Os blogs e a apologética

O que segue é uma revisão do que comentei na série de artigos intitulada "Refletindo sobre um blog cristão". e publicada pela Nani. Acrescento pouca coisa, reviso alguma e publico para análise, complementação e correção dos leitores deste blog.

Apologética é basicamente uma marca de todos os blogs. Em maior ou menor grau, defendemos alguma coisa. Mas alguns são assumidamente apologéticos, e eu tenho uma crítica ao modo de fazer apologia em geral, que acaba sendo refletida nos blogs: se ataca mais os erros que se expõe a verdade. Se diz que tal caminho é errado, que não se deve andar por ele, mas pouco se aponta o caminho correto. Creio que trabalhar desta forma é deixar a obra inacabada. Apologética é, primariamente defesa da verdade, embora para esse fim seja necessário atacar a mentira.

Se você treinar pessoas em reconhecer as notas verdadeiras, e avisá-la que existem as falsas, elas identificarão uma assim que a virem. Se a sã doutrina for pregada, a heresia fica descoberta. Porém, falamos mais contra profetadas do que explicamos o dom de profecia. Um outro aspecto ruim na apologética se dirige a um único alvo, demonstra interesse maior em combater algo ou alguém e não expor a verdade. Não é raro encontrarmos sites e blogs que expõe as heresias de movimentos sectários mas não contém nenhuma declaração de fé.

Outra coisa difícil é saber dosar é o humor. Os blogs mais visitados da blogsfera são os de humor. No meio evangélico também. Por isso, a tentação é grande de se fazer "humortadelas" evangélicas. Alguns conseguem o equilíbrio, usam o "humor apologético" com competência, porém muitos conseguem apenas ser engraçados. Além de errar na dose, às vezes erramos no tipo, fazendo caricaturas daquilo que é combatido . Aqui no Cinco Solas tenho intenção de ser mais bem humorado, fugir da pecha de calvinista carrancudo, até tenho um marcador "Humor". Mas acho que é o menos utilizado, pois algumas tentativas que fiz pareceram mais ridicularização que arte de fazer rir. Ou seja, embora goste, não me saio bem com anedotas.

Minha crítica não é contra a denúncias em si, que havendo motivos quanto mais tiver e mais veemente for, melhor. Também não é tanto ao uso do humor como estilo. Mas à falta de uma direção àqueles que avisados do erro perguntam, "então, para onde iremos". E sinto que isto falta à apologética evangélica brasileira em geral e não é remediada pelos blogs apologéticos em particular.

Creio que devemos mostrar a verdade, conforme encontrada na Bíblia e expressa nos documentos da igreja antes de apontarmos a mentira. Do contrário, parece que estamos esperando que outros enganem, ou sejam enganados, para então apontarmos o erro, além do que falhamos em mostrar o caminho de volta para a sã doutrina.

Soli Deo Gloria

19 comentários:

  1. Clóvis,

    Duas implicações do tema:

    1)A busca incessante pelo erro, uma caça às bruxas gospel que leva muitos a acreditar que entre os evangélicos só existem falsas igrejas, falsas doutrinas e falsos cristãos; induzindo-os ao desprezo à igreja e sua obra notadamente estabelecida por Deus para o Seu povo. Vivemos um crescimento do individualismo cristão, onde crentes consideram normal e até saudável não participar do Corpo Local, para assim estarem imunes ao engano. E a Bíblia nos informa exatamente o contrário: Deus se manifestará através da Igreja, sua obra se realizará através dela, aí incluídas a salvação e a santificação do eleito no Corpo Local.

    2)Não ver erro algum, considerando que o amor (os sentimentos) são suficientes para uma pessoa se considerar cristã, a despeito da doutrina que ela professa. E a máxima é de que qualquer coisa vale, desde que seja realizada com sinceridade e amor (o falso amor, porque o amor verdadeiro exorta, repreende, e, até mesmo, entrega o corpo do irmão para satanás a fim de que o espírito seja salvo).

    Nos dois casos, o erro, o desvio é o fundamento, não o Evangelho; seja na denúncia absoluta, seja na negligência absoluta. Essas são duas distorções da igreja, pois como você bem colocou, apologética é, sobretudo, a defesa da verdade: a revelação especial de Deus, a Escritura Sagrada.

    O método que muitos utilizam é mostrar o falso e, quase sempre, não revelar o verdadeiro. Muitos dirão que ao expor o engano, a verdade ficará evidente. Será?... O contrário ocorrerá certamente: revelando-se a verdade, a mentira ficará exposta, desnudada.

    O pior é que a piada perpetrada pelos blogs "apologéticos" se tornou a mesma, repetitiva: bater nos neopentecostais, na teologia da prosperidade. Enquanto isso, no meio deles, são permitidas todas as espécies de heresias, tais como o liberalismo teológico, o relativismo, a T.Relacional, a T.Libertação, o marxismo "cristão", etc. Estão de prontidão para "descer o bambu" no movimento da fé e na T.P., mas quanto aos desvios dos seus pares são complacentes, contemporizadores, permissivos e indulgentes. O que me leva a crer em uma falsa apologética, desprovida do espírito cristão de denunciar tudo o que vai de encontro aos princípios bíblicos, e não somente um ou outro ponto, o que for mais conveniente para a "luta". Acabo por concluir que esse método ou estratagema tem o objetivo de criar uma cortina de fumaça para "esconder" os desvios que desejam propagar sutil, sorrateiramente, entre o rebanho de Cristo.

    O pior é ver páginas conservadoras, reformadas, calvinistas divulgarem esses "apologistas"... como se pudesse relacionar-se apenas com os mínimos acertos cometidos, e não se relacionar com a totalidade (quase maciça) dos erros impetrados.

    Como a Escritura diz, cada um de nós dará conta do próprio erro.

    Abraços.

    Cristo o abençoe!

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  2. Clóvis,

    Eu creio que Deus nos deixou um mundo com o seguinte formato:

    90% são influenciados em maior e menor grau; 10% influenciam em maior ou menor grau também. Isso se a diferença entre os dois não for maior ainda...

    Porque "ninguém" leva a vida cristã à sério? Porque "ninguém" vê a apologética como uma guerra espiritual, e não como uma oportunidade de tirar sarro? Porque não se leva as questões espirituais, e sobre Deus, à sério, pelo menos nem metade do que se deveria?

    Porque os próprios que estão nos 10% ensinam ou passam um ar de que a apologética não é algo tão sério que faça a eternidade de alguém estar em jogo... Não! Essa é a visão bíblica, apostólica, profética, e de Jesus!
    Mas a apologética parece mais, nas mãos daqueles, como uma matéria escolar. Ou um assunto "entre outros" da vida humana... Geografia, Física, Filmes, Política...
    "Oh, não me diga que não sabia que o tomate é uma fruta? hahahaha".

    Não há paixão por Deus! Não há ZELO em se defender a verdade! Não há cuidado em pronuncia-la! Não há uma perpectiva eterna com relação à isso! Não se tem os olhos em lágrimas ao ver quantas pessoas estão caminhando rumo à destruição!

    Certa vez ví, em um blog "apologético" famoso, um post sobre o adultério de David: Logo de cara, o blogueiro colocou a foto de uma mulher semi-nua e sensual, uma "garota da laje"! Isso é apologia, ou mundanismo?

    O que se busca é *a glória dos homens!; *é "fazer rir" (consequencia da primeira); *são visitas (idem); *fama (idem); *é ridicularizar os outros (idem); e a apologética, e (pior) a Bíblia é tida apenas como "algo" que eu sei e que me faz superior à você, "seu manézão".

    Logicamente, há exceções. Esse blog é uma delas. E creio que percebeu, assim como eu, que os verdadeiros cristãos que se preocupam com o que é importante de verdade estão sendo incomodados com isso, e estão saindo dessa torre de Babel para procurar alimento sólido de verdade.

    Chega de infantilidade! Temos que amadurecer espiritualmente!


    Deus o abençoe e desculpe o desabafo...

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  3. Caro Clóvis,

    Que texto inteligente e com discernimento espiritual! Tenho também reservas aos blogs denominados apologéticos [com e/ou sem humor]. Creio que Cristo e seus apostolos se esmeraram em explicar as Escrituras do que qualquer outra coisa. Penso que apontar o erro é útil quando acompanhado do ensino. Entretanto, a melhor vacina contra o erro é simplesmente a explicação fiel das Escrituras.

    Quero indicar um texto do nosso blog: http://olharcalvinista.blogspot.com/2010/03/os-arminianos-sao-meus-irmaos-em-cristo.html [Bem, muitos calvinistas e reformados certamente preferem nesse arigo criticar-me do que explicar as Escrituras para um arminiano de forma amorosa e enxergá-lo como um irmão em Cristo. Creio que precisamos rever um pouco o que é realmente uma ortodoxia saudável].

    Tenho dito,

    Marcos Sampaio

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  4. Clóvis,

    Bater é mais fácil que propor. Acusar dá mais ibope do que defender, ainda mais quando se bate no erro grotesco. Sem falar que, batendo apenas nos erros mais gritantes, faz-se média com diferentes grupos, o que também ajuda na audiência.

    Agora, ensinar o caminho correto, opor-se a heresias mais sutis e que demandam um trabalho teológico maior, explicar porque elas são um erro e qual a visão certa...ah...isso é difícil. Exige o dom do ensino. Já a galhofa, essa não exige dom espiritual algum.

    Ótimo texto, como (quase) sempre (acha que esqueci o credobatismo, rs).

    Graça e paz do Senhor,

    Helder Nozima
    Barro nas mãos do Oleiro

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  5. Galhofa: Escárnio, troça. / Festa ruidosa e alegre. / fazer galhofa: escarnecer, zombar.

    Ótima adição pro meu vocabulário! Obrigado Helder!

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  6. Neto,

    É sempre bom contribuir para aumentar o conhecimento dos irmãos, ainda que só no português, rs.

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  7. Caríssimos,
    Eu cheguei a acompanhar alguns destes blogs que se dizem apologéticos. Falo categoricamente: se o Evangelho dependesse dessas defesas ele há muito não passaria de um livro de contos! Os blogs que são humorísticos tem um humor pior que o dos programas de TV. E tanto estes quanto os outros não tem mais que uma ou duas heresias preferidas... É um espetáculo deprimente.
    Mas vejam, um blog não precisa ter este objetivo. O do meu é simplesmente pensar e expor, o melhor que posso, o meu pensamento. E isto, claro, em busca da Verdade. Alguns textos podem, enfim, ser apologéticos, mas não declaro fazer algo que não me proponho inicialmente fazer.
    Digam eles que seu objetivo é brincar ou criticar ou qualquer coisa que realmente façam... Mas não digam que fazem apologética, pois não fazem!
    No Senhor,
    Roberto

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  8. “Farei uma apologia da apologia”

    Apologia no dicionário é: s.f. Discurso ou escrito que defende, justifica, elogia uma pessoa ou coisa; Elogio, louvor, glorificação.

    Focar o erro é tudo menos o que significa apologia. Notem que o conceito não traz em si a idéia da reatividade, mas da pro-atividade. Para mim é aí que mora o erro, não me recordo de Jesus falando mal de alguém (ou da atitude de alguém) para demonstrar o contrário. Seus discursos eram sempre sobre o Reino. Ele dizia “o Reino é semelhante...”.

    Claro havia acusações, mais eram isso, acusações, denúncias e não a tese de que a contrariação do errado induziria ao certo.

    Creio que aqueles que expõem “toda a Bíblia e a Bíblia toda” é que fazem a verdadeira apologia, não a teologia, nem a cristandade ou a igreja, mas a apologia a Redenção Revelada.

    Esli Soares

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  9. Caros,
    Conversei com o Clóvis há pouco e ele me diz que está com dificuldades para postar comentários por conta de sua conexão. Assim, ele deve voltar à carga em breve, assim que resolver o problema!
    NEle,
    Roberto

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  10. Jorge,

    O irmão pontuou muito bem os dois extremos e os danos que causam à Igreja de Cristo. Devemos evitá-los sempre.

    O primeiro erro é cometido quando se reduz a apologética a apontar o erro, pois como eu disse e o irmão complementou, desmascarar a mentira não prova a verdade, pelo simples fato de que a verdade é única, mas a mentira é multifacetada. Tirar a máscara de uma não garante que a pessoa não caia e outra. Provar alguém a alguém que Joseph Smith foi um falso profeta não garante que ele não se tornará testemunha-de-jeová. Não se pode esperar que entre uma mentira e outra a pessoa tropece na verdade.

    Não sei se há objetivos escusos na apologética mal feita, mas com certeza coa-se o mosquito e engole-se camelos.

    Que o Senhor se apiede de nós.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  11. Neto,

    Sou menos "esquentado" que você, mas também me indigno quando ao invés de se confrontar mentira e verdade, apenas se ri da mentira.

    E dou graças a Deus que este blog não é o único que leva a sério a exposição da verdade. Mas tenho lá minhas limitações e corro meus riscos, então, olho aberto, e qualquer coisa, grite.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  12. Marcos,

    Creio que o evangelho é o poder de Deus, e que nada é mais eficaz contra o erro que uma Bíblia aberta e um pregador fervoroso.

    Quanto ao seu artigo, assino embaixo. Sirvo a Deus numa igreja arminiana, onde fui trazido à fé e onde tenho sido cuidado espiritualmente. E para onde olho, vejo crentes melhores que eu.

    Em Cristo,

    Clóvis

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  13. Helder,

    Você provou que não tem preguiça quando é para defender a verdade. A looooga série de resposta ao Leandro Quadros demonstrou isso.

    Para que não se ensoberbecesse, o Senhor permitiu que fosse pedobatista...

    Em Cristo,

    Clóvis

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  14. Esli,

    Não sei até que ponto a nossa palavra "apologia" deriva do termo grego "απολογια", mas se for mera transliteração, sem perda de significa, creio que 1Pe 3:15 dá bem o sentido que ela deve ter:

    "Antes santificai a Cristo, como SENHOR, em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós"

    A apologia seria, então, apresentar uma resposta aos que perguntarem sobre nossa fé. O conteúdo da apologia seria, então, a razão da nossa esperança. E a forma que isso deve ser feita é com mansidão e reverência.

    Em Filipenses, Paulo liga a apologia a "confirmação do evangelho" (Fp 1:7).

    Em Cristo,

    Clóvis

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  15. Roberto,

    Obrigado por dar o aviso. Na próxima semana, especialmente, minhas respostas não poderão ser imediatas. É a combinação internet móvel ruinzinha com trabalho externo.

    Clóvis

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  16. Graça e paz Clóvis.
    Queridos irmãos gostaria de falar sobre a falta de Maturidade Cristã e Profissionalismo que temos vivido nestes últimos dias, tem levado a depreciação do verdadeiro Evangelho, nunca se fez tanta propaganda enganosa como nos dias atuais, não são só riqueza e fama que estão pregando, mas a principal transformação e as qualificações exigida para entrada no reino de Deus,tem sido desprezada por parte dos pregadores, até parece que assas transformações só se falam para novos convertidos, o viver uma vida em santidade ficou para Igreja primitiva dos primeiros séculos, a distinguir o santo do profano ficou para os santarrão, o temor tem se diluido no esquecimento por falta de sabedoria.
    As vezes fico me perguntando, com tantos acontecimentos que se tem norteado o mundo, cuja a recomendação Bíblica é alegrai porque a vossa redenção esta próxima, que fico preocupado em que se Jesus Cristo vier buscar sua Igreja, que muitos se levantarão do sepulcro, mas muito pouco serão transformado, por ver o crescimento deste novo evangelho que não exige transformação de vida, nem leva ao céu, pois estamos diante de pessoas avarentas que tem amado este presente século o qual se findarão com o mesmo.
    Por tanto nos atemos ao que o Apóstolo Paulo nos diz: (Romanos 12:1) - ROGO-VOS, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
    (12:2) - E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.
    (12:3) - Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.
    Pr. Rui
    Até aqui me ajudou o Senhor
    pr.rui._@hotmail.com

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  18. Clóvis,

    Primeiro, "Abnegado". Depois, "Obstinado". Agora, "Esquentado"?

    Acho que estou mais pra Lutero do que pra Calvino... rs

    Deus abençoe...

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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