Sobre livre-arbítrio e responsabilidade


Este texto é um comentário ao artigo "Obrigação moral sem livre-arbítrio", de autoria de Valtencir Alves e que me chegou via blog Reflexões do Reino. O que se desprende do artigo é que sem livre-arbítrio não haveria responsabilidade moral e o homem não poderia ser julgado nem condenado por seus pecados.

Antes de nos referirmos à relação entre responsabilidade moral e livre-arbítrio, vamos procurar entender, a partir do texto em apreço, o sentido que o autor confere ao termo livre-arbítrio. O conceito adotado pelo articulista é de livre-arbítrio como poder de escolha contrária, ou seja, que um homem sempre poderia "ter agido de outra maneira, se assim tivesse querido fazê-lo". Para se ter idéia do grau de liberdade necessária para que o homem possa ser levado a julgamento, o autor afirma que ele deverá agir isento "de pressão, vinda da parte de sua natureza perdida, por opressão do Diabo ou por permissão de Deus". Ou seja, a menos que o homem esteja num estado de neutralidade moral, não sofra tentação nem seja influenciado por Deus, nada que ele faça pode ser lhe imputado.

Ocorre porém que para esta questão o referencial deve ser a Bíblia Sagrada e não os modelos vistos nas sociedades humanas. Devemos levar em conta a base na qual a Escritura assenta a responsabilidade do homem e não os sistemas judiciais terrenos ou sistemas filosóficos humanos. E olhando para o que a Bíblia diz, vemos que os requisitos propostos pelo articulista para que o homem seja responsabilizado pelos seus atos e atitudes jamais seriam preenchidos e portanto Deus jamais poderia julgar quem quer que seja.

Quanto ao estado do homem caído, ele não vive em neutralidade moral, pelo contrário, é naturalmente inclinado ao pecado. Desde a Queda, o pecado afetou o homem de tal maneira que todas as suas faculdades tem um pendor para o pecado. A Bíblia diz que "o Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um" (Sl 14:2-3). Porque "todos pecaram" (Rm 3:23) e "todo o que comete pecado é escravo do pecado" (Jo 8:34), nenhum homem está numa condição de escolher sem sofrer pressão de sua natureza caída. De fato, Jesus tanto disse "não quereis vir a mim para terdes vida" (Jo 5:40) como afirmou "ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido" (Jo 6:65). Somente quando o Filho nos liberta podemos ser verdadeiramente livres.

Além disso, a Bíblia descreve Satanás como o tentador que engana os homens e os conduz ao erro. No Éden, mentiu à mulher, dizendo "certamente não morrereis" (Gn 3:4) e Eva falou a verdade quando confessou "a serpente enganou-me e eu comi" (Gn 3:13 cf 2Co 11:3; 1Tm 2:14). De alguns que ouvem a Palavra, "logo vem o Diabo e tira-lhe do coração a palavra, para que não suceda que, crendo, sejam salvos" (Lc 8:12). Todos os que não foram renovados em seus espíritos estão sob o "poder de Satanás" (At 26:18). No Apocalipse, Satanás ainda é "a antiga serpente, que se chama o Diabo e Satanás, que engana todo o mundo" (Ap 12:9). Satanás não fica assistindo impassível enquanto alguém faz uma escolha por Cristo.

O controle providencial de Deus é uma verdade ensinada em toda a Bíblia. Deus governa todas as coisas, inclusive o coração do homem, pois "como corrente de águas é o coração do rei na mão do Senhor; ele o inclina para onde quer" (Pv 21:1). Ainda que sejam muitos "os planos no coração do homem; mas o desígnio do Senhor, esse prevalecerá" (Pv 19:21). O Senhor coloca desejos no coração das pessoas (Ed 7:27) e é quem inclina nosso coração para ouvir Sua Palavra (Sl 119:36). No dizer de Paulo, "Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2:13). Por isso Jeremias disse "converte-me, e converter-me-ei, porque tu és o SENHOR meu Deus" (Pv 31:18).

Mas, se o homem não é livre num grau que possa escolher e agir sem a influência de sua natureza corrompida, da ação maléfica do Diabo e da providência divina, então como ele ainda é responsável diante de Deus e está sujeito ao julgamento e condenação justa por parte do Senhor? Simples, a Bíblia não baseia a responsabilidade do homem no livre-arbítrio. Aliás, ninguém que diz que sem livre-arbítrio não existe responsabilidade moral se preocupa em provar o que diz de qualquer modo, menos ainda pela Bíblia.

A responsabilidade do homem baseia-se no direito de Deus como Criador. Aos que questionam o direito do Oleiro o Senhor diz simplesmente "quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Agora cinge os teus lombos, como homem; e perguntar-te-ei, e tu me ensinarás. Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência" (Jó 38:2-4). Porque Deus é o Criador, "todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo" (Rm 14:10). Além disso, Deus é o padrão do que é certo e errado e não cabe ao homem questionar seu padrão de justiça. Também somos responsáveis diante de Deus na medida do nosso conhecimento. É o que Paulo diz em Rm 2:12-16: "Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados. Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os; no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho".

Em resumo podemos dizer que a liberdade de indiferença não é determinante para o conceito de responsabilidade, pelo contrário, a destrói; que o homem não é livre em nenhum sentido que possa fazer escolhas a partir de uma posição de neutralidade moral e, finalmente, que a Bíblia baseia a responsabilidade na nossa posição como criatura, e no fato de Deus ser o padrão do certo e errado, no conhecimento que temos dEle.

26 comentários:

  1. Clóvis muito boa este comentario, infelizmente os defensores do livre arbítrio em especial os arminianos, não veêm desta forma, eles veêm o homem com poder de decisão, tanto para o bem como para o mal.

    Que Deus te abençoe.

    Fraternalmente em Cristo,

    Franciney.

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  2. Franciney,

    Obrigado por seu comentário.

    De fato, a lógica arminiana minimiza o estrago causado pelo pecado na natureza humana. Embora admitam que o homem está enfermo pelo pecado, ressalvam que ele não está tão mal que não consiga estender a mão, pegar e tomar o remédio oferecido.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  3. Li o seu comentário e percebi que seus contra argumentos estão recheados de textos bíblicos a deriva. Não encontrei humildade em suas palavras e percebi uma busca por "vingança". Caso lhe satisfaça, saboreie por hora, entendendo portanto, que conhecimento sem piedade é arrogância e loucura.

    Abraços,

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  4. Valtencir,

    Paz seja contigo.

    Lamento que tudo o que tenha visto seja busca por vingança, falta de humildade, arrogância e loucura, além de textos bíblicos à deriva. Não vou rebater sua leitura do texto, apenas esclarecer alguns pontos:

    1. Falta-me o motivo para me vingar, pois o seu artigo não me foi em nada ofensivo. Estaria me vingando de quê?

    2. Também me faltam motivos para soberba, arrogância ou outros sentimentos de exaltação. Não consigo pensar em algo que justifique uma tal falta de humildade.

    Agora, por favor, não me tome por vingativo se eu lhe pedir que apresente as provas de que a responsabilidade moral do homem diante de Deus depende de seu livre-arbítrio.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  5. É sempre assim, Clóvis. Eles fazem inferências erradas de textos bíblicos desconsideranmdo o que a própria Bíblia fala claramente sobre o tema. Paulo diz que “A mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à lei de Deus, nem pode fazê-lo.” Onde está, neste texto, o livre-arbítrio? Deus ordena que o homem o obedeça, mas declara que a carne não pode se submeter à sua lei (Ele exige algo, mas declara, de antemão, que o homem não o pode fazer, a não ser que, por uma obra sobrenatural, Deus regenere esse alguém.

    Saulo

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  6. Gostei do texto e do blog, mt bom... Prometo voltar e ler os outros...

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  7. Clóvis,

    Brilhante a argumentação.

    Helder.

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  8. Paz Clóvis,

    Estava esperando a manifestação do irmão Valtencir, ou do Junior, que por replicá-lo em seu blog certamente concorda com o mesmo, para então me manifestar, quem sabe num debate sadio.

    Porém, pelo que vi, ele não quer por em pauta seu posicionamento, apenas empurrá-lo goela abaixo das pessoas que o lêem. Li o artigo em questão, e ele usa uma única passagem bíblica, Fp 2:12, para sustentar seu posicionamento, alguém já disse que "quem tem apenas um versículo, não tem nenhum", pois a vista dos inúmeros versículos que mostram o contrário, inclusive o v.13, que afirma categoricamente ser "Deus quem opera tanto o querer como o efetuar", talvez a confusão do irmão Valtencir se dê por causa do verbo κατεργαζεσθε que apesar de estar na voz passiva depoente*, tem função ativa, por causa das características verbais. Porém, "operar a salvação" tem sentido de santificar-se, pois a luz de outras passagens bíblicas ninguém "opera" a própria salvação, mas "coopera" com o Espírito na própria santificação.

    Infelizmente o irmão Valtecir, não está disposto a por a prova suas crenças, a luz da Palavra de Deus. Sei que esse debate já dura alguns séculos, desde de pelágio, já que não vi dedo de Armínio, mas de Pelágio no artigo do irmão.

    Em Cristo,

    Ednaldo.

    (*) Considerei a voz do verbo como passiva, por causa do contexto imediato do verso 13, onde os verbos utilizados por Paulo para se referir a Deus estão na voz ativa. Sei que a voz média depoente e passiva depoente para o verbo em questão não se diferem no koiné.

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  9. Saulo,

    Que dever implica poder é outra tese arminiana que ninguém se preocupou em provar até agora. Porém, a Bíblia é taxativa em exigir de nós o que somos incapazes de fazer, por exemplo, "sede perfeitos...". Mas graças a Deus, Ele nos dá o que exige de nós.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  10. Celi,

    Você e seus comentários são sempre bem vindos. Visitei o seu cantinho e achei-o muito agradável.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  11. Helder,

    Obrigado pela visita e comentário. Aproveito para recomendar o artigo que você escreveu, Por que o homem não se volta voluntariamente para Deus, o qual vale a penas ser lido.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  12. Paz Clóvis e Ednaldo,

    Tenho percebido argumentos desafiadores; esclareço que essa não é minha praia.
    Respeito a teologia reformada e convivo muito bem com suas certezas, sem querer persuadir vcs às minhas convicções.
    Como bem disse o Ednaldo, esse embate dura séculos e perdurará até Cristo nos ares voltar.
    Portanto, existem blogs arminianos bem mais preparado teologicamente que o meu. Talvez nestes, vcs encontrarão alguém para seus prazerosos debates.
    Mesmo que sejam debates sadios, procuro não entrar neles.

    Com carinho,
    Junior

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  13. Ednaldo,

    Eu também esperava uma interação com o autor do artigo, pois um debate sadio seria útil para uma melhor compreensão dos aspectos incluídos nessa importante questão da liberdade e responsabilidade. Mas infelizmente, o irmão viu no meu texto uma atitude vingativa e fechou-se para a discussão do tema.

    De qualquer forma, o blog dele está indicado, para que as pessoas possam ler a íntegra desse e de outros artigos que ele escreveu, e assim tirar as suas conclusões.

    Em Cristo,

    Clóvis

    PS.: Um dia saberei um pouco do grego que o irmão sabe.

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  14. Junior,

    Paz seja contigo, amado.

    Entenda que não te coloco na posição de que deveria defender as afirmações do post que você colocou no seu excelente blog. Claro que sei que você teria muito a contribuir com o debate, caso desejasse fazer parte, mas respeito que não queira fazê-lo.

    Tampouco minha resposta visou desafiar o autor do artigo, embora de fato gostaria de interagir com ele sobre o tema. Gosto de colocar idéias opostas lado a lado, de esfregar uma na outra, para produzir calor e luz, para que ao final a gente saiba se houve convergência e ou se as divergências se mantiveram.

    Há um arminiano no net do qual nunca ganhei um debate (se posso colocar assim), mas de cada debate que tive com ele saí ganhando, pelo que aprendi da posição dele, da revisão que fiz do meu ponto de vista e principalmente, do respeito mútuo que cresceu.

    Um outro exemplo que posso citar aqui é o irmão Anchieta Campos. Já divergimos em vários pontos sobre soteriologia e agora escatologia, mas nunca saí perdendo de uma interação com ele e, a julgar pelo que ele diz, ele também não se sentiu desafiado ou ofendido por nada. Eu poderia mencionar outros "opositores" que eu tenho explorado para meu proveito, mas refiro a apenas mais um, o Roger, do Teologia Livre. Embora ele me dê alguns sustos com suas idéias, é uma das pessoas que se um dia eu for à Alemanha, quero conhecer pessoalmente. Nem que ele finja que não está em casa.

    Portanto, Junior, sei que eu sairia lucrando se debates fosse sua praia, não por ganhar algum de você, mas por aprender com você. De qualquer modo, já ganhei um irmão, e isso vale muito para mim, você nem imagina quanto.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  15. Clóvis,

    Obrigado pela recomendação...e pelos comentários.

    :-)

    Helder.

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  16. Paz Clóvis,

    "Há um arminiano no net do qual nunca ganhei um debate (se posso colocar assim)", parece que Schopenhauer estava certo ao escrever COMO VENCER UM DEBATE SEM PRECISAR TER RAZÃO.

    Só para descontrair.

    Ednaldo.

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  17. Ednaldo,

    Só posso dizer rsrsrsrsrsrsrs. Preciso ler esse cara, o Schop.

    Clóvis, descontraído.

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  18. Prezado Clóvis e leitores do blog,

    Me ocupei por alguns dias lecionando, e não pude consultar o desenrolar dos comentários deste blog, estando assim impossibilitado de escrever. Me alegro com o interesse sobre o assunto, e a sede dos leitores (a qual eu também tenho), por este assunto.
    Aceito suas observações, e fico feliz por ter entendido mal o seu posicionamento Clovis, desejo-lhe paz.
    Primeiramente gostaria de esclarecer um equívoco dos blogueiros, eu não sou arminianista, e tenho tremenda admiração por Calvino. Certamente, posso dizer sem erro, que já li mais Calvino do que Armínio.
    Este meu artigo, faz parte de uma sequência de estudos, que estou compartilhando no meu blog. Em 27 de Março postei "Graça Geral", 16 de Março postei "Eleição e Livre Arbítrio". Gostaria muito irmão Clovis, que você consultasse estes textos no meu blog, certamente, o irmão irá compreender um pouco melhor a minha visão sobre o assunto, e se desejar, será sim uma honra falar sobre o assunto. Não desejo encerrar de maneira alguma o assunto, quem sou eu pra isso?

    Fique na paz,

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  19. Amado,

    Fico deveras feliz que tenha retornado ao assunto e ainda mais por saber que compreendeu minha intenção ao comentar o seu texto.

    Vou ler seus textos e os comentarei lá, conforme o tempo me permitir.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  20. Paz a todos,

    Lendo os comentários deste artigo me lembrei da frase de Friedrich Nietzsche:

    "Saber é compreendermos as coisas que mais nos convém."

    Em Cristo,

    Everton

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  21. Everton,

    Não captei a relação entre a frase de Nietzsche e os comentários do post.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  22. É necessário rever as citações Bíblicas. Pelo menos 2 ou três citações não correspondem ao "endereço" apresentado.

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  23. Anônimo,

    Peço desculpas pelos erros de referência e agradeço por tê-las apontadas. Revi e encontrei duas referências erradas na carta de João, as quais já foram corrigidas. Se mais alguma me escapou, ficarei mais grato ainda se me disser.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  24. Permitam-me observar um enorme mal-entendido aqui. O que eu pude perceber é que o Pr. Valtencir Alves defendeu uma forma compatibilista de livre-arbítrio (algo que o Clóvis também defende) e o meu amigo Clóvis rotulou-a como arminiana, acabando por escrever um artigo para refutá-la.

    Um arminiano diria que uma pessoa é livre se, numa determinada situação, ela poderia ter agido de forma diferente da que agiu. Ponto. O que o Pr. fez foi defender um entendimento compatibilista de livre-arbítrio: alguém só é livre se puder agir de maneira contrária, se assim quiser fazê-lo. Um calvinista poderia concordar perfeitamente com o Pr., algo que jamais faria um arminiano.

    Algo negligenciado pelos compatibilistas é que o que realmente importa não é se somos livres para agir de forma contrária se assim quisermos, mas se somos livres para querer.

    Não sei por que o Clóvis ainda resiste à afirmação de que responsabilidade implica liberdade. Eu atribuiria essa resistência às idéias hiper-calvinistas que, de uns tempos para cá, começaram a confundir o já confuso debate entre calvinistas e arminianos. Muitas das idéias hiper-calvinistas estão-se passando por calvinistas e poucos estão dando conta disso.

    "A responsabilidade do homem baseia-se no direito de Deus como Criador." Sim, isto é verdadeiro, mas nisto já está incluso o fato de que é de uma pessoa que estamos falando. Já há uma pré-condição. Deus não poderia declarar uma cadeira ou uma lesma responsável apenas porque tem o direito de assim fazer. É preciso ser uma pessoa, e ser uma pessoa envolve vontade, conhecimento, etc.

    "Também somos responsáveis diante de Deus na medida do nosso conhecimento." Isto também é verdadeiro. O conhecimento aumenta ou diminui a nossa responsabilidade. Mas se fosse possível enfiar conhecimento no cérebro de um elefante, isto não faria dele um ser responsável, não apenas porque Deus não o declara responsável, mas porque um elefante não é livre.

    O conhecimento é também um pré-requisito para ser responsável mas não o único. Uma pessoa que tiver conhecimento mas não a capacidade de usá-lo como bem entender não pode ser declarada responsável. Não adianta somente ter conhecimento de que suicidar-se é pecado, é preciso ser livre para suicidar-se ou não. Somos responsabilizados por algo que fazemos (mas que não deveríamos fazer), não pelo que temos conhecimento. Enfim, somos responsabilisados pelo que fazemos com o conhecimento que temos.

    A verdade é que, para ser responsável, uma pessoa precisa satisfazer a uma série de exigências, entre elas o conhecimento (e aqui os arminianos e os calvinistas soft incluiriam a liberdade).

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  25. Postei o primeiro comentário antes da hora. Acabou seguindo incompleto e com alguns erros de português. Desculpe.

    Continuando...

    Tomemos como exemplo um tribunal de justiça. Um acusado de assassinato não é condenado apenas com base em seu conhecimento de que matar é pecado. Um juiz irá querer saber, principalmente, se na hora em que ocorreu o fato, o autor poderia tê-lo evitado, ou seja, se ele poderia ter agido de maneira contrária da que agiu. Resumindo mais ainda, o que um juiz está querendo saber é se ele agiu livre ou inevitavelmente? Dependendo da resposta, a pena pode ser maior ou menor, ou mesmo nem ser imposta.

    Nosso sistema penal é todo baseado na liberdade do homem. E eu acrescentaria, numa liberdade indeterminista e nunca compatibilista. Alguém pode até argumentar que há inúmeras injustiças nele, que alguns são presos sendo inocentes e outros soltos sendo culpados, mas isto se deve a outros fatores, como falsas evidências, interesses, corrupção, etc., não ao fato de que a liberdade do homem é essencial à sua responsabilidade.

    Bom revê-lo, Clóvis.

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  26. Ora, se cada um morre pelo seu pecado;
    se cada um precisa se converter para ser salvo
    e se cada um dá conta de si mesmo a Deus,
    é porque cada um tem um livre-arbítrio para tomar essa decisão.
    Não se pode harmonizar responsabilidade sem liberdade.

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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