Diálogo entre um calvinista e um arminiano


- Meu caro, eu entendo que você é o que chamam de arminiano; e certas pessoas me chamam de calvinista; e por isso mesmo, suponho que as pessoas esperam ver-nos prontos para brigar um contra o outro. Mas, antes de eu consentir em que se dê início ao combate, com sua licença, gostaria de lhe fazer algumas perguntas. Diga-me, por favor: você sente que é uma criatura tão depravada, mas tão depravada que nunca teria pensado em voltar para Deus, se Deus já não tivesse posto isto em seu coração antes?

- É verdade, é isso mesmo.

- E você também se sentiria totalmente perdido, se tivesse que recomendar-se a Deus, baseado em alguma coisa que você pudesse fazer; e considera a salvação como algo que se deu exclusivamente pelo sangue e justiça de Cristo?

- Sim, exclusivamente por Cristo.

- Mas então, meu caro, partindo do pressuposto de que você foi inicialmente salvo por Cristo, será que ainda assim você não teria que subseqüentemente, de uma forma ou de outra, salvar-se a si mesmo por suas próprias obras?

- É claro que não, pois eu devo ser salvo por Cristo do princípio ao fim.

- Admitindo, então, que foi inicialmente convertido pela graça de Deus, você, de um modo ou de outro, deve manter-se salvo por seu próprio poder?

- Não.

- Quer dizer, então, que você deve ser sustentado a cada hora e momento por Deus, tal como uma criança nos braços de sua mãe?

- Sim, absolutamente.

- E quer dizer que toda a sua esperança está depositada na graça e misericórdia de Deus para sustentá-lo, até que venha o seu reino celestial?

- Certamente, eu estaria completamente desesperado, se não fosse ele.

- Então, meu caro, com sua permissão vou levantar novamente a minha espada; pois isto não é nada mais nada menos do que o meu Calvinismo; eis aí as minhas teses da eleição, da justificação pela fé, da perseverança final: eis aí, em essência, tudo o que eu defendo, e como o defendo; portanto, se lhe parecer bem, ao invés de ficar tentando descobrir termos ou expressões que sejam bom motivo de briga entre nós, unamo-nos cordialmente naquelas coisas em que concordamos.

Charles Simeon
In: PACKER, J. I. A evangelização e a soberania de Deus.
Foto: Mark Bowman
In: http://www.flickr.com/photos/21002004@N03/2408825834/

9 comentários:

  1. Como diz Spurgeon:
    "Vocês têm ouvido uma quantidade grande de sermões arminianos, ouso dizer, mas vocês nunca ouvirão uma oração arminiana - porque os santos em oração se mostram iguais em palavra, ação e mente. Um arminiano de joelhos orará tão fervorosamente, quanto um calvinista."

    Voltemos Juntos ao Evangelho,
    Vini

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  2. Clovis,

    depois tenho que ler com calma, pois parece que é um texto interessante.

    Abrçs,

    Roger

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  3. Roger,

    Que bom vê-lo de novo por aqui.

    Eu acredito piamente que se limparmos o calvinismo das más representações arminianas e vive-versa, sobra bem pouca divergência de fato para a gente brandir espadas...

    Em Cristo,

    Clóvis

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  4. Clóvis,

    eu também me alegrei que a pausa do cinco solas se findou.

    Li e gostei do texto, talvez não é por acaso que a palavra de verificação que terei que digitar é "reliz" reli e fiquei feliz! rsrs

    Me fez lembrar um pastor em nossa comunidade que abria a grande boca para dizer que a doutrina da predestinação tinha sido forjada no inferno... o que me irritava e intristecia. Pois como o texto bem indica são verdades lógicas e bíblicas das quais não se pode fugir.

    Evidentemente que existe outro lado da moeda. Mas isso é assunto para outro comentário.

    Abrçs,

    Roger

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  5. Roger,

    Infelizmente, sobram arminianos que dizem que o calvinismo é diabólico e sobram calvinistas que se rferem aos arminianos como hereges. Quando digo que sobram é que não fariam falta se não existissem.

    O dabate sobre a predestinação e o livre-arbítrio é uma discussão intra-muros, entre irmãos salvos por Cristo, e não adversários disputando quem vai para o céu.

    Nesse debate, eu aprendi a ser um intransigente tolerante: não faço concessões ao que creio, mas amo quem pensa diferente. E procuro aprender com ele, se não sobre o que creio, pelo menos sobre o que ele crê.

    Suas participações aqui são sempre bem-vindas.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  6. Que benção! Clóvis, tomei a liberdade de mandar o texto para alguns amigos, citando o link de seu blog, é claro.

    Abraços e obrigado!

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  7. Davi,

    Bom tê-lo por aqui. Fique à vontade para dispor dos textos.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  8. Acho interessante linkar a pessoa que tirou a foto: http://www.flickr.com/photos/21002004@N03/2408825834/

    Que se não der os créditos, logo a foto estará rodando a internet e a pessoa que a tirou nunca será conhecida.

    Sobre o texto... conhece Moises Amirald? Ele aliou as duas visões.

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  9. Charles,

    Obrigado pelo toque quanto à foto. Estarei providenciando imediatamente o crédito e o link para a fonte.

    Sobre o almiraldismo, pretendo colocar uma avaliação assim que o tempo permitir. Na minha opinião ele não foi bem sucedido.

    Obrigado pela sua visita e participação.

    Em Cristo,

    Clovis

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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