A eleição de Isaque

A eleição de Isaque ilustra bem a soberania de Deus em escolher alguém de forma absolutamente graciosa. E antes que se proteste que esta escolha não é para a salvação, adianto que não é o que afirmo aqui. Porém, não nego que a mesma tem a ver com a salvação, pois Paulo vem tratando disso uma vez que fala dos judeus, por quem desejaria estar separado de Cristo se isto resultasse na salvação deles.

O fato é que Paulo está afirmando que “nem todos os que são de Israel são israelitas” (Rm 9.6) assim como “não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa” (Rm 9.8), o que confere à passagem um conteúdo soteriológico. Independente desta conotação, vejamos como Deus escolhe Isaque para através dele cumprir o Seu propósito salvífico.

Conhecemos a história. Deus havia prometido um filho a Abraão, mas antes que a promessa se cumprisse, obteve um filho com sua serva Hagar. No que lhe tocava, ele estava satisfeito com o resultado. Vemos isso quando Deus lhe disse a respeito de Sara “abençoá-la-ei e dela te darei um filho” (Gn 17.16) ele respondeu “tomara que viva Ismael diante de ti” (Gn 17.18). Dependesse da vontade de Abraão, Isaque não seria escolhido.

Que vantagem tinha Isaque sobre Ismael? Nenhuma. Ambos eram filhos de Abraão. O termo descendência ou semente é utilizado tanto para um como para outro. E se havia alguma vantagem para um dos filhos, era em favor de Ismael, que sendo o primogênito tinha a primazia. Sob o ponto de vista da filiação, havia igualdade, quanto ao costume da época, havia clara vantagem para o filho de Hagar.

Isto fica ainda mais evidente quando consideremos o interessante fato de que Isaque sequer havia nascido foi escolhido por Deus. Aliás, sequer havia sido concebido, pois o Senhor diz “por este tempo virei, e Sara terá um filho” (Rm 9.9). O que distinguia Ismael e Isaque? Sob o ponto de vista da filiação, nada, ambos descendem de Abraão. Pelo nascimento, Ismael era o primogênito, sem contar que seu "concorrente" sequer existia e tinha preferência de seu pai (como alguém poderia preferir um filho que não existia a um que estava em seus braços?). Porém, uma distinção essencial havia: a promessa de Deus.

Agora, se alguém disser que Deus anteviu um futuro em que Isaque produzia uma descendência que levava ao Messias e que por isso o escolheu, sem que tenha decretado ou realizado Ele mesmo tudo isso, então precisarei acrescentar um parágrafo a este breve texto, para dizer que era impossível que isto acontecesse sem que o Senhor mesmo o fizesse, pois o próprio Isaque era uma impossibilidade.

O patriarca sabia disso, por isso “se prostrou Abraão, rosto em terra, e se riu, e disse consigo: a um homem de cem anos há de nascer um filho? Dará à luz Sara com seus noventa anos?” (Gn 17.17). Porque havia prometido, Deus tornou possível o impossível, ou seja, “visitou o SENHOR a Sara, como lhe dissera, e o SENHOR cumpriu o que lhe havia prometido” (Gn 21.1). A história ilustra o que o Senhor declara, nas palavras “Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei” (Is 46.11).

Soli Deo Gloria

Um comentário:

"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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