Períodos da história da Igreja

O estudante deve se lembrar que a história é uma “túnica inconsútil”. Com essa expressão, Maitland quis dizer que a história é uma seqüência contínua de eventos dentro da estrutura do tempo e do espaço. Por essa razão, a periodização da história da Igreja é apenas um recurso artificial para colocar os dados da história em segmentos facilmente perceptíveis e ajudar o estudante a guardar os fatos essenciais. O povo do Império Romano não foi dormir uma noite na Antiguidade e acordou na manhã seguinte na Idade Média. Existe uma transição gradual de uma certa visão da vida e atividade humana que caracteriza uma era da história para uma nova visão que caracteriza outra era. Como a divisão da história em períodos auxilia a memorização, ajuda a estudar um segmento de cada vez e apresenta a visão de mundo daquele período específico, é conveniente organizar a história cronologicamente.

História da Igreja Antiga, 5 a.C. — 590 d.C.

O primeiro período da história da Igreja revela a evolução da Igreja Apostólica para a Antiga Igreja Católica Imperial, e o início do sistema Católico Romano. O centro de atividade era a bacia do Mediterrâneo, que incluía regiões da Ásia, África e Europa. A Igreja operava dentro do ambiente cultural da civilização greco-romana e do ambiente político do Império Romano.

O Avanço do Cristianismo no Império até 100

Nessa seção, a atenção será dada ao ambiente em que a Igreja nasceu. A construção do alicerce da Igreja com base na vida, morte e ressurreição de Cristo e sua fundação entre os judeus são importantes para se compreender a gênese do cristianismo. O crescimento gradual do cristianismo nas fraldas do judaísmo e a ruptura desses laços no Concílio de Jerusalém antecedem a pregação do Evangelho aos gentios por Paulo e outros, e também a emergência do cristianismo como uma seita separada do judaísmo. Será ressaltado também o papel fundamental dos apóstolos nesse período.

A Luta pela sobrevivência da antiga Igreja Católica Imperial, 100-313

Nesse período, a Igreja teve sua existência constantemente ameaçada pela oposição de fora: a perseguição pelo Estado romano. Os mártires e os apologistas deram a resposta da Igreja a esse problema externo. A Igreja também enfrentou o problema interno da heresia, que teve uma resposta cristã por parte dos polemistas.

A Supremacia da antiga Igreja Católica Imperial, 313-590

A Igreja enfrentou os problemas decorrentes de sua conciliação com o Estado sob Constantino e sua união com o Estado na época de Teodósio. Logo ela se viu dominada pelo Estado. Os imperadores romanos queriam uma doutrina unificada a fim de unificar o Estado e salvar a cultura greco-romana. Os cristãos, porém, não tinham conseguido criar um corpo de doutrina no período da perseguição. Seguiu-se, então, um longo tempo de controvérsias doutrinárias. Os escritos dos Pais da Igreja de origem grega e latina, autores de inclinação mais científica, foram a conseqüência natural das disputas teológicas. O monasticismo surgiu, em parte, como reação e, em parte, como protesto contra a crescente mundanização da igreja institucional e visível. Nessa época, o ofício de bispo foi fortalecido, e o bispo de Roma tornou-se mais poderoso. Ao término do período, a Antiga Igreja Católica Imperial transformou-se na Igreja Católica Romana.

História da Igreja Medieval, 590 — 1517

O palco da ação nesse período muda do sul para o norte e oeste da Europa, isto é, para as margens do Atlântico. A Igreja Medieval, diante das levas migratórias das tribos teutônicas, lutou para trazê-las ao cristianismo e fundir a cultura greco-romana e o cristianismo com as instituições teutônicas. Ao fazer isso, a Igreja medieval centralizou ainda mais sua organização debaixo da supremacia papal, desenvolvendo o sistema sacramental-hierárquico que caracteriza a Igreja Católica Romana.

O surgimento do Império e do Cristianismo Latino-Teutônico, 590-800

Gregório I (540-604) empenhou-se muito na tarefa de evangelizar as tribos teutônicas invasoras do Império Romano. A Igreja Oriental nesse período enfrentou a ameaça de uma religião rival, o Islamismo, que tomou muitos de seus territórios na Ásia e na África. Lentamente, a aliança entre o papa e os teutões concretizou-se na organização da sucessão teutônica do velho Império Romano, o Império Carolíngio de Carlos Magno. Esse foi um período de pesadas perdas.

Avanços e retrocessos nas relações entre Igreja e Estado, 800-1054

O primeiro grande cisma da Igreja aconteceu nesse período. A Igreja Ortodoxa Grega, depois de 1054, seguiu seus próprios caminhos com base na teologia criada por João de Damasco (c. 675-c. 749), no século viii. A Igreja Ocidental nessa época feudalizou-se e procurou, sem muito sucesso, desenvolver uma política de relações entre a Igreja Romana e o Estado que fosse aceita tanto pelo papa quanto pelo Imperador. Por essa época, os reformadores de Cluny tentaram corrigir os males dentro da própria Igreja Romana.

A Supremacia do papado, 1054-1305

A Igreja Católica Romana medieval chegou ao clímax do poder sob a liderança de Gregório vii (Hildebrando, c. 1023-1085) e Inocêncio iii (1160-1216), conseguindo forçar uma supremacia sobre o Estado pela humilhação dos soberanos mais poderosos da Europa. As cruzadas trouxeram prestígio para o papado. Monges e frades espalharam a fé romana e reconverteram dissidentes. A filosofia grega de Aristóteles, levada à Europa pelos árabes da Espanha, foi integrada ao cristianismo por Tomás de Aquino (1224-1274) numa catedral intelectual que se tornaria a expressão máxima da teologia Católica Romana. A catedral gótica era a expressão da visão sobrenatural e transcendental do período e fornecia uma “Bíblia de pedra” para os fiéis. A Igreja Romana seria apeada desse poder no período seguinte.

O declínio medieval e o nascimento da Era Moderna, 1305-1517

Tentativas internas de reformar um papado corrupto foram feitas pelos místicos, que lutaram para personalizar uma religião que se tornara institucionalizada demais. Tentativas de reforma foram feitas também por reformadores primitivos, tais como os místicos João Wycliffe e João Huss, por concílios reformadores e por humanistas bíblicos. A expansão geográfica do mundo, a nova visão intelectual secular da realidade na Renascença, o surgimento das nações-estado e a emergência da classe média eram forças externas que não tolerariam mais uma Igreja corrupta e decadente. A recusa da Igreja Católica Romana em aceitar a reforma interna tornou possível a Reforma.

História da Igreja Moderna, 1517 e depois

Esse período foi iniciado por cismas que deram origem às igrejas oficiais protestantes e à divulgação universal da fé cristã pela grande onda missionária do século xix. O palco da ação não era mais o mar Mediterrâneo nem o oceano Atlântico, mas o mundo. O cristianismo tornou-se uma religião universal e global em 1995.

Reforma e Contra-Reforma, 1517-1648

As forças de revolta contidas pela Igreja Romana no período anterior irromperam nesse período, e novas igrejas protestantes nacionais surgiram: a luterana, anglicana, calvinista e anabatista. Como resultado, o papado foi obrigado a tratar da reforma. Por meio dos movimentos de contra-reforma do Concílio de Trento, dos jesuítas e da inquisição, o papado conseguiu deter o avanço do Protestantismo na Europa e ter vitórias nas Américas do Sul e Central, nas Filipinas e no Vietnã e experimentou uma renovação. Só depois do Tratado de Westfália (1648), que pôs fim à triste Guerra dos 30 anos, os dois lados se acalmaram para consolidar suas conquistas.

Racionalismo, Reavivamentismo e Denominacionalismo, 1648-1789

Durante esse período, as idéias calvinistas da Reforma chegaram à América do Norte através dos puritanos. A Inglaterra legou à Europa um racionalismo cuja expressão religiosa era o deísmo. Por outro lado, o pietismo na Europa continental mostrou ser a resposta à fria ortodoxia; sua expressão na Inglaterra foram os movimentos quacre e wesleyano. Embora alguns movimentos tivessem preferido permanecer o máximo possível dentro das igrejas nacionais, outros se separaram e se transformaram em denominações autônomas.

Tempos de Reavivamentos, Missões e Modernismo, 1789-1914

Na primeira parte do século xix, houve um reavivamento do catolicismo. Sua contraparte protestante foi um reavivamento que criou um amplo movimento missionário no estrangeiro e provocou uma reforma social interna nos países europeus. Mais tarde, as forças destrutivas do racionalismo e do evolucionismo levaram a uma “ruptura com a Bíblia” que se manifestou no liberalismo religioso.

A Igreja e a Sociedade em tensão desde 1914

A Igreja em grande parte do mundo enfrenta o problema do Estado secular e totalitário e, em alguns casos, o Estado sob uma forma democrática dividida entre a guerra e o bem-estar social. O liberalismo, uma força de 1875 a 1929, deu lugar à neo-ortodoxia e seus sucessores mais radicais. A reunião pela cooperação em agências não-denominacionais, a fusão orgânica de denominações e a confederação de igrejas estão gerando uma coordenação ecumênica mundial. Os evangélicos que concordam em aspectos teológicos gerais, mas divergem em outros menos importantes estão rapidamente substituindo as igrejas liberais dos ramos tradicionais. Está ocorrendo um grande crescimento da Igreja através da fundação de megaigrejas e da evangelização em nações asiáticas da região da borda do Pacífico, América Latina e África. Muitas denominações estão dando posições de maior destaque às mulheres, seja na ordenação ao ministério ou em missões.

2 comentários:

  1. Vc esta nos dando otimas dicas para compras de livros, isso e bom ja imprimi varias materias ,outra coisa agora e que caso vc pudesse colocar todas as postagens que vc ja fez no seu blog em arquivo zipado para que todos possam baixar ??? vai ai uma boa dica, abracos!!!!! ricardo ferran!!!

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  2. Impressionante. Todavia, essa igreja católica imperial seria a "evolução" da igreja primitiva (apostólica) e antecessora da, então, igreja católica apostólica romana? Parabéns.

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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