Como John Wesley lia a Bíblia?


Em primeiro lugar, Wesley lia a Bíblia em atitude de adoração. Isto significa que ele lia sem pressa e de modo reverente. Ele escreveu sobre isso e disse: "Eis-me, então, aqui, longe das ocupações humanas. Ponho-me aqui a sós com Deus. Eu me exponho ante a sua presença, leio o Seu livro; com este fim, de encontrar o caminho do céu".

Para garantir que os seus momentos de estudo bíblico não fossem apressados, Wesley escolhia as primeiras horas da manhã e os momentos calmos da noite. Esses momentos ofereciam-lhe a possibilidade para meditar sobre o que havia lido. O seu alvo principal era a qualidade, e não a quantidade. É verdade que Wesley normalmente lia um capítulo de cada vez, mas por vezes lia apenas alguns versos. Seu desejo era o de encontrar a Deus e quando o fazia, a quantidade de leitura não tinha grande importância.

Assim, Wesley nos faz lembrar que não podemos ler a Bíblia significativamente se o fizermos com pressa. Estar a sós com Deus e com a Sua palavra exige um tempo próprio, e uma atitude própria de reverência e atenção.

Segundo, Wesley lia a Bíblia sistematicamente. A sua prática era a de seguir um quadro de leituras diárias no Livro de Orações Comuns. Este método permitia-lhe ler o Antigo Testamento uma vez por ano e o Novo Testamento várias vezes. Permitia-lhe, também, ler contextualmente, e não casualmente. Wesley acreditava que o cristão deveria conhecer "todo o conselho de Deus". Ele dava exemplo disso ao ler o Antigo e o Novo Testamentos, bem como os livros apócrifos.

Seria errado, contudo, supor que Wesley estava apenas à procura de experiência através da sua leitura devocional da Bíblia. Ele também queria conhecer a Palavra de Deus. Ele não via qualquer dicotomia entre o estudo puramente científico da Bíblia e a sua leitura para enriquecimento espiritual. Toda nova informação ou descoberta alcançada constituía mais uma inspiração de Deus, e Wesley encarava-a como tal.

Wesley também incluía na leitura das Escrituras o seu conhecimento das línguas originais e o auxílio das melhores fontes de estudo dos seus dias. Wesley demonstrava a sua preocupação pelo conhecimento bíblico através da preparação das suas Notas Explicativas para o Antigo e Novo Testamentos. Estas notas foram retiradas, em grande parte, de escritos alheios, mas as porções selecionadas representam as impressões de Wesley. Ele disse que preparou estas notas para as "pessoas simples, iletradas... que reverenciam e amam a palavra de Deus, e têm o desejo de salvar as suas almas". Conseqüentemente, os comentários são geralmente despidos de terminologia técnica especializada. (...)

Em terceiro lugar, Wesley lia a Bíblia compreensivamente. Ele sabia que tinha a vida inteira para ler a Bíblia, portanto não precisava se apressar. Nem tinha que se contentar com uma leitura infundamentada e superficial. Muito à sua maneira, Wesley desenvolveu um método que resultou em uma experiência compreensiva. Os elementos principais desse método são os seguintes:

1. Regularidade — de manhã e à noite;
2. Unidade de propósito — conhecer a vontade de Deus;
3. Correlacionamento — comparar Escritura com Escritura;
4. Devoção — receber instrução do Espírito Santo;
5. Resolução — colocar em prática o que se aprende.

Este último ponto conduz a um outro importante princípio no uso devocional que Wesley fazia da Bíblia: ele lia intencionalmente. Ele escreveu: "Qualquer que seja a luz que tu tenhas recebido, ela deve ser usada máxima e imediatamente". Para Wesley, isso significava pelo menos duas coisas. Primeiramente significava a aplicação pessoal da palavra de Deus à nossa vida. Em segundo lugar, significava que devemos procurar ensinar aos outros aquilo que aprendemos. Em relação à aplicação pessoal, Wesley encorajava os fiéis a pausarem freqüentemente e a examinarem-se a si próprios à luz do que tinham lido. A isso poderíamos chamar de leitura reflexiva. Ele afirmava que ao fazermos isso, descobriríamos que a Bíblia é, "na verdade, o poder de Deus para a salvação presente e eterna". Tal descoberta nos levaria a tomar as resoluções apropriadas sobre a forma como devemos viver o dia-a-dia. (...)

Mas a definição de propósito nunca pode ser algo privatizado. A total aplicação significa que nós procuramos compartilhar com os outros aquilo que temos aprendido. Wesley afirmou claramente: "Aquilo que eu aprendo, isso eu ensino". Este princípio é reafirmado várias vezes em seu diário, no qual o vemos compartilhando as suas descobertas com as pessoas com quem se encontrava. Às vezes isto tomava a forma de uma leitura mais formal da Bíblia e de outros materiais devocionais. Outras vezes Wesley transmitia suas descobertas em conversas informais. Mas estava sempre aberto a todas as formas e meios de ajudar os outros a crescerem na fé.

Steve Harper
In: Vida Devocional na Tradição Wesleyana

4 comentários:

  1. Que bênção foi a leitura desse artigo para mim. Tenho o chamado para Tradução das Escrituras e enquanto estou me preparando para a obra missionária transcultural, tenho visto a necessidade de envolver nossos irmãos em Cristo nessa empreitada de forma direta e/ou indireta. Creio que isso inclui desperta a Igreja para uma leitura mais diligente e devocional das Escrituras. Vou divulgar esse post, porque vi nele um incentivo para o que estou fazendo.

    Abraços a todos do 5 Solas,

    Deus continue usando-os para a glória d'Ele!

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    1. Que nosso Deus o abençoe para levar o evangelho a povos que ainda não tem a Palavra Escrita.

      Em nossa igreja, tenho insistido com irmãos para a leitura sistemática da Escritura, e um argumento que tenho utilizado é exatamente o de que muitos povos gostariam de ler por si mesmos a Bíblia, mas não a tem em seus idiomas e dialetos.

      Em Cristo,

      Clóvis

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    2. Eu queria saber mais das vossas crenças á respeito dos valores morais cristãos.

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    3. Maria Isabel,

      O que especificamente você deseja saber? De maneira geral, cremos em valores absolutos, conforme expressos nas Escrituras.

      Em Cristo,

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"Se amássemos mais a glória de Deus, se nos importássemos mais com o bem eterno das almas dos homens, não nos recusaríamos a nos engajar em uma controvérsia necessária, quando a verdade do evangelho estivesse em jogo. A ordenança apostólica é clara. Devemos “manter a verdade em amor", não sendo nem desleais no nosso amor, nem sem amor na nossa verdade, mas mantendo os dois em equilíbrio (...) A atividade apropriada aos cristãos professos que discordam uns dos outros não é a de ignorar, nem de esconder, nem mesmo minimizar suas diferenças, mas discuti-las." John Stott

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