Estranha festa de aniversário

Ontem fui numa festa de aniversário. Fui meio que constrangido, pois não tinha convite. Mas como parecia ser uma festa familiar e de amigos próximos, acho que não houve convites formais, então fui chegando. Para minha surpresa, ouvi alguém dizer que a festa era para mim, para comemorar o meu aniversário!

Claro que ficaria menos surpreso se eu tivesse nascido na data de ontem! Mas nasci numa época e num dia totalmente diferente. Estranhei que pessoas que gostassem de mim a ponto de me oferecer uma festa de aniversário não se preocupassem com a data em que realmente nasci, mas aproveitassem a data de aniversário de um meu desafeto.

Então comecei a olhar em volta e reparei na decoração, que pretendia ser temática. Mas não vi muita coisa que lembrasse a minha vida. Aquela árvore parece sugerir que nasci debaixo de uma, mas não foi o caso. A meia vermelha pregada na porta e envolta em ramo de pinheiro não me faz lembrar de nada da minha infância. Também não consigo perceber o que tem a ver comigo aqueles dois sinos, as velas, o gorro vermelho...

Fui interrompido pelo grito de "vamos revelar o amigo secreto". Pela animação, parecia ser uma coisa interessante. E era. Uma pessoa pegava um presente e dizia "meu amigo secreto é..." e dizia o nome de alguém, que corria abraçá-la e receber o presente. Às vezes se fazia um suspense, dando dicas engraçadas sobre a pessoa, enquanto os demais tentavam adivinhar quem era. E a pessoa presenteada era a próxima a entregar um presente. Fiquei curioso de quem iria chamar meu nome... mas os presentes se acabaram e não recebi nenhum. Estranho, se era uma festa feita para mim...

Notei também que nem todos ficaram satisfeitos com o presente recebido ou com a pessoa que o deu. Como passava despercebido na festa, ouvi comentários sussurrados, do tipo "dei um presente de tantos reais e veja o que ganhei" e "típico dela fazer esta desfeita". Parece que a troca de presentes não foi tão amigável como o nome sugeria.

Nova chamada, nova reunião, agora em volta da mesa. Olhei a quantidade de comida e a quantidade de pessoas e avaliei que outro tanto de pessoas poderia chegar sem aviso e que teria comida mais que suficiente. Lembrei de que o inverso acontecia comigo, geralmente tinha multidão para comer e peixinhos minguados para dividir. E se recolhia o que sobrava, para não desperdiçar nada.

Mas ali, por mais que as pessoas comessem, e como comiam!, não davam conta da quantidade e variedade de pratos. Na ânsia de provar de tudo, sempre deixavam sobras, que eram jogadas fora para arrumar lugar no prato para outras iguarias. Pensei se não poderiam ter convidado as pessoas que vi no caminho para a festa e que pareciam não ter nada para colocar na mesa.

Aos poucos, o barulho de pratos e talheres foi diminuindo e a quantidade e altura das risadas aumentando. Percebi a causa disso, a bebida que tomavam em grandes quantidades. E acho que foi ela que provocou a primeira palavra que alguém não gostou de ouvir e que resultou numa discussão.

Antes que a discussão terminasse em briga, resolvi ir embora. Saí em silêncio, mas mesmo que gritasse um adeus, não seria notado. Que festa de aniversário mais estranha foi essa! Ano que vem não voltarei lá.

4 comentários:

  1. O dia 25 de dezembro está "enraizado", porém sou da opnião que é uma data que poderia ser excluída do calendário de qualquer igreja e do nosso em particular, pois se baseia em uma adaptação de festa inquestionável de origem pagã e coloca-se a data de nascimento de Jesus em um dia improvável, fora outros fatos que podemos perceber no seu texto que mostra a realidade da data. Está escrito que o mundo odeia as coisas de Deus, mas estranhamente o mesmo mundo abraça essa data de tal maneira que se você criticar o "natal" é taxado de muita coisa.

    Dizem que o natal é para a comunhão, mas está é realizada sempre quando nos reunimos para adorar ao Senhor e mais intimamente se participarmos da celebração que ele nos ordenou, a ceia. E dizem que é uma excelente oportunidade de falar do evangelho, mas isso deve ser feito a tempo e fora de tempo.

    Em Cristo

    Márcio

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  2. Excelente! Parabéns e glórias a Deus. Realmente, se a intenção é comemorar o suposto aniversário de Jesus, nossa atitude deveria ser muito, muito, mais muito diferente. Um abraço!

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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