem caído é, ele mesmo, destituído de sentido. "Somente vaidade são os homens plebeus; falsidade, os de fina estirpe; pesados em balança, eles juntos são mais leves que a vaidade" (Sl 62:9), conclui Davi. Assim, podemos dizer que tudo o que diz respeito à esta vida e a este mundo é vaidade, no sentido que carecem de sentido intrínseco e são incapazes de satisfazer o homem mesmo quando consideradas apenas as suas necessidades terrenas. Por isso Paulo ordenou "buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus" (Cl 3:1), "pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo" (Fp 3:20).
Porém, veja só que interessante. Quando buscamos as coisas que são de cima, as coisas terrenas que antes eram vãs, passam a ter sentido e utilidade. O salmista disse "quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra" (Sl 73:25) pois havia descoberto que a partir do momento que encontramos Deus, passamos a ter prazer na terra. Jesus também disse algo a respeito, quando orientou "buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (Mt 6:33). Há uma diferença enorme entre buscar sentido para nossa vida nas coisas terrenas, que são vaidades, e desfrutar dessas coisas com o sentido encontrado em Deus, pois descobrimos que "toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes" (Tg 1:17) e como "tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável" (1Tm 4:4).
Vaidade estética
A Escritura diz que "enganosa é a graça, e vã, a formosura, mas a mulher que teme ao SENHOR, essa será louvada" (Pv 31:30). Entendida em seu contexto, a palavra vaidade (ARC) significa que a beleza da mulher é inútil para ela ser reconhecida como virtuosa. Porém, não devemos nos apressar em coibir que a mulher apresente-se bela. Primeiro, porque formosura aqui está relacionada a beleza natural e não ao enfeitar-se apenas. E também porque a formosura em si não é vista de forma negativa nas Escrituras, basta uma leitura do livro dos Cânticos para nos convencer disso. Fiquemos apenas com a firmação bíblica de que a beleza não torna a mulher virtuosa, pelo contrário "como jóia de ouro em focinho de porco, assim é a mulher formosa que não tem discrição" (Pv 11:22).
Quanto ao cuidado com a aparência, parece-me que isto é orientado pelas Escrituras, quando diz "em todo tempo sejam alvas as tuas vestes, e jamais falte o óleo sobre a tua cabeça" (Ec 9:8). O conselho de Noemi a Rute ainda parece atual "banha-te, e unge-te, e põe os teus melhores vestidos" (Rt 3:3) e Jesus condenou o andar molambento para aparentar religiosidade quando disse "tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas" (Mt 6:17-18). Porém, especialmente se tratando de mulheres cristãs no culto, o bom senso é mandamento divino, pois "as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso" (1Tm 2:9). Isto para que "não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus" (1Pe 3:3-4). A verdadeira e real beleza não é obtida por vestidos caros e jóias caras, mas pela atitude do coração, pois "o coração alegre aformoseia o rosto, mas com a tristeza do coração o espírito se abate" (Pv 15:13).
Conclusão
A vaidade é condenável e se caracteriza por um vazio de significado e uma inutilidade de propósito. Dessa forma, a idolatria é a essência da vaidade. Da mesma forma, a busca por significado nas coisas terrenas é vaidade inútil. E preocupar-se exageradamente com a aparência pessoal pode constituir-se vaidade. Por outro lado, o prazer em Deus, o desfrute da criação com ações de graça e o cuidado pessoal são, além de desejáveis, mandamentos divinos.
Muito bom.
ResponderExcluirTemos que viver pra coisas eternas, para as coisas que não se vêem pois estas são eternas.
Sermos participantes do sofrimento de Cristo e vivermos inteiramente pra Ele.
...
Deus tem me levado cada dia mais a me desprender das coisas terrenas, creio eu pelo meu chamado que é missionário.
Gosto muito do Paul Washer, e sei que existem pessoas que dão muito mais o sangue que ele por ae.
Vamos nos focar no Eterno.
Nos prepararmos pois dias difíceis chegarão para a Igreja e que não tiver achegado do Trono da Graça vai rodar. =P
Amém, que Jesus nos fortaleça dia após dia.
Paz a todos.
( eu sou o Lucas de Lima, em alguns comentários passado, sou novo no assunto e no pedaço. Só estou me alimentando por aqui e tendo uma comunhão virtual.)
Maravilha Clovis, nem acrescento nada!
ResponderExcluirSó declaro meu contentamento!!!!
Deus te abençoe!!!!
Graça e paz!
ResponderExcluirNão consegui identificar o autor do texto acima.
Mas quero dizer que a vaidade (vanitas;lat.)se extende à toda a realidade da Criação. E sobre isto fala Paulo no texto acima citado.
Na filosofia se percebe a profundidade da vaidade como coisa vã, vazia, inútil, nos escritos de Schopenhauer e Sartre. Só para dar
algum exemplo.
Quero lembrar que segundo o apóstolo João:"O mundo passa...mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.
Te convido a ler o texto do meu blog:Ser ou não Ser:eis a aflição!
Voltaire,
ResponderExcluirDeus me deu a graça de escrever o texto. Para glória dEle.
Em Cristo,
Clóvis