A religião por causa do homem traz consigo a posição de que o homem tem de agir como um mediador por seu próximo. A religião por causa de Deus exclui inexoravelmente toda mediação humana. Visto que o principal propósito da religião continua sendo ajudar o homem, e visto ser entendido que o homem é digno da graça por sua devoção, é perfeitamente natural que o homem de piedade inferior deva invocar a mediação do homem mais santo. Outro deve procurar por ele o que não pode procurar por si mesmo. O fruto está pendurado em galhos muito altos, e, portanto, o homem que alcança mais alto deve colhê-lo, e passá-lo ao seu companheiro desamparado.
Se, pelo contrário, a exigência da religião é que cada coração humano deva dar glória a Deus, nenhum homem pode comparecer diante de Deus em nome de outro. Então, cada ser humano deve comparecer pessoalmente por si mesmo, e a religião atinge seu alvo somente no sacerdócio universal dos crentes. Até mesmo o bebê recém-nascido deve ter recebido a semente da religião do próprio Deus; e no caso dele morrer sem ser batizado, não deve ser enviado para um limbus innocentium, mas, se eleito, entra, tal como os longevos, na comunhão pessoal com Deus por toda eternidade.
A importância deste segundo ponto na questão da religião, culminando, como faz, na confissão da eleição pessoal, é incalculável. Por um lado, toda religião deve inclinar-se para tornar o homem livre, para que por meio de uma clara afirmação ele possa expressar aquela impressão religiosa geral, gravada sobre a natureza inconsciente pelo próprio Deus. Por outro lado, cada apresentação de um sacerdote ou feiticeiro interpondo-se no campo da religião prende o espírito humano em uma cadeia que o oprime mais miseravelmente quanto mais sua piedade cresce em fervor.
Na Igreja de Roma, mesmo nos dias de hoje, os bons católicos estão mais rigorosamente confinados nas prisões do clero. Somente o Católico Romano cuja piedade tem diminuído é capaz de assegurar para si mesmo uma liberdade parcial por afrouxar, parcialmente, o laço que o liga à sua igreja. Nas igrejas luteranas as prisões clericais são menos confinadoras, todavia estão longe de serem relaxadas inteiramente.
Somente nas igrejas que assumem a sua posição no Calvinismo, encontramos esta independência espiritual que habilita o crente a opor-se, se necessário for, e por causa de Deus, até mesmo ao mais poderoso oficial na igreja. Somente aquele que pessoalmente permanece diante de Deus por sua própria conta, e goza uma comunhão ininterrupta com Deus, pode apropriadamente exibir as gloriosas asas da liberdade. Tanto na Holanda, na França, na Inglaterra, bem como na América, o resultado histórico oferece a evidência mais inegável do fato que o despotismo não tem encontrado antagonistas mais invencíveis e liberdade de consciência mais corajosa, nem mais resolutos campeões que os calvinistas.
Em última análise, a causa deste fenômeno encontra-se no fato de que o efeito de toda interpretação clerical invariavelmente era, e deve ser, produzir uma religião externa e sufocá-la com formas sacerdotais. Somente onde toda intervenção sacerdotal desaparece, onde a eleição soberana de Deus desde toda eternidade liga a alma interior diretamente ao próprio Deus, e onde o raio da luz divina entra imediatamente na profundeza de nosso coração, - somente ali a religião, em seu sentido mais absoluto, alcança sua realização ideal.
Abraham Kuyper
In: Calvinismo.
Se, pelo contrário, a exigência da religião é que cada coração humano deva dar glória a Deus, nenhum homem pode comparecer diante de Deus em nome de outro. Então, cada ser humano deve comparecer pessoalmente por si mesmo, e a religião atinge seu alvo somente no sacerdócio universal dos crentes. Até mesmo o bebê recém-nascido deve ter recebido a semente da religião do próprio Deus; e no caso dele morrer sem ser batizado, não deve ser enviado para um limbus innocentium, mas, se eleito, entra, tal como os longevos, na comunhão pessoal com Deus por toda eternidade.
A importância deste segundo ponto na questão da religião, culminando, como faz, na confissão da eleição pessoal, é incalculável. Por um lado, toda religião deve inclinar-se para tornar o homem livre, para que por meio de uma clara afirmação ele possa expressar aquela impressão religiosa geral, gravada sobre a natureza inconsciente pelo próprio Deus. Por outro lado, cada apresentação de um sacerdote ou feiticeiro interpondo-se no campo da religião prende o espírito humano em uma cadeia que o oprime mais miseravelmente quanto mais sua piedade cresce em fervor.
Na Igreja de Roma, mesmo nos dias de hoje, os bons católicos estão mais rigorosamente confinados nas prisões do clero. Somente o Católico Romano cuja piedade tem diminuído é capaz de assegurar para si mesmo uma liberdade parcial por afrouxar, parcialmente, o laço que o liga à sua igreja. Nas igrejas luteranas as prisões clericais são menos confinadoras, todavia estão longe de serem relaxadas inteiramente.
Somente nas igrejas que assumem a sua posição no Calvinismo, encontramos esta independência espiritual que habilita o crente a opor-se, se necessário for, e por causa de Deus, até mesmo ao mais poderoso oficial na igreja. Somente aquele que pessoalmente permanece diante de Deus por sua própria conta, e goza uma comunhão ininterrupta com Deus, pode apropriadamente exibir as gloriosas asas da liberdade. Tanto na Holanda, na França, na Inglaterra, bem como na América, o resultado histórico oferece a evidência mais inegável do fato que o despotismo não tem encontrado antagonistas mais invencíveis e liberdade de consciência mais corajosa, nem mais resolutos campeões que os calvinistas.
Em última análise, a causa deste fenômeno encontra-se no fato de que o efeito de toda interpretação clerical invariavelmente era, e deve ser, produzir uma religião externa e sufocá-la com formas sacerdotais. Somente onde toda intervenção sacerdotal desaparece, onde a eleição soberana de Deus desde toda eternidade liga a alma interior diretamente ao próprio Deus, e onde o raio da luz divina entra imediatamente na profundeza de nosso coração, - somente ali a religião, em seu sentido mais absoluto, alcança sua realização ideal.
Abraham Kuyper
In: Calvinismo.
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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott
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