Evangelho de Cristo ou de Paulo?

"Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos, descendente de Davi, segundo o meu evangelho" 2Tm 2:8
Inimigos da fé tem acusado Paulo de distorcer o evangelho de Jesus Cristo, alegando que o cristianismo é uma invenção paulina e que não corresponde aos ensinamentos originais de Jesus Cristo. Por vezes insinua-se que o próprio apóstolo dos gentios tinha consciência desse fato e que ele distinguia seu evangelho daquele pregado pelos outros apóstolos de Cristo.

As passagens citadas como evidência de que Paulo intencionalmente modificou o evangelho de Jesus são as passagens nas quais ele se refere ao "meu evangelho" (Rm 2:16; 16:25; 2Tm 2:8), "nosso evangelho" (2Co 4:3; 1Ts 1:5; 2Ts 2:14) e "evangelho por mim anunciado" (Gl 1:11). Mas será que tais expressões implicam que Paulo anunciava, de forma consciente, um evangelho distinto do entregue por Cristo e pregado pelos demais apóstolos? A resposta é um sonoro não, e isto fica claro examinando as próprias cartas das quais foram tiradas essas declarações.

Paulo apresenta-se aos Romanos como "servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus" (Rm 1:1) e que prega o "evangelho de Deus" (Rm 15:16) e o "evangelho de seu Filho" (Rm 1:9, cf. 15:19; 1Co 9:12; 15:1). Na segunda carta aos Coríntios, imediatamente após dizer "nosso evangelho" (2Co 4:3) ele acentua que se trata "do evangelho da glória de Cristo" (2Co 4:4), o qual também é tanto "o evangelho de Cristo" (2Co 9:13; 10:14) como "o evangelho de Deus" (2Co 11:7). Da mesma forma, quando se dirige aos crentes da Galácia, o apóstolo refere-se ao seu evangelho como sendo o mesmo "evangelho de Cristo" (Gl 1:7). Nesta carta, Paulo usa uma linguagem bastante forte contra os que pregam "outro evangelho" (Gl 1:6), dizendo que o mesmo deve ser anatematizado, mesmo que seja pregado por ele próprio ou "um anjo vindo do céu" (Gl 1:8). Para ele, alguém pregar um outro evangelho é perverter o de Jesus e incorrer em maldição. Certamente ele não pensava isso de si mesmo. À jovem igreja dos tessalonicenses, Paulo recorda que lhes anunciou "o evangelho de Deus" (1Ts 2:2,8-9), ou seja, "o evangelho de Cristo" (1Ts 3:2, cf. 2Ts 1:8). E ao  pastor de Éfeso ele diz que seu evangelho é o próprio "evangelho da glória do Deus bendito" (1Tm 1:11). É evidente que Paulo usa "meu/nosso evangelho" de forma intercambiável com "evangelho de Deus/Cristo".

Se ele não está dizendo que prega um evangelho diferente daquele de Jesus, por que usa essas expressões? O que ele está dizendo aos seus leitores é que ele e seus companheiros foram "aprovados por Deus, a ponto de nos confiar ele o evangelho, assim falamos" (1Ts 2:4), que "do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro" (Cl 1:23), "do qual fui encarregado" (1Tm 1:11). Tendo sido pessoalmente enviado por Cristo "para pregar o evangelho" (1Co 1:17) e tudo fazendo "por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele" (1Co 9:23), podia dizer que se tratava do seu evangelho, sem  significar que se tratava de um evangelho diferente do evangelho de Jesus Cristo.

Portanto, o ataque dos inimigos do evangelho não tem o apoio que eles esperam encontrar nas cartas do apóstolo dos gentios.

Soli Deo Gloria

5 comentários:

  1. Só um dúvida: como conciliar palavras como "Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus." Mateus 5:20 com "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus." Efésios 2:8? Ou: "Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas." Mateus 6:15 com "Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo." Efésios 4:32, por exemplo?

    Se não hou diferença na mensagem pregada pelo Senhor Jesus e pelo apóstolo Paulo, como explicar uma mensagem de um Novo Testamento sendo pregada enquanto vigorava um Antigo Testamento: "Porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador. Porque um testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive?" Hebreus 6: 16 e 17. A existência de dois testamentos vigorando ao mesmo tempo geraria confusão, no mínimo. Logo, os ensinamentos do Senhor Jesus estavam fundamentados na Antiga Aliança, já os ensino do apóstolos estavam fundamentados na Nova Aliança.

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    1. Paulo Cesar,

      Paz seja contigo. Se "os ensinamentos do Senhor Jesus estavam fundamentados na Antiga Aliança" e os "dos apóstolos estavam fundamentados na Nova Aliança". Quer dizer então que a mensagem de Jesus deve ser rejeitada e aceita a dos apóstolos? Isso me cheira a marcionismo.

      Sobre o conciliar Mt 5:20/Ef 2:8 e Mt 6:15/Ef 4:32 primeiro é preciso demonstrar que elas estão brigadas entre si. Pois não estão.

      E sobre haver pregação típica da Nova Aliança na Velha Aliança, sempre houve. Assim como você prega hoje um evangelho do reino que você crê ser futuro.

      Em Cristo,

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  2. Existe uma diferença entre reino dos céus, e reino de Deus, Jesus veio para resgatar os judeus. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
    Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;
    João 1:11-12

    E era a mensagem que João batista pregava.E dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.
    Mateus 3:2

    Por ora nos Evangelhos Jesus se referia somente aos Judeus, e na maioria das vezes a Igreja, é forçado achar que tudo que Jesus fazia tinha somente objetivo alcançar os Judeus, pois pela sua onisciência ele já sabia que os judeus iriam rejeitá-lo e o evangelho do reino de Deus passaria a ser pregado, mas mesmo no tempo que em Jesus falava aos judeus, qualquer um podia ser salvo também, um exemplo é a mulher grega, sirofenícia de nação, que foi até Jesus e foi aceita por ele, mesmo não fazendo parte da nação de Israel

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    1. Pedro, como o Senhor Jesus se referia, na maioria das vezes, à Igreja se, enquanto o Senhor vivia, não havia Igreja, se esta só foi formada depois de ressurreição do Senhor? Outra coisa, o Senhor atendeu a mulher siro-fenícia naquilo que ela pediu: apenas a cura física de sua filha. Pediu, recebeu: nada de salvação! Nada de ser salva! Releia João 1:12. Este é um exemplo de que Jesus só veio para o que era seu, Israel, mas somente depois (depois de quê?), depois de sua morte e ressurreição é que a graça foi estendida a todos os homens, sem distinção!

      Graça e paz!

      P.S.: Sobre a diferença entre Reino de Deus e Reino dos Céus, recomendo a leitura da seguinte matéria: http://www.pregaiboasnovas.blogspot.com.br/2012/07/leandro-quadros-mirou-na-verdade-sera.html

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  3. Paulo, muito embora Jesus tenha vindo para os Judeus, a Bíblia diz que Deus amou o mundo todo. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna
    João 3:16

    Jesus é onisciente, ele já sabia que os judeus iriam rejeitá-lo, logo muitas das coisas do seu ministério era direcionada para a Igreja, a Igreja só foi estabelecida lá em Atos 2, mas as bases para isso foram dadas por Cristo,

    Por exemplo a ceia, é algo que a Igreja faz nos dias de hoje, sobre salvação, Jesus sempre que curava as pessoas, falava : A tua fé te salvou, E ele lhe disse: Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou; vai em paz.
    Lucas 8:48

    Essa mulher nem tem o seu nome mencionado na Bíblia, pois é tipo da Igreja, que não tem nome/nação específica, pois é constituída de todos os tipos de pessoas, de todas as nações, línguas, povos, tribos,

    como Jesus era onisciente, tudo que ele fazia visava alcançar tanto Israel, como deixar ensinamentos para a Igreja, a fim de que tanto judeus como gentios pudessem ser salvos pela fé em único salvador, Jesus Cristo.
    A propósito bom link, eu já tinha lido no seu blog há um tempo.
    Graça e Paz !

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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