As duas naturezas do Salvador

Cristo é verdadeiro Deus. Além disso, ensinamos que o Filho de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, foi, desde a eternidade, predestinado ou pré-ordenado pelo Pai para ser o Salvador do Mundo. E cremos que ele nasceu, não somente quando da Virgem Maria assumiu a carne, nem apenas antes que se lançassem os fundamentos do mundo, mas antes de toda a eternidade e certamente pelo Pai, de um modo inexprimível. Isaías diz: “E da sua linhagem quem dela cogitou?” (cap. 53.8). E Miquéias diz “E cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Miq 5.2). Também São João disse no Evangelho: “No principio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”, etc. (cap. 1.1). Portanto, quanto à sua divindade, o Filho é co-igual e consubstancial com o Pai; verdadeiro Deus (Fil 2.11), não de nome ou por adoção ou por qualquer dignidade, mas em substância e natureza, como disse o apóstolo São João: “Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (I João 5.20). São Paulo também diz: “A quem constituiu herdeiro de todas as cousas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as cousas pela palavra do seu poder” (Heb I.2 ss). E no Evangelho o Senhor mesmo também disse: “Glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (João 17.5). Em outro lugar do Evangelho também está escrito: “Os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque... também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (João 5.18).

As seitas. Abominamos, pois, a doutrina ímpia de Ário e de todos os arianos contra o Filho de Deus, e especialmente as blasfêmias do espanhol, Miguel Serveto, e de todos os servetanos, que Satanás, por meio deles, retirou do inferno, por assim dizer, e vai espalhando por todo o mundo, audaciosa e impiamente.

Cristo é verdadeiro homem, tendo verdadeira carne. Cremos também e ensinamos que o eterno Filho do eterno Deus se fez Filho do homem, da semente de Abraão e David, não com concurso carnal do homem, como diz Ébion, mas concebido do Espírito Santo com toda a pureza e nascido da sempre virgem Maria, como a história evangélica cuidadosamente nos explica (Mat, cap.1). E São Paulo diz: “Ele não assumiu a natureza de anjos, mas a da semente de Abraão”. Também o apóstolo São João diz que todo aquele que não crê que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus. Portanto, a carne de Cristo não era nem imaginária nem trazido do céu, como erradamente sonhavam Valentino e Márcion.

Alma racional em Cristo. Além disso, nosso Senhor Jesus Cristo não possuiu uma alma desprovida de percepção e de razão, como pensava Apolinário, nem carne sem alma, como ensinava Eudômio, mas alma com sua razão e carne com seus sentidos, pelos quais por ocasião de sua paixão ele suportou dores reais, como ele mesmo testifica quando diz: “A minha alma está profundamente triste até à morte” (Mat 26.38); “Agora está angustiada a minha alma” (João 12.27).

Duas naturezas em Cristo. Reconhecemos, portanto, duas naturezas ou substâncias, a divina e a humana, num e no mesmo Senhor nosso Jesus Cristo (Heb, cap. 2). E dizemos que elas estão ligadas e unidas uma com a outra de tal modo que não foram absorvidas, ou confundidas, ou misturadas, mas unidas ou integradas numa pessoa - com as propriedades das naturezas intactas e permanentes.

2 comentários:

  1. Olá,

    Sei que isso que vou perguntar foge um pouco do escopo deste texto, mas, na afirmação sobre a humanidade de Cristo, é dito que "[Ele foi] nascido da sempre virgem Maria", alguém poderia falar mais a respeito dessa ideia de "virgindade perpétua"?

    Obrigado.

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  2. Com relação ao evento da crucificação isso dá um nó na cabeça de muitos, pois o q se passa na pessoa de Jesus Cristo em plenitude divina e humana. O nascimento tb dá estes tps de problemas.

    .::::Bryan::::.

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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