A presença divina na pregação

A crença resoluta de Calvino na inspiração bíblica o levou a insistir que quando a Palavra é pregada, o próprio Deus está, de fato, presente. Ele acreditava que através da exposição da Palavra escrita de Deus, acontece uma manifestação única da sua presença em poder sobrenatural. “Onde quer que seja pregado o evangelho,” declarou Calvino, “é como se o próprio Deus viesse para o meio de nós”. Ele acrescentou:
É certo que se vamos à igreja, não ouviremos apenas um homem mortal falando, mas sentiremos que Deus (por meio de seu poder secreto) está falando à nossa alma; sentiremos que Ele é o professor. Ele nos toca de tal forma, que a voz humana entra em nós e nos favorece de modo que somos revigorados e alimentados por ela. Deus nos chama para si como se estivesse falando-nos por sua própria boca e pudéssemos vê-lo ali, em pessoa.

O Espírito Santo, disse Calvino, está trabalhando ativamente na pregação da Palavra, e este poderoso ministério do Espírito era indispensável para o ministério expositivo de Calvino. Ele afirmava que durante a proclamação pública, “quando o pregador realiza sua incumbência com fidelidade, falando apenas o que Deus coloca em sua boca, o poder do Espírito Santo, o qual o pregador possui dentro de si, une-se à sua voz externa”. De fato, em toda pregação, ele afirmava, deve ser “desempenhada, pelo Espírito Santo, uma obra interior bem-sucedida no momento em que o próprio Espírito emite seu poder sobre os ouvintes, de forma que eles abracem, pela fé, o que está sendo dito”. Calvino acreditava que as pessoas não poderiam ouvir a Deus se o seu Espírito não estivesse trabalhando. Esta verdade o levou a dizer:
Que os pastores enfrentem todas as coisas sem medo, por meio da Palavra de Deus, da qual foram constituídos administradores. Que eles reúnam todo o poder, toda a glória e excelência do mundo a fim de conferir a primazia à divina majestade desta Palavra. Que, por meio dela, comandem a todos, desde a pessoa mais notável até a mais simples. Que edifiquem o corpo de Cristo. Que devastem o reino de Satanás. Que apascentem as ovelhas, matem os lobos, instruam e exortem os rebeldes. Que juntem e separem, que clamem com veemência, se for necessário, mas que façam todas as coisas de acordo com a Palavra de Deus.

Por outro lado, Calvino observou que qualquer ortodoxia por parte do pregador atrai o juízo de Deus. O poder do Espírito, ele disse, “é apagado logo que os doutores em teologia começam a tocar trombetas diante de si ... para exibir sua eloqüência”. Em outras palavras, o Espírito Santo age nos ouvintes por meio de um pregador, só até o ponto em que a Palavra é ensinada com exatidão e clareza.

Não é de se admirar que esta crença na poderosa presença de Deus na pregação tenha influenciado a opinião de Calvino sobre o púlpito de forma tão profunda. Ele escreveu: “A missão de ensinar é confiada aos pastores com nenhum outro propósito senão o de que Deus seja ouvido através da pregação”. Para Calvino, um ministério de pregação capaz de transformar vidas requeria a presença divina em poder.

Steven L. Lawson
In: A arte expositiva de João Calvino

SEJA O PRIMEIRO A

Postar um comentário

"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

Sua leitura deste post muito me honrou. Fique à vontade para expressar suas críticas, sugestões, complemetos ou correções. A única exigência é que seja mantido o clima de respeito e cordialidade que caracteriza este blog.