O que torna a morte de Jesus singular?

Afinal, o que há de tão especial naquela morte em Jerusalém? Por que aquele dia é chamado de "o dia que abalou o mundo" e o "maior acontecimento da história"? Como ele transformou a cruz, de um simbolo de maldição, em um símbolo de adoração religiosa? A questão do sofrimento físico de Jesus não foi relevante para a importância daquele dia; não foi tão diferente do sofrimento de Estêvão, Pedro ou mesmo Sócrates. Nem foi relevante o fato de se tratar de uma punição injusta, aplicada a uma pessoa inocente de um crime; Sócrates também era inocente, assim como Soljenitsyn e os judeus descritos por Elie Wiesel. Nem mesmo a forma da execução foi tão portentosa, O livro dos mártires de Fox, por exemplo, retrata torturas muito mais terríveis que a crucificação.

Como é possível que um homem obscuro, executado como qualquer outro em um distante ponto do império e praticamente ignorado pelos historiadores seculares de seu tempo, reivindique o centro da história e influencie tudo o que ocorreu antes e depois de sua vida? Zombadores chamam isso de "o escândalo da particularidade", e a questão se agiganta diante de nossa fé. A resposta seria logicamente absurda, se não fosse a aceitação de uma crença — de que o homem executado era o próprio Deus, incógnito na história. A cruz expressa o sofrimento do próprio Deus. Ele se juntou à humanidade entrando na história e permitindo que o víssemos humilhado, despido e sofrendo.

Nesse ponto, a doutrina da Trindade se torna tão assombrosa que as outras religiões não conseguem acompanhá-la. Será que o Deus todo-poderoso simplesmente permitiu que seu Filho sofresse por nós, ou foi ele que sofreu, em Cristo, para nosso benefício? Os muçulmanos acreditam que Deus, incapaz de permitir que prosseguisse a execução de seu profeta, Jesus, acabou substituindo-o por outra vítima no último instante. Um argumento judeu, contrário à condição de Filho atribuída a Cristo, diz aproximadamente isto: "Se Deus não pôde suportar ver o filho de Abraão ser assassinado, ele certamente não permitiria que seu filho morresse". Será possível ignorar mais a verdade do evangelho além disso? Na fé cristã, Deus abriu mão de seu Filho Jesus exatamente porque não podia, em virtude de seu amor, ver aqueles como Isaque sofrerem. "Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com ele, e de graça, todas as coisas?" (Rm 8.32).

E ainda hoje, não compreendemos completamente. A personalidade da TV americana Phil Donahue, ao explicar por que se desiludiu com o cristianismo, perguntou: "Como é possível que um Deus que tudo sabe e que é amor tenha permitido que o seu filho fosse assassinado numa cruz pelos meus pecados? Se Deus é realmente 'amor', por que ele mesmo não desceu e foi ao Calvário?". Logicamente, a resposta é que, de alguma forma que não compreendemos, foi o próprio Deus que veio à terra e morreu. "Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo" (2Co 5.19).

Yansey, Philip
In: À imagem e semelhança de Deus, editora Vida

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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