O cessacionismo pode ser provado biblicamente? - Uma resposta a Peter Master, Parte 2

2. O propósito temporário do dom de línguas

A “segunda prova de que o cessacionismo pode ser provado (sic) a partir das Escrituras”, apresentada por Peter Master, é “que o falar em línguas foi dado por Deus especificamente como um sinal para os Judeus, indicando a eles que um novo tempo do Messias havia chegado”. Segundo o autor, “as línguas não eram para benefício dos judeus que tinham crido”, tampouco “foram intencionadas para os gentios”. Eram uma “promessa e advertência para judeus incrédulos”. Em apoio à tese, duas passagens são utilizadas: “Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor. De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis” (1Co 14:21-22) e Is 28:11, de onde Paulo tirou a citação.

A sustentação desse argumento depende de dois fatos: que esse seja o único propósito do dom de línguas e que ele tenha se cumprido plenamente.

a) Admitamos por um instante que o único propósito do dom de línguas seja servir de sinal para judeus que resistem a crer no evangelho. A questão é: depois da morte dos apóstolos continuou existindo judeus que não criam em Cristo? Certamente que sim, aliás, nos dias de hoje a maioria dos judeus de Israel não creem em Jesus como o Messias. Por que eles não precisam mais da promessa e advertência representada pelo dom de línguas?

b) Mas o fato bíblico é que o dom de línguas não tinha como único propósito servir de sinal para judeus. Mostra isso o comissionamento da igreja para pregar o evangelho a todas as nações, com acompanhamento de sinais, entre eles o dom de falar em línguas:

“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado. Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas...” (Mc 16.15–17)

A ordem era pregar o evangelho a toda a criatura de todo o mundo e línguas foi um dos sinais prometidos. Logo, limitar seu propósito a judeus incrédulos não se ajusta ao texto acima. Além disso, a Bíblia fala de outros propósitos do dom de línguas, os quais não eram temporários.

No Novo Testamento o dom de línguas era usado para glorificar a Deus. Assim, quando os discípulos falaram em línguas no dia de Pentecostes, os ouvintes entenderam perceberam que estavam falando das grandezas de Deus:

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.” (At 2:4)

“Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?” (At 2.11)

O mesmo ocorria na igreja de Corinto, onde o dom de línguas era usado para se dirigir a Deus com louvores:

“Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios.” (1Co 14.2)

“Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com a mente; cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente.” (1Co 14.15)

Outro propósito do dom de línguas era a edificação dos crentes, preferencialmente de forma coletiva, mas de forma concedida, individualmente. Para que essa edificação seja efetiva, há claras orientações de como o dom de línguas deve ser exercido, bem como o de profecias:

“Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua, e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação. No caso de alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, e isto sucessivamente, e haja quem interprete.” (1Co 14.26–27).

O dom de línguas é listado com as atividades que dever fazer parte do culto visando a edificação do Corpo de Cristo. Mesmo quando não houvesse intérprete, o que frustraria o propósito de edificação da igreja, o dom poderia ser exercido de forma reservada para edificação individual:

“O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja.” (1Co 14.4).

Concluímos que o dom de línguas objetivava mais que servir de sinal para judeus descrentes. Ele era usado devocionalmente para adoração a Deus e edificação pessoal e, mediante interpretação, tinha também o propósito de edificar a igreja. Portanto, a segunda tentativa de provar o cessacionismo pelas Escrituras falha pelo testemunho da própria Escritura.

Soli Deo Gloria

Continua

Leia a Primeira Parte: Nenhum dom carismático ocorreu depois da era dos apóstolos

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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