Como o calvinismo explica Isaías 5:4?

“Que mais se podia fazer ainda à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? E como, esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas?” (Is 5.4)

Algumas passagens bíblicas são tidas como inexplicáveis à luz do entendimento calvinista. Eu as chamo de “versículos arminianos” ou anticalvinistas. Certamente que vários calvinistas fizeram exegese dessas passagens, com grande êxito, diga-se. Sendo assim, ao considerá-las não pretendo preencher alguma lacuna, nem intenciono oferecer uma análise melhor, apenas expressar meu entendimento delas.

No caso de Isaías 5:4, a primeira coisa a ser feita é descobrir é “problema calvinista”, se é que ela apresenta algum. Considerando o verso isoladamente, ele não oferece dificuldade ao esquema calvinista. Senão vejamos. A depravação total não é negada, pelo contrário, a vinha produziu “uvas bravas”. Não trata da eleição soberana, nem da redenção particular. Se alguma tentativa de levantar versículo como objeção ao calvinismo, deve ser quanto à graça irresistível e a perseverança dos santos. Mas será que temos um problema real aqui?

A graça eficaz significa que nos eleitos a graça de Deus vence a resistência do homem, não por força violenta, mas renovando sua vontade e o inclinando às coisas de Deus. A doutrina da preservação dos santos diz que um regenerado será guardado pelo poder de Deus de modo a ser certamente salvo no final. Para que essas duas doutrinas sejam negadas pela passagem em apreço, a vinha referida na parábola deve ser eleita, ter sido regenerada e perdido a salvação no final. Vejamos se é o caso.

A explicação da parábola diz que “a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do SENHOR; este desejou que exercessem juízo, e eis aí quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor” (Is 5.7). Porém, devemos considerar que “nem todos os de Israel são, de fato, israelitas” (Rm 9.6). Poucos versos antes o Senhor se refere aos “de Israel que forem salvos” (Is 4:2), dizendo que “os restantes de Sião e os que ficarem em Jerusalém serão chamados santos; todos os que estão inscritos em Jerusalém, para a vida” (Is 4.3). Não são todos os de Israel que serão salvos, pois “no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o SENHOR prometeu; e, entre os sobreviventes, aqueles que o SENHOR chamar” (Jl 2.32). Desses que foram inscritos para a vida e chamados pelo Senhor se diz que “o que escapou da casa de Judá e ficou de resto tornará a lançar raízes para baixo e dará fruto por cima” (Is 37.31), o fruto requerido pelo Vinhateiro.

A falibilidade da graça é alegada sob o falso argumento de que Deus fez tudo o que podia ser feito para salvar Israel. “Que mais se podia fazer ainda à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? E como, esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas?” (Is 5.4). O que o Senhor estava dizendo era que no juízo, e é disso que se trata a parábola, Israel não poderia alegar que não produziu justiça por falta de condições adequadas. Ela produziu uvas bravas não por que a terra era ruim, mal preparada, tomada por pragas e vítima de invasões, mas porque era uma árvore má, pois “não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons” (Mt 7.18), por melhor adubada que seja. E Deus tratou Israel com distinguido cuidado. “São israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne” (Rm 9.4–5). De Israel, mais do que qualquer outro povo sobre a terra, era justo esperar “que exercessem juízo, e eis aí quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor” (Is 5.7). Mas afirmar que Deus não tinha poder para fazer mais é desonrar o Onipotente Senhor.

O juízo “tirarei a sua sebe, para que a vinha sirva de pasto; derribarei o seu muro, para que seja pisada” (Is 5.5) não implica perda da salvação, pelo fato já referido de que Israel não foi eleito como nação étnica para a salvação. Portanto, é desnecessário responder à objeção de que a parábola nega a segurança eterna dos salvos. Farei apenas a citação de uma passagem do Novo Testamento que corrobora o que foi dito anteriormente e deixa claro que o abandono da vinha por parte do Senhor não significa que os eleitos e eficazmente chamados perdem a salvação recebida e garantida gratuitamente:

“Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura refere a respeito de Elias, como insta perante Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus profetas, arrasaram os teus altares, e só eu fiquei, e procuram tirar-me a vida. Que lhe disse, porém, a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal. Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça. E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça. Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos” (Rm 11.2–7). 

Soli Deo Goria 

3 comentários:

  1. É preciso separar espiritualmente o Israel pio do Israel ímpio. Digo espiritualmente porque Deus fala é com o Israel visível, instituído perante o mundo, o qual contém ímpios e pios. Vez que os ímpios são numerosos (os da porta e caminho largos), a imagem que fica e ficou de Israel é a de impenitentes empedernidos. Os numerosos ímpios não são eleitos para receberam a graça especial. Mas o pouco remanescente, sim - "Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo" (Rm 9.27, citando Isaías 10.22).

    ResponderExcluir
  2. A Palavra de Deus é explicita ao declarar que Deus trouxe do Egito uma Videira (Salmos 80:8,14,15), composta das 12 tribos de Israel, chamado também de povo de Deus ( Êxodo 6:6,7-Num.23:9,22,23-Deut. 26:18,19-II Sam. 7:23,24-Sal. 135:4). Sendo que Judá (Gen. 49:10,11) foi eleita a tribo da qual o cetro não se arredaria nem o legislador dentre seus pés até que venha Silo(Jesus), o que esclarece Isaías 5:7 no contexto de que: “e os homens de Judá são a planta dileta do SENHOR””. Portanto, a vinha do Senhor eram o povo de Israel como um todo, e que a declaração de Rom. 9:6 de que “nem todos os de Israel são, de fato, israelitas” é pela apostasia, pela rebeldia, pelo abandono da Palavra de Deus ou como é também declarado em Rom. 11:11,12,20: “Bem! Pela incredulidade, foram quebrados”... Portanto, o povo de Israel( as 12 tribos) foram eleitos para uma obra especifica e não para a salvação incondicional, haja visto que Deus declarou para Moisés que: “ Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro”.(Êxodo 32:33). Cabe esclarecer que através de Jesus todos(judeus ou gentios) se tornam “descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa”(Gal. 3:26 a 29). Ou se você preferir eleitos “descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa”. Contudo, aqueles que retrocederem como escreveu Paulo (Heb. 10:38,39 ) e aqueles que ABANDONARAM O RETO CAMINHO e ESCOLHERAM O PREMIO DA INJUSTIÇA conforme está escrito em 2 Pedro 2:20-22 , Judas 11, bem como aqueles justos(é Deus que usa o termo justo) desviar e morrendo, os atos de justiça que tiver praticado não se fará memória(Ezequiel 3:20-18:24,26-33:12,13,18-Salmos 73:27),terão seu nome riscado, como declarou Deus para Moisés.
    Osmar Ferreira-nadanospodemoscontraverdade@bol.com.br

    ResponderExcluir

"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

Sua leitura deste post muito me honrou. Fique à vontade para expressar suas críticas, sugestões, complemetos ou correções. A única exigência é que seja mantido o clima de respeito e cordialidade que caracteriza este blog.