O remédio da graça de Deus

Já é hora de falar do remédio da graça de Deus, pela qual a nossa natureza viciosa é corrigida. Porque, como o Senhor, ajudando-nos, supre-nos do que nos falta, quando a Sua obra se manifesta em nós, assim também fica fácil entender a nossa pobreza. Quando o apóstolo diz aos filipenses que está “plenamente certo de que aquele que começou boa obra neles há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus”, não há dúvida nenhuma de que, ao falar do começo dessa boa obra, ele se refere à origem da conversão deles, quando a vontade deles foi voltada para Deus. Porque o Senhor começa em nós Sua obra infundindo em nosso coração o amor, o desejo e o estudo do bem e da justiça (ou, para falar com mais propriedade), inclinando, formando e dirigindo o nosso coração para a justiça, Ele aperfeiçoa e completa a Sua obra, fortalecendo-nos na perseverança. E a fim de que ninguém fique inquieto pelo fato de que o bem é iniciado em nós por Deus, tanto mais que a nossa vontade, em si mesma muito fraca, é ajudada por Ele, o Espírito Santo declara e determina noutra passagem que a vontade se abandone a Seu cuidado: “Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne; para que andem nos meus estatutos”.

Quem dirá agora que basta que a vontade, em sua fraqueza, seja fortalecida, quando ouvimos que é necessário que ela seja totalmente reformada e renovada? Se a pedra fosse tão mole que, manipulando-a, pudéssemos vergá-la e dar-lhe a forma que quiséssemos, eu não negaria que o coração do homem tem alguma facilidade e inclinação para obedecer a Deus, bastando que fosse fortalecido em sua fraqueza. Mas, se o nosso Senhor quis, com essa figura, mostrar que é impossível tirar algum bem do nosso coração se este não for transformado noutro coração inteiramente novo, não repartamos entre nós e Ele o louvor que Ele só atribui a Si mesmo. Se, pois, quando o Senhor nos converte ao bem, é como se transformasse uma pedra em carne, com certeza o que pertence à nossa própria vontade é anulado, e tudo quanto  sucede pertence a Deus.

João Calvino
In: As Institutas (Edição Especial Para Estudo)

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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