A eleição é uma fonte de piedade

É uma caricatura concluir  que a eleição leva a uma falta de preocupação com a busca da santidade. Ao contrário, é um impulso importante para tal. Muitas das passagens onde a eleição é mais claramente explicada leva o escritor bíblico a adorar, como um andarilho ao chegar ao cume do qual a vista torna-se irresistível em beleza.Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! (...) Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!(Romanos 11.33,36).
Paulo trata da eleição em Efésios 1 após louvar a Deus, como uma forma de especificar as bênçãos as quais Ele nos tem concedido nos lugares celestiais. Jesus ensina como uma forma de transferir os seus discípulos a partir de uma orientação centrada no ser humano para uma centrada em Cristo (Jo 15:16). A eleição ajuda a elevar os nossos olhos de nós mesmos para Deus. Como não há uma dádiva que podemos oferecer a Deus pelo Seu favor, tudo o que nos resta é admirar , o louvor e a vontade de compartilhar com outras pessoas os dons que Ele nos deu.

A certeza de que nossa salvação repousa inteiramente na misericórdia de Deus nos faz cheios de ação de graças. John Wesley disse que ele não podia aceitar essa doutrina porque prejudicaria a principal motivação para a santidade, que ele entendia ser o medo de punição e a esperança de recompensa (Works, 7:736-84). "Qual é o antídoto apropriado ao metodismo, a doutrina do coração santificado?", ele pergunta. "O calvinismo: todos os dispositivos de Satanás, para estes 50 anos, ter feito muito menos para parar esta obra de Deus, do que essa única doutrina. Ela ataca a raiz da salvação do pecado, para a glória anterior, colocando o assunto em questão diferente. [...] Seja diligente para evita-los, e para guardar essas mentes cheias de ternura contra o veneno da predestinação" (Works, 8:336). É difícil reconciliar a caricatura de Wesley com a preocupação óbvia de piedade entre os Puritanos, ou seus herdeiros entre os contemporâneos de Wesley, tais como Augustus Toplady, John Newton, a condessa de Huntington e muitos outros.

Mais importante que as avaliações históricas é o fato de que a eleição é tratada como um apoio vital para a santidade nas Escrituras. Paulo nos lembra: Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. (Romanos 8.15). Como poderia o conhecimento de que Deus "nos predestinou para a adoção", como filhos (Efésios 1:5) levar a outra coisa senão a um desejo de abraçar todos os tesouros da casa de Deus? Quando nos damos conta de que somos parte da raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1Pedro 2.9), isso muda a nossa forma de pensar, sentir e agir no mundo.

Por que devemos andar em obras de amor para com o nosso próximo? Porque Deus de antemão preparou para que andássemos nelas (Efésios 2.10). Nós não fomos escolhidos por boas obras, mas para as boas obras. Somos quem predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho (Romanos 8.29). Deus nos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade (2Tessalonicenses 2.13). Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade (Colossenses 3.12).

Não há, portanto, nada na doutrina em si que iria levar à complacência, orgulho ou indolência na vida cristã.

Michael Horton
In: A favor do calvinismo

8 comentários:

  1. Clóvis a questão do pecar e do não pecar estará sempre nos norteando, mas nunca nos atormentando.
    O salvo reconhece a sua natureza pecadora e a sua capacidade de pecar e não pecar. O salvo se santifica pelo poder de Deus e como escravo da justiça pode ser vez ou outra, objeto da misericórdia de DEUS.
    A questão é o prazer no pecado. Tal motivação revela ser o homem, escravo da carne e não foi para isto que Cristo nos resgatou. Eu entendo que a complacência e indolência existem quando a pessoa é destituída deste entendimento.
    O eleito quando alcançado pela graça, tem revelado a sua eleição e agora se mantém salvo da contaminação do pecado pelo poder de Deus.
    Na justificação o eleito foi salvo da condenação do pecado. Na glorificação o eleito será salvo da presença do pecado.
    Eu entendo que santificação motivada por medo de punição não é a motivação correta. Santificação é um processo gerado em nós para nos tornarmos a imagem e semelhança de Jesus, portanto não é consequência do medo do inferno, mas a preparação para entrada no céu, ou o lugar onde Jesus nos prepara morada.

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  2. Ótimas observações. Especialmente o último parágrafo. Foi um muçulmano que disse, mas nem por isso menos verdadeiro: "se eu me aproximar de Ti por medo do inferno, lança-me no inferno".

    Em Cristo,

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  3. Desculpem-me pela minha observação sobre esta frase, tão bonita, que a primeira vista parece verdadeira, mas eu penso que não, me corrijam se estiver errado.
    O Senhor Jesus disse em Mateus 1:28 "vinde a mim,todos que estão cansados e sobrecarregados,e eu lhes darei descanso.", eu creio que o medo do inverno nos deixa sobrecarregados, e a promessa do céu é o nosso descanso, considerando claro, o céu, como a presença de Deus.
    O que não podemos é nos aproximar-mos de Jesus e continuarmos com medo do inverno.
    Que a nossa certeza seja sempre N'Ele,
    O amado de nossas almas.

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  4. Rui
    Agora eu entendi o que você falou acima. Onde se lê inverno, na realidade é inferno.
    Quando Jesus faz o chamado do evangelho, realmente é para todos, mas não significa a cada um dos homens que existem e sim a cada homem que ouvir o chamado. Por isto ele afirma que muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos. O chamado é geral, mas eficiente apenas aos eleitos. E mesmo no contexto se refere apenas aos que estão sobrecarregados e cansados.Portanto apenas os eleitos podem se submeter ao jugo de Jesus, por obra do Espírito Santo. Quanto ao medo do inferno é uma realidade que assombra apenas o não eleito, pois em seu inconsciente existe o abismo da culpa pelo legado de Adão. O eleito, quando regenerado, recebe o perdão dos seus pecados e quem é perdoado da condenação do inferno, não tem mais dívida com Deus e a ira de Deus já não permanece sobre ele. Portanto a questão do inferno, permanece apenas, em uma teologia que não alcançou pela graça, a salvação da sua alma do inferno.

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  5. Desculpem-me leia inFerno.
    o que quero dizer realmente, é que o eleito (aquele que iluminado pelo Espírito Santo), mesmo que aproxime do Senhor, a principio, "pelo medo do inferno", mesmo que descubra, posteriormente, que a motivação inicial tenha sido "pelo medo do inferno", neste segundo momento ele saberá que a motivação verdadeira é estar na presença do Senhor Jesus.
    creio também que o medo verdadeiro do inferno estará somente no eleito. O homen natural ele não tem consciência do inferno. O entendimento verdadeiro se da pelo Espírito Santo de Deus.
    N'Ele, na tua luz eu vejo a luz

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    1. Muito bem colocado Rui...não tem consciência mesmo!!!Só o eleito pode ter o pensamento de Cristo e entrar no campo da teologia com entendimento do porvir. O não eleito até intelectualmente consegue conjecturar, mas espiritualmente não pode entender das coisas do Espírito, pois lhe parecem loucura e estas são reveladas espiritualmente aos que receberam o Espírito do Senhor.

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    2. Amém, irmão Carlos
      obrigado pela atenção, que o nosso Deus que é mais que Podeŕoso, possa nos dirigir sempre com o seu Santo Espírito.
      N'Ele é lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho.

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  6. A VERDADE É QUE SE DEUS NÃO TIVESSE CRIADO O HOMEM COM LIVRE ARBÍTRIO OU PODER DE ESCOLHA, ADÃO NÃO PODE SER RESPONSABILIZADO POR TER ACEITADO COMER DO FRUTO E PELA ENTRADA DO PECADO( Rom. 5:12), POIS TRATARIA DE FALSO TESTEMUNHO, UMA VEZ QUE, ELE NÃO TEVE LIBERDADE(LIVRE ARBÍTRIO OU PODER DE ESCOLHA) PARA DECIDI ENTRE FICAR COM A PALAVRA DE DEUS E EVA. E, SE ELE NÃO TEVE LIVRE ARBÍTRIO OU PODER DE ESCOLHA, OS ATOS DE CRISTO FOI UMA FARSA, UMA VEZ QUE ELE SOFREU, MORREU E RESSUSCITOU PARA QUEM JÁ ESTAVAM SELECIONADOS PARA SALVAÇÃO. E, PARA OS DEMAIS DE NADA ADIANTOU O SOFRIMENTO, MORTE E RESSURREIÇÃO DE JESUS POR ESTAREM SELECIONADOS PARA A DESGRAÇA ETERNA. NO GETSÊMANI ESTÁ EVIDENCIADO ESSA VERDADE OU TAMBÉM SERIA UMA FARSA, QUANDO JESUS: "...todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.(Lucas 22:42). OU SEJA, JESUS O 2º ADÃO TINHA LIVRE ARBÍTRIO OU PODER DE ESCOLHA, COMO TINHA O 1º ADÃO OU LUCAS 22:42 É UMA FARSA. OU SEJA, SE JESUS NÃO TINHA LIVRE ARBÍTRIO OU PODER DE ESCOLHA, SUA DECLARAÇÃO "todavia não se faça a minha vontade". É UMA GRANDE FARSA.
    PORTANTO, LUIZ E DEMAIS, A DECLARAÇÃO DE QUE "...o livre arbítrio é um dessas características intrínsecas ao ser humano" Até porque, se não fosse assim, teríamos de admitir e ensinar que quando Adão tomou e comeu do fruto de Eva, ele o fez por Soberania de Deus e não porque ele optou. Ou seja, teríamos de admitir e ensinar que Adão não teve escolha, foi Deus quem por ser Soberano programou Adão para que tomasse fruto de Eva e comesse e programou Eva para afastar-se de Adão comesse do fruto e levasse para Adão. E, depois através de Paulo nos engana falando que o pecado entrou no mundo por causa de um homem( Rom. 5:12). Contudo, quem crer em Cristo como diz as Escrituras, sabe que é justamente isso que o diabo quer as pessoas pensem. Luiz, veja essa declaração, e observe quem está por trás dela: "Se o dom é de Deus, não há participação humana. Isto não vem de nós.Não existe esta cooperação que você afirma". Ou seja, se "não há participação humano", o culpado pela entrado do pecado não foi um homem, foi Seu Criador. E o Criador por Soberania elegeu uns para salvação e outros para perdição. Esse é o ensino que está por trás do calvinismo. Portanto, Luiz, quando Deus criou o homem, Ele o criou com poder de escolha. Veja o caso de José do Egito, que escolheu não pecar contra Deus e fugiu da mulher que parece que estava no “cio”. Foi com base no poder de escolha que José fugiu, caso contrário aceitaria a relação, pela circunstância favorável.

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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