Saibam que o Senhor é Deus


Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele quem nos fez, e dele somos; somos o seu povo e rebanho do seu pastoreio. Sl 100:3

O imperativo “sabei que o Senhor é Deus” parece supérfluo numa cultura cristianizada como a nossa. Até ateus sabem que Jeová é o Deus dos cristãos. Mas a ordem não tem caráter informativo e não requer apenas conhecimento de fatos. Saber é mais que isso - é admitir, reconhecer. E nesse sentido existe uma grande e premente necessidade de que se reconheça que o Senhor é Deus. E não somente pela sociedade secularizada, mas especialmente por aqueles que são “o Seu povo”. Pois no que diz respeito ao conhecimento de Deus como Deus, permanece a verdade de que “o boi conhece o seu possuidor, e o jumento, a manjedoura do seu dono, mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende” (Is 1:3).

Na raiz dessa falta de reconhecimento está a ignorância do que significa dizer “que o Senhor é Deus”. O conceito moderno de Deus é indigno dEle. Os homens fizeram Deus à sua própria imagem. Ao invés de ficar com a descrição de Deus que a Bíblia apresenta e ainda admitir que ela não o mostra na extensão exata, uma vez que seríamos incapazes de suportar tal glória, os crentes fabricaram para si um ídolo, controlados pelo pressuposto de que o homem é a medida de todas as coisas. Tal como o homem é, assim é Deus, só que maior. Porém, nada é mais enganoso para nós e ultrajante para Deus do que assemelharmos o Criador à criatura, ainda que à mais sublime delas. A essa tentativa a Bíblia destróis com uma só frase: “Deus não é homem!” (Nm 23:19). Deus não se parece com nada que já vimos, sonhamos ou imaginamos, portanto, desistamos da ideia de representar Deus a partir de raciocínios vãos e aceitemos simplesmente o Deus revelado na Bíblia.

O que significa então a expressão “o Senhor é Deus”? Significa, antes de tudo, que Deus é supremo. “O Senhor é o Deus supremo e o grande Rei acima de todos os deuses” (Sl 95:3). A supremacia de Deus é manifesta pela Sua soberania ao criar, governar e salvar as pessoas. Ao criar Ele foi totalmente livre, pois nada o obrigava a trazer algo à existência e uma vez que decidiu criar, fez de acordo com Sua vontade, sem que nada o condicionasse a fazer do jeito que fez. “O nosso Deus está nos céus; fez tudo o que lhe agradou” (Sl 115:3). A supremacia do Senhor se faz notar também no Seu governo soberano, sobre a Criação e a História. “Reina o SENHOR; tremam os povos. Ele está entronizado acima dos querubins; abale-se a terra” (Sl 99:1). E não menos que isto, a soberania de Deus manifesta-se na salvação, que é do Senhor: “O Senhor fez notória a sua salvação; manifestou a sua justiça perante os olhos das nações” (Sl 98:2). Saber que o Senhor é Deus é reconhecer que Ele domina nos céus, na terra e no coração dos homens.

Isto nos leva a refletir em nossa relação com Ele. E temos que admitir, diante do fato de que o Senhor é Deus, que “foi Ele quem nos fez”. Isto nos coloca numa posição de criatura para com o Criador, de vaso para com o Oleiro. Não somos independentes dEle, pelo contrário, “dele somos”. Deus tem, sobre nós, direito de autoria e de propriedade. Como um artista pode dispor de suas obras conforme bem lhe entender, já que lhe pertence, o Senhor tem absoluto direito sobre nós, como nosso dono. Assim, não nos cabe questionar porque Ele nos fez assim, nos colocou em tal lugar ou sob tal condição. Nem objetar que isto ou aquilo é injusto, pois o Senhor está acima de qualquer avaliação humana. 

Devemos ser profundamente agradecidos por Ele nos ter feito “Seu povo”. E aqui é bom acentuar que seja num sentido geral ou especificamente relacionado à salvação, “foi Ele, e não nós, que nos fez povo seu”. Noutras palavras, o salmista acentua que “Ele é o nosso Deus, e nós, povo do seu pasto e ovelhas da sua mão” (Sl 95:7). A afirmação de que é Deus que nos torna povo Seu, tira de nós a base para qualquer orgulho de pertencermos ao povo de Deus. Se estamos entre os Seus escolhidos, é devido única e exclusivamente à operação soberana do Senhor, e não a um ato de nossa vontade.

Por livre graça, então, somos “rebanho do seu pastoreio”. O que indica não apenas propriedade, mas cuidado. É verdade que Deus está “assentado sobre um alto e sublime trono” (Is 6:1), mas é igualmente verdadeiro que “perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de espírito” (Sl 34:18). Não obstante Sua soberania, “o Senhor é bom, a sua misericórdia dura para sempre, e, de geração em geração, a sua fidelidade” (Sl 100:5). 

Assim, reconhecer que o Senhor é Deus nos faz confiar no Seu cuidado por nós. Por isso devemos servi-lo com alegria e apresentar-nos a Ele com louvores.

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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