O que a igreja exclui

Parafraseando algo que o papa João Paulo II disse certa vez, ao dirigir-se a um grupo de líderes de países do Terceiro Mundo: Não procurem nas nações ocidentais um modelo de desenvolvimento. Eles sabem fazer as coisas, mas não sabem conviver com elas. Atingiram um nível tecnológico impressionante, mas esqueceram como os filhos devem ser criados.

É este o contexto deste livro. Um contexto cultural em que a pessoa é bastante desprezada no meio da correria para conseguir ou para fazer alguma coisa. Uma importante tarefa da igreja cristã é formar pessoas por meio do Espírito Santo, até que elas cheguem "à medida da estatura da plenitude de Cristo" (Ef 4:13). Mas geralmente é uma tarefa negligenciada. Temos várias programações para cuidar disso, mas elas sempre estão na periferia de alguma outra coisa. A formação espiritual recebe muito mais atenção no mundo secular da espiritualidade da Nova Era ou do desenvolvimento psicológico do que na igreja. E por mais louvável que seja a atenção dada pelos mestres e guias deste mundo, eles estão tentando fazer tudo isso sem Jesus Cristo ou colocando Jesus apenas como elemento periférico. Portanto, estão deixando de fora o que é mais importante, a saber, a ressurreição.

Tenho certeza de que a igreja é a comunidade que Deus colocou no centro do mundo para manter o mundo centrado. Um dos aspectos essenciais dessa tarefa de manter o mundo centrado chama-se formação espiritual — a formação da vida de Cristo em nós, processo que dura a vida inteira. Ela consiste no que acontece entre o momento em que tomamos consciência da nossa identidade como cristãos e aceitamos essa identidade e o momento em que nos sentarmos para a "ceia das bodas do Cordeiro" (Ap 19:9). Ocupa-se do modo como vivemos no período que vai entre o dobrar os joelhos no altar e o ser atropelado pela carreta.

Levanto esse assunto com considerável sentimento de urgência, não apenas porque a cultura que nos cerca tem secularizado amplamente a formação espiritual, mas também porque a igreja em que vivo, e para a qual fui chamado a falar e escrever, está, nesse assunto, cada vez mais se tornando como a cultura, em vez de se colocar contra ela. O enorme interesse de hoje na "espiritualidade" não tem sido muito acompanhado, se é que o tem, por um interesse na questão da formação em Cristo, um processo longo, complexo e diário — ou seja, a prática de disposições e hábitos do coração que fazem a palavra espiritualidade deixar de ser um desejo, um anseio, uma fantasia ou uma digressão e venha a se transformar em vida real vivida para a glória de Deus. Uma expressão de um poema de Wendell Berry romancista, ensaísta e filósofo americano, traduz bem o que estamos falando — "ressurreição na prática". Este livro está fundamentado na ressurreição de Jesus.

PETERSON, Eugene. Viva a ressurreição.

2 comentários:

  1. Grande reflexão essa de Eugene Peterson!

    Seus escritos são sempre enriquecedores. Deve ser uma bela obra.

    Abraços
    Junior

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  2. Paz, Clóvis.

    Pode postar sim. Só peço que você mantenha o link do Reformed Voices (http://www.reformedvoices.com/2008/08/pinks-study-habits.html) de onde eu tirei o texto, e eu como tradutor.

    No Amor e na Verdade que nos une,
    Vini
    http://br.youtube.com/7vini
    http://7vini.blogspot.com

    ps: o link de seu nome está com problema. Falta o g do bloGspot.

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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