Contenda entre os herdeiros da misericórdia

“Se há algum conforto em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão no Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que sintais o mesmo” (Fp 2.1)
É como se dissesse: “A menos que você desaprove toda consolação em Cristo, trabalhe para manter a unidade do Espírito no vínculo da paz”. Que espetáculo jubiloso é esse para Satanás e sua facção, ver aqueles que são separados do mundo espedaçarem-se entre si! Nossa dissensão é a melodia de nosso inimigo.

Os que mais devem ser censurados são aqueles que, para objetivos particulares, afetam diferenças em relação a outros, e não admitem fechar as feridas da igreja e reuni-las juntamente. Isso não deve ser entendido como se os homens devessem dissimular seu julgamento em qualquer verdade onde há justa causa para se expressarem; pois a menor verdade é de Cristo e não nossa e, portanto, não devemos tomar liberdade para afirmar ou negar a nosso prazer. Dever algo como um pêni é tanto quanto dever uma libra, logo, devemos ser fiéis na mínima verdade, quando a hora o exigir. Então, nossas palavras serão “como maçã[s] de ouro em salvas de prata” (Pv 25.11). Uma palavra dita em seu tempo fará mais bem do que mil fora do seu. 

Porém, em alguns casos, mediante ter nossa fé em nós mesmos diante de Deus (Rm 14.22), é de maior conseqüência do que a discutível descoberta de algumas coisas que tomamos por verdadeiras, considerando que a fraqueza da natureza do homem é tal que dificilmente pode haver uma descoberta de qualquer diferença em opinião sem alguma desavença de afeição. Enquanto os homens não forem de uma só mente, dificilmente serão de um só coração, exceto onde a graça e a paz divinas tenham grande domínio no coração (Co 3.15). 

Por conseguinte, a exibição franca de divergência é somente boa quando é precisa, ainda que alguns, por um desejo de ser alguém, tornem-se assim e rendam-se a um espírito de contradição em si mesmos. Todavia, se Paulo puder ser juiz disso, eles ainda são “carnais” (1 Co 3.3). Se for sabedoria, é sabedoria de baixo: pois a de cima, visto ser pura, também é pacífica (Tg 3.17). 

Nosso bendito Salvador, quando estava para partir do mundo, o que ele impôs mais a seus discípulos do que paz e amor? E, em sua última oração, com que ardor ele implorou a seu Pai para que todos pudessem ser “um”, como ele e o Pai eram um (Jo 17.21). Mas, pelo que ele orou na terra, só desfrutaremos perfeitamente no céu. Que isso torne a meditação daquele tempo a mais meiga para nós.

Richard Sibbes
In: O caniço ferido

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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