O plano de salvação de Deus


O apóstolo também afirma que o plano de Deus — mesmo quando o Senhor estende sua salvação a grandes grupos de pessoas, como Israel, no passado, e os gentios, no presente —, também chama pela resposta individual de judeus e de gentios. Esse é o ponto que ele tentou mostrar na segunda parte do versículo 6: nem todo indivíduo da nação de Israel vivenciou a salvação como também nem todos das nações gentias a vivenciavam atualmente. Essa seletividade também faz parte do plano de salvação de Deus.

Essa escolha divina de algumas pessoas para a salvação, em geral, chamada de eleição (9.11), era (e é) compreensivelmente perturbadora para as pessoas e levanta perguntas sobre a justiça e a eqüidade de Deus. Sensível a essa preocupação, Paulo apresenta duas perguntas nessa passagem para tratar do assunto (w. 14,19). Primeiro, ele pergunta com candura: “Que há injustiça da parte de Deus?” (v. 14). A sugestão por trás dessa pergunta fundamenta-se na descrição dos versículos precedentes (w. 10-13) da escolha por parte de Deus de Jacó, e não de Esaú. Neles, Paulo afirma de forma corajosa que o plano de Deus foi feito “não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama)”. Em outras palavras, a escolha de Deus não se baseou no tipo de vida que os irmãos tinham ou viveriam. Paulo não afirma que Deus, por assim dizer, examina os túneis do tempo e escolhe o mais nobre dos dois irmãos com base nas decisões e obras que caracterizariam a vida de cada um deles. Sem dúvida, nem Paulo nem seus leitores fariam nenhuma pergunta a respeito da justiça e eqüidade de Deus, se Ele tivesse feito suas escolhas dessa maneira. Contudo, parece que Paulo acredita que, de fato, exatamente o oposto é a verdade, a saber, que a escolha de Deus não se baseou nos méritos nem deméritos perceptíveis da vida de cada irmão. E, assim, levanta-se o óbvio ponto de tensão na pergunta: “Que há injustiça da parte de Deus?” (v. 14).

A resposta de Paulo é consistente com sua antropologia, sua visão de que todas as pessoas se encontram em um caminho correndo para longe de Deus e em direção à destruição certa e garantida. Paulo encontra na antiga Israel uma ilustração dessa tendência e uma afirmação da resposta de Deus que é sua resposta para a questão da eleição. Depois da libertação de Israel de sua escravidão no Egito, eles foram para a península do Sinai, onde Deus transmitiu a Moisés sua vontade para o povo. Enquanto Moisés estava ausente do povo e na presença de Deus, o Senhor disse-lhe que o povo se voltara para a idolatria (Ex 32.7-9). A seguir, Ele disse a Moisés: “Agora, pois, deixa-me, que o meu furor se acenda contra eles, e os consuma; e eu farei de ti uma grande nação” (Êx 32.10). Contudo, Moisés intercedeu pelo povo e apelou para a misericórdia de Deus em favor deles. Paulo encontrou na resposta de Deus para Moisés, a resposta para a questão da eleição: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem me compadecer” (Ex 33.19; Rm 9.15).

A descrição de Paulo em relação a sociedade humana no capítulo 1 de Romanos, faz paralelo com o comportamento de Israel descrito em Êxodo. Em ambos os casos, as pessoas rejeitam a verdade de Deus e se voltam para a idolatria (Rm 1.18-23), e, nos dois casos, isso quer dizer que eles se põem na situação de pessoas condenadas de forma justa: “Eles fiquem inescusáveis” (v. 20). A solução de Paulo para essa situação desesperadora é a intervenção de Deus na salvação. Em outras palavras, da perspectiva de Paulo, a justiça é feita se todos forem condenados. No entanto, há misericórdia e graça na intervenção de Deus para salvar os pecadores.

Roy B. Zuck
IN: Teologia do Novo Testamento

5 comentários:

  1. Ao Clóvis,

    O interessante é que, no contexto dessa narrativa bíblica sobre os irmãos Jacó e Esaú, o Espírito inspira Paulo a afirmar:
    "SE, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus O ressussitou dentre os mortos, serás salvo." (Rom.: 10.09)

    Pergunto:
    Onde está o ensino predestinista-calvinista aqui? Se não há aqui, nem no contexto geral das Escrituras é porque consiste numa dourtrina vã, espúria e antibíblica!

    E quanto ao relato dos dois irmãos, simples: o Senhor escolheu a Jacó para que a prometida nação abraâmico-israelita (Gen.: 12.02) viesse a existir por meio do filho mais moço e não por Esaú.

    A eleição do Senhor, neste caso, não significou, necessariamente, a perdição de Esaú nem a salvação para Jacó. O primeiro, se estiver entre os perdidos, o será por causa de suas más escolhas enquanto esteve vivo.
    E Jacó estará entre os salvos porque, apesar de alguns erros, no final, permaneceu com o Senhor pela fé, então ressussitará para ser recebido em glória pelo Eterno.

    JCosta.

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    1. JCosta,
      Quando você escrever um livro de relevância sobre hermenêutica que seja adotado como obra de referência por seminários em todo o mundo como é o livro do Roy B. Zuck, volte aqui para dar sua opinião. Antes, não! Ou, pelo menos, tenha a decência de ler sua obra pra poder chutar alguma coisa.

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    2. André,

      Não preciso escrever nenhum livro sobre nada. A Bíblia esplica-se a si mesma e isto pra mim é o bastante. Não quero saber sobre os seus livros prediletos, o que importa para mim é a Escritura como ela o é.

      Não chutei nada, mostrei o que a Escritura diz. Havia uma promessa divina feita a Abraão que tinha de ser cumprida em algum de seus descendentes (ou não era pra ser assim?!).

      Vc acredita que Esaú não gostaria de ter sido escolhido aquele por intermédio de quem a grande nação de Israel, finalmente, viesse a existir? Só que o Senhor escolheu Jacó! E isto não é injustiça da parte do Pai! Agora escolher alguns para fazê-los se perder, não lhes dando a oportunidade de dizer um "sim" ou um "não" para Cristo, seria de uma injustiça incomensurável e inconcebível! E o Eterno, logicamente, não faz isto.
      Só uma mente deturpada pelo calvinismo para ensinar dessa forma. O que é uma pena pra quem acredita...

      Deixo esta passagem pra vc's calvinistas vêem como o Eterno não faz ninguém se perder, não conduz ninguém para o fogo:
      "Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais." Jer.: 29.11

      JCosta.

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    3. Perdoe-me pela gafe:

      "esplica-se" como escrevi não dá, né? É "explica-se". Que coisa!

      JCosta.

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  2. Essa questão da predestinação é muito complexa, há coleções de versículos para ambos os lados, eu acredito que embora o homem possa escolher, houve também uma eleição da parte de Deus, acredito que as 2 coisas se encaixam, duma forma que não a podemos compreender

    Paz em Cristo

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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