A santificação é uma característica fundamental da igreja, “sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12.14). Contudo, nem sempre é bem compreendida e muitas vezes negligenciada. Muitas vezes é reduzida ao aspecto exterior, como se pudesse ser forçada de fora para dentro, através de regras que proíbem certos alimentos e prescrevem em detalhes o modo de se vestir. Mas isso produz mais sepulcros caiados que santos.
Outra confusão comum é não distinguir os conceitos de justificação e santificação. A igreja romana é culpada disso e essa confusão estava no centro da controvérsia nos dias da Reforma. A justificação é um ato exclusivo de Deus pelo qual Ele declara que aquele que crê em Cristo é justo diante dele. A justificação é objetiva. A santificação, por sua vez, é uma obra que Deus realiza no crente, transformando-o contínua e progressivamente à imagem de Jesus Cristo. A santificação é, pois, subjetiva. A justificação marca o início do processo de santificação, o qual somente será concluída ao final da jornada cristã na terra.
Biblicamente, santificação significa separação e consagração de pessoas ou coisas para um propósito definido. No caso do povo de Deus, santificação é a separação do mundo para consagração ao serviço de Deus. “Ser-me-eis santos, porque eu, o SENHOR, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus” (Levítico 20.26). Porque Deus é santo, isto é, infinitamente separado e exaltado de Sua criação, o caráter divino requer santidade daqueles que pertencem a Ele. “Pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pedro 1.15–16)
Dissemos que a justificação é um ato exclusivo de Deus, para diferenciá-la da santificação, que embora seja uma obra divina, é realizada em cooperação com o homem. “Portanto, santificai-vos e sede santos, pois eu sou o SENHOR, vosso Deus. Guardai os meus estatutos e cumpri-os. Eu sou o SENHOR, que vos santifico” (Levítico 20.7–8). Deus assegura a santificação final, mas o crente é responsável por buscar a santidade, “advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; para isso é que eu também me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim” (Colossenses 1.28–29).
A citação bíblica em epígrafe afirma que Cristo santifica e purifica a sua igreja, “para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Efésios 5.27), enfatizando o aspecto divino da santificação. “Sendo este mesmo o salvador do corpo” (Efésios 5:23), Ele santifica a igreja livrando-a do pecado. Na justificação, salva da culpa do pecado, na santificação, do domínio do pecado e na glorificação final, da presença do pecado. Dentre os meios que o Senhor usa para santificar a igreja, está a Palavra de Deus, “tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra” (Efésios 5.26). Em Sua oração sacerdotal pela igreja Ele pedia ao Pai: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (João 17.17).
Mas do lado humano da santificação também há o que ser feito para que haja crescimento em santidade. Começa com uma aceitação do senhorio de Jesus Cristo, “a igreja está sujeita a Cristo” (Efésios 5:24). Isso leva, por consequência, à obediência dos mandamentos: “Guardai os meus estatutos e cumpri-os. Eu sou o SENHOR, que vos santifico” (Levítico 20.8). E quando falhar na observância dos mandamentos divinos, confessar e pedir perdão a Deus, pois “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1João 1.9).
Na santificação, vemos expressas tanto a soberania de Deus como a responsabilidade do homem. Deus é soberano para santificar e é Ele quem, finalmente, produz santidade no crente. Porém este é responsável diante Dele pela obediência ao comando “Sede santos, porque eu sou santo” (1Pedro 1.16). Sendo Deus três vezes santo, justificada está a declaração inicial de que sem santidade, ninguém verá o Senhor.
Soli Deo Gloria
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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott
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